04 fevereiro 2017

Fechou o mercado de inverno


A análise aos empréstimos, vendas e aquisições do Benfica.


Como conseguiram emprestar?
O marroquino Taarabt assina contrato de empréstimo
com o Génova e já rende em Itália. Definitivamente, a
melhor solução para todos os envolvidos.
A sério! Como conseguiram emprestar o Taarabt ao Génova? Ainda por cima com os italianos a pagarem-lhe o milionário vencimento? Este para mim, foi o primeiro grande sinal de arrumar a casa por parte do nosso departamento de futebol. Foi uma excelente solução para o Benfica, para o marroquino e, como temos visto, para o Génova que ainda noutro dia consegue empatar um jogo frente à Fiorentina de Paulo Sousa, com o Taarabt em grande evidência com duas assistências. Eu lamento que o marroquino não tenha dado certo na Luz. Poderia ter sido um caso de renascimento para o futebol idêntico ao do Ben Harfa aqui no Benfica. Mas, ele decerto que cedo percebeu que o nível aqui era elevadíssimo e, jogando numa equipa que joga de três em três dias, era difícil ele conseguir apanhar o passo, até porque também resistiu a mudar muito dos seus hábitos fora de campo. Mas, até aqui acho que o clube poderia ter feito mais. É verdade que tentaram ocupar-lhe a cabeça com jogos na equipa B, mas fico com a sensação que poderiam ter feito mais. No entanto, aquela atitude no início da temporada, enterrou por completo o jogador, infelizmente para ele. Financeiramente, que tratem de recuperar o investimento feito por ele e, se possível, que façam algum lucro.

Empréstimo com opção de compra no final ao Atalanta, é
um excelente negócio para todos, incluindo para o Cristante.
Outro caso que está resolvido, é do médio Cristante. Agora emprestado ao Atalanta da série A do calcio, este contrato tem uma cláusula de compra que poderá ser accionada no final do empréstimo. Atendendo às recentes contratações para o meio-campo encarnado e o até do apalavrar do empréstimo sobre empréstimo do Danilo ao Standard de Liège, com a respectiva manutenção da cláusula de recompra do jovem médio brasileiro, dificilmente vejo ser possível um regresso do jovem italiano à Luz. Até porque, ele não tem evoluído muito no seu futebol. Tem visão, tem bons pés, mas o seu jogo sem bola não passa do que vimos já por cá. Sendo assim, o melhor a ser feito é a cedência em definitivo, pelo valor já investido nele, contabilizando algum lucro.

Celis e João Carvalho foram dois excelentes empréstimos.
O colombiano necessita de minutos, assim como o jovem
precisa de competir a um nível mais elevado.
Ainda sobre médios, já destaquei a saída do Danilo, mas também deverei destacar os empréstimos de Celis ao Vitória de Guimarães e do jovem João Carvalho da equipa B ao Vitória de Setúbal. Ao colombiano antevejo que terá as portas escancaradas para assumir a titularidade no meio-campo do Vitória Sport Clube, até porque o titular de lá, o médio João Pedro, saiu para a MLS americana. De forma idêntica, o jovem craque encarnado vai encontrar à beira do Sado uma equipa que ficou orfã do escocês Ryan Gauld devido à retaliação do Sporting após derrota na qualificação para as meias-finais da Taça da Liga. Seria muitíssimo importante que estes dois emprestados conseguissem pelo menos mais 1000 minutos de jogo jogado até ao final da temporada.

Outro bom empréstimo do argentino Benítez ao Boca.
Já quanto ao extremo Óscar Benítez, ficamos com a clara sensação que veio para o Benfica não apenas para ficarmos nas boas graças de algum empresário, ou para uma futura preferência sobre algum real talento desses mercados, como também porque precisávamos de alguém para fazer número na pré-época por causa das férias de internacionais em ano de europeu e copa américa. Reconheço ao argentino agressividade e intensidade que o fariam pensar em vingar no futebol europeu. No entanto, terá um vencimento elevado para a maioria dos clubes médios/baixos nacionais e, por outro lado, é ainda curto para emprestá-lo a clubes médios espanhóis, pelo que o regresso à Argentina, mesmo não sendo o melhor para a sua carreira, é o possível neste momento. É tentar envolver este jogador emprestado ao Boca Juniors, num futuro negócio com eles, por exemplo. Recordo que têm lá uma pérola bastante apetecível no meio-campo: Rodrigo Bentacur. 


