08 outubro 2016

É já hoje...


... o jogo de homenagem a Léo e que comemora também o centenário do Santos na Vila Belmiro.


 O convidado especial: Benfica 
Falar de Santos e Benfica
é falar de dois reis:
Pelé e Eusébio.
Pessoalmente, penso que o Santos e o Léo estiveram muito bem em convidar o Benfica para este encontro com duplo efeito: homenagear a saída do futebol profissional do ex-jogador das "águias" e do "peixe", o pequeno Léo; e celebrar os 100 anos da Vila Belmiro com um dos maiores adversários do clube brasileiro, o Glorioso Benfica. Uma rivalidade que vem já dos tempos do craque Pelé, figura de proa do clube dos arredores de São Paulo. Faz todo o sentido este convite e ainda mais fez sentido o Benfica tê-lo aceitado. É também por aqui que se vê o prestígio e a forma de estar de um clube como o Benfica no mundo do futebol. Numa altura de grandes críticas e tentativas de divisões no futebol nacional, nada melhor esta chapada de luva branca na defesa da união no mundo do futebol. Adversários em campo sim, mas amigos fora dele, porque o jogo é lá dentro das 4 linhas.


 7J-0V-1E-6D 
Na década de 60, o futebol brasileiro
dava cartas não apenas pelo talento
de Pelé e companhia, mas também
pelas inovações tácticas que fizeram
o escrete canarinho no topo
das melhores seleções do mundo.
Mas, basta de falarmos de outros assuntos e centrarmos-nos neste jogo. Sabiam que o Benfica frente ao Santos nunca o conseguiu vencer? Sabiam que no confronto entre estes dois colossos do futebol mundial, o Benfica marcou metade dos golos que o Santos (14 contra 28)? Sabiam que esta rivalidade começou em 1956/57? Pois é, desde esse primeiro encontro na Vila Belmiro, palco que hoje se disputará mais um encontro entre estas duas equipas e onde o Benfica em 1956/57, que o Benfica perdeu por 3-2, num jogo de carácter particular. Curiosidades: foi neste jogo que o Pelé marcou o seu primeiro golo "internacional", um ano depois, no verão de 1957/58, Pelé e Pepe, a dupla atacante do "Peixe" sagra-se campeã do mundo na Suécia. Já agora, sabem com quantos anos o Pelé se jogou esse jogo frente ao Benfica? Terá sido com maior ou menor idade que o José Gomes? Vejam a resposta no final deste artigo. O Benfica não perdia a invencibilidade que tinha nessa altura com uma equipa qualquer. A partir daí, voltaram-se a encontrar em diversos e importantes torneios. Primeiro, no torneio internacional de Paris, em 1961/62, no Parque dos Príncipes em Paris, em solo neutro, com uma derrota copiosa por 3-6 para os encarnados. Notar que o Benfica era o campeão europeu em título nessa altura. Já agora, sabem o real motivo para o Benfica não ter qualquer título intercontinental no seu museu? Exactamente aquilo que estão a pensar. A culpa é do Santos de Pelé. Em 1962/63, a taça intercontinental disputava-se em duas mãos, tendo o Benfica do Rei Eusébio perdido para o Santos do Rei Pelé, primeiro em Rio de Janeiro no Maracanã, por 3-2, e depois em Lisboa na Luz, por 2-5. Depois desse duplo confronto, anos mais tarde, em 1966/67, ambas as equipas voltam-e a encontrar, no torneio internacional de Nova Iorque, disputado no estádio de Randall's Island. O resultado, esse, foi o pior de todos os confrontos com eles, derrota por 4-0. Dois anos depois, na época de 1968/69, ambos clubes defrontaram-se por duas vezes, sempre em solo neutro. O primeiro encontro dessa temporada, foi no torneio pentagonal de Buenos Aires, no mítico estádio do Boca Juniores, La Bombonera. O resultado final? Nova derrota (a 6ª consecutiva), desta feita por 4-2. No entanto, ainda nessa temporada, no particular de Nova Iorque, no famoso estádio dos Yankee, Benfica consegue arrancar um fantástico empate a 3 golos frente ao Santos. Terá sido este o ponto de inflexão nos resultados negativos frente à equipa paulista? É isso que veremos esta noite na Vila Belmiro, também conhecido por "Alçapão". (Para mais informações sobre estes confrontos directos com o Santos, não deixem de ler este artigo do Alberto Miguéns, pois recordar também é viver).


