11 janeiro 2017

Será que os adeptos estão a levar o futebol...


Olhando para o que vi ontem no estádio D. Afonso Henriques... não! E isso deveria preocupar todos nós!



A Epifania
Esta palavra grega que significa "brilho" ou "manifestação", serve também para descrever a cerimónia religiosa que assinala o Dia dos Reis (que se celebra no dia 6 de janeiro nos países em que é feriado civil e no segundo domingo depois do Natal, nos outros países, como em Portugal, que foi celebrado no dia 8). Trouxe esta epifania à conversa não apenas pela quadra festiva que agora termina, mas sobretudo, porque vem mesmo a propósito dado os tons negros com que o nosso futebol está a ser pintado, uma vez que a mensagem do Papa Francisco na Missa do dia de Reis é certeira e pode muito bem ser aplicada ao nosso futebol. Nessa homilia, Francisco descreve o comportamento dos Reis Magos que foram impelidos pela sua fé de crente "nostálgico" (uma memória que nas palavras do Papa «se rebela contra tantos profetas de desgraça» e mantém viva a esperança) até Belém. Ao contrário dos que dormiam «sob a anestesia duma consciência cauterizada» e ficaram perturbados com a notícia do nascimento de Jesus, no palácio de Herodes, que distava poucos quilómetros de Belém. E é aqui que o Papa reforça com o seguinte:

«É a perturbação que nasce no coração de quem quer controlar tudo e todos; uma perturbação própria de quem vive imerso na cultura que impõe vencer a todo o custo, na cultura onde só há espaço para os "vencedores" e a qualquer preço.»
Papa Francisco na Missa do dia de Reis de 2017

Penso que a imagem que Papa Francisco usa para a crise dos refugiados, serve perfeitamente para o nosso futebol português. Desta leitura, conseguimos perceber quem são realmente os «profetas de desgraça» (presidentes do Sporting e Porto), quem são aqueles que têm uma «consciência cauterizada» (os órgãos de comunicação social e boa parte dos adeptos dos clubes) e a perturbação que «impõe vencer a todo o custo» (o conjunto de interesses por detrás destes ataques ao futebol nacional) numa cultura «onde só há espaço para vencedores e a qualquer preço» (cultura esta bem visível ontem em Guimarães).


Sem medo da incultura
Por mais que o "politicamente correcto" nos diga que o Nélson Semedo deveria ter tido outro tipo de comportamento para com os adeptos vitorianos, a verdade é que facilmente está-se a esquecer do comportamento incorrecto e reprovável que os próprios adeptos tiveram durante a partida de ontem à noite. Antes, durante e depois desse lance do jovem Semedo. Uma coisa é apoiar a equipa com cânticos de apoio, outra é pura e simplesmente injuriar os jogadores e cantar cânticos ofensivos para a equipa adversária. Outra ainda é estar a ouvir claramente esses cânticos através da televisão e os comentadores nem fazerem caso disso. Onde está a «nostalgia santa» que Francisco falava acima? Pois é, não existe. E, a tendência é isto piorar, porque pura e simplesmente não há mecanismo de controlo até mesmo a nível do debate público. Por exemplo, muito se tem comentado a atitude do Nélson, mas ainda não ouvi nenhum comentador ou jornalista desportivo falar sobre a escalada de violência no futebol ou até mesmo sobre a incultura desportiva que existe em Portugal.

É preciso ter lata, para além de uma grande dose de irresponsabilidade em escrever um
texto como este, neste recorte de jornal. Um texto recheado de percepções erradas e que
em nada contribui para o debate sério e correcto que se deveria ter tido sobre este assunto.

É esta cultura de ir à bola para vencer e não ir à bola para estar apenas e só com a equipa, que é transmitida genericamente pelo nosso futebol, que o país está como está. É por isso que quando um presidente de um clube vem com o discurso "chorão", que as pessoas seguem todas atrás e fazem de diapasão. Por outro lado, é por isso que noutros países, onde a cultura desportiva é bem diferente, tais argumentos não vencem. Lá as pessoas quando começam a ouvir discursos como a culpa é do árbitro ou a bola é redonda, associam esses discursos logo à incompetência de quem os profere. São sociedades onde o termo accountability (i.e. prestação de contas) é algo comum e não algo de transcendental. São culturas onde se estás a fazer uma coisa mal, não têm problemas em dizer-lo na tua cara, pois é perfeitamente normal. Até mesmo a forma deles lidar com os erros é muito mais natural. Aqui, quem erra é logo um fracassado. Lá, errar faz parte do processo. E, é aqui que penso que também devemos trabalhar enquanto sociedade.


O miúdo pode não ter estado bem (muito embora provavelmente os adeptos vitorianos
que passaram o tempo todo a injuriá-lo merecessem o gesto de "falam muito"), mas
duma coisa tenho a certeza, faz jus ao seu sobrenome: sem medo!