Quem venderiam então?
Excelente venda do Gonçalo Guedes para todos os
envolvidos, por muito que não o vejam como tal. Só aqui
o Benfica arrecadou 30M€ que pode não ficar por aqui...
Imaginem-se como presidente do Glorioso a receberem três propostas chorudas por três importantes jogadores da vossa equipa: Lindelöf, Samaris e Gonçalo Guedes. Qual destes vocês aceitariam negociar agora em janeiro? Ah! Sabendo adicionalmente que: as propostas que receberam são propostas justas e que cobrem bem as curvas de valor destes jogadores, pelo que representa a melhor proposta que receberão por estes. Por sua vez, os jogadores ficaram já "malucos" com as propostas de vencimento que receberão desses clubes. Vamos lá pensar um bocado, para decidir bem... com Lisandro a se lesionar nos últimos dias, com um Jardel lentamente a recuperar a melhor forma física, e com um veterano Luisão, o sueco é o único central de raiz em boa forma neste momento crucial da época. Venderiam-no? Eu penso que não, pois seria como um regresso ao passado em 2006-2007, quando Luís Filipe Vieira vendeu o Ricardo Rocha ao Tottenham, central que até então era o titular da defesa da equipa de Fernando Santos que ficou a poucos pontos de ser campeão no final dessa temporada. Vamos analisar a possível saída do grego? Com Fejsa intermitente devido a questões físicas, com um Pizzi a precisar de melhor gestão da fadiga competitiva, mas com as saídas de Celis e Danilo, e ainda a recuperação de André Horta, parece-me claro que por mais tentadora que fosse a proposta, ela iria desequilibrar a nível desportivo a equipa. Desequilíbrio esse que para ser reequilibrado iria sair caro ao Benfica (procurar um substituto minimamente credível nesta fase da época iria custar dinheiro à SAD encarnada) e pior, sem garantias de que seria um sucesso. Por estes motivos, também eu não venderia o Samaris nesta fase, pois mal ou bem, é um jogador já identificado com o clube e com a equipa. Sobra-nos o Gonçalo Guedes. Verdade que é apenas um miúdo. Verdade também que estava em crescendo na equipa e a começar a ser determinante. Mas, também não é menos verdade que o Jonas entretanto recuperou, assim como o Rafa que foi contratado no início desta temporada. Ou seja, o mais certo era o jovem começar a ter menos tempo de jogo. Logo, perante uma proposta daquela magnitude para o jogador e para o clube (30M€ + 7M€ numa futura venda), e perante o nível de soluções ofensivas que continuamos a ter, não me parece que sejam justas muitas das críticas que tenho lido e ouvido durante esta semana de fecho do mercado de inverno. Não acham?

... e aqui foram mais de 16M€, com esta venda do Hélder
Costa aos ingleses do Wolverhampton. Ou seja, facturamos
cerca de 46M€ neste defeso de inverno. Muito bom.
Quanto ao Hélder Costa e ao Djuricic que acabaram por confirmar a sua transferência para o Wolverhampton e Sampdoria, respectivamente, nada a dizer. É um facto que gostava que o Hélder tivesse continuado connosco, porque ele tem imenso potencial. No entanto, uma vez que a aposta do Benfica recaiu sobre Cervi e Zivkovic e estes têm correspondido à altura, não faria nenhum sentido, cortar os pés ao Hélder, até porque mantendo-no como emprestado, nunca seria visto como uma solução sólida nos clubes por onde ele iria passar. sobretudo, tendo em conta o nível em que ele estava envolvido. Sendo assim, pelos cerca de 16M€ foi uma excelente transferência para o Benfica. Da parte do sérvio, penso que na Luz nunca chegou a ter as devidas oportunidades e as insistências que deveria ter tido, face ao investimento que foi feito nele. Penso que tinha talento para mais e, sinceramente, ao contrário de outros como o Taarabt e Talisca, até tinha mentalidade para mais. Precisava que insistissem mais com ele. Recordo-me na época passada em que mesmo não jogando à muito tempo, apresentou-se em belíssimo nível no Bonfim. Para mim, era o jogador ideal para render o Jonas naquele momento. Acho que esfumou-se um pouco no momento, em que não houve cuidado por parte na nossa estrutura em alimentar o esforço do jogador, levando-o a querer sair para poder jogar mais no mês de janeiro do ano passado. Não contando realmente com o sérvio, o Benfica fez bem em vendê-lo à Sampdoria e envolvê-lo no negócio da compra do Pedro Pereira. Basicamente, acabámos por trocar um jogador de 8M€ por outro de 8M€. Se bem que há aqui um certo amargo uma vez que o jovem lateral direito tinha saído do Benfica à uma época e meia e agora regressa com esta valorização... O rescaldo deste negócio, deverá ser feito consoante o futuro retorno desportivo-financeiro do jovem português.


