21 dezembro 2015

Dores de crescimento


Afinal Rui Vitória tem muita razão no que diz...
Mas, pode e deve contornar melhor essas "dores"!

Muito se tem criticado o treinador encarnado por utilizar a expressão "dores de crescimento" como um dos motivos para jogos menos conseguidos, mas a verdade é que ele tem a sua razão. Se não vejamos: no lance do golo do Rio Ave, de livre, há dois momentos que merecem ser analisados com cuidado e atenção.

O primeiro prende-se com a falta de apoio e reacção de Renato Sanches no momento defensivo. Isso origina que tenha de ser o Lisandro a ter que sair da sua posição e fazer a entrada que depois origina a falta. Muitos culparão o central argentino, mas a verdade é que o espaço tem de ser controlado pelo Renato (ver animação abaixo). O miúdo continua a jogar num meio-campo a dois como se fosse o homem mais adiantado de um meio-campo a três. O seu posicionamento acaba por não ser o melhor nos vários momentos de jogo, acabando por colocar o seu parceiro de sector em maus lençóis várias vezes. Por exemplo, Samaris leva um amarelo porque Renato não estava lá para fazer-lhe a cobertura defensiva. Outro exemplo, na segunda parte, Fejsa teve que limpar muitas vezes o mal que ele fez e o próprio Pizzi, muitas vezes, teve que a ir ao centro buscar jogo porque pura e simplesmente os passes não saiam ao Renato.
Onde ele parece sentir-se como um peixe na água é na transição ofensiva. Aí ele consegue levantar o estádio! Isso porque é o que ele estava acostumado a fazer num meio-campo a 3 sendo o homem mais ofensivo. Ou seja, Rui Vitória vai ter aqui muito, mas mesmo muito trabalho. E, sinceramente, não sei até que ponto merecerá o risco, ainda por cima com toda a pressão que ele e a equipa estão a ter neste momento. Tendo no plantel jogadores como Fejsa e Samaris que poderão jogar juntos e dar mais estabilidade àquele sector, com Cristante a poder ser uma terceira opção vinda do banco para a posição "6", o Renato Sanches e até o João Teixeira (era bom não desistir deste miúdo), poderiam ser as opções do banco para entrar para a posição "8", sobretudo, quando a competição começar a ser mais exigente (finais de Janeiro e Fevereiro). Vamos ver, o que fará RV.

O segundo momento que merece ser analisado é a postura do Gonçalo Guedes na barreira defensiva encarnada. Foi o único que não saltou e logo por azar, ou não, foi por cima dele que a bola passou (confirme na animação abaixo). O problema é que esta falta de concentração - o Júlio César gritou para eles saltarem - acabou por resultar no golo do Rio Ave. A equipa de Pedro Martins mesmo sem incomodar muito a nossa defesa acabava assim por criar muita insegurança numa equipa que tenta estabilizar o seu jogo. São estes "pormaiores" que muitos adeptos não percebem e que deveriam ter uma certa paciência.
A culpa não é inteiramente do Gonçalo Guedes. Há coisas que podemos exigir aos jogadores, mas há outras que temos de ter consciência que eles fazem (ou não fazem) porque são miúdos. É a experiência de vários jogos que os fazem crescer como jogadores. É inegável o talento que possuem. O problema aqui coloca-se ao Rui Vitória: como ir incorporando estes miúdos, fazendo-os crescer, mas sem prejudicarem o equilíbrio da equipa? Por outras palavras: como fazê-los crescer, deixando-os errar um pouco, mas sempre com exigência para melhorarem, e sem prejudicar o jogo da equipa? Convenhamos que não é tão fácil como se parece.

Tal como falei acima da ideia de Fejsa e Samaris para resolver o problema no meio-campo, sendo o Renato uma opção a ir entrando, o mesmo poderá ser dito de Carcela-González no lugar de Gonçalo Guedes. Penso mesmo que no fundo o Rui Vitória deverá pensar o mesmo. Contudo, ele também quer nivelar o nível destes dois miúdos, para quando a época apertar (em Janeiro e Fevereiro), poder contar com um leque mais alargado de atletas para as várias frentes. Mas, o problema é que poderá estar a arriscar imenso neste momento. Há uma outra solução de compromisso: utilizar apenas um miúdo de cada vez a titular. Nessa situação os desequilíbrios que as "dores de crescimento" que esses miúdos possam causar não serão tão profundas. É que reparem, o restante onze, neste momento, nem é composto pelos jogadores mais fortes do plantel, o que faz com que estes até estejam a jogar com uma equipa já de si com problemas.

É pois um desafio difícil para a equipa técnica de Rui Vitória. Não digo o contrário. Aliás, Hélder Cristóvão tem problemas semelhantes na equipa B, com jogadores como Diogo Gonçalves, João Carvalho e Rúben Dias, tudo miúdos de 18 anos, com excelente relação jogador-bola, mas com ainda algumas carências ao nível de jogador-equipa e concentração de jogo.




P.S.: Queria apenas dizer que temos o melhor avançado do campeonato na equipa - Jonas!

4 comentários:

  1. Teríeis muita razão em tudo o que dizeis se o Benfica tivesse como objectivo empatar todos os jogos 0-0. Felizmente, o Benfica tem de jogar para ganhar em todas as partidas e isso envolve algo que o texto de V. Ex.ª indicia ser de V. parte desconhecido: RISCO. Como diz o povo, quem não arrisca não petisca... É que em futebol o ataque também tem de ser organizado, o que é uma chatice para cabecinha que pensam em "equilíbrios" esquecendo que sem criar "desequilíbrios" não se ganha.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. LOL!

      Estás a confundir tudo... aliás, estás a misturar tudo! Desde quando o que escrevi aqui é para o Benfica empatar?!

      O que apontei aqui foram dois problemas derivados da inexperiência destes dois miúdos e que ajudam a explicar o porquê do nosso jogo ser tão inseguro.

      Todos os jogadores devem saber que há momentos em que devem procurar o desequilíbrio, para criar espaços e rupturas na defesa adversária. Mas, também há momentos que devem equilibrar a equipa. Caso contrário, cada vez que o adversário vá à nossa baliza... já foste!

      Eliminar
  2. PP mais uma excelente análise. Concordo totalmente.
    Sem duvida que o Renato é um excelente jogador e tendo em conta a idade, ainda pode evoluir e ser muito melhor.
    Um dos aspetos que ainda tem que aprender e evoluir é o posicionamento defensivo. Já contra o Atlético de Madrid, o primeiro golo que o Benfica sofre nasce de um mau posicionameto do Renato.
    Também concordo que neste momento a dupla Fejsa e Samaris dê mais garantias pela experiência. Colocar os três a jogar num 4-3-3, com o Renato à frente do Fejsa e Samaris, seria uma boa opção, com o Renato a jogar como médio mais ofensivo, a sua posiçaõ de origem.
    Saudações benfiquistas PP. Feliz Natal!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Loucos!

      Ou jogando, a médio-ofensivo ou até mesmo na ala, neste esquema de 4-4-2. Já não é a primeira vez que sinto que o Renato poderia terminar o jogo nessa posição. Por isso, mesmo gostava que o RV o testasse aí durante mais tempo (fez-lo por pouco tempo em Braga).

      Abraço e Boas Festas! ;)

      Eliminar