14 janeiro 2017

A vitória do...


Até quando os árbitros permiti-lo-ão?


Hoje a haver um vencedor, seria o antijogo. E, quando assim o é o futebol perde. Esta é que é a verdade. E, este também é o facto menos assinalado por tanta gente na modalidade. Porque motivo isso acontece, gostaria de sabê-lo. Talvez seja porque face à diferença que cada vez mais existe entre os pequenos e os grandes, é a forma silenciosa que encontraram de conceder uma chance aos mais fracos. Mas, no fundo o que se está a alimentar é toda uma cultura de mediocridade.

O futebol profissional tem de lutar contra este vírus do antijogo. O público hoje paga cerca de 20€ para ir ver um "espectáculo" de futebol. Isto corresponde a cerca de 5% de um vencimento mínimo (400€/mês), ou seja, não é assim tão insignificante para o bolso do adepto. Portanto, este quando lá vai é para ser realmente bem "servido", i.e., ver realmente 90 minutos de bom futebol e não 60 minutos intercalados com um bando de actores vestidos de jogadores e que por tudo e por nada se estatelam no relvado.

É para isso que servem os árbitros. Desengane-se o leitor que pensa que eles estão lá para ouvirem as bocas dos adeptos frustrados, ou para apitarem as faltas e foras-de-jogo, ou até mesmo os "penalties". Não, os árbitros estão em campo sobretudo para gerirem os jogos de forma isenta e segura. Por isso, são eles que verificam as condições dos jogadores e zelam pela sua segurança física . Por exemplo, já alguma vez perguntaram porque é que o árbitro marca faltas mesmo quando o jogador defensor toca na bola? É que se calhar fê-lo colocando em risco o jogador que tinha a bola controlada... Por outro lado, são eles que gerem as paragens de jogo. Quer seja para as substituições, quer seja para o início e reatamento de jogo. Quer seja para o final da 1ª parte e o final da partida. Quer seja para prestar assistência médica aos jogadores em campo. O relógio de campo pode não parar, mas o árbitro pode compensar.

E é aqui que segue a recomendação antiantijogo (inventei uma nova palavra) mais básica e fácil de ser implementada: dar pelo menos mais 15 minutos de jogo sempre que se verificar um número absurdo de paragens de jogo. Isto, para além dos cartões amarelos normais nestas situações em que se verifique antijogo. Só falta coragem para aplicarem isso, até porque em termos regulamentares não vem nada contra essa aplicação. Não há necessidade sequer de torná-la lei de jogo. Basta que fique como recomendação e que seja verdadeiramente aplicada. Estou certo que depois de algum tempo de adaptação, e se a medida for mantida, aqueles que cometem antijogo terão que arranjar outra táctica para vencer os seus jogos.

É preciso ver que o antijogo provavelmente irá sempre existir. Bem vistas as coisas, uma "falta técnica" para matar uma jogada a meio-campo, poderá ser vista como antijogo aos olhos do público. Ou até mesmo uma substituição tardia para queimar alguns segundos ou quebrar ritmo de jogo. Isto são tudo técnicas de antijogo mais ou menos aceites por todos. Mas, o que o Boavista fez hoje na Luz, assim como o Marítimo fez no caldeirão dos Barreiros, é completamente inaceitável, pois é elevar os pequenos detalhes do antijogo a um nível impensável e perigoso.

Talvez a explicação para os árbitros não compensarem de forma severa quem faz antijogo com mais minutos de compensação, é porque eles não se querem chatear tanto com o jogo. Imaginem um árbitro dar 15 ou 20 minutos de jogo porque uma das equipas praticamente queimou esse tempo no final da partida - um pouco à semelhança do que fez o Boavista ao ter roubado os últimos 30 minutos de jogo ao relógio - qual seria a reação desses jogadores para com o árbitro? E, qual seria a reacção dessa equipa se perdesse esse jogo? E, qual seria a pressão que fariam na praça pública e sobre o Conselho de Arbitragem? E, qual seria a carreira depois daquele árbitro?

Estão a ver onde é que isto vai chegar, não estão? À tal cultura da mediocridade enraizada no nosso futebol. Por isso, é que depois de um jogo destes, em nenhuma manchete se fala neste tema. No máximo aparecerá num quadradinho pequenino no jornal que passará muito despercebido aos olhares. E, por isso mesmo passamos anos (para não dizer décadas) a falar dos mesmos temas.



