02 janeiro 2013

Falta "dar tudo até cair para o lado"...


... e algo mais!
Eis algumas opiniões acerca deste último encontro do Benfica em 2012, frente ao Moreirense para a taça da Liga.

O onze titular
Este seria o meu onze titular frente ao
Moreirense para a taça da liga. Como podemos
reparar apenas duas alterações teria feito
relativamente ao onze titular de Jesus, Nolito
por Ola John e Lima por Rodrigo, mas não
alteraria a táctica.
Embora não tenha colocado o meu onze titular antes do jogo, muito devido à falta de tempo, próprio de quem está na organização familiar do actual período festivo, como tem sido hábito, este não destoaria muito daquele que Jorge Jesus colocou em campo, conforme poderemos ver pela figura ao lado.

A meu ver, o técnico encarnado fez bem em utilizar o actual núcleo duro titular neste importante encontro. Fez apenas algumas pequenas alterações, como por exemplo na baliza - com a inclusão do experiente guardião Paulo Lopes, alteração essa já previsível -  e na lateral direita - com a entrada do André Almeida pelo uruguaio Maxi Pereira. A completar o quarteto defensivo, Jesus apostou na dupla titular formada por Jardel e Garay, com Melgarejo a ser o lateral esquerdo. A meio-campo, Salvio e Ola John nas alas eram apoiados pela dupla Matic e Enzo no centro do terreno. Lá na frente, a dupla de goleadores Lima e Cardozo.

No papel, o onze era o mais correcto. Até porque o adversário, embora laterna vermelha no campeonato, já tinha proporcionado excelentes exibições frentes aos maiores clubes nacionais. Contudo, em campo faltou-nos um misto de atitude, frescura física e muita inteligência.  


Uma questão de atitude
Embora o Cardozo tenha marcado o penaltie que deu-nos o
empate mesmo em cima do término do encontro, em termos
de atitude durante todo o jogo, poderia aprender algo
com o guardião Ricardo Andrade, do Moreirense.
O guardião do Moreirense, o brasileiro Ricardo Andrade, no final do encontro e na zona de entrevistas rápidas, saiu-se com as seguintes palavras:
«Fizemos o que foi possível. Estávamos dispostos a dar tudo até cair para o lado e foi o que fizemos. Apesar da situação em que estamos no campeonato, podemos dar a volta trabalhando, sendo humildes.»
Realcei a frase que considero importante no seu discurso a negrito, pois no final do encontro foi exactamente a falta de atitude que o Benfica não soube deixar em campo.

É um facto que os encarnados são de longe melhores jogadores que o Moreirense. Mas, só para termos bem a noção do quão ou mais importante é ter talento, basta olharmos bem para este encontro e vermos como as diferenças podem ser encurtadas, senão mesmo ultrapassadas, quando se quer e está disposto a "dar tudo"!


Pernas para que te quero
Salvio até correu muito neste jogo.
Também na zona de entrevistas rápidas, e no final do encontro, Jorge Jesus tentou explicar um pouco a exibição cinzenta da sua equipa da seguinte maneira:
«Começámos a trabalhar sabendo que teríamos um jogo três dias depois. Sabia que chegaríamos aqui fatigados pelas cargas intensas mas tínhamos de arriscar. Não podemos dar carga à equipa entre os próximos oito jogos e sim recuperar de encontro para encontro.»
Eu até posso compreender um pouco da lógica subjacente a esta planificação. Olhando para o calendário encarnado, se há jogo onde poderíamos escolher ter um mau resultado seria neste encontro, pois nada ficaria completamente decidido. Já nas eliminatórias da taça de Portugal ou nas jornadas da 1ª liga, o caso já era bem diferente. Contudo, os jogadores não tiveram parados assim tantos dias que justificasse a tal falta de frescura física. Como tal, o porquê de uma carga de treinos, presumo, digna de pré-temporada? Se houver algum leitor que seja especialista nesta matéria e que possa dar uma opinião fundamentada, teria todo o gosto de lê-la na caixa das mensagens neste artigo. É que de facto é uma questão pertinente.

De qualquer das formas, os jogadores do Benfica não tinham energia suficiente para fazer uns 15 minutos à Benfica e depois gerirem o jogo?!