O que é isso de ser reforço?
O lateral-esquerdo brasileiro Hermes foi o primeiro
reforço de inverno do Benfica...
Em termos de entradas a assinalar pelo Benfica neste defeso de inverno, podemos contar com o lateral-esquerdo Hermes, o lateral-direito Pedro Pereira e o médio-centro Filipe Augusto. Tudo jogadores abaixo dos 23 anos de idade. Tudo jogadores de enorme potencial, mas que ainda têm muito para aprender e evoluir. Tudo jogadores que procuram consagração na elite do futebol mundial. Meus senhores, neste momento, isto é o que é ser reforço no Benfica. O clube joga na Liga dos Campeões, ou seja, na elite do futebol mundial. Mas, joga perante o handicap de pertencer a um mercado português muito diminuto em termos de números e de capital. Como tal, não é possível competirmos com o mesmo nível de orçamento que os outros tubarões europeus. Só o conseguimos fazer através da criação e evolução de talentos.

... o segundo foi o jovem lateral-direito Pedro Pereira,
cujo negócio envolveu o passe de Djuricic. Neste caso,
é um regresso a casa pela porta grande!
Esporadicamente e muito pontualmente, podemos reforçar a nossa equipa com jogadores já bastante carimbados. São o caso do Aimar, do Saviola, do Júlio César, do Jonas, entre outros. Mas, reparem que eles vêm em condições bastante específicas. O Aimar, veio quando mais nenhuma outra equipa acreditava que o argentino fisicamente iria melhorar. O Saviola chegou depois de ter sido empurrado para o banco de suplentes do Real Madrid. E, quanto ao Júlio César e ao Jonas, eles estavam no desemprego. Por isso mesmo, de há uns anos para cá, a aposta tem sido na evolução e potenciação de jovens de elevado potencial, envolvidos numa estrutura sólida e familiar, entretanto criada no Benfica. E, para que este modelo tenha sucesso, é preciso que aquela ideia do reforço que chega em janeiro e resolve todos os problemas da equipa seja abandonada. Até porque está bem longe de ser verdadeira aqui no Benfica, como em qualquer lado do mundo do futebol! Sendo assim, tanto o Hermes, como o Pedro Pereira e o Filipe Augusto serão sim reforços, mas daqui a 6 meses, que é o tempo deles evoluírem como jogadores e entranharem os principais valores do clube da Luz. E, pessoalmente é assim que se deve fazer as coisas. Aliás, basta olharmos para o que os grandes tubarões europeus têm feito nos últimos tempos: precisamente adoptar esta metodologia encarnada.

O médio Pedro Nuno é mais um regresso a casa, se bem
que foi rapidamente cedido ao Tondela por empréstimo.
Contudo, ele reflecte bem a nossa política de contratações.
Depois, há este tipo de negócios que o Benfica tem feito, como é o caso da contratação do Pedro Nuno à Académica e consecutivo empréstimo ao Tondela. Estamos a falar de contratações de baixo custo, cerca de 500k€, que para além de cairmos nas boas graças internamente com os clubes nacionais, também estamos a tentar assegurar o futuro apostando em várias frentes. O objectivo será ver como o Pedro Nuno, que é um jovem com escola no Benfica, irá continuar a progredir no futebol sénior e na 1ª Liga. Se a resposta for positiva, não tenho dúvidas que mais tarde ou mais cedo possa vir cá parar. Por outro lado, o meio milhão de euros pode ser facilmente recuperado de diversas maneiras. Uma delas é o jogador ser vendido, algures durante os 4 anos e meio de contrato para outros clubes na 1ª Liga ou fora dela, que facilmente cubram esse valor. É também esta a política de contratações encarnada.




P.S.: Já me ia esquecer da contratação do miúdo de 18 anos e internacional pelos escalões jovens do Chile, o Simón Ramírez que vai reforçar a equipa de Hélder Cristóvão. Este talentoso míudo reforça o que tenho escrito sobre a nossa política de contratações: atentos a tudo o que é jovem com potencial e de baixo custo para depois serem trabalhados de forma a explorar e evoluir o que de melhor têm. No fundo, a formação no Seixal, mais não é que um enorme campus de onde sairão os melhores jogadores do mundo. Esse é o objectivo da política do Benfica para o futebol. Como é óbvio não devemos ambicionar a sermos exportadores de talento ad eternun, mas devemos entender que este é um passo importante na longa caminhada de crescimento do futebol encarnado, e até nacional.

