Isto não pode voltar a acontecer!
O problema do Benfica, mais que técnico, táctico e físico é mental. E, é mental no sentido de incapacidade para a equipa focar-se por completo na missão que é um jogo de futebol e em particular em cada um dos 5400 segundos que compõem a hora e meia de jogo. Foi sobretudo isto o que aconteceu esta quarta-feira, no encontro da 6ª jornada da fase de grupos do grupo B da Liga dos Campeões, entre o Benfica e o Nápoles. O mais preocupante é que o Rui Vitória já tinha falado no perigo dos jogadores pensarem em 2 jogos, aludindo ao jogo que estariam a disputar no Estádio da Luz, mas também ao que estaria a ser jogado em Kiev entre o Dínamo local e os turcos do Besiktas.
«É evidente que se quisermos jogar dois jogos num só... entramos no caminho errado. Dependemos de nós e só nos podemos agarrar a isso. No final fazemos as contas. Na verdade é fundamental não nos distrairmos. É uma final que queremos ganhar, que vamos jogar com ambição. Depois no final faremos as contas.»
por Rui Vitória (conferência de imprensa antes do Benfica Nápoles)
Lindelöf e Cervi são dois exemplos de como o foco é fundamental nestas partidas de Champions. |
Isto é inadmissível. E é preocupante pois mesmo com o aviso do técnico encarnado, os jogadores não foram capazes de focarem-se no jogo. Aliás, torna-se até caricato, porque o conhecimento de que o Besiktas estava a ser goleado deveria ter deixado os jogadores encarnados mais descontraídos para a partida. Mas, não! O Nélson Semedo foi o primeiro a desconectar-se do jogo. Poucos minutos de saber que o Besiktas perdia em Kiev, o lateral direito deixa-se cair perto da linha final da nossa defesa, na tentativa de "cavar" uma falta por encosto do Hamsik, ao qual o árbitro não acedeu. Resultado, remate de Calléjon que poderia ter feito o primeiro da partida. Logo ali, percebi que ou as coisas mudavam na segunda parte, ou então seria para esquecer. Não mudaram, o Nélson continuou uma sombra e juntou-se a ele o Lindelöf, que teve grandes responsabilidades no primeiro golo dos italianos, ao ter adormecido na reposição rápida da falta frontal por parte deles.
Passa a bola Salvio. Não queiras fazer tudo sozinho, porque isso é duplamente mau para a equipa: perdes a bola e desgastas os teus colegas. |
Depois, esta equipa encarnada tem outros três grandes problemas. O primeiro deles é que há uns quantos jogadores que chegam a estes encontros internacionais e estão mais interessados em promoverem-se do que a jogarem para a equipa. Falo aqui de jogadores como Salvio e Cervi. A quantidade de vezes que estes médios sabotam jogadas de ataque porque em vez de optarem pelo processo mais simples de jogar com o colega mais próximo, insistem na jogada e no adorno individual, é no mínimo exasperante. É um facto que compensam em termos defensivos, pois têm essa preocupação e entrega. Contudo, se por cada vez que recuperam eles erram, o efeito deles não acaba por ser nulo, pois acabam por também desgastar muito os colegas que estão lá para acompanhar e nunca são servidos. Estes meninos também merecem uns belos puxões de orelhas. E, das valentes, pois o Salvio já devia ter juízo!
O sérvio e o "puto-maravilha" são dois bons exemplos, como o desfoco e o individualismo acabam por prejudicar toda a equipa, sobretudo, os jogadores mais voluntariosos. |
Outro dos problemas, prende-se com o desgaste acumulado de alguns jogadores. Começo pelo Luisão. A partir da segunda parte a sua capacidade física para aguentar uma linha defensiva subida no terreno, num jogo destes deixa de existir. Duvido muito que esteja em condições para conseguir comandar essa estratégia defensiva durante 90 minutos frente ao Sporting. O Fejsa acabou o jogo completamente arrebentado. Na última semana fez 3 jogos completos. Os jogadores podem ter tempo para recuperar fisicamente entre jogos, mas há claramente uma fadiga competitiva, derivada da mente que tem de ser equacionada para retirar o máximo de proveito dos jogadores. Custa-me ver é que Samaris nunca foi opção para poder gerir esse esforço. Os outros dois que estão no limite são o Pizzi e o Guedes. Para todos estes o Rui Vitória tem soluções no banco. Umas são mais soluções que outras. Por exemplo, o Lisandro é clara solução para o Luisão (e quanto a mim já deveria ter feito alguns minutos ou frente ao Marítimo ou hoje), enquanto o Rafa é solução para o Guedes. O Samaris é solução para o Fejsa e o Pizzi, mas apenas se um destes manter-se no onze.