 Porquê a alcunha de "Alçapão"? 
O alçapão de Vila Belmiro.
Antes de ter a alcunha de Templo do Futebol, a Vila mais famosa do mundo ou casa do Rei Pelé, o nobre estádio de Vila Belmiro (Urbano Caldeira) recebeu o seu mais primordial apelido: o Alçapão. O fato ocorreu em 1930, depois de uma época em que a equipa alvinegra se manteve invicta nos jogos caseiros, nascendo por isso o “Alçapão de Vila Belmiro”. Esta alcunha de alçapão foi deferida pelo jornalista Antônio Guenaga, de “A Tribuna”, devido aos expressivos resultados obtidos pelo alvinegro em seu estádio, num total de 25 partidas invictas, que compreende todo o ano de 1930.


 O Guerreiro da Vila 
Léo, o guerreiro da Vila e da Luz.
O pequeno e "rabugento" Léo, construiu uma carreira como profissional de futebol em duas grandes equipas, o Santos e o Benfica. Depois dos importantes duelos com os "irmãos" brasileiros, entre Eusébio e Pelé na década de 60, é talvez o maior elo de ligação com o futebol encarnado. Por isso, nada melhor que ser ele o embaixador deste importante encontro, que marcará a sua despedida dos relvados como profissional. Ao serviço do peixe, marcou duas gerações. A primeira de 2000 a 2005 e a segunda de 2009 a 2014. Entre estas, 4 fabulosos anos de águia ao peito, entre 2005 e 2009. Se no alçapão era conhecido por o guerreiro da Vila, no Glorioso, foi um dos jogadores que mais espelhava o epíteto de o guerreiro da Luz. A sua forma de jogar, intensa, sempre dando o corpo à luta e nunca desistindo de cada lance, apesar do seu aspecto físico franzino e baixinho, valoriza e faz com que as suas alcunhas assentassem na perfeição. Mas, não é apenas pela "raça" que deixava no relvado. E o aspecto técnico? Aquelas arrancadas pela lateral esquerda, aquelas fintas e combinações no seu flanco e que originavam importantes assistências para os companheiros de ataque, também eram uma imagem de marca. Ele igualmente apelidado de pequeno "Maradona", pela qualidade técnica que demonstrava com o seu pé esquerdo. Depois, a sua personalidade, um pouco rezingona, talvez por levar o jogo de forma séria e profissional, não só foi importante para a forma como abordava os jogos, mas também como alguns colegas se metiam com ele. Olhando a esta distância, talvez este feitio do Léo possa ter também culpa na relação que intempestiva que teve com o treinador Quique Flores, e que ainda hoje transpira alguma mágoa pela forma como acaba por sair do Benfica. Neste contexto, por mais que o ex-treinador encarnado possa ser impopular para a maioria dos adeptos encarnados, tenho de puxar as orelhas tanto a este como ao Léo, pois parece-me que o verdadeiro problema foi uma questão de ego. No entanto, é todo este pacote que o Léo representa que faz com que tenha sido (e ainda é) ídolo nas duas torcidas.




 Algumas histórias do baixinho Léo 
Ricardo Oliveira, Elano e Renato, tudo jogadores internacionais pelo escrete canarinho e que encontraram o guerreiro da Vila, quando ele actuava no Santos, têm histórias bem interessantes e engraçadas. Senão leiam estas:
«Ele sempre foi desse jeitão dele meio rabugento. O pessoal brincava muito com ele. Eu coloquei um apelido que a molecada gostava demais, que era o de Julião Petruchio, da novela o Cravo e a Rosa. O Léo ficava doido. Quando eu voltei pro Santos, a primeira coisa que ele fez foi perguntar se eu tinha amadurecido, por conta desse apelido.»
Por Ricardo Oliveira

