18 dezembro 2015

Cerrar fileiras


Porque o "o adversário está lá fora e mais activo do que nunca".

Podemos todos não gostar do presidente do Benfica. Até achar que o Benfica tem feito muito mais por ele do que ele pelo Benfica. Podemos achar tudo isso e mais alguma coisa. No entanto, de há muito tempo para cá, a verdade é que ele se tem comportado como um verdadeiro presidente. E disso é notório o seu discurso de ontem à noite, que pode ser lido na integra nas seguintes linhas e ao qual tomei a liberdade de sublinhar e realçar as partes que acho realmente importantes.

«O Benfica é só um»

«Quero começar por agradecer a vossa presença aqui hoje. Agradecer também a todos aqueles que, não podendo estar presentes, tiveram o cuidado de enviar mensagens públicas (como as que tivemos oportunidade de ouvir) ou privadas (como as que tiveram a amabilidade de me fazer chegar).

Este jantar tem um único propósito: deixar bem claro a todos que o Benfica se fez grande na união, construiu-se na diversidade de opiniões, na democracia das ideias, mas foi pelo empenho e pelo esforço de todos os benfiquistas que chegámos aqui.

O Benfica não exclui. No Benfica, ninguém é dispensável. Todos somos necessários.

Os que estão nesta sala servem ou serviram o Benfica. Alguns há muito tempo, outros há menos tempo, mas todos demos e damos o nosso melhor para que o Benfica se torne cada dia mais forte.

Todos nós tivemos de tomar decisões. Nem sempre acertamos, mas há uma garantia que tenho: assumimos sempre que a nossa decisão é aquela que melhor serve o Benfica.

Também já errei, e vou continuar a errar, porque os únicos que não erram são aqueles que nada decidem!

Quis promover este jantar, porque todos os que aqui estão contribuíram, no seu tempo e a seu modo, para que o Clube hoje seja um Clube admirado, respeitado, seguido a nível internacional, credível, inovador e, acima de tudo, a caminho de livrar-se da sua dependência do sistema financeiro.

Este mérito é de toda a equipa e de todos aqueles que me acompanharam a mim e ao Manuel Vilarinho nos últimos 15 anos, mas é um mérito que não exclui ninguém.

Dentro do Benfica temos direito a divergir, mas os nossos adversários estão lá fora, mais activos do que nunca, o que nos obriga a estar mais unidos do que alguma vez estivemos na defesa do Benfica.

Termos chegado aqui é sucesso e mérito de todos, independentemente da Direção que serviram, e é precisamente esta palavra que queria deixar.

O Benfica não tem aldeias, não tem fações. O Benfica é só um, e todos nós fazemos parte desta realidade.

A estabilidade dos últimos 15 anos permitiu-nos recuperar a nossa grandeza, permitiu-nos pensar e planear a médio e longo prazo, permitiu-nos voltar a ser um Clube global.

Em questões estruturais, nunca houve divergências. Foi necessário recuperar a credibilidade do Clube. Foi necessário construir o Estádio, os pavilhões, o Caixa Futebol Campus. Foi necessário pensar e fazer nascer a BTV. Foi necessário, quando houve capacidade, apostar na vertente desportiva.

Foi necessário fazer o Museu. Tudo isto foi feito de forma progressiva, de forma planeada. E nestas questões estivemos sempre em sintonia.

É chegado o tempo de pagar o passivo do Clube, de o recuperar para os seus sócios.

Ganhar é importante, é fundamental, é o que nos move diariamente, mas poder dizer que o Clube voltou a ser nosso, totalmente nosso, que vai poder, finalmente, livrar-se da sua dependência do sistema financeiro, é algo que me enche de orgulho.

No capítulo desportivo, este é um ano de transição.

Mas transição não significa menor ambição, ou menor exigência. Transição significa apenas uma mudança de paradigma, uma maior aposta na Formação, menos compras, mais jovens. É isto que significa a nossa transição.

Esta é a visão que tenho e que desejo implementar para o futuro do Benfica. Mas esta visão não pode ser incompatível com resultados.

Em alguns momentos, temos de ser exigentes, e podem ter a certeza de que essa exigência existe cá dentro. Noutros momentos, temos de ser pacientes.

É este equilíbrio que quero pedir a todos os benfiquistas. Sermos exigentes mas, ao mesmo tempo, compreender que nenhuma mudança se faz de forma instantânea e sem alguns custos.