O terceiro problema, e talvez aquele que do ponto de vista técnico-táctico, mais dificuldades o Rui Vitória terá para solucionar até domingo, é o do lateral esquerdo. O André Almeida fez hoje o terceiro jogo consecutivo em pouco mais de uma semana. Para muitos não seria nada, mas para o André é muito tendo em conta que não jogava fazia meses. Hoje, vimos a dificuldade com que ele teve perante um adversário bem preparado e objectivo, como o Calléjon do Nápoles. Em termos defensivos, vimos que os tempos de reacção e de coordenação com o resto da defesa não estão bem alinhados. Na fase de construção também apresenta problemas, pois sendo destro e estando o Cervi nessa fase em zonas interiores, a bola quase sempre é passada para o pior pé deste, sendo depois facilmente anulado. Depois em termos ofensivos, o Almeida não dá a mesma profundidade atacante que um canhoto.
Numa outra perspectiva, podemos ver as coisas deste prisma: a entrada de André Almeida para lateral esquerdo, é uma adaptação que tem as suas limitações. Para diminuir esse impacto é necessário que toda a equipa esteja ciente dessas limitações e estejam focadas nas funções que poderão ajudar. Para isso é preciso disponibilidade física para tal acontecer. Por outro lado, para existir essa disponibilidade física, é preciso que não se utilize a energia dos jogadores de forma ineficaz. Por outras palavras, é preciso que haja alguma fluidez nas jogadas e que elas não sejam constantemente interrompidas por perdas de bola por jogadas individuais ou perdas de desconcentração. Em suma, como manter toda a gente focada será sempre essencial para o sucesso da equipa. E é aqui que muito do trabalho do Rui Vitória e da sua equipa técnica tem de passar.
A comunicação para o os jogadores e não só, também para os adeptos tem de ser diferente neste momento. Tem de ser clara. Tem de ser vinculativa. Tem de ser agregadora e unificadora. Mas, tem acima de tudo ser ambiciosa e que estabeleça um compromisso objectivo de acordo com o nosso ADN e valores. Só assim toda a gente ficará devidamente focada e comprometida. Falta aqui uma espécie de "aqui quem manda somos nós"! Falta uma posição de força. Uma liderança assumida, sem qualquer receio de a assumir. E isto tem de ser feito já na próxima conferência de imprensa. O Benfica vem de duas derrotas e isto não pode ser visto com panos quentes. É preciso ouvir um discurso mais de responsabilização, mas que seja ao mesmo tempo agregador e claro para todos os Benfiquistas. Não pode ser uma ou duas frases num contexto redondo. Acho que isso é necessário neste momento. Não apenas para os jogadores, mas sobretudo, para que o apoio do terceiro anel se faça ouvir novamente.
E que tal a entrada do Carrillo??!! Golpe de mestre....
ResponderEliminarViva o o Benfica!
O pior é que nenhuma entrada resultou. Todos eles perderam o foco no jogo. Isso é que me desiludiu imenso.
EliminarBelíssima análise PP, realço a parte do discurso, não podemos perder um jogo importante em casa e os jogadores não assumirem a decepção, mesmo que não a sintam, algo de que duvido, mas como o discurso é o de "é futebol" sai pouco assertivo e até parece que para eles perder ou ganhar vai dar ao mesmo.
ResponderEliminarEle tem de perceber o impacto do discurso, tanto para dentro como para fora. Para dentro, até percebo que ele diga "é o futebol", que é tentar não criar um problema maior de um erro. Mas, quando o faz deve reforçar mais o facto de "vamos aprender com este resultado". Depois, para os adeptos que estão num nível de envolvimento mais distante que os jogadores, deve-se passar outro tipo de mensagem frente a resultados menos positivos. Uma mensagem com força suficiente para não só sossegar as almas, como unir-las num objectivo de pertença.
