03 dezembro 2016

Vamos ter que dar o litro...


... este Nápoles!


Já se sabia que este seria o adversário mais complicado nesta fase da temporada. O Nápoles (ou Napoli como os italianos dizem) de Sarri é uma equipa super bem organizada, recheada de talento e acima de tudo muito bem orientada pelo ex-economista italiano. Já falei um pouco sobre como os napolitanos jogam, na altura da primeira mão em São Paolo. Também já falei sobre o que falhou nesse encontro por parte do Benfica e penso que de uma maneira geral tais conselhos ainda se aplicam ao nosso jogo e serão fundamentais para o sucesso na próxima terça-feira. Mas, há muito mais para falar destes italianos.

Tarja apresentada no estádio de São Paulo em Nápoles no encontro
entre o Nápoles e o Inter, sobre a tragédia da queda do avião em Medelin
com a equipa brasileira do Chapecoense. Pode-se ler a seguinte mensagem:
"Diante da morte não há cores ou nações. Até sempre campeões."

A começar pela rotatividade que Sarri dá ao plantel. Só para terem uma noção, frente ao Inter, ele colocou em campo um meio-campo com Diawara (médio-defensivo) e Zielinski (médio-interior direito), quando os habituais titulares são, respectivamente, o Jorginho e o Allan, que assistiram ao jogo no banco. A importância que ele dá às questões físicas e de ter um elevado número de jogadores à disposição reflecte-se até nos momentos que ele faz substituições. Frente ao Inter retirou o seu capitão, o eslovaco Hamsik aos 60 minutos, assim como o talentoso extremo esquerdo italiano Insigne. 15 minutos mais tarde fez entrar o lateral internacional italiano Maggio, que regressa à competição depois de uma lesão, para o lugar do lateral albânes Hysaj (ver video em baixo que reflecte a qualidade deste lateral no jogo frente ao Inter, o Cervi que se cuide!). É engraçado verificar que é isto o que tenho defendido para ser feito pelo Rui Vitória no Benfica. Reparem como o treinador italiano arrisca retirar dois habituais titulares do seu meio-campo frente a um adversário forte como o Inter. Tudo isto em prol das consequências a curto (jogo da Ligas dos Campeões frente ao Benfica) e a médio prazo (ter mais soluções capazes para jogarem de início). Talvez por isso o Nápoles tenha pago com perda de uns pontos em certos jogos, mas a verdade é que agora está uma equipa muito mais capaz, entrosada e perigosa.


Por falar em perigo, a figura maior deles continua a ser o seu capitão, que frente aos nerazurri marcou o 104º golo pela equipa do sul da Itália. O Hamsik está neste momento a 11 golos de igualar o recorde de golos do Maradona (115) pelo Napoli. Mas, mais do que os recordes que está a quebrar, o importante é ver que tipo de estratégias que a equipa está a utilizar para produzir este futebol. Outrora uma equipa fundamentalmente de transições, no período do espanhol Rafa Benítez, o Nápoles é hoje mais versátil, na medida que já domina o momento ofensivo. O primeiro golo do encontro frente ao Inter, por parte do eslovaco, é um belo exemplo disso, se não reparem:


Reparem como é a mobilidade dos atacantes e dos médios do Nápoles que cria os espaços necessários para penetrar através da malha defensiva do Inter na zona de finalização. Reparem também como todos aqueles jogadores se movimentam, inclusive o avançado ponta-de-lança Gabbiadini, que não fica estático lá na frente como outros que conhecemos - não é Mitroglou?! Verdade que o Inter também foi muito anjinho ao tentar fazer uma marcação homem-a-homem no meio-campo aos jogadores do Nápoles. Isso facilitou ainda mais a criação daqueles espaços entre-linhas. Contudo, aquelas triangulações a um ou dois toques, as movimentações em busca de alternativas de linhas de passe, o posicionamento do corpo sempre de perfil para a baliza adversária, tudo isto revela muito treino de aprimoramento. Isto trabalha-se e não é apenas da criatividade dos jogadores.

Já o segundo golo dos napolitanos, nasceu de uma transição rápida. Bola recuperada no lado direito da defesa e depois uma rápida progressão no terreno através de uma série de triangulações bem feitas, variando o centro de jogo da direita para a esquerda. Aqui a bola chega ao capitano Hamsik que, no meio-espaço esquerdo, faz um passe em diagonal novamente para o lado direito das costas da defesa nerazurri, onde aparece o extremo direito espanhol Callejón a assistir para a entrada da grande área onde aparecia o médio polaco Zielinski para finalizar. Este é um lance que podemos dizer que é a imagem de marca desta equipa napolitana:


