16 fevereiro 2013

Será que este não poderia ser solução?


Será que o David Simão, para a próxima temporada, não poderia ser uma excelente solução para o meio-campo encarnado?


O enquadramento
Já ando para escrever sobre a incapacidade do futebol encarnado em aproveitar devidamente os produtos das suas escolas, à já algum tempo. (Notar, que André Almeida e André Gomes, já chegaram ao Benfica numa idade júnior/sénior à Luz, tendo o primeiro já uma certa experiência de 1ª e 2ª Liga devido ao Belenenses.) A nomeação do prémio de melhor jogador jovem de Dezembro/Janeiro da 1ª liga nacional, para o jogador encarnado, David Simão (parabéns!), emprestado à equipa insular do Marítimo, apresentou-se como o momento ideal para tal. Ainda para mais, depois de um defeso de inverno onde deu para perceber quais as maiores preocupações que teremos no futuro.


O jogador
David Simão, é um médio-centro. Na formação, foi muitas vezes utilizado como organizador de jogo, um médio-ofensivo "10", num esquema táctico de formação como o 4-3-3. Em vários jogos jogou atrás do avançado, quando a equipa dos juniores do Benfica jogava num 4-2-3-1. Outras, jogava na posição "8". Outras ainda na posição "6". Dependia não só do adversário, como dos colegas disponíveis que tinha ao lado. Mas, era sobretudo um líder do meio-campo encarnado e das selecções nacionais jovens. O capitão.

Do ponto de vista físico, é um meio-campista com estatura elevada (1,83 m) e boa robustez física (71 kg), que lhe confere resistência nos duelos a meio-campo. É um jogador tecnicista e cerebral. Por isso, é muitas vezes visto como "pouco intenso". Na minha opinião, tal parecer parece-me incorrecto, pois a questão não está na velocidade de execução, mas sim em melhorar a velocidade de decisão. Ou seja, é mais uma questão mental, de pensar o jogo mais rápido, do que propriamente executar os movimentos. Escrito isto, também é um facto de que o David Simão não é nenhum corredor de 100 metros. No entanto, na zona nevrálgica do meio-campo, também não precisa. Precisa sim, de saber coordenar o jogo da equipa e isso ele sabe fazer como ninguém.

A propósito, quando chegou à idade sénior e foi emprestado pelo Benfica ao Paços de Ferreira da 1ª liga, em 2010-2011, foi com essas tarefas de coordenação do ataque que vingou. O Paços comandado na altura pelo seu técnico de formação Rui Vitória, que já o conhecia, não teve problemas em dar-lhe a posição "10". A equipa pacense jogava num tradicional 4-3-3, cujo triângulo de meio-campo era formado por um médio-defensivo puro, um médio de transição e um médio mais ofensivo. David Simão ocupava exactamente esta última posição e foi com ele em campo que a equipa de Rui Vitória conseguiu atingir a final da taça da liga. Competição que viria a perder para o Benfica de Jesus...

Na época seguinte, em 2011-2012, devido à excelente prestação no Paços de Ferreira, David Simão foi chamado à casa-mãe, na qual ficou até à abertura do mercado de inverno. O Benfica tinha contratado vários jogadores para a sua posição, inclusive, o belga Witsel, pelo que o seu espaço na luz estava resumido a terceira opção como... lateral esquerdo. Assim sendo, sem espaço na Luz opta por preferir um novo empréstimo. Desta feita para a Académica de Coimbra. Aqui, encaixa que nem uma luva no meio-campo dos estudantes. Contudo, ao invés de ser ele o "10" da equipa, acaba por ser o seu "8", uma vez que tinha Adrien nessas funções. Notar, que também a Académica jogava num modelo de 4-3-3, com um meio-campo disposto de forma semelhante à do Paços. Foi graças ao David que a briosa conseguiu eliminar o Sporting de Braga e conquistou a taça de Portugal frente ao Sporting em pleno Estádio Nacional, na época passada.

Esta temporada, regressou à Luz, para integrar o projecto de equipa B. Contudo, antes do fecho do defeso de verão, surgiu o convite da equipa do Marítimo e ele aceitou. Na minha opinião fez bem, pois já tinha experiência de alto nível da 1ª liga. Jogando numa equipa que jogava também na liga Europa, permitiria-lhe subir mais um degrau na sua evolução. Quanto a mim, e independentemente do prémio ganho na semana passada, esta temporada tem sido muito prolífica para o David Simão, pois tem estado a responder em campo com grandes exibições a quem lhe continua a apontar o defeito da "intensidade". Ainda na semana passada, frente ao Sporting, viu-se o quão ele foi importante no meio-campo insular, para dar-lhe estabilidade defensiva, mas também organização nas saídas para o ataque. Na equipa de Pedro Martins, o jovem internacional português joga como "8", num 4-2-3-1, ou seja, num meio-campo de duplo pivôt.


