As três equipas que estiveram presentes no Estádio da Madeira, no domingo ao final da tarde, empataram todas com o mesmo resultado: Nacional 2 golos, Benfica 2 golos e Arbitragem 2 expulsões. Mas, quem perdeu mais com o jogo foi o Benfica... fazemos então uma análise ao encontro.
Entrada desconcentrada
Ainda no domingo de manhã, tive a oportunidade de comentar que seria crucial o Benfica exibir-se na Madeira com um conjunto devidamente
focado na vitória e preparado emocionalmente para qualquer tipo de provocações e incidências.
No entanto, logo desde o início do encontro verifiquei que a equipa não estava focada. A começar com uma falha de comunicação entre Artur e Luisinho, na qual o Diego Barcellos quase conseguia aproveitar para inaugurar o marcador. E, a terminar com o golo desse mesmo jogador do Nacional, após uma triangulação onde o lado esquerdo defensivo ficou muito mal na figura.
Porquê esta entrada desconcentrada? Como não penso que os jogadores profissionais, nesta fase do campeonato entram em campo de forma ingénua, a desconcentração não poderá ser, neste caso, um sintoma de falta de conhecimento do adversário. Então do que será? Existem pelo menos mais três situações que explicam a desconcentração: a) a falta de qualidade do jogador; b) a insegurança e o pouco à vontade na vertente estratégica e técnico-táctica; e c) falta de frescura física. Relativamente à hipótese a) também descartaria, pois os jogadores encarnados que defrontaram o Nacional já tiveram oportunidade de provarem a sua qualidade noutros campos.
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Foi notória a falta de frescura física do internacional argentino Garay. |
Olhando de perto para os lances de perigo do Nacional, no primeiro quarto de hora, e regra geral durante todo o encontro, verifiquei desde muito cedo que o central argentino Garay, não estava fisicamente a 100%. Não é para menos, pois jogou na 4ª feira passada os 90 minutos frente à Suécia e tem sido um dos jogadores encarnados com mais minutos esta temporada. Por exemplo, no lance da falha de comunicação Garay não conseguiu arrancar para ir cortar a desmarcação do Barcelos. Teve que ser o Luisinho, a descer e fazer uma espécie de guarda-de-honra para Artur poder despachar. E, aqui surge o segundo elemento da defesa desconcentrado, mas desta feita não pelo cansaço, mas sim pela insegurança. De facto, o guardião brasileiro está a passar por um momento pouco confiante em termos desportivos. Ontem teve mal em muitas situações durante o encontro e esta foi a primeira. Eu até acho que não faltou comunicação entre ele e o Luisinho. Faltou-lhe sim foi determinação (tem a ver com a sua insegurança) e saber o que fazer naquela situação (identificação com as funções a ter em campo em vários momentos do jogo).
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O capitão Luisão esteve muito desconcentrado no centro da defesa. |
O lance do primeiro golo do Nacional, aos 6 minutos, muita gente culpabiliza o lateral esquerdo encarnado. Contudo, eu não partilho da mesma opinião. O lance do golo nasce de uma triangulação entre Barcellos que apanha a bola numa zona de acção entre Matic e Garay, o argentino fica demasiado na espectativa e quando reage já o 10 do Nacional está a passar para o Keita. Este recebe a bola solto sem pressão porque Luisão deixa-se de antecipar e pior que isso, dá-lhe espaço recuando a linha de fora-de-jogo. Por sua vez, Keita triangula com o lateral direito Claudemir que acompanhou o lance e este passa ao Barcellos para concluir isolado à baliza. Garay, durante esta jogada, jogou literalmente à rabia.
O Luisinho acabou por ser traído pelos seus dois companheiros do eixo defensivo. O Garay porque partiu tarde na marcação e Luisão porque baixou a linha, colocando toda a gente do Nacional em jogo.
A remontada
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É injusto dizer que o Luisinho não sabe defender e só sabe atacar. |
Contudo, foi do pé esquerdo do Luisinho que surgiu o cruzamento para o primeiro golo do Benfica: um auto-golo (também conta) do central moçambicano Mexer (aos 15 minutos de jogo). Aliás, toda a jogada foi excelente e só pecou pela conclusão não ter sido do Lima que apareceu um pouco atrasado na jogada. Nela pode ser visto o porquê de Jesus em apostar no Urreta como extremo esquerdo, à frente de Luisinho. É que o uruguaio nessa jogada, acaba por fazer um movimento interior, arrastando a marcação e libertando a ala esquerda para a subida do lateral. O espaço foi muito bem criado nessa jogada.
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MVP? Urreta, pois claro! |
Mas, o rendimento do Urreta não se reflectiu apenas nessa jogada. Foi dos seus pés e das suas movimentações que o Benfica criou as situações de maior perigo para a baliza de Gottardi.
Foi claramente o MVP do jogo para o lado encarnado, cujo momento alto culminou no segundo golo do Benfica, aos 36 minutos, através de um livre directo. Já agora, sabem desde quando o Benfica não marcava um golo de livre directo para o campeonato? Desde o livre de Bruno César em Paços de Ferreira na época passada... caso para perguntar se este tipo de lances não se treinam durante a semana?
A dinâmica dos dois avançados
Os últimos 10 minutos da primeira parte, após o golo do Urreta, pôs ainda mais a nu a falta de dinâmicas da nossa dupla de avançados. Quanto a mim, parece-me que Jesus continua a não trabalhá-la durante os treinos diários.
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Infelizmente, Lima ficou em branco frente ao Nacional, apesar de ter mandado uma bola ao poste... |
Não entendo, porque é que o avançado centro que cai na direita seja o canhoto Rodrigo e o avançado centro que cai na esquerda seja o destro Lima. Poderia compreender que isso ocorresse casualmente. Contudo, acontece sempre. Jesus até pode pretender que eles façam movimentos da faixa para o centro e que assim tenham maior facilidade de rematar, o que não é mau visto. No entanto, o que comummente verificamos é que perdem imensas oportunidades de cruzar para a entrada do seu companheiro de ataque ou de um médio à entrada da área, quando se desmarcam para a faixa. Vi pelo menos umas 5 ocasiões (na primeira parte) não aproveitadas por Lima, porque tinha sempre a tendência para puxar a bola para o pé direito (seu melhor pé), quando estava em óptima posição para cruzar da esquerda. Tenho quase a certeza que nessas ocasiões, o Rodrigo teria facilidade em executar bons cruzamentos, pois é um canhoto. Seria excