31 outubro 2016

A importância de Pizzi...


... e, porque rende aí agora, quando no passado não.


Agora, é unânime, entre todos os Benfiquistas, dizer que o Luís Miguel é titularíssimo da equipa encarnada. Longe vão os tempos de que achavam que 14M€ por este jogador era mais uma negociata de Vieira com o seu homólogo do Atlético de Madrid. Hoje, já ninguém fala disso, porque já se renderam às evidências de um jogador que juntamente com o Fejsa são superiores a qualquer meio-campo a jogar em Portugal. E, se dúvidas houvessem, o jogo frente à sua ex-equipa pacense, dissiparam por completo. Se há uma semana chamava de motor à prova de água, hoje chamo-o de motor de vários regimes, tal a forma como joga a baixa e a alta rotação. Aquelas mudanças de velocidade quando entra no último terço do terreno, em sintonia com um jogo de pés só ao alcance dos prodigiosos, são a prova factual do que acabei de escrever. Pessoalmente, é talvez o melhor médio português do momento. Por isso, não exijo outra coisa que ver o seu nome na lista de convocados para os próximos jogos da seleção nacional... está bem Fernando Santos?

Mas, porque raio é que o Pizzi rende agora no corredor central e antes era um ai Jesus? A resposta não é apenas na experiência que o jogador adquiriu ao longo deste tempo. Isso pode ter ajudado, é um facto, mas o factor determinante tem a ver com a dinâmica e as características dos jogadores que estão ao lado e à frente do camisola 21 neste momento. Uma coisa é jogar com o apoio de Cervi e de Gonçalo Guedes, outra é ter Gaitán e Jonas, respectivamente. Com o actual camisola 10, Pizzi acaba por coabitar no mesmo espaço que o brasileiro com a bola, o que dificulta um pouco, porque acaba por concentrar dois ou três jogadores adversários sobre eles e como ambos gostam de jogar com a bola no pé não tendem a procurar os espaços, algo que o Guedes está constantemente a fazer. Por outro lado, o ex-camisola 10 encarnado, era essencialmente um jogador de corredor e com pouca reacção à perda, algo que o seu substituto Cervi não é. O "Chucky" acaba por ser a moleta ideal para o Pizzi e Fejsa no momento de perda de bola, porque a par de Guedes acabam por serem os primeiros a pressionar o adversário, permitindo a equipa recuperar posicionamentos.

Para mim, esta é uma evolução perante o modelo do ano passado. O equilíbrio da equipa é muito mais natural, porque o corredor central está constantemente protegido. E, por isso mesmo, hoje em dia conseguimos recuperar a bola mais rapidamente, que na época passada. Nela, o equilíbrio era feito pela presença de Pizzi, sobretudo na fase de construção, onde aparecia no corredor central, libertando um pouco o Renato Sanches para fazer diagonais nos meios-espaços defensivos adversários. O problema é que sem bola e com uma dupla de atacantes mais estática e pouco intensa na reacção à perda, fazia com que fosse o Pizzi a ter que ir à ala direita para evitar a evolução do ataque adversário por essa ala, ao mesmo tempo que o Sanches tinha que fazer picos de 50 metros para recuperar posição, isto porque Gaitán não tinha a mesma reacção à perda que um Cervi, por exemplo. Por isso, é que muitas vezes era Fejsa e Pizzi contra o mundo. No ano passado, as coisas não foram piores porque, a entrada de Lindelöf e de Lisandro no onze fez ganhar uns bons 30 a 50 metros da linha defensiva encarnada, pelo que dada a compactez entre a linha defensiva e Fejsa e Pizzi, conseguiam resolver a maioria das transições ofensivas adversárias. Mas, nem sempre foi assim, como podemos ver pelo começo da época.

É engraçado verificar que são os jogadores quem fazem o modelo de jogo e não tanto o contrário, como alguns treinadores preferem (caso de Jorge Jesus), mas isto é tema para outro dia. Quero é destacar a importância do Pizzi, dada a sua qualidade técnica e táctica, que lhe permite esta polivalência fundamental para a equipa. Espero que com esta visão tenha contribuído para desmistificar o porquê do rendimento dele ter sido melhor que em 2014/2015, quando era ele e Samaris no meio-campo, acompanhados por Gaitán e Salvio nas alas. Nessa temporada, nem sempre teve grandes exibições pelos motivos que retratei acima. No entanto, a ideia de ser ele o motor de jogo encarnado é válida e é aqui que temos de tirar o chapéu ao trabalho de Rui Vitória e de sua equipa. Sem este trabalho e visão, jamais poderíamos ver golos como o do terceiro golo frente ao Paços de Ferreira, todo ele construído no corredor central, demonstrando a superioridade encarnada nesta zona do terreno.