Quanto ao acordo celebrado com a NOS na semana passada, queria reiterar o que já disse: à medida que as contrapartidas financeiras do acordo se forem cumprindo, vamos libertar o Benfica do seu passivo.

Permitam-me, a terminar, que destaque três pessoas nesta sala:

- Manuel Vilarinho. Foi pela sua mão que entrei no Benfica. O Manuel assumiu o Clube num momento muito difícil. Contou sempre com o meu apoio e a minha solidariedade nas grandes decisões.

- Mário Dias o “pai” deste Estádio. Sem a sua vontade e o seu empenho possivelmente não haveria novo Estádio.

- E, finalmente, o Domingos Soares Oliveira que lidera a Comissão Executiva e toda a parte operacional do Clube.

No exemplo destas três pessoas quero agradecer a todos nesta sala pelo vosso benfiquismo.

Independentemente do tempo e da conjuntura em que serviram o Benfica, todos fomos importantes para chegar aqui!

Obrigado pela vossa presença!»

Findo esta leitura, aqueles que mesmo assim são contra este discurso, convido-vos sinceramente para elaborarem um, até pode ser com base neste, sobre o que realmente gostariam que o presidente tivesse dito. Para mim, e sem ser um fan incondicional do Luís Filipe Vieira, tenho de reconhecer que é um discurso inteligente. Em vez de sair a pontapear tudo e todos os nossos adversários, tenta reunir tropas, respeita a diversidade de opinião, mas pede paciência e promete exigência.

10 comentários:

  1. Um discurso deste género para mim era o ideal:

    "Todos reconhecemos que esta época está a ser um fracasso...mas só acreditando podemos acabar triunfantes"

    "Faremos tudo o possivel para encontrar soluções para o nosso amado Sport Lisboa e Benfica. Quer do ponto de vista financeiro quer do ponto de vista desportivo."

    "O futebol não tem corrido tão bem como as modalidades, mas os benfiquistas têm de continuar a ir ao estádio para em Maio festejármos juntos."

    "O Rui é um excelente profissional, mas até agora não está a ter os resultados esperados. Daremos mais uma opurtunidade mas só mais uma."

    "Faço também um Mea Culpa por tudo o que se tem passado nunca metendo em causa a dedicação dos nossos profissionais. Responsabilizo-me por esta época e serei eu que darei a cara caso este projeto corra mal."

    Para além de explicar o novo paradigma e outros factos mal explicados.

    Agora o que ele fez foi atirar areia para os olhos dos benfiquistas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Esqueci-me de dizer que o mais importante era cumprir o que diz e não ter errado como já errou no verão.

      Saudações

      Eliminar
    2. Antes demais, quero agradecer-te por teres aceitado o desafio que coloquei Kamikaze.

      Agora quanto ao "teu" discurso, gostaria que o relesses mas como se fosses um jornalista desportivo em busca de sangue, um presidente anti-Benfiquista primário e um ex-treinador ressabiado pela forma como saiu da Luz. Como achas que eles iriam ler o teu discurso? Como achas que eles na primeira hipótese iriam mandar bicadas?

      Mas, também como achas que a tua equipa técnica iria actuar se estivesses a lançar ultimatos, mesmo que ela tenha estado de certa forma a alcançar alguns dos objectivos do clube até ao momento?

      É disto que se trata. Há coisas que o LFV disse e que tu também escreveste. Mas ele disse-o de uma maneira subtil, mas que quem necessita receber a mensagem saiba entendê-la, sem nunca dar trunfos aos nossos adversários. Por exemplo, quando ele fala em transição e exigência, ele sabe que a tarefa da equipa técnica não é fácil, mas está a exigir resultados. E está fazê-lo sem ter que ser excessivamente duro.

      No entanto, concordo contigo que possa ter faltado um pouco mais de chama no discurso. Incendiar um pouco as almas encarnadas.

      Eliminar
    3. Na minha opinião as verdades nunca podem ser consideradas incendiárias para um balneário. Acho que é essa pressão interna que está a fazer falta. A pressão que está a ser feita vem de fora por parte dos adeptos, mas no interior do clube duvido muito que não esteja tudo nas calmas. Só um discurso despolitizado, verdadeiro e com chama faria os Benfiquistas acreditarem e unirem-se. Este disco riscado não vai dar a lado nenhum. É um apaziguar quando o que é preciso é motivar os adeptos e pressionar no sentido positivo a equipa.

