19 janeiro 2017

Querer abolir a regra do fora-de-jogo...


... a história do futebol!



Não deixa de ser irónico como um dos melhores praticantes do futebol, quer abolir a regra que mais contribuiu para que o futebol fosse o desporto rei que é. E, mais irónico que isso, é o argumento de que essa abolição irá melhorar o jogo. Não podia estar mais errado, e pior, sendo um dos directores técnicos da FIFA, deveria no mínimo saber da história do jogo.

Diz a história que desde tenra idade do futebol, quando ainda era praticado somente nas escolas inglesas, no início do século XIX, mais coisa menos coisa, que para evitar que houvessem "mamões" estáticos à frente da baliza dos adversários e que o futebol fosse confuso e quezilento, com bolas longas para a "molhada", cotoveladas, orelhas rasgadas, canelas até ao pescoço, pisadelas e cabeçadas, mas que pudesse haver realmente futebol, cada uma dessas escolas começaram a criar regras que evitassem esse mau jogo. Começaram por serem regras similares ao offside do rugby e as mais reconhecidas naquela altura eram as chamadas de Cambrige Rules.

Verdade, que fora dessas instituições o jogo era jogado pelas chamadas Sheffield Rules que basicamente eram anti-fora-de-jogo. É nesta altura que se estabelece o que anos mais tarde viria a ser chamado de "kick and rush", que nada mais do que era bolas longas enviadas pelos jogadores que davam o nome de "kick-throughs" para os avançados que permaneciam permanentemente na grande área adversária. Conhecem aquela piada que os jogadores de rugby costumam contar sobre o que acham dos jogadores de futebol? Aquela que dizem que o rugby é um jogo de brutos jogado por cavaleiros, enquanto o futebol é um jogo de cavaleiros jogado por brutos? Pois bem, é dessa altura. Talvez tenha sido uma piada criada entre meninos das escolas ricas e os meninos de rua...Onde, mesmo ao estilo das classes operárias, se olhava para o grande jogador pelos seus atributos físicos, e não tanto pelo seu talento com a bola. Este era apenas o necessário para colocar as bolas lá na frente. É também nesta altura que os sistemas tácticos são do tipo 2-3-5, para não falar em "tudo ao molhe e fé em Deus".

Não deixa de ser curioso, que é precisamente as regras das escolas dos ricos que acabam por democratizar e fazer evoluir o futebol a todo mundo. Pois, com a regra do fora-de-jogo, para se jogar futebol, é preciso realmente jogar futebol, i.e., com a bola nos pés. Os amigos escoceses, foram quem melhor começaram a interpretar isso. Daí o surgimento de duas grandes escolas do futebol moderno: a escola inglesa (futebol directo com bolas longas) e a escola escocesa (do futebol pela relva e mais apoiado). Sem esta regra do fora-de-jogo, equipas como a da laranja mecânica - que van Basten, teve a infelicidade de não jogar e que se calhar por isso, diz estes disparates - jamais existiria. Sem ela, jamais o Milan em que foi referência teria sagrado campeão da Europa com o sistema defensivo do Sacchi que usava e abusava da armadilha do fora-de-jogo. Sem ela, jamais uma equipa de anões, o Barcelona de Guardiola, conseguiria ganhar a Champions aos poderosos ingleses do Manchester United, em 2009. Sem ela não haveria Brasil pentacampeão mundial. Nem sequer a Itália teria possibilidades de conseguir atingir o título mundial, assim como a Alemanha.

Portanto, torna-se ofensivo para o futebol, assim como uma demonstração grotesca de falta de cultura, ouvir coisas como:

«Tenho curiosidade para saber como funcionaria o futebol sem o fora-de-jogo. O jogo seria mais atrativo, os atacantes teriam mais ocasiões e mais golos seriam marcados, que é o que os adeptos querem ver.»
Por van Basten

4 comentários:

  1. alem de que a aboliçao do fora de jogo veio a aumentar o numero de golos marcados, ele da lista que deu penso que so acho a do penalti interessante e ainda assim nao posso opinar muito pk nao conheço bem a historia e so sei disso plo que faziam antes nos eua

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    1. Muito bem recordado alexanderson! É isso mesmo.

      Da lista que ele deu gostei da ideia das exclusões por falta e por tempo. Pode ser interessante.

      Depois aumentar o número de substituições no prolongamento, também sou apologista e até foi testado no mundial de clubes.

      Sobre o futebol de 8... o futebol de 7 tem ainda muita margem de progressão, não apenas nos escalões mais jovens, mas sobretudo nos mais seniores. Aqui acho que a FIFA deveria em conjunto com as federações nacionais fazer um trabalho maior na promoção da modalidade.

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  2. Boa noite PP,

    Essa ideia de abolir a lei do fora de jogo é tão estúpida, tão estúpida, tão estúpida que até me custa a acreditar que possa passar pela cabeça de alguém que goste de Futebol! Ainda por cima o Van Basten, que até era um jogador inteligente a posicionar-se na linha e a aproveitar a subida dos defesas em contra-pé.

    É um cenário demasiado triste para ser contemplado. Seria a morte do jogo. Uma parvoíce qualquer, de chutos de baliza-a-baliza.

    Esperemos que depois de uma boa noite de sono já nem se lembrem disso.

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  3. Grande texto, PP, como sempre! Desconhecia os antecedentes históricos, mas faz todo o sentido.

    Se as medidas de Van Basten fossem todas implementadas, deixava de haver futebol - aquilo era já outro desporto.

    Um off topic, muito importante dada a importância de Fejsa na equipa, o facto de estar lesionado e a indisciplina posicional de Samaris: li ontem n'A Bola que Danilo pode sair neste mercado de Inverno...WTF?!?

    Dispensar Danilo para ficar com Celis é como dar tampa à Scarlett Johansson para ficar a rezar terços com a Assunção Cristas!!!

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