Saber usar a cabeça
Cardozo e Lima são os jogadores que mais precisam de
jogar com cabeça, para que este Benfica tenha outra
dimensão ofensiva.
Continuamos a não ser inteligentes nos jogos. Quer ao nível estratégico, quer ao nível tático. Se os jogadores encarnados não controlam a posse de bola e o ritmo de jogo começam a jogar ao ritmo do adversário. Para uma equipa que não esteja tão bem fisicamente, como parece ser a do Benfica, isto acaba por ser crucial e estratégico.

Depois, é preciso ser-se mais inteligente nas movimentações tácticas, sobretudo ao nível da linha avançada. Mais concretamente, da dupla atacante do Benfica. Pensava que o jogo frente ao Sporting em Alvalade tivesse servido de emenda e de guia de como saber jogar em dupla, após aquela segunda parte fantástica. No entanto, pelos vistos estava errado, pois ou desaprenderam no natal como deveriam jogar, ou então foi só fogo de vista.

Muito trabalho de treino é necessário ser feito no sector atacante da equipa encarnada! Quantas vezes Matic e Enzo não precisam de maior apoio não só em termos defensivos, como na fase de construção? Quantas vezes os nossos avançados não ficam literalmente na "mama", quando deveriam ser dos primeiros a procurar jogar com os colegas? E, quantas vezes os nossos extremos não combinam com os colegas de meio-campo e laterais quando podem? Quanto é que este tipo de "não-jogadas", diria mesmo "turn-overs" futebolísticos, é que não acabam por cansar fisica e mentalmente a equipa?


Um por um
Ola John pode não ter sido o pior, mas foi concerteza um
dos piores em campo em Moreira de Cónegos. É realmente
talentoso, mas no futebol actual não basta ter talento.
É preciso ter carácter!
Paulo Lopes: o experiente guardião português, esteve no geral muito seguro. Foi pena o resto da equipa não estar muito virada para resolver rapidamente o jogo. No golo do Ghilas não teve responsabilidade e ainda esteve quase a defender a bola quando saiu aos pés do argelino em mancha.

André Almedia: foi a par do central Jardel, o melhor elemento defensivo, pelo menos a nível de atitude e empenho. Aparentemente é ele quem coloca o Ghilas em jogo no lance do golo do Moreirense. De qualquer das formas, não é conclusivo, mesmo através das repetições. Para além disso, a exibição do jovem português no resto do encontro foi muito boa. Na primeira parte, o lance de maior perigo que o Benfica criou foi dos seus pés!

Jardel: é um excelente profissional. Pode não ser um fora de série, mas cada vez mais está a atingir uma regularidade que o permite ser um dos melhores encarnados em cada encontro. Dos centrais, neste encontro foi o melhorzinho, pois foi aquele que melhor parou o "clone de Benzema" de Moreira de Cónegos.

Garay: pessoalmente eu não gostei. As críticas que faço acima servem-lhe todas que nem uma luva. A forma como o Ghilas conseguiu ganhar-lhe bolas de costas para a baliza e conseguir segurar o esférico, demonstra a forma pouco concentrada como o argentino surgiu neste encontro. O cansaço não explica tudo. É preciso ser-se mais inteligente em campo e sobretudo, manter uma atitude de verdadeiro campeão.

Melgarejo: este é outro dos elementos do quarteto defensivo que não gostei. É esforçado, não digo o contrário, mas continua a ser pouco inteligente na dinâmica ofensiva. Isso leva a que percamos verticalidade na ala esquerda, mas também muitas perdas de bola que o deixam em contra-pé. Salientar que muito da culpa também deve-se ao companheiro da ala que tem mais à frente: o holandês Ola John, que pouco ou nada ajuda.

Matic: tal como Jardel, este é outro dos jogadores que tem sempre uma atitude empenhada dentro de campo. Não foi pelo sérvio que estávamos a jogar mal. Aliás, se estivemos a conseguir controlar o ímpeto do adversário durante muito tempo foi graças a este e ao Enzo.

Enzo: confesso que não começou lá muito bem, mas com Cardozo, Lima, Salvio e Ola John demasiado estáticos e muito escondidos por entre os adversários, é normal que os seus passes eram constantemente interceptados. Não o recrimino, pois era imediatamente o primeiro a tentar a recuperação.

Salvio: estava desinspirado, mas do quarteto atacante, foi aquele que mais remou contra a maré. Por isso mesmo não posso apontar-lhe a falta de atitude. Poderei ver que estava algo fatigado, pois perdia quase sempre os ressaltos. Também tem de ser mais inteligente com a bola nos pés: precisa de jogar mais com os colegas. É a bola que tem de "correr" e não tanto ele!