P.S.: Tudo o que já escrevi aqui, já foi debatido e até mesmo recomendado pelo Conselho de Arbitragem da FPF no início de dezembro de 2016, numa carta desta entidade dirigida a todos os intervenientes do futebol, conforme poderemos verificar seguidamente:

«O Conselho de Arbitragem visiona todos os jogos das competições profissionais e esta análise permite observar oportunidades de melhoria nos diferentes aspetos do jogo. Esta temporada temos detetado com preocupação o aumento do número de paragens e a crescente duração das mesmas.
(...)
Os árbitros, de acordo com a lei, devem atribuir os minutos ajustados às incidências do jogo, mesmo que isso, numa fase inicial, possa consubstanciar durações anormais.»
por José Fontelas Gomes, presidente do CA da FPF

A resposta do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) foi positiva, mas também direccionada a quem na realidade arquitecta essas estratégias de antijogo:
«Ora, se os árbitros aplicarem justamente, como o CA da FPF propõe, o período de compensação adequado ao tempo útil de jogo perdido, estaremos a dar um passo em frente e a caminhar no sentido da correcção desta prática. Os espectadores pagam para ver um jogo de futebol jogado integralmente e não apenas parte. 
O Sindicato considera que o exemplo vem de cima, deve ser dado por quem está numa posição superior a nível hierárquico, caso dos dirigentes e treinadores. Estamos convencidos que se os dirigentes, sobretudo os treinadores exigirem outra atitude aos jogadores, haverá mais tempo útil de jogo e um futebol mais justo e credível.»
por SJFP 

2 comentários:

  1. Completamente de acordo. Mas apesar de tudo, houve jogo...e quanto a esse, aqui vai um pouco do que me apraz dizer:

    Parece que só RV ainda não percebeu que as duplas de centrais e de ataque têm que ser sempre Lindelof-Jardel e Jonas-Mitroglou. Quis premiar o Guedes pela exibição em Guimarães, mas isto não é o liceu...

    O Salvio e o Luisão têm lugar cativo no campo, como eu tenho na bancada...o Salvio então, acho que nem que estivesse deitado no relvado 10 minutos saía...o melhor extremo do plantel, Zivkovic, no banco - e quando entra vai para a esquerda...para que Dom Salvio pudesse continuar a ser inútil na direita!!

    Acho que fomos no bluff do autocarro, deu-me a sensação que entrámos com excesso de confiança, à espera de mais tarde ou mais cedo conseguirmos resolver contra o autocarro - e quando demos por nós, estávamos a levar três secos do Boavista a meio da primeira parte (WTF??!!!)...

    A arbitragem? O Benfica é o Benfica, tem obrigação de não sofrer três golos do Boavista na Luz, em 25 minutos, nem que o jogo tivesse quatro árbitros e estes fossem o José Guímaro, o Martins dos Santos, o Calheiros e o Benquerença! Além de que sempre defendi: só nos podemos queixar dos árbitros quando não há demérito próprio e só o árbitro impediu a vitória...alguém acha mesmo que este foi o caso hoje??? Não sejam lagartos...

    Hoje a culpa foi mesmo do Benfica...

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    1. Não vejo as coisas desse prisma. Quero ver se escrevo sobre o "jogo jogado" mais logo. De qualquer maneira, penso que este jogo reflecte o plano de treinos que temos vindo a ter e que consiste basicamente em ciclos de recuperação-jogar. Falta aqui trabalho de treino de ataque posicional. Salvio e Semedo anulam-se demasiadas vezes no mesmo corredor. O mesmo acontece com André Almeida e Rafa no flanco oposto.

      Depois, há o efeito da fadiga competitiva de alguns jogadores. Por exemplo, depois do empate, havia ainda 25 a 30 minutos de jogo e não fizemos nada. Faltou aqui também algum discernimento e a, tantas vezes aqui abordada, inteligência emocional, para saber tirar proveito das paragens constantes de jogo, fruto do antijogo do Boavista. Perdemos muito o foco e por isso concordo quando te referes que "Hoje a culpa foi mesmo do Benfica."

      Sobre a arbitragem, vou já tratar disso agora. ;)

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