      Quanto aos jornaleiros e a restante corja Anti-Benfica era ignorar. Todos os grandes clubes estão sujeitos a essa pressão e têm que continuar no seu caminho. Aliás, os melhores clubes do mundo quando a coisa está mal deixam recados para dentro. Marinbando-se para a Comunicação Social.

      Eliminar
    4. E desde quando ao dizer isso quer dizer que ele já não fez a pressão interna?

      Outra questão Kamikaze, imagina-te no lugar de um treinador. Agora imagina-te o presidente num discurso humilhar-te publicamente com palavras como fracasso. Mesmo que tu querendo demonstrar que não és nada disso, se por ventura tivesses um resultado menos positivo, e isso bastava uma vitória a jogar mal, como te sentirias quando visses lenços brancos nas bancadas e assobios constantes.

      Imagina agora, que és o treinador e até uma boa parte dos maus resultados está porque ainda não conseguiste domar como deve de ser determinador jogador dentro do balneário, mas que estavas quase a domá-lo de tal maneira que seria fundamental pois o tipo é um líder nato e precisavas de uma personalidade daquelas do teu lado. Esse tipo de declarações do presidente iria passar a mensagem para o jogador pura e simplesmente cagar-se no treinador. E isso não serviria nada nem ninguém, porque como adeptos queremos é que a equipa ganhe e não perca, sobretudo por causa de egos.

      Eu até acho que o discurso foi despolitizado. Agora, concordo contigo, faltou-lhe um pouco de chama. Não acho que tenha sido um disco riscado. Para tal teríamos que ouvir algo como antes de mim, nada havia ou algo do género.

      Sobre as pressões exteriores... mas, não é isso que o Benfica tem feito até agora? E já viste o quanto muitos dentro do Benfica criticam a estrutura?

      Que melhores clubes do mundo estás a falar? Do União da Madeira? Do Real Madrid que vende muito, mas joga pouco e ganha ainda menos? Do Chelsea que tem despedido sempre os seus treinadores vitoriosos?

      ;)

      Eliminar
    5. O Bayern e o Barcelona por exemplo, quando as coisas correm mal até se fazem ouvir em Portugal. E são os dois melhores clubes do mundo. Esta direção do Benfica devia falar abertamente aos sócios e adeptos e não andar a esconder sei lá o quê e fazer propaganda a eles próprios.

      Quanto ao discurso repetitivo, basta ver os ultimos discursos e constatar que refere sempre que antes dele o clube estava muito mal e ele é que veio salvar..."estamos a crescer"..."o Benfica é hoje uma grande marca"..."construção do Seixal"..."BTV, museu, estádio"... que nada acrescentam ao Benfica neste momento.

      No fundo, a imagem que passa é que preocupa-se mais em defender-se do que defender o Benfica. Nos discursos é igual: uma campanha para sacar votos. Daí eu achar que é um discurso muito politizado. Não vejo problema em admitir abertamente os seus erros.

      Não acho que o treinador seja humilhado por dizerem que está a ser um fracasso. Ou é burro e acha que estamos no bom caminho ou então entende que o trabalho que tem feito é uma nulidade. E já seria simpático dar mais uma opurtunidade...bem podia despedi-lo já em Janeiro.

      Volto a repetir que para mim as verdades nunca podem ser consideradas incendiárias. A hipocrisia não nos leva a lado nenhum.

      Eliminar
    6. Kamikaze, a verdade e a frontalidade tem muito que se lhe diga...

      Já agora que exemplos do Bayern e do Barcelona te referes? Por acaso nunca ouvi um dirigente de um desses clubes a humilhar publicamente os seus treinadores com mensagens tipo fracasso, ou até mesmo ameaças de despedimento (como o do União da Madeira fez). O máximo que ouvi foi alguma contestação ao Pep quando não ganhou a supertaça da Alemanha, mas nada que não se tenha feito já com o RV, esta temporada.

      Mas, aceito que o discurso noutros países parece ser mais frontal e eles não têm medo de colocar o dedo na ferida. Muitas vezes até é o próprio treinador que faz. Mas, repara na contestação que houve agora após o jogo do União. Só porque ele assumiu a culpa com a tal expressão "culpa própria", pumba! Toda a gente começou a mandá-lo ainda mais abaixo. Que lhe valeu a frontalidade com que abordou o empate?

      Talvez porque já vivi fora do país, entenda que isso é mais uma questão cultural que outra coisa qualquer. Pessoalmente, até acho que isso é uma boa medida do nível intelectual de cada sociedade. Não é à toa que os alemães são assim. Mas, replicar totalmente o que se faz na Alemanha cá em Portugal, posso-te garantir que poderia dar mal. O exemplo que expus acima replica isso mesmo.

