Ao longo das últimas semanas, tem-se sentido um aumento de factores potencialmente distractivos para a equipa encarnada. A intenção é clara: tentar desequilibrar e desestabilizar o Benfica. Por isso lembrei-me de partilhar dois contos que poderão ser úteis neste importante momento.
A importância do foco
Atirando com o arco, o iogue Raman era um verdadeiro mestre na arte do arco e flecha. Certa manhã, ele convidou seu discípulo mais querido para assistir a uma demonstração do seu talento. O discípulo já vira aquilo mais de 100 vezes, mas mesmo assim, obedeceu ao mestre. Foram para o bosque ao lado do mosteiro. Ao chegarem diante de um belo carvalho, Raman pegou uma das flores que trazia no colar, e colocou-a num dos ramos da árvore. Em seguida, abriu o alforje e retirou três objetos: um magnífico arco de madeira preciosa, uma flecha e um lenço branco, todo bordado em lilás. O iogue então se posicionou a uma distância de 100 passos da árvore, de frente para o alvo, e pediu ao discípulo que o vendasse com o lenço. O discípulo fez o que o mestre ordenara.
- Quantas vezes você já me viu praticar o nobre e antigo desporto do arco e flecha? - perguntou.
- Todos os dias. - respondeu o discípulo. - E sempre o vi acertar na rosa, a uma distância de 300 passos.
Com os olhos cobertos pelo lenço, o iogue Raman firmou os pés na terra, distendeu o arco com toda a sua energia - apontando na direção da rosa colocada num dos ramos do carvalho - e disparou. A flecha cortou o ar, provocando um silvo agudo, mas sem atingir a árvore, errando o alvo por uma distância constrangedora.
- Acertei? - disse Raman, retirando o lenço que cobria os olhos.
- O senhor errou, e por uma grande margem. - respondeu o discípulo. - Achei que ia me mostrar o poder do pensamento, e sua capacidade de fazer mágicas.
- Eu dei-lhe a lição mais importante sobre o poder do pensamento. - respondeu Raman. - Quando desejar uma coisa concentre-se apenas nela: ninguém jamais será capaz de atingir um alvo que não consegue ver.
Focarmos apenas na baliza dos adversários é a melhor forma de se conseguir atingir os objectivos. |
Mesmo com tantos esquemas, com jogos de bastidores, com conspirações que tentem influenciar o que se passa dentro de campo, continua a ser deveras imprevisível o que acontece ali. Dentro das quatro linhas, só os mais focados, os mais talentosos, os que querem mais ganhar, conseguirão fazê-lo, por mais que tentem distrair-nos. O Benfica tem de estar preparado para este duro teste.
A busca do sábio
O abade Abraão soube que perto do mosteiro de Sceta havia um sábio. Foi procurá-lo e perguntou:
- Se hoje você encontrasse uma bela mulher em sua cama, conseguiria pensar que não era uma mulher?
- Não - respondeu o eremita -, mas conseguiria me controlar.
O abade continuou:
- E se descobrisse moedas de ouro no deserto, conseguiria ver este ouro como se fossem pedras?
- Não. Mas conseguiria me controlar para deixá-lo onde estava.
Insistiu Abraão:- E se você fosse procurado por dois irmãos, um que o odeia, e outro que o ama, conseguiria achar que os dois são iguais?
Disse o ermitão:- Mesmo sofrendo, eu trataria o que me ama da mesma maneira que o que me odeia.
Naquela noite, ao voltar para o mosteiro de Sceta, Abraão comentou com seus noviços:
- Vou lhes explicar o que é um sábio. É aquele que, ao invés de matar suas paixões, consegue controlá-las.
Saber controlar as emoções às más arbitragens nos jogos, as chamadas "proençadas", é fundamental. |
Para além do foco, a equipa do Benfica tem de ser sábia a gerir e controlar os seus sentimentos ao longo do encontro desta noite e em todos os outros. Tem de saber reagir com muita sapiência às inúmeras tentativas de provocação das outras duas equipas em campo. Penso que se souberem canalizar a energia provocada pelas injustiças pontuais e generalizadas dentro de campo, na concentração do seu jogo e na sua dinâmica, poderá ser a forma mais elegante de dar uma chapada de luva branca a esses adversários. E, com isso, atingir os seus objectivos e demonstrar quem é que tem estofo de campeão. Notar que aqui não se trata apenas de "dar a outra face". É preciso ser astuto nas situações e saber usar o próprio veneno dos adversários, se for necessário.
PS 1: Tomei conhecimento destes dois contos através da leitura numa das obras do conhecido escritor brasileiro Paulo Coelho.
PS 2: A nomeação de Pedro Proença, acaba por ir de encontro com os "chorões" do futebol nacional. Embora o árbitro internacional português tenha sido considerado o melhor árbitro do mundo, isto não pode ser pretexto para desprezar o seu passado recente com o Benfica. E, este acaba por ser uma faca de dois gumes, que dependendo do resultado, será sempre discutido.
Por um lado, a agressão a Pedro Proença, alegadamente por Benfiquistas, poderá toldar a sua avaliação nestes jogos em claro benefício dos adversários encarnados. Por outro lado, o facto de supostamente ser sócio encarnado, poderá levar aos adversários encarnados sentirem-se injustiçados com a sua presença em campo.
Aliás, a comunicação social ao dar notícia que o árbitro português viajou no mesmo avião que a comitiva encarnada, só está a lançar ainda mais achas para a fogueira. No entanto, aquando da sua nomeação comodamente esqueceram-se do seu passado com os adeptos encarnados... porque será?
Pior que noticiarem a viagem de Proença com a comitiva do Benfica é omitirem a presença no mesmo voo do presidente do Nacional. Isso sim é estranho. O que fazia o presidente do Nacional no continente e o que o fez ir no mesmo voo??? Hoje vai ser difícil. Muito difícil mesmo. Talvez mais do que foi o jogo em Braga
ResponderEliminarOlá Sérgio Azevedo,
EliminarTodos os jogos até ao final da época vão ser difíceis enquanto o Benfica não desarmar da liderança do campeonato.
Já se percebeu bem quais as intenções dos jogos de bastidores e o incómodo que é para as demais estruturas futebolísticas nacionais ver o Benfica com reais hipóteses de ser o campeão nacional.
Mete um asno todo este comportamento, quer sejam dos adversários, mas sobretudo daqueles que hipocritamente dizem-se imparciais, quando não o são.
Mesmo assim, devemos só concentrarmos nos jogos dentro das quatro linhas. Aí sim é o nosso jogo. Aí sempre teremos as nossas vantagens.
No final, e vitoriosos, podemos então apontar dedos e interrogar sobre determinadas coisas. Aliás devemos mesmo fazê-lo, para no mínimo fazer pensar a opinião pública...