14 comentários:

  1. Quando Cristiano Ronaldo exibiu gestos ainda mais graves e insultuosos para com a família Benfiquista, não faltaram virgens ofendidas a desculpabilizar o jogador. Ainda hoje, perante muitas atitudes provocatórias do mesmo jogador, todos os comentadeiros afectos ao nosso panorama nacional defendem o jogador com garra e dentes.

    Mas muda-se a cor da camisola e perante o gesto do nosso Nélson, o jornalista em questão já traz em consigo a ladainha do cliente tem sempre razão. Agora um adepto é um cliente e este, mesmo que pratique um acto criminoso ou ilícito, está desculpado ao abrigo do slogan "o cliente tem sempre razão!".

    Penso que está evidenciada a falência do argumento do jornalista, mas lá segue cantando feliz e contente este nosso futebol pobrezinho!

    Já agora, já alguém por aqui leu as mais recentes declarações do vogal sportinguista após a reunião do conselho de arbitragem? Aquelas almas não conseguem realmente viver sem colar o nome de Benfiquistas e Benfica a assuntos que merecem tratamento sério e honesto. Até parece que adeptos sportinguistas como Pina e Rui Santos são isentos e imparciais para avaliar os árbitros. Ou o próprio Carlos Dolbeth. Haja mais respeito, se faz favor.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso é tudo gente insana. Daqueles que fala este artigo. Daqueles que o Papa Francisco alertou no dia de Reis.

      Sobre o CR7, por isso quando Benfiquistas amigos meus vêm falar sobre o caso do "pirete" no estádio da Luz, sou sempre defensor de uma visão mais apaziguadora e benevolente para o atleta, embora o caso seja ligeiramente diferente, uma vez que o Ronaldo mostrou por frustração de estar a perder. Isto acima de tudo é um problema cultural. Mas, a resolução não é apenas pela educação das escolas, ou em casa com os pais. Passa sobretudo pela cultura social. É um problema tão grave como foi aquele que existia em séculos passados das pessoas urinarem e cuspirem em qualquer lado.

      Eliminar
  2. Para o parvalhão do tal Varela, qualquer individuo que adquira a trampa de jornal onde trabalha passa a estar habilitado a mandá-lo na boa pro caralho, pois como cliente/ consumidor
    do pasquim possui sempre a razão.
    Que triste pessoa deve ser esse gajo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Para além de que aqueles alarves não são clientes do Nelson nem do Benfica. São-o do Vitória e dos seus jogadores.

      Eliminar
  3. off topic, o guedes na posiçao do mitroglu foi bastante interessante, talvez no futuro a possa fazer mais vezes se bem que defendo a aprendizagem dele a 9,5 para aprender a ajudar mais a construir jogo o que fara dele um jogador super completo, pois finalizaçao ele tem so nao sei se e bom ou nao de cabeça. quanto ao texto, pois a cutura desportiva no nosso pais nao da para mais, mas eu nem culpo tanto os adeptos, basta ver os programas desportivos que temos, 1º nao sao desportivos mas sim de futebol, 2º nao falam do jogo de futebol mas sim das polemicas, logo e de esperar que os adeptos quando vejam um jogo procurem os casos de maior polemica e quando as equipas deles nao garantem o resultado desejado procurem justificar com arbitragem pois e o mais facil (embora errado) de se falar.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As pessoas têm de ser conduzidas. E, isso só acontece quando há lideranças fortes. Ora em Portugal, as Ligas e as Federações é que deveriam ser bem fortes, mas acontece o contrário, i.e., são os clubes os mais fortes e usam e abusam dessa força a seu belo prazer. Esta época já perderam a vergonha toda. Fazem de tudo para incendiar as condições para tentar nivelar o campeonato por baixo.

      Já na época passada aconteceu o mesmo e não foi tão prolongado porque por esta altura o Sporting ainda ia na frente do campeonato, seguido do Porto e o Benfica vinha em terceiro, porque caso contrário já estariam a falar.

      Isto foi sempre assim. É toda uma cultura anti-Benfiquista. É toda uma cultura de mediocridade. É toda uma cultura de "caranguejos num balde". Já reparaste que o Benfica dos "três grandes" foi o único que não conseguiu ser mais do que tricampeão?! E teve equipas com Eusébios e Colunas... nunca ninguém achou isso estranho?

      É que quando o Benfica ia no tricampeonato os adversários directos começavam com a choradeira. Começavam a tentar manipular fora das quatro linhas. Ora através de pressões sobre arbitragens, ora através de golpes de estado nas organizações que gerem o futebol em Portugal. Contudo, quando essas equipas ganhavam dinâmica de vitórias, nunca se passava nada e como o Benfica é apenas um clube, pouca influência terá nas votações das assembleias...

