30 setembro 2016

O que falhou em Nápoles?


Uma visão que procura debater o que originou a derrota em San Paolo.



A derrota expressiva para a Liga dos Campeões, pode para muitos ter-se devido àqueles 8 minutos de grande desconcentração por parte do Benfica no início da 2ª parte do jogo da passada 4ª feira. No entanto, a análise não pode ser assim tão linear. Não é normal uma equipa que vem do intervalo em desvantagem ter níveis de concentração reduzidos, pois vem com indicações claras para resolver os problemas que o adversário vinha causando na primeira parte. Tem de existir outra explicação.

Rede de passes e posicionamentos do
Nápoles frente ao Benfica (@11tegen11). 
Na minha opinião, a estratégia de reforçar o meio-campo com mais uma unidade não resultou. Se durante a primeira parte, Fejsa e André Almeida com o André Horta à frente deles acaba por compactar um pouco a equipa sem bola, também é verdade que não conseguiam desmultiplicarem-se com a bola para o ataque. Parte das instruções ao intervalo, visavam exactamente essa desmultiplicação. O problema é que ao fazerem isso, abriram espaços. O sérvio Fejsa foi o médio defensivo que alinhou mais sobre a nossa meia-esquerda (meia-direita do adversário), enquanto o André Almeida funcionou como uma espécie de médio de transição sobre a nossa meia-direita (meia-esquerda do adversário) e o André Horta como "10" atrás do ponta-de-lança e terceiro médio sem bola. O problema é que com essa desmultiplicação, e tendo o nosso médio de transição a jogar sobre a meia-direita, que coincidia com a meia-esquerda do Nápoles, estávamos na prática a tentar atacar pelo lado mais forte do ataque deles. Reparem na rede de passes dos italianos (ver figura ao lado). Por um lado destaca-se uma tendência para usar o corredor esquerdo deles (corredor direito encarnado), para depois fazer uma variação para o Callejón no corredor direito (nosso esquerdo) poder penetrar e finalizar ou então assistir para o ponta-de-lança. Esta é uma das jogadas ofensivas mais comum do Nápoles.

Rede de passes e posicionamentos do
Benfica frente ao Nápoles (@11tegen11).
A ideia encarnada até era boa, porque por um lado poderia pôr em sentido o jogo ofensivo do Nápoles, obrigando-o a estar constantemente em processo defensivo e assim anulando o seu efeito atacante. O problema é que para isso ser operacionalizado, teríamos que ser muito mais eficazes na forma de atacar pelo nosso flanco direito. Mas, isso não foi o que aconteceu. Olhando para a nossa rede de passes (ver figura da rede de passes do Benfica), verificamos que a subida pelo flanco direito encarnado foi efectuada apenas com combinações entre Nélson Semedo, André Almeida e Pizzi. Onde está a tentativa de passe para Fejsa? E para André Horta e até mesmo para o Mitroglou? Pouco, muito pouco. Isto também reflecte um outro pormenor: a urgência e celeridade com que queríamos atacar. Por outras palavras, não soubemos ser mais pacientes com a bola nos pés. Ou seja, voltamos à questão da importância da gestão de energia (esforço) já abordada anteriormente. O Pizzi perdeu 5 bolas, 3 delas no flanco direito, precisamente por causa deste factor. O próprio Grimaldo, no lado esquerdo em tarefas ofensivas também perdeu 4 bolas. Tudo isto porque não souberam ser mais pacientes e tentado explorar o corredor central. É por aqui que temos de evoluir e aprender com este encontro. As constantes perdas de bola e a rapidez com que efectuamos o ciclo recuperação/perda da bola acarreta um desgaste físico brutal, que depois a determinado momento, tem o impacto de não termos reacção perante uma transição. Foi assim os 3 golos na segunda parte do Nápoles surgiram. Nos primeiros dois, ainda tentámos resolver recorrendo a falta (em zonas proibitivas, uma delas sendo grande penalidade)  e a outra resultou mesmo num golo de futebol corrido.

Olhando para a rede de passes, é impressionante como a dupla do meio-campo e até mesmo o trio formado por Fejsa, André Almeida e André Horta, pouco ou nada trocaram a bola entre si. É preciso trabalhar mais essas comunicações. Para isso é preciso também trabalhar nos posicionamentos dos jogadores durante os vários momentos. I.e., é preciso treinar bem as movimentações. Se olharmos para qualquer grande equipa como o Barcelona, o PSG, o Bayern Munique ou o Manchester City, verificamos o quanto é determinante as ligações no centro do terreno. Aliás, esse é até um indicador do quão eficiente e eficaz é a posse de bola de uma equipa. Por exemplo, se a equipa manter a posse de bola, mas apresentar padrões de passe que formam uns "U's", está apenas a lateralizar o seu jogo de um flanco para o outro através dos seus defesas centrais, não efectuando qualquer "cócegas" ao adversário.