«Ele era medroso demais e eu falava que ia matá-lo. Fui pro lanche e fechei a cara, peguei uma chave e disse que ia matar-lo de noite. Peguei uma faca de cozinha e coloquei lado da minha cama. Mas ele não dormia de tanto medo. Até que finalmente dormiu às três da manhã. Então pulei em cima dele e disse que ia matar agora. O Léo saiu correndo e gritando ‘o Elano quer me matar’. Eu dava tanta risada que doía a barriga. Mas aí veio o Leão (que treinava o Santos na época) e imagina? Fomos dormir quietos e acabou a brincadeira.»
Por Elano


«Ele era ranzinza. Reclamava muito. Bicho era chato! Meninos pegavam muito no pé dele. Robinho o infernizava. Mas é um cara que trabalhou sério desde quando chegou. Esperamos que ele tenha melhorado esse lado ranzinza. É um grande amigo.»
Por Renato


 Amigos, amigos, jogo à parte! 
Desengane-se o adepto que isto será mais um encontro exibicional, daqueles que existem nas pré-épocas, para homenagear ou reunir fundos para qualquer acção social. O novo lateral esquerdo do Santos, o brasileiro Zeca, já veio a púbico dizer, que se tiver que fazer "carrinhos" fará.
«Temos que de homenagear o Léo, o guerreiro da Vila, como todos falam. Ele será a figura do evento, mas já lhe disse que se vier do meu lado eu vou levantar. Bateu a vida toda nos outros, agora chegou a vez dele, né?»
Por Zeca
Por aqui percebemos que o Santos vai querer ganhar o jogo. Ainda para mais, quando está a celebrar o centésimo aniversário de uma casa que se chama alçapão devido à invencibilidade dos alvinegros nela. O peixe deverá entrar em campo com o seguinte onze, assente num 4-2-3-1: Vanderlei na baliza; quarteto defensivo formado por Victor Ferraz a lateral direito, Luiz Delipe e David Braz no eixo da defesa e Zeca a lateral esquerdo; duplo "volante" de meio-campo formado por Thiago Maia (miúdo canhoto de 19 anos) e Renato (ambos podem jogar a "6" e a "8", conforme a fase de jogo); tridente de apoio ao avançado formado por Jean Mota, um canhoto sobre a direita, Jonathan Copete um possante extremo/avançado interior canhoto sobre a esquerda e o argentino Emiliano Vecchio como "10" da equipa e muitas vezes a funcionar como 3º médio; como ponta-de-lança o experiente Ricardo Oliveira. Em termos de dinâmica este 4-2-3-1, pode facilmente se transformar num 4-4-2, com a derivação do argentino para a ala esquerda e a subida do colombiano para jogar em parelha com o Ricardo Oliveira. Outra disposição táctica que muitas vezes tomam, é a de 4-3-3, com a descida de Renato para a posição "6" ficando o miúdo Maia e o Vecchio como interiores e um tridente atacante formado por Mota, Oliveira e Copete. É sobretudo um conjunto perigoso com bola nos pés, mas sem ela, tende a perder o rigor táctico e facilmente começam a partir demasiado o jogo. Algo que o Benfica deve e tem de explorar. E, não esquecer que têm ainda no banco, o experiente internacional médio canarinho Elano, o experiente médio defensivo colombiano Edwin Valencia, o médio Rafael Longuine, para além do lateral esquerdo Léo e o avançado centro Giovanni... só falta a este elenco, um dos jogadores que eu pretendia que viesse para o Benfica para a posição "8" e que está neste momento ao serviço do escrete canarinho, escrevo do camisola 10 do peixe, Lucas Lima.


 Homenagem também a Giovanni 
Que dupla de avançados
o Ronaldo (fenómeno)
e o Giovanni (messias)
faziam no Barça de Robson.
Lembram-se do brasileiro alto, camisola "10" que fazia dupla com o Ronaldo, naquela fabulosa época do fenómeno no Barcelona de Bobby Robson e de Figo? Estou a falar de 1996/97. Lembram-se? Nessa equipa também jogava o Vítor Baía e o Fernando Couto. Estão a ver? Era o camisola 10 dessa fabulosa equipa catalã. Pois bem, hoje o "Messias" também será homenageado. Em termos de jogadores a homenagear, está prevista a seguinte ordem de trabalhos: o Léo deve jogar 10 minutos iniciais na equipa encarnada no primeiro tempo e outros 10 minutos finais pelos alvinegros, enquanto o Giovanni deverá actuar por um curto período de tempo antes do intervalo, quando receberá algumas homenagens. Em suma, o Léo abrirá e fechará as homenagens com o Giovanni a preencher o intervalo. No meio disto temos o jogo em si.