8 comentários:

  1. António Madeira31/10/16, 12:06

    "É engraçado verificar que são os jogadores quem fazem o modelo de jogo e não tanto o contrário,"

    Permita-me dizer que não acho nada engraçado. Sempre achei que é assim mesmo e que grandes são os treinadores que, tendo um modelo de jogo, sabem adaptá-lo às características dos jogadores que têm à sua disposição. Rui Vitória é um desses treinadores.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá António Madeira. Tens toda a razão. No entanto, temos de perceber o porquê de muitos treinadores irem pela ideia de modelo de jogo e ir buscar jogadores que possam reproduzir essa ideia, mais que adaptarem aos jogadores. Tem muito a ver com a experiência desses treinadores. Por um lado, há a necessidade de apresentar resultados rápidos. Por outro lado, muitas vezes eles não têm acesso a jogadores de qualidade, o que acaba por criarem sistematizações que possam de certa forma atenuar essa falta de qualidade.

      É um excelente tópico para debate que pretendo debruçar-me num futuro próximo. Agora estou perfeitamente de acordo: o Rui Vitória é um desses treinadores que sabe moldar o seu modelo de jogo aos seus jogadores.

      Aliás, o próprio conceito de modelo de jogo é algo que deve estar na base do jogador. Não pode estar dissociado dele.

      Eliminar
  2. o pizzi realmente e subvalorizado, mas o fesja tb o e, todos falamos como ele defensivamente e impecavel mas ele este ano ja parece mais um 8 que propriamente um 6 com a quantidade de passes que agora "rasga" quanto ao modelo de jogo respeito ambas as posiçoes e penso que uma nao e melhor que a outra mas sim diferentes, o jj consegue render de alguns jogadores que realmente so ele consegue faze los render entretanto o rui vitoria nao desperdiça tanto talento pois nao e tao especifico nos jogadores

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Para mim, o Jesus não tem um modelo de jogo. Ele tem isso sim um sistema de jogo. Um modelo de jogo faz com que os jogadores saibam o que devem realmente fazer em cada fase do jogo. Um sistema de jogo faz com que os jogadores entrem em campo e actuem dentro do envelope de funcionamento deles.

      Quando algo lhes cai fora desse envelope de funcionamento, a máquina emperra. No caso do Rui Vitória, já não é assim. Os jogadores reajustam-se porque têm conhecimento das bases para o fazer.

      Isto depois reflecte-se na postura de ambos os treinadores no banco. Enquanto um parece que está com o comando da playstation na mão, com gritarias constantes aos seus atletas, o outro vai apontando aqui e ali outros caminhos, numa postura muito mais serena.

      Eliminar
    2. sim, basicamente dizes ao jogador tu e que jogas e tomas a maioria das decisoes em campo, eu so ajudo a desembaraçar das situaçoes mais correntes e de forma a que estejam organizados. e dos maires problemas da formaçao hoje em dia que e nao conseguir deixar os jogadores pensarem pla propria cabeça

      Eliminar
    3. Por acaso, penso que estamos a evoluir noutro sentido (aleluia). Mas, esse foi (e em certa medida continua) a ser um dos problemas da nossa formação.

      Eliminar
  3. O Pizzi tem de facto evoluido muito. Neste momento pode-se dizer que é um jogador verdadeiramente versátil. Se quando o Benfica deu 14M€ por ele eu achei que não valia a pena, porque à altura apenas gostava de o ver nas alas... agora rendi-me completamente. Afinal era ele o 8 que precisávamos para enriquecer a posição.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O exemplo do Pizzi para mim reflecte mais que isso. Reflecte que quando não se tem um jogador com determinadas características específicas para uma determinada posição, é possível colmatar isso se tivermos flexibilidade suficiente de usar um outro tipo de jogador mudando um pouco o comportamento dos jogadores à sua volta.

      Por outras palavras, é possível caçar com gato quando não se tem cão.

      ;)

      Eliminar