Ola John: sou-vos sincero, irrita-me este jogador, pois vê-se que talento ele tem aos montes, mas atitude, o querer triunfar, o colocar o coração em campo em prol da vitória... o tal carácter que muitas vezes ouvimos falar, penso que lhe falta muito. O campo para este jogador é inclinado no sentido do ataque. Isto é, quando estamos a atacar ele descobre que é veloz, mas quando é para defender, as pernas já ficam pesadas. Se noutros jogos ele disfarçava isso com assistências e grandes jogadas de ataque com belíssimos desequilíbrios ofensivos, neste encontro não fez nada. Mesmo na oportunidade que teve para fazer algo, foi muito lento a decidir sobre o que fazer. Muito macio e mole e isso deixa-me preocupado quando tivermos que defrontar grandes equipas no máximo das suas forças.

Lima: exibição decepcionante a todos os níveis. A meu ver, até foi dos jogadores que mais fresco estava em campo. No entanto, parece que não aprendeu como deve jogar neste Benfica com dois avançados, após a grande segunda parte em Alvalade! Ele não pode querer jogar na "mama", à espera que os seus colegas façam a jogada para ele encostar o pé e marcar golo. A equipa precisa que ele seja um avançado móvel que explore os espaços e esteja constantemente a criar linhas de passe para os colegas de meio-campo. Depois tem de ter outra atitude quando falha. Não pode ficar facilmente descrente. Não gostei do seu falhanço no penaltie, que quanto a mim foi algo denunciado. Mas, pior que isso, foi a sua atitude após o falhanço. Falhava passes de 2 metros e depois só abanava a cabeça em vez de fazer pressão para recuperar novamente o esférico. Revelou alguma falta de mentalidade, o que deixa-me preocupado.

Cardozo: um capitão do Benfica não pode ter a atitude que teve durante todo o encontro. Na primeira parte, não segurou uma bola sequer lá na frente. E, nós a vermos um Ghilas a conseguir segurar tudo no ataque do Moreirense... que nervos para um Benfiquista! Como é isso possível? Mais uma ver: atitude! De facto, a única vez que o vi ter uma boa atitude neste encontro, foi no penaltie que originou o empate, já em tempo de descontos. O Tacuara poderá continuar a atingir recordes de golos pelo Benfica, mas poderia ser muito melhor se tivesse outra atitude em campo e deixar-se de ser tão "mamão". Não é apenas Lima que tem de aparecer mais aos companheiros. Também o paraguaio tem e deve procurar construir jogo com os colegas. Ah! E tem de começar a ganhar mais bolas aos centrais adversários... ver uns vídeos do Ghilas não lhe fazia nada mal...

Rodrigo: gostei da sua entrada deu outra dinâmica ao ataque, embora tenha jogado mais como médio-ofensivo. Vi muita garra e atitude, na forma como recuperou muitas bolas, quando o Moreirense se preparava para sair em contra-ataques.

Nolito: entrou para o lugar de Enzo, mas jogou como falso lateral esquerdo, após a saída de Melgarejo. Foi fundamental para organizar o ataque, embora tenha estado muito pouco tempo em campo.

Kardec: entrou para o ataque, numa altura em que o Benfica começava a despejar bolas para a grande área adversária. Muito pouco tempo para demonstrar o quer que seja e entrou mais para baralhar as marcações adversárias.


Considerações finais
É preciso aprender com os erros deste jogo para evitar
futuros galos!
Uma coisa são os comentadores falarem, outra é os nossos atletas e equipa técnica falarem em tom de desculpabilização da exibição por causa do estado do terreno. O facto de estar pesado ou não só beneficia os jogadores mais dotados tecnicamente e que sejam inteligentes. Se os jogadores do Benfica são reconhecidamente mais tecnicistas deveriam logo à partida ter vantagem sobre o adversário. Não a tivemos porque não fomos suficientemente inteligentes do ponto de vista táctico e estratégico. Resultando na perda do controlo de jogo. O adversário, mentalmente mais moralizado e forte para este encontro conseguiu ser superior a todas essas adversidades. Como tal devemos ser humildes o suficiente e aprender esta lição para futuros encontros. Espero que o Jorge Jesus saiba passar essa mensagem!



PS: Comecei a escrever este artigo logo após o encontro em Moreira de Cónegos para a taça da liga. No entanto, devido às festividades da passagem de ano, só agora consegui o concluir.

Sem comentários:

Enviar um comentário