Destaco neste lance dois pormenores. O primeiro, é a descida no terreno de Gabbiadini a ajudar a desenhar um importante triângulo no meio-campo para a equipa poder desenvolver a transição rápida. Reparem como sem ele, muito provavelmente seria impossível ao Nápoles contra-atacar de forma rápida com trocas de bolas, a não ser que fizesse uso do transporte de bola por parte dos jogadores, o que representaria um maior consumo de energia dos seus jogadores. A mobilidade do ponta-de-lança é fundamental no futebol actual. O segundo pormenor, está no facto de ao desenhar triangulações para contra-atacar, os jogadores napolitanos terão que estar juntos, e como tal, mesmo que haja uma ou outra intercepção por parte do adversário, eles estão muito mais próximos de dar continuidade ao lance. Esta jogada reflecte isso mesmo, quando o Ranocchia consegue cortar uma linha de passe, mas logo de seguida aparece um jogador do Nápoles a recuperar. Eles jogam bem sintonizados e como há pouco transporte de bola, a não ser nas zonas de desequilíbrio, no último terço do terreno, facilita o foco no jogo. Parece que estão muito mais ligados ao jogo. Por outro lado, isto implica que nunca se descompactem.


O terceiro golo do Nápoles vem de outro "momento" em que a equipa de Sarri é muito forte: o pontapé-de-canto. O lateral argelino Fazoul Ghoulam não demonstra apenas predicados defensivos. Ofensivamente é um jogador muito acutilante, se bem que não tão mágico como um Marcelo do Real Madrid. E, nas bolas paradas é um perigo, conforme dá para perceber do terceiro golo napolitano frente ao Inter. O Benfica já sabe que o Nápoles é uma equipa forte nestes lances, por isso, atenção redobrada exige-se. Ah! E não esquecer que eles variam a forma de marcar cantos. Tanto marcar ao segundo poste, como ao primeiro (ver golo do Hamsik frente ao Benfica), como também usam muito o canto curto. Neste capítulo, atenção aos remates do argelino...


Para finalizar, destaco a boa forma de Pep Reina. Frente ao Inter, foi um dos melhores num momento em que os milaneses tentavam entrar na discussão do resultado. É um jogador que tem muita à vontade com a bola nos pés. Por vezes tem demais e por isso comete erros. Mas, quando focado no jogo é um descanso para o treinador e a sua linha defensiva, pois faz a diferença.

20 comentários:

  1. O Benfica tem outro estatuto e tem uma equipa muito mais estável que a do Napoles. No geral, somos claramente melhor equipa. Ficou provado em Itália: Não fosse 3 erros clamorosos do Cesar e uma desatenção do Fejsa.

    Se vamos com medo, é meio caminho andado para o insucesso. Terça é para ganhar. Ponto. Napoles é mais nomes do que outra coisa. Baixou muitíssimo de rendimento com a lesão do Milik.
    A única preocupação que tenho é com os centrais. Luisão e Semedo terão que ter uma coordenação muito forte porque de outra forma, prevejo Luisão a pedir substituição por falta de rins, ou a escorregar pelo campo todo.

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    1. Mas, o que é que escrevi que possa dizer que devemos ir com medo? Um pára-quedista não precisa de saber a que altitude vai saltar para saber quando abrir o pára-quedas? Ou se tem altitude mínima para fazer um salto em condições?

      Porque raio é que não podemos falar abertamente do valor dos nossos adversários? Nem sequer houve aqui um termo de comparação. Este artigo é para medir a "altitude".

      O Nápoles é muito mais que nomes. E, esse é um dos objectivos deste artigo. A meu ver não baixou com a lesão do Milik, até porque este chegou esta temporada para substituir o Pipita e estava também a adaptar-se à equipa.

      Sobre o Luisão, não tenho grandes receios. Agora, que acho que o Rui Vitória já poderia ter rodado o Lisando no jogo frente ao Marítimo, sim! Até porque o argentino tem jogado bem. Mas, isso é outro tema.

      ;)

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    2. Vê em que lugar estava o Napoles antes da lesão do Milik e o que aconteceu depois.
      Vi o jogo contra o Benfica, mais o do contra o Besiktas. Não achei nada de especial, como equipa. Há um claro fora de série que é o Hamsik. Mas não me dá medo. Obviamente, é um jogo Champions, e se não tivermos um Benfica na máxima força, arriscar-nos-emos a ir para a Liga Europa.
      Também tenho as minhas dúvidas sobre se Fejsa e Pizzi são suficientes num jogo desta intensidade; Salvio é um jogador inconsequente que teve evolução 0 devido a lesões, e Mitro está em clara baixa de forma.
      Com Jonas, Grimaldo e Danilo no centro, estaria muito mais confiante.

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    3. Um movimento super caraterístico deste Napoles é os extremos fazerem movimentos constantes nas contas da defesa. Se Semedo é apanhado numa situação destas, sobrará Luisão que voltará a deslizar pelo relvado como tem sido seu apanágio nos últimos tempos.
      Nunca gostei do Jardel pela falta de pés, mas hoje rezo para que volte.