      Bem, mas sobre o Guedes, já tive oportunidade de fazer referência à sua semelhança de estilo de jogo com Suárez e Griezmann aqui:

      http://o-guerreiro-da-luz.blogspot.pt/2016/09/quem-jogara.html

      Penso que o Guedes só ganha em ver estes dois craques a jogar.

      ;)

      Eliminar
    2. pois, a questao e sera que os clubes e federaçoes tem interesse em isto ficar bem? e que se tivessem tinham resolvido a questao, ja no que toca a imprensa e o mesmo, se os adeptos começassem a ver os jogos como deve ser as federaçoes ja nao iam com essa brincadeira. quanto ao passado nao posso comentar pk nao sei honestamente. este ano a diferença de plantel entre os grandes e simplesmente gigantesca e a forma como o benfica fecha os jogos nao tem dado hipoteses, sim ja li o post mas antes via o como 9,5 tipo saviola, agora e que vejo como 9 so tenho duvidas ao seu jogo de cabeça

      Eliminar
    3. O jogo de cabeça muitas vezes vem da qualidade do serviço e não da qualidade intrínseca do jogador. Repara no jogo de cabeça do Messi. Muita gente diz que não é o seu forte, mas a verdade, sempre que ele é servido para tal, consegue sempre executar bem.

      Há ainda muito a percepção errada de que o jogador alto é que sabe jogar bem de cabeça. Mas, o futebol é pródigo em casos de jogadores de estatura baixa e que são exímios no jogo aéreo. O João Vieira Pinto é talvez o melhor exemplo em Portugal.

      https://www.youtube.com/watch?v=9uwtdfYLaOM

      ;)

      Eliminar
  4. Pois é, PP! Levantas várias questões importantes que, na verdade, transcendem o Futebol. São problemas de cultura e de valores que encontram no Belo Jogo uma caixa de ressonância que os amplifica desmesuradamente.

    A Estupidez, bem como a Inteligência, fazem e farão parte da natureza humana. Por vezes, há factores que "puxam" mais por uma ou por outra. As lideranças são obviamente um desses factores. Outro é a Comunicação Social, enquanto elemento modelador de opiniões e comportamentos.

    Deixemos os Grunhos e os inácios de parte. Esses são irrecuperáveis. A seu tempo, também os carneiros deixarão de lhes dar crédito. (You can foul some people sometime, but you can't foul all the people all the time)

    Quanto à CS - e não só a desportiva-, há já muito tempo que caiu num buraco lodacento, abandonou a Ética e a busca da verdade e rendeu-se ao sensacionalismo barato e (aparentemente) lucrativo.

    Nos próximos tempos é provável que os meios tradicionais (Tvs, jornais) continuem a perder preponderância e impacto na sociedade. Gradualmente, a sua influência será dispersa pelos mais variados canais de informação, diversificando e democratizando as fontes e a marcação de agendas. Já assistimos a vários exemplos em que são as TVs que vão a reboque do que se publica nas redes sociais. Veremos então quais as consequências desta diluição do Quarto Poder.

    De qualquer modo, agora ou no futuro, cada indivíduo tem de ser responsável e responsabilizado pelos seus comportamentos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A CS está desesperada por manter-se no negócio. As receitas das vendas não são a mesma coisa com o advento das novas tecnologias.

      Por isso por cada 3 notícias hoje em dia vês uma bunda de página de relax e três ou quatro anúncios em pop-ups nos sites deles, mais um anti-blockadd em filtro.

      Por isso mesmo, eles são hoje uma central de ressonância de tudo o que possa ser notícia. Por isso abandonaram o rigor e com isso a ética que falavas. Não acho que seja para criar mais receitas, mas apenas para manter os postos de trabalho.

      De qualquer modo, poderiam ser inteligentes e fazer as coisas de outra maneira, pois as pessoas também gostam de coisas em qualidade. Basta verem o que é feito em países como Inglaterra.

      ;)

      Eliminar
    2. Também já tenho pensado nisso. E se experimentassem a fazer as coisas com qualidade? Com análises técnicas aos jogos feitas por pessoas habilitadas e competentes. Dando realce ao que o nosso futebol tem de bom, que é muito. Ficaria mais caro? Dava-lhes muito trabalho?

      Porque é que optam por passar o tempo a lavar roupa suja? A ver repetições de um lance polémico até à náusea? E a dar tempo de antena a imbecis que de bola percebem..."bola"?

      Como reagiriam as audiências? Será que a maioria das pessoas está mais interessada nesse lixo? Nunca ouço ninguém admitir que sim, mas esses programas devem ter muita audiência ou não manteriam os formatos há tantos e tantos anos...

      Eliminar
    3. É a chamada cultura da mediocridade...

      Eliminar