 Jogar para ganhar e não só! 
O Benfica hoje tem de entrar em campo como convidado, mas isso não significa que tenha de perder o encontro. Apesar de estarmos muito mais desfalcados que o nosso "rival irmão" brasileiro, fruto da extensa lista de lesionados e de internacionais nas respectivas seleções, temos um prestígio a defender e uma inflexão de resultados negativos a concretizar. E, nada melhor que fazê-lo num estádio onde o Santos se sente invencível, perante uma enchente e numa data tão importante como a de um centenário. Hoje tem de ser o nosso dia. Hoje será um verdadeiro teste ao nosso foco na vitória. Desculpas para perdermos este encontro são inúmeras, mas isso pode servir muito bem os interesses de outras equipas, não do Glorioso. Por isso é que penso que devemos tratar este encontro com alguma seriedade, para além dos objectivos que já tinha mencionado anteriormente, como o de dar oportunidade a jogadores menos utilizados e aos jovens. Assim sendo, este seria o onze que entraria em campo hoje: Ederson na baliza; quarteto defensivo formado por Benítez na lateral direita, Luisão e Lisandro no centro da defesa e Léo na lateral esquerda nos primeiros 10 minutos de jogo, cedendo lugar depois ao jovem Yuri Ribeiro; quarteto de meio-campo formado por Cervi na direita (como falso extremo/ala direito), André Almeida e Celis no centro do terreno e Carrillo na esquerda (como falso extremo/ala esquerdo); dupla atacante formada por Salvio e José Gomes. No segundo tempo, reservava para outras substituições e outros testes. A começar pela baliza, onde jogaria o imperador Júlio César. O quarteto defensivo também sofreria alterações: André Almeida descia para lateral direito; o capitão Luisão manteria a sua posição, mas com um novo colega de posto, o jovem Rúben Dias e na esquerda entraria o campeão europeu Eliseu. No meio-campo, as alterações seriam ainda mais profundas. Para a ala direita, ficaria o peruano Carrillo, que tentaria conceder-lhe 90 minutos em campo, para perceber em que ponto está a sua resistência física. No centro do meio-campo, uma nova dupla: Danilo e Dálcio. Será a estreia de ambos na equipa principal do Benfica. Penso que o Danilo pode aproveitar a maior entrega do Dálcio, podendo ambos alternando entre a posição "6" e "8". Para além disso, como colocaria o falso extremo esquerdo Diogo Gonçalves na ala esquerda, a tendência de vir para dentro deste, seria compensada pela tendência do Dálcio sendo esquerdino fazer o movimento de dentro para fora (ala esquerda). Lá na frente, manteria o miúdo José Gomes os 90 minutos, mas com novo parceiro de ataque, o jovem sérvio Jovic. 

Esquema táctico e onze para a partida frente ao Santos.




P.S.: O Rei Pelé jogou com o Benfica pela primeira vez com 16 anos e 9 meses certinhos. Ou seja, era ainda mais jovem que o adolescente José Gomes que deverá jogar esta noite.

2 comentários:

  1. Excelente artigo, PP.

    O jogo em si não aquece nem arrefece, sobretudo numa altura destas já com a época a "sério" a decorrer. Vale só pela homenagem ao Léo. Grande jogador que tinha sempre algo mais para dar, parecia que nunca se cansava. Totalmente merecida esta homenagem.

    O Benfica-Santos é um jogo com algum histórico. Devido aos confrontos entre Eusébio e Pelé. O balanço não é nada favorável, mas hoje em dia as coisas são diferentes. O futebol europeu é atualmente bem mais evoluido que o sul-americano, nos anos 60 era tudo mais equilibrado.

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    1. Completamente de acordo. Vamos lá ver como o Benfica se comporta. 😉

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