EliminarPor exemplo, achei a Luz ontem uma terra de gelo. Durante largos minutos as pessoas deixaram de apoiar a equipa e estavam pareciam atentas ao outro encontro em Kiev. Quando a equipa joga mal, está frente a um adversário complicado, e joga em casa, é preciso que o inferno se manifeste. Não vi nem ouvi o inferno da Luz.
Ainda estou a perceber onde está a reposição de bola da falta frontal deles no lance do primeiro golo. Parece que é uma bola parada, tal a qualidade do toque de Mertens, mas a bola andava a rolar ali no meio há muito tempo. Como lhe chamaram noutro lado, este jogo foi uma rabia completa do meio campo napolitano ao Benfica.
ResponderEliminarRafa devia ter entrado de início, como nós vaticinámos noutro lado. Guedes não esteve mal, mas também não esteve bem e claramente o Rafa dá outros argumentos, nem que seja pela idade. O André Almeida esteve bem para bombeiro, mas não acho que o Cervi tenha abusado do individual quando tinha melhores opções. Como se relacionam as duas orações? É pensar nisso...
Sálvio... Tal como Jiménez merece o lugar por falta de comparência do Mitroglou, também o Carrillo merece o lugar por falta de comparência do Sálvio. Não sei qual a modalidade de Red Pass que o Sálvio comprou este ano, mas se venderem para o ano eu compro.
O que se passou ontem, de uma forma geral, foi "the other 1%". É aquele 1% de jogos que o Benfica faz por ano contra equipas de outra galáxia e que nos devolvem à realidade. O que se passou é que o meio campo de Fejsa e Pizzi demonstrou que são top mundial em Portugal. O Benfica perde essencialmente para a qualidade napolitana. Qualidade de processos, sim, mas fundamentalmente qualidade dos jogadores. Quando Sarri se fartou de bater no muro só teve de lançar Mertens. Uma assistência e um golo com execuções a que o Benfica simplesmente não está habituado. Esta é a verdade. O Benfica perde porque não está habituado a este grau de exigência. Concentração? Também, mas fundamentalmente aos rigores tácticos e à qualidade "intelectual" dos executantes. E enquanto não se decidir nivelar a Liga Portuguesa por cima vais ser mais disto: os grandes portugueses são grandes cá dentro, mas depois lá fora não passam de esforçados.
A entrada do belga no Nápoles demonstra bem a importância da mobilidade no ataque no futebol actual. E olha que o Gabbiadini é tudo menos um pinheiro bravo lá na frente. Este, o Messi e muitos outros deveriam servir de reflexão para a forma como em Portugal se vê ainda o futebol e o ataque...
EliminarSobre o futebol do Nápoles, já tinha avisado. E olha que eles até têm um padrão de jogo bem definido. Construção da esquerda para a direita na 1a fase (combinação entre centrais e saída de jogo pelo lateral albanês), 2a fase da direita para a esquerda (Allan -> Diawara -> Insigne -> Hamsik) e 3a da esquerda para a direita (Hamsik/Insigne -> Calléjon/Gabbiadini/Mertens).
O Benfica tacticamente não esteve mal. Há pormenores que precisam urgentemente de serem trabalhados. O primeiro é que tanto Salvio como Cervi não sabem identificar as situações que tem de forçar o um contra um das que devem parar e dar novamente no meio-campo. Eles pura e simplesmente estão sempre a forçar a jogada individual. Poderia apoiar essa decisão se não houvesse outra solução. Mas, do que eu vi havia sempre uma linha de passe aberta para o colega que raramente era utilizada. Enquanto no Nápoles se o Insigne ou o Calléjon perdem a bola nas jogadas individuais têm quase sempre 7 jogadores atrás deles, o Benfica tem 5 ou 6 na melhor das hipóteses. É a tal lei dos números que falava. Depois há a questão do desgaste físico... Não apenas dos que perdem a bola mas dos colegas.
Repara no caso do Luisão. Recuperam a bola, esta vai para o Cervi. Ao mesmo tempo a linha defensiva sobe para que a equipa fique compacta e mal ela está a subir o Cervi perde a bola. O que acontece? Voltam a descer rapidamente. Dois picos de corrida em menos de um minuto. Agora multiplica isso pelo número de vezes em que perdemos a bola. E divide isso pelo número de vezes que conseguimos manter a posse de bola mais de um ou dois minutos para recuperar o fôlego. Tens aí um indicador de como há um desgaste brutal.