      Sinceramente, o problema é que há muito pessoal que não gosta do RV como treinador do Benfica. Pura e simplesmente isso!

      Não era ele quem queriam ver no comando do Benfica e então pegam em tudo, desde a água que bebe nos jogos, à forma como fala, à forma como ajeita a gravata, ao facto de a equipa não jogar nada (nem contam o bom que tem sido feito com os oitavos da Champions, o lançamento dos putos, num contexto de várias lesões dos melhores jogadores do plantel). Contudo, esquecem-se que se calhar aqueles que preferiam não poderiam vir para cá pelas mais variadas situações (Marco Silva não poderia treinar em Portugal por causa do diferendo que o opunha ao Sporting, NES era mau demais, o Vítor Pereira vê-se o que tem feito na Turquia com uma equipaça nem líder é lá, o Paulo Sousa porque a maioria ainda se recorda do verão quente, o Paulo Fonseca agora está na moda, mas esquecem-se que ele em Braga trabalha tranquilamente e sem a pressão mediática que teria num Benfica ou teve no Porto e não soube capaz de resistir,...)

      Sobre o discurso do LFV, tenho de concordar contigo no seguinte: «antes dele o clube estava muito mal e ele é que veio salvar...» Dizer isto não lhe fica nada bem, mas também convenhamos que o tipo até tem feito um bom trabalho, por mais que não gostemos dele. É que já tiveram lá vários presidentes e ainda não vi nenhum que tivesse aguentado tanto o barco em tantas águas turbulentas e a ataques internos e externos.

      Eliminar
    7. "O problema é que há muito pessoal que não gosta de RV como treinador do Benfica"

      Admito que tens alguma razão. Eu falo por mim...acho que RV é muito fraco para o Benfica. Mas essa situação poderá estar a ser excessivamente aproveitada por alguns.
      O tempo o dirá...

      Saudações

      Eliminar
  2. NauBenfica18/12/15, 20:17

    Precisamos de ganhar, Presidente, seja ou não seja esta uma época de transição! Atirar já a toalha? Não, não e não! No Benfica tem de ser assim. Vitórias e jogo à Benfica e títulos e troféus galvanizam os adeptos, enchem o estádio e os pavilhões, atraem novos adeptos, cativam novos sócios e aproximam os que se afastaram, vendem lugares cativos e merchandising, valorizam a marca aquém e além fronteiras, atraem investimento, prestigiam o clube.
    E não se ganha a falhar sistematicamente em contratações (no futebol) feitas à carroçada e, aparentemente, sem critério, sem olhar às reais necessidades do plantel (onde é que estão o defesa esquerdo, o defesa direito, o médio centro e mais um defesa central de categoria que fazem falta ao Benfica?). E também não vamos lá a jogar o joguinho mixuruca que jogamos, é necessário que muita coisa mude no jogo da nossa equipa, na estratégia e na tática, no empenho e na garra.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá NauBenfica!

      Quem falou em atirar a toalha ao chão? Isso é conversa dos tablóides. ;)

      Sobre algumas contratações, eu penso que eles neste momento estão a tentar contratar jogadores jovens e a baixo custo para poderem valorizá-los, mais do que contratar jovens jogadores mas já com experiência comprovada (como os Ramires, os Javis, os Witsels, os Matics e até mesmo os Rodrigos).

      Sobre o lateral esquerdo, ainda à pouco falaram-me que para a próxima semana o Grimaldo iria ficar preto no branco... vale o que vale. Lateral direito, tens lá o Semedo e o Sílvio. Com a paragem para o Natal, não acho que seja necessário comprar um jogador para essa posição quando os que podem fazer estarão recuperados.

      Médio-centro... temos Fejsa, André Almeida, Cristante, Samaris, Talisca, João Teixeira e Renato Sanches. E que tal trabalhá-los melhor?

      Defesa central? Para quê? Tens lá o Jardel e o Lisandro que está a demonstrar que é um excelente jogador. O Luisão vai recuperar e antes de jogar com o Zenit já deverá estar em competição. E ainda tens o Lindelöf. De qualquer maneira eu renovava era com o Sidnei, conforme já escrevi aqui:

      http://o-guerreiro-da-luz.blogspot.pt/2015/12/por-falar-em-renovacoes.html

      E, sim o RV tem de dar ao litro no processo de treino e também na escolha dos intérpretes.

      ;)

      Eliminar