4 comentários:

  1. Olá PP,

    Muito interessantes esses gráficos da rede de passes!

    Considerando que jogávamos fora com o mais forte dos 3 adversários, a prioridade era impedi-los de criar perigo. Em quase toda a 1ª parte, esse primeiro objectivo foi alcançado. Ainda conseguimos boas saídas com 2 ocasiões claras de golo, nos passes do Nelson e do Grimaldo(?) para o Mitro. Infelizmente, desta vez o nosso Grego Goleador não foi mortal.

    Eu diria que ao intervalo o empate seria mais justo. O que, de certa forma, valida a estratégia adoptada. Faltava então maior capacidade ofensiva, através da desmultiplicação, como referes, ou de acções individuais. Neste capítulo esperava-se algo mais do Horta e do Carrillo, ainda que o peruano tenha estado bem a dar seguimento ao jogo. Mas faltou-lhe acutilância e velocidade. Talvez a razão do descalabro tenha a ver com essa tentativa esticar a equipa mas também ocorreram erros individuais, nomeadamente do Lisandro e do JC. Acontece.

    Três golos em 8 min. arrumam com o jogo e com qualquer análise táctica a partir daí.

    Desde o 4-0, apenas a questão mental/anímica teve influência. Os italianos tiram o pé do acelerador e são displicentes. O Benfica não. Gostei de ver a forma como a nossa equipa não se desmoronou completamente nem perderam a cabeça originando cartões parvos, como tantas vezes acontece nestas situações. Os dois golos marcados ajudam a limitar os danos morais da derrota.

    Com as armas todas disponíveis, faremos melhor quando os recebermos!

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    1. Desmultiplicação aqui não são ações individuais, muito pelo contrário, é mudar um pouco o "chip" defensivo e libertarem-se para ir para o ataque. O problema do nosso modelo de jogo foi exactamente usar e abusar da ação individual. A própria rede de passes demonstra isso.

      E sim, esperava-se mais do Horta e do Carrillo, mas penso que ambos não deram mais, por causa da estratégia montada. A tendência era para que dessem a bola ao Pizzi e este tentasse visualizar um passe para o ataque ou uma jogada individual, quando na realidade, faltava ali mais um passo antes de chegar ao último terço do campo adversário e que os confundisse face ao espectável. Eu não acho que faltou assim tanta velocidade. Faltou isso sim, maior número de passes no sector intermediário. Talvez porque a equipa quando queria atacar rápido, o duo de meio-campo ficava para trás.

      Quanto a erros individuais... não concordo. Pior foram os erros colectivos. Esse sim é que levam ao limite as capacidades dos jogadores, esgotando-os e com isso levarem-nos a cometer erros.

      E sim, é de realçar a atitude que tivemos depois do 4-0. Mas, sabes uma coisa interessante, das 4 perdas de bola do Grimaldo, uma delas foi na segunda parte, numa altura em que o Benfica estava a tentar chegar ao terceiro golo. E, sabes como perdeu a bola? Exactamente forçando a jogada individual e não procurando a combinação com o colega de meio-campo. Agora, vê a forma como marcámos o segundo golo... com um passe magnífico do André Almeida no corredor central para a desmarcação de Salvio. Por aqui dá para perceber o que nos falta. E, para mim, mais do que erros individuais, é necessário trabalhar afincadamente este aspecto colectivo. É que se tivéssemos o tido, jamais teriam surgido aqueles supostos erros...

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  2. Sim, eu falo em desmultiplicação versus acções individuais. A primeira é sem dúvida a mais aconselhável pois oferece mais opções ao portador da bola, mas comporta mais riscos porque envolve mais jogadores na fase ofensiva. E há que dar mérito ao Nápoles pela oposição que fez.(Não adianta nada mas com Jonas em campo, outro galo cantaria)

    Vejo as acções individuais como recurso a ser usado neste caso, em que o corredor central estava bem fechado e não conseguíamos impor o jogo interior.(Não adianta nada mas com Rafa em campo, outro galo cantaria)

    Quanto aos golos sofridos, vejamos: no primeiro é uma falha de posicionamento do Fejsa. Se estivesse um passo à frente, não era golo. No segundo uma perda de bola não forçada do Lisandro e consequente falta perigosa. Livre muito bem marcado em que fica a sensação que o JC podia ter feito melhor. Talvez o 3º seja o que mais resulta duma falha colectiva, mas a saída do JC também não foi eficaz. O 4º...enfim. Era um cruzamento simples.

    A questão da gestão de energia que tens referido é muito importante e tem de merecer um cuidado especial na preparação dos jogos. Espero que possamos ver a equipa crescer nesse aspecto fundamental em alta competição.

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    1. O corredor central esteve fechado porque:
      1) os jogadores encarnados não o procuraram assim tanto
      2) maus posicionamentos dos jogadores no processo ofensivo

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