O Benfica
O que devemos realçar destas duas épocas e meia de competição na primeira liga, é a experiência adquirida e a evolução notória do seu futebol.

Olhando para o actual meio-campo da equipa de Jorge Jesus, vemos as seguintes opções: Matic e André Gomes para a posição "6", Enzo Pérez e Carlos Martins para a posição "8", e Pablo Aimar e Nico Gaitán para a posição "10" num 4-2-3-1 (num 4-4-2, a posição "10" acaba por ser a do avançado móvel).

Assim sendo, tendo em conta os problemas físicos já crónicos de Aimar, mas sobretudo de Carlos Martins, não me admirava nada que o Benfica na próxima temporada desejasse reforçar esse sector do terreno. Logo, e olhando para as características do David Simão, penso que este se iria encaixar que nem uma luva nessa posição "8" em aberto.

O Enzo deverá ser o habitual titular ao lado de Matic. Mas, David Simão, que já tem experiência suficiente de 1ª liga seria o ideal para ir rodando, com o argentino na posição "8". Também tem potencial suficiente para desenrascar na posição "6". Já André Gomes, pelo potencial que tem e sua maturidade, poderia continuar o seu crescimento sob o olhar atento e criterioso do "Jota-Jota" para a posição "6". E, caso houvesse necessidade de mais um jogador para o meio-campo numa ou noutra situação, esse seria um que viesse da equipa B.

Com esta solução, não haveria necessidade de gastar um só euro. Seria pois um optimizar de recursos, com um factor extra: estaríamos a introduzir um jogador que poderia ser referência para muitos mais, recriando um pouco da mística encarnada.

Será que jogará na equipa encarnada que ele sempre ambicionou?

8 comentários:

  1. Por favor, não insistam, não é definitivamente jogador para o Benfica.

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    1. Porque não? Acho que uma resposta como a tua requer uma explicação mais elaborada que um "porque não!"

      É que, o que dá para ver do David Simão, é um jovem jogador a evoluir na liga nacional, ano após ano...

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  2. Sou daqueles que utiliza o argumento da "intensidade". Num jogo com a intensidade colocada ontem pelo porto, D. Simão era "engolido".
    Discordo que possa ser útil ao Benfica na posição "8", Simão é um jogador muito posicional, um pouco à semelhança de H.Viana, com quem partilha igualmente o facto de ter um pé esquerdo "assombroso".
    Vejo-o mais como um "10", que potenciaria num 4-4-2 losango.

    P.S. O comentário anterior não é meu...

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    1. Eu penso que não. O que não falta no futebol mundial são casos de jogadores "pouco intensos", no sentido de serem algo lentos, no meio-campo e com enorme sucesso. Assim de repente, vem à cabeça Xabi Alonso, Xavi Hernandez, Andrea Pirlo, Riquelme e muitos outros. O próprio Hugo Viana, não sendo top dos tops, mas pelo menos um dos melhores a nível nacional, é outro belo exemplo.

      Frente a um Porto consistente e que joga em equipa, com todos os jogadores a saberem o que devem fazer em campo nas várias fases de jogo, o que é importante, é teres uma equipa que acabe por dar réplica.

      O Lucho não é um jogador de enorme intensidade e no Porto consegue fazer boas exibições. Como explicas este facto? Eu explico-o à luz de uma equipa que saiba explorar o melhor que ele tem e sabe defender as suas lacunas. Da mesma forma eu acho que o Simão não seria "engolido" pelo meio-campo do Porto numa equipa que providenciasse o mesmo.

      O David Simão de há umas épocas atrás, pensava o jogo ainda à velocidade dos escalões jovens e nessa altura até poderia admitir tais críticas de intensidade, embora confundiam velocidade de execução com a velocidade de decisão. Era e é normal isso acontecer. Os mais dotados adaptam-se mais rapidamente e é o que ele tem feito ao longo das últimas épocas. Esta temporada no Marítimo temos visto um Simão muito mais rápido a decidir e isso faz toda a diferença. Com a sua grande capacidade técnica tem a capacidade de executar de primeira o que já de si acelera logo o jogo. Depois já começa a ter mais manhas de 1ª liga. Por exemplo, quando precisa de temporizar, consegue guardar bem a bola e em último caso jogar para a falta do adversário. São pequenos pormenores que tu vais vendo do quanto ele já evoluiu.

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  3. "O Lucho não é um jogador de enorme intensidade e no Porto consegue fazer boas exibições. Como explicas este facto?"

