24 janeiro 2013

Não há "pai" para Cardozo


Continuo a não gostar do comportamento em campo da nossa dupla atacante. Em particular do nosso Tacuara. Em três jogos consecutivos, ainda não fez o gosto ao pé, pelo que sinto que seja necessária alguma reflexão sobre este tema.


Alguma evolução mas incipiente
Cardozo e Lima é uma dupla que requer ainda muito
trabalho por parte da equipa técnica.
Após o encontro frente ao Porto, tenho notado uma certa evolução nas movimentações de Cardozo. Se até então era o Lima quem tinha a missão de descer para entre-linhas na maior parte das vezes, desta feita, agora esse tipo de movimentações é repartido por ambos.

Até aqui tudo bem, não fosse o facto de a qualidade dos movimentos não ser a melhor. Para vos ser sincero, não tenho também ficado lá muito deslumbrado com a forma como Lima tem tentado ligar o meio-campo ao ataque. Muitas vezes não consegue proteger o esférico, outras esquece de temporizar e outras ainda decide mal as jogadas. No entanto vejo empenho e afinco a tentar melhorar.

Do lado do Cardozo, o último encontro em Moreira de Cónegos, foi notória a desplicência com que o paraguaio muitas vezes perdia a bola. Ora por passes curtos simples interceptados pelos adversários, ora por antecipações destes, ora por não decidir correctamente a jogada. Por exemplo, contei pelo menos três contra-ataques de situações de 3 para 3, na qual o Cardozo conseguiu anulá-las com passes completamente fora do sentido. E, isto para não falar da sua incapacidade para disputar lances de bola aérea, tanto em situações de lançamento longo, como em bolas paradas ofensivas.

Continuo a ver em campo o Cardozo e o Lima cada um a puxar a jogada para si próprio e acho isso péssimo para a forma de jogar do Benfica. É que para os nossos alas poderem fazer o seu trabalho convém que os avançados façam o seu. Não é à toa que o clube da Luz tenha chegado ao intervalo empatado a zero com a equipa do Moreirense.
Muito trabalho tem Jesus com estes dois, mas eu já começo a temer que isto não vai passar do que temos visto. Esse é o meu receio, pois apesar de ambos já terem mais de 30 golos marcados esta temporada, a verdade é que a sua maioria foram frente a equipas de menor nomeada (nota que há um fosso qualitativo muito grande das equipas ditas "grandes" para as mais "pequenas"). Também por aqui explica-se o porquê de não sermos tão dominantes frente a equipas mais organizadas. Daí eu insistir com esta temática. Daí eu colocar algumas reservas se esta dupla Cardozo e Lima irá alguma vez jogar como deveriam jogar, i.e., em irmandade, como se fossem dois irmãos.


A metáfora do "pai" e do "irmão"
João Vieira Pinto (à esquerda) e Drulovic (à direita) foram,
segundo as próprias palavras do goleador Mário Jardel,
os seus "pais" no futebol português.
Talvez falte a Cardozo "pais" assim...
Se até agora, pensava que Cardozo poderia ter um "irmão" no ataque (o Lima), hoje já começo a pensar se ele não se adaptará melhor a ter um "pai" como parceiro de ataque. Tal como Jardel, tinha o Drulovic, o Hagi e o João Vieira Pinto, no Porto, no Galatasaray e no Sporting, respectivamente, começo a pensar se o Tacuara também não se sentiria melhor com jogadores dessas características ao seu lado. O brasileiro considerava estes jogadores como seus "pais", tal era a influência de ambos para a sua veia goleadora. No Benfica, nas alas já temos um Nico Gaitán que costuma ter uma certa cumplicidade com o gigante paraguaio em termos de assistências por cruzamento, o que poderá ser uma espécie de Drulovic. No meio-campo, sendo uma espécie de Hagi a colocar a bola num passe longo milimétrico, o Benfica tem em Enzo, Carlos Martins e até mesmo o Matic, capazes de qualidade de passe semelhante. Agora, um parceiro de ataque como João Vieira Pinto é que eu questiono se temos?!

O antigo "menino de ouro" do Benfica, foi um dos melhores jogadores portugueses e era um jogador ímpar. Uma espécie de médio-ofensivo/segundo avançado/avançado móvel/"10"... Enfim, penso mesmo que ele no Benfica jogou em todas as posições lá na frente e em todas elas sempre com grande qualidade. No actual Benfica, Lima e até mesmo Rodrigo são avançados completos e têm demasiado enraizado um certo individualismo nas jogadas. Por outro lado, Kardec, o quarto avançado do plantel, é claramente um concorrente directo do Cardozo em termos de funções.

Outro jogador que foi um "pai" para o goleador
Mário Jardel, e que tipifica os "pais" que este
tipo de avançados melhor se identifica,
é o romeno
Gheorghe Hagi,
o "Maradona dos Cárpatos".
Aqui na figura, frente ao Mozer em 1988 num
jogo para a Liga dos Campeões. Uma relíquia!
Sobra-nos Pablo Aimar, que é utilizado muitas vezes por Jesus como uma espécie de 2º avançado. Provavelmente é o que temos de mais parecido com o João Vieira Pinto, mas o argentino é menos objectivo que o antigo internacional português, reflectindo-se na sua péssima finalização. Notar que queremos continuar a ter dois jogadores com grande capacidade de finalização nas áreas adversárias, daí ser importante esta característica. Contudo, o que me deixa reticente quanto a Aimar ser o "pai" que Cardozo necessita, é a condição física que o Pablo tem tido esta temporada. Cardozo precisa de um jogador móvel, criativo, rápido e com estamina, para quando necessário fazer pressão sobre os defesas contrários, mas também ter energia para ir buscar a bola entre-linhas. Por outras palavras, o Cardozo quer ser o Sol, e o seu parceiro o planeta que gravita à volta da estrela. Bem vistas as coisas, o Aimar está mais próximo de ser um "pai" tipo Hagi que um "pai" tipo João Pinto para o Cardozo...


Não há mesmo "pai" para o Cardozo?
Talvez a solução de maior futuro para ser o parceiro ideal
de Oscar "Tacuara" Cardozo: Miguel Rosa.
Assim sendo, no plantel encarnado falta-nos um jogador com as características do João Pinto para municiar e acompanhar o Tacuara na frente de ataque encarnada.

Na minha opinião, Hugo Vieira, contratação para esta temporada e que foi emprestado ao Sporting de Gijón na primeira metade da época, tinha essas características futebolísticas. Contudo, já foi novamente emprestado ao Gil Vicente...

Outro jogador que tem esse perfil futebolístico e que pertence aos nossos quadros é o capitão da equipa B, o Miguel Rosa. Tem técnica, tem velocidade, tem mobilidade, tem garra, tem atitude e joga muito para a equipa. Quanto a mim, até por esta necessidade para o Cardozo, expõe a importância que este jovem formado no Benfica poderá ter na equipa principal.

E o Nolito? Será que não poderia ser uma espécie de "pai emprestado" se jogasse ao lado do Cardozo?



PS 1: Quem poderia ser esse "pai" para o Cardozo era o Bruno César. Pena que Jorge Jesus nunca o viu como opção para o sector atacante. Aliás, gostaria de saber o porquê disso...

PS 2: Talvez o Miguel Rosa apareça na eleição do melhor jogador para a posição "10" do Benfica de 2013... até lá, já votou na eleição de 2012 para essa posição, a de avançado móvel?

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