Voltando aos italianos eles são uma equipa já experiente e bem entrosada (4a época a jogarem juntos). O Benfica também tem um núcleo duro, mas não tão extenso. Depois há jogadores que são pouco maduros. O Guedes e o Cervi são bons exemplos. O proprio Lindelöf também.
No entanto, não senti que fosse a táctica ou o posicionamento dos jogadores o principal problema ontem. Foi a imaturidade e a incapacidade de focarem-se no jogo.
Quanto ao Rafa, por mim seria titular no domingo. E, reforçava o meio-campo, libertando Pizzi, Rafa e Cervi para apoiarem o Raúl. Ou seja, Samaris e Fejsa lá para dentro. Repara que os principais beneficiários seriam o André Almeida que teria maior ajuda e o Semedo que teria maior liberdade para o ataque.
«No entanto, não senti que fosse a táctica ou o posicionamento dos jogadores o principal problema ontem. Foi a imaturidade e a incapacidade de focarem-se no jogo.» My thoughts exactly! Aliás, era muito isso que eu queria dizer com aquilo do 1%. O Benfica esteve bem, simplesmente o outros estiveram muito melhores. Sarri andou ali a brincar e quando decide ganhar o jogo atira o Mertens para dentro. Uma assistência e um golo, fora o resto. E se o Gabbiadini quiser vir ser "tosco" para a Luz para o ano (ou em Janeiro) vou buscá-lo ao colo ao aeroporto!
EliminarImaturidade acho que é a palavra. Não se pode entrar em campo contra uma equipa destas e ter pedras nucleares como Ederson, Lindelöf, Guedes e Cervi a serem sub-23 e esperar magia disso. E Semedo e Jiménez pouco sobre-23 são...
Rafa por mim já justifica mais tempo de jogo, no lugar de Guedes. Pouco me importa de no lugar de apoio a Jiménez se de Mitro. Acredito que com outro critério no apoio Mitro também vai parecer mais em jogo, enquanto que Jiménez continuará a correr como uma barata tonta.
Samaris... Não tenho visto jogos do SCP, mas ontem com Samaris e o seu sentido posicional único tinha sido muito pior, sem dúvida. Se a organização do SCP andar perto da do Nápoles, Samaris só no banco. Se for um bocado abaixo, pode entrar ao intervalo para segurar o 5-0. =P ;)
Olha para a exibição do Semedo frente ao Nápoles. Até ao momento em que souberam do resultado do Besiktas em Kiev, ele estava a ter um foco no jogo muito elevado. Depois de saber, foi o que se viu. A jogada em qu o Hamsik serve o Calléjon para o que poderia ter sido o primeiro golo deles na primeira parte, foi demonstrativo de como o Semedo abordou o lance como se estivesse no tugão.
EliminarPermite-me discordar da tua apreciação sobre o comportamento da nossa equipa na última noite. O Benfica sabendo que o apuramento estava seguro, resguardou-se para o derby.
ResponderEliminarConcordo contigo quanto a reforçar o meio-campo no próximo domingo, Fejsa e Samaris no centro libertando assim o Pizzi, o Rafa e as nossas alas, mas não concordo quando dizes que o Luisão deve ser trocado pelo Lisandro. Já não apresenta a intensidade de outros tempos mas fará falta no jogo aéreo, no qual é superior ao argentino.
Agora concentração total no derby e voltaremos a pensar na Champions segunda-feira.
Não sei se o Luisão é muito melhor que o Lisandro no jogo aéreo. No entanto, admitindo que o seja, a tua estratégia defensiva terá que ser a de uma linha defensiva mais recuada, pois o Luisão não aguentará 90 minutos a jogar com uma linha subida.
EliminarDe facto, com Luisão não podemos passar o tempo todo com a linha subida, mas também é pouco provável que o derby seja jogo para estarmos sempre com a linha alta.
ResponderEliminarE se há jogos em que é mais importante a experiência e voz de comando do Capitão este é um deles. E tem estrelinha...(quando não lhe fracturam um membro)
Jogando com dois avançados é uma forma de sermos bem mais perigosos. Para além disso, é a melhor forma de anular um ataque lento (Bas Dost) do Sporting.
EliminarO Luisão consegue jogar 90 minutos numa estratégia de linha defensiva avançada, mas não jogando 3 vezes por semana.
Podemos realmente readaptar uma estratégia que o beneficie a ele e sobretudo o André Almeida.