O jovem chileno, Simón Ramírez, representa a actual política de contratações do Benfica.

6 comentários:

  1. Grande post, com o qual concordo integralmente.

    No meu entender a melhor cartada do Benfica neste mercado de janeiro foi mesmo o empréstimo do Tá Barato ao Genoa. Foi seguramente um dos maiores barretes que a nossa atual direção enfiou (recordo os inúmeros comentários de seus antigos treinadores, em particular o Redknapp, da imprensa especializada e inclusive de blogs benfiquistas, que já alertavam para a personalidade da "peça" em questão) e confesso que vi a situação muito complicada devido ao ordenado chorudo que o marroquino auferia e à exagerada duração do seu contrato... mas para já o Benfica conseguiu dar o primeiro passo, que era obter o interesse de um clube que estivesse disposto a pagar-lhe o vencimento por algum tempo, agora falta dar o segundo e último passo que é vendê-lo definitivamente.

    A transferência que mais interferiu no nosso plantel foi a saída do Gonçalo Guedes para o PSG. Penso que muitos benfiquistas não entenderam a posição da direção na resolução deste negócio. O Guedes teria forte concorrência no Benfica e, portanto, muito provavelmente jogaria pouco. Ora jogando menos, não só se torna numa melhor opção de venda em janeiro como não se prespetiva uma grande valorização até ao fim da época. Há que ser justo e saber fazer a distinção (quanto a mim clara) entre esta venda e as do Bernardo e do Renato.

    Filipe Augusto foi a compra que mais necessitávamos neste mercado. Num momento em que temos o Horta lesionado e o Pizzi fisica e psicologicamente esgotado, o brasileiro pode trazer o equilibrio que o Benfica tanto precisa no meio-campo e que eu tenho vindo a comentar desde maio do ano passado.

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    1. Essa do "Tá Barato" está muito bom! =D
      Ainda sobre o marroquino... engraçado verificar que ele fez muita pressão para sair do Benfica no início da época por causa de uma proposta do Marselha, equipa que sediou o Payet de tal forma que este saiu como saiu do West Ham... o universo futebolístico deve meter os olhos na conduta dos marselhenses...

      Quanto ao Gonçalo Guedes, a malta esquece que ele saiu por 30M€. Quantos jogadores com aquela idade saíram por aquele preço. O Gabriel Jesus foi vendido ao City por uma quantia idêntica e é titularíssimo da canarinha...

      O Pizzi para mim está com alguma fadiga competitiva. Mas, também não é só isso. Os nossos adversários trabalham cada vez mais para anulá-lo dentro de campo. Daí que está na hora de testar novas formas de atacar. O Filipe Augusto será com certeza uma solução. No entanto, não a vejo ser já agora. A meu ver a solução no curto prazo será o Samaris. Também convém dar minutos de jogo ao André Horta...

      ;)

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    2. Samarias também me parece a opção mais sensata para amanhã.

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    3. Vamos lá ver... acabei de lançar um artigo que aborda um pouco as ideias de como se deve jogar com um médio "8" do tipo Filipe Augusto e Samaris, um pouco para desmistificar a percepção que a malta tem dos médios "8"...

      ;)

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  2. o pedro nuno tem jogado e como e o seu valor? o hermes penso que foi inteligente visto ser estilo grimaldo para poder ser titular a curto medio prazo e com valor a medio longo, o filipe pensei que era ja para esta epoca pela falta de medios c que temos tb devido as varias lesoes quanto ao restante completamente de acordo

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    1. O Pedro Nuno é um médio ofensivo, na mesma linha do Horta e do Teixeira.

      O Hermes, quero ver melhor. Vem de um contexto táctico pouco rigoroso. Fisicamente, não me parece ser um portento. Tecnicamente, é um jogador brasileiro, mas o que quero mesmo ver é a sua qualidade mental para o jogo. A forma como se movimenta e posiciona dirá muito dele.

      O Filipe Augusto já há muito se via que era jogador para outros voos. O Mendes teve olho em querer logo agenciá-los (ele e ao Danilo que para mim também não devemos deixá-lo do radar). Não coloco muitas expectativas em cima do miúdo. Acima de tudo, quero é que ele vá se ambientando, para que na próxima época possa entrar e concorrer verdadeiramente para o onze.

      Amanhã, daria-lhe alguns minutos na segunda parte e se o jogo tivesse resolvido.

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