    Com o facto de ele não jogar na posição "8" como pretendes que jogue Simão mas sim como um "10" (ou médio mais avançado) como eu acho mais benéfico para ele.
    Aliás, todos os outros jogadores que mencionaste como sendo "lentos" (o que não tem nada a ver com "intensidade") nenhum - à excepção de Xavi que joga "na posição que melhor beneficia a equipa" - ou são "6" ou "10" ou ambos (Pirlo).
    Acabas por me dar razão...

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    1. Caro Anónimo,

      Você está a misturar alhos com bugalhos. Quando falo do David Simão neste artigo, falo tendo em conta as necessidades do onze encarnado. O Benfica joga num 4-4-2 ou num 4-2-3-1. O que é muito diferente de um 4-3-3 tradicional como o do Porto.

      Num 4-3-3, a posição "10" é de um dos médios-interiores que, pelas suas características, acaba por ter mais liberdade ofensiva. É o que acontece com o Lucho no Porto. Era o que acontecia com o Deco, também no Porto. Era o que acontecia com o David Simão no Paços de Ferreira e nos escalões jovens da Luz, como referi no artigo acima.

      O Benfica actual joga em 4-4-2 e de quando em vez em 4-2-3-1. Nestes esquemas, a posição "10" encontra-se ou na linha avançada (como segundo-avançado num 4-4-2) ou claramente entre-linhas (como trequartista num 4-2-3-1). Para tal, o jogador para além de boa técnica tem de ter outras características físicas, como por exemplo capacidade de explosão/aceleração.

      Ora, o David Simão não tem essas características físicas, mas têm outras que jogando numa linha abaixo, na linha do duplo pivot de meio-campo, conseguirá render. A essa posição chamo-lhe de posição "8".

      Já agora, e fazendo um parêntesis, o problema que antevejo ao David Simão se jogasse na posição "10" de um 4-2-3-1 encarnado, seria o mesmo que vimos ontem com o Carlos Martins. Ou o mesmo que vimos com Deco na selecção nacional de 2006. Ou seja, frente a fracos opositores estes até rendem, mas contra defesas apertadas e organizadas, vem logo ao de cima os desconfortos e carências que possuem naquela posição.

      Da mesma forma Pirlo e Hugo Viana tiveram dificuldades quando quiseram fazer deles uns "10" trequartistas. Reparar no Pirlo no Inter e no Pirlo do Milan/Juventus. Reparar no Hugo Viana do Newcastle e o Hugo Viana do Sporting de Braga.

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  4. "O que é muito diferente de um 4-3-3 tradicional como o do Porto".
    O 4-3-3 "tradicional" já não existe no porto actual, existiu de forma exemplarmente recriada por Villas-Boas e consistia num meio-campo formado por 3 centrocampistas "puros" como eram fernando, Moutinho e Guarin.
    Assim, em bom rigor, não existe propriamente um "10" tradicional no 4-3-3. Aliás, uma das diferenças apontadas entre o 4-3-3 e o 4-2-3-1 e que neste último cabe um "10".
    Ora, alternando o Benfica entre o 4-1-3-2 e o 4-2-3-1, para mim D. Simão não tem lugar no primeiro (pelas deficiências que tu próprio apontas, acrescentando eu que ele não tem qualquer vocação defensiva, o que seria ainda mais catastrófico) e no segundo só a "10", apesar dele próprio (e Martins) não ser um verdadeiro "10".

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    1. Caro Anónimo,

      Em primeiro lugar, o porquê de continuar no anonimato? Uma coisa é vir cá esporadicamente, outra é continuar vir cá a debater o tema. Não deve ter receio de se "mostrar".

      Em segundo lugar, quando leio afirmações deste tipo "ele não tem qualquer vocação defensiva" como se fosse a mais pura das verdades, não posso deixar de esboçar um sorriso.

      No caso particular do David Simão, convido-o a visualizar novamente o jogo que ele fez em Alvalade, para perceber o quão incorrecta a sua afirmação está.

      Mais a mais, tenho quase a certeza que quando Ancelotti colocou o Pirlo a médio defensivo, deve ter havido algures em Milão alguém que proferiu exactamente a mesma ideia que o meu caro Anónimo, i.e. "ele não tem vocação defensiva". O próprio Matic quando chegou ao Benfica era um médio "8"/"10" e hoje vemo-lo a engolir todas as posições do centro do meio-campo. Noutra perspectiva, quem diria que o Enzo Pérez, um médio-ala/extremo direito/esquerdo na Argentina, seria uma espécie de João Moutinho a meio-campo?

      Acho que é uma tontice pegada o Benfica não saber aproveitar as características do David Simão, para a posição "8", quer em 4-4-2, quer em 4-2-3-1.

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