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    4. jorgen80, a ideia aqui é explicar que o Sarri fez uma análise de risco e consoante o resultado dessa análise fez uma escolha. Escolheu em ir rodando a equipa e talvez por isso tenha tido jogos menos conseguidos. Mas, agora, nesta fase, começam a surgir os dividendos. E estes são em ter mais alternativas ao onze.

      O Mitro não é só forma. Necessita ser bem trabalhado pela equipa técnica. Anda perdido lá na frente.

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    5. Tens o Lisandro, porque raio queres meter o Jardel que não joga desde o verão?

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  2. corrige o texto da segunda foto..."tragédia" e não com j

    abraço e viva o benfic! vamos ganhar a napoli!

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    1. Que pontapé na gramática. Camões perdoa-me. Lol! Obrigado. 😉😅

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  3. Que se passa com o Jardel?

    Viva o Benfica!

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    1. Está em fase de integração. Neste momento deve estar a fazer a pré-época. Deverá começar a jogar naquela semana dos compromissos para as taças.

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    2. Eu não quero nem deixo de querer meter o Jardel.
      Só estranho o que se passou de "tão grave" com o rapaz. Foi operado? Partiu uma perna?

      Viva o Benfica!

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    3. Há lesões complicadas. Tens tendões na região pélvica que são complicados de recuperar, quer seja com operações ou sem elas. Penso que deve ter sido algo do género com o Jardel, da mesma forma que o Grimaldo agora está parado. Diferente é a lesão muscular do Eliseu e do André Horta.

      Btw, ninguém fala da entrada do Felipe sobre o André Horta no dragão, mas deve ter sido ali que o André se lesionou.

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  4. Tenho uma dúvida:
    Há algum decreto-lei que obrigue a tirar o Cervi por alturas dos 60 min., por mais jogadas geniais que faça e por mais genica que tenha a atacar e a defender?

    Viva o Benfica!

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    1. O Cervi não estava a ser muito consequente com a bola. Insistia demasiado em furar e não tanto em verificar que as hipóteses de sucesso eram poucas. Se o fizesse, variaria novamente o centro de jogo para o outro flanco. Naquela parte era preciso alguma paciência e identificação do melhor momento para forçar a jogada individual.

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    2. O certo é que a equipa PIORA após a sua "obrigatória" saída em TODOS os jogos, tanto no plano defensivo como nas trocas de bola entre linhas no ataque.
      Então no Besiktas e no Maritmo foi evidentíssimo.
      Aliás ele até é um dos melhores marcadores de golo, inclusivé de cabeça...

      Viva o Benfica!

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    3. Não piora assim tanto. E estás a focar-te em dois ou três jogos como por exemplo em Istambul...

      Frente ao Marítimo não o teria tirado de campo porque era o nosso único canhoto e essencial para dar profundidade ao corredor esquerdo. Nesse jogo talvez tivesse tirado o... Mitroglou!

      Repara que nem tiraria o Guedes. Preferia tirar o grego porque fazendo de "manequim" em frente dos defesas acaba por ser mais um estorvo que uma solução.

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    4. Por "acaso" foram jogos fundamentais ;)

      Viva o Benfica!

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    5. Percebo o que queres dizer e até reconheço razão no que escreveste nesses jogos. Mas, temos de ver outra perspectiva.

      Por exemplo, é importante o Carrillo e o Rafa irem ganhando minutos para terem ritmo e entrosamento com os colegas. A questão então será quem sairá para entrar um destes?

      Repara que invariavelmente saíram quase sempre os jogadores com menos experiência (Guedes) e com menos tempo de casa (Cervi), ao invés de jogadores mais experientes (Salvio). Essa era a tendência inicial, porque o pensamento por detrás é que os jogadores mais experientes iriam colmatar qualquer problema que os que entravam pudessem criar. Não deixava os menos experientes porque não acreditavam ter a maturidade para fazer isso. Ou pelo menos, não tinham confiança que o fizessem.

      Mas, repara como a ordem das substituições se alterou. No "Caldeirão" foi o Salvio que saiu e não o Guedes. Em breve acredito que o Rui Vitória não abdique do Cervi, pois realmente está a adaptar-se muito rapidamente ao modelo encarnado.

      Para mim, o que me faz muita confusão é a insistência no Mitroglou e não no Raúl.

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    6. Pronto...hoje vais-te "consolar" com o Raul ;)

      Viva o Benfica!

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    7. Se queres que eu te diga, espero que em caso de um mau jogo o RV não o queime de vez. Acredito muito no Raúl, mas numa lógica de ser aposta durante 10 jogos seguidos. Não faz sentido jogar hoje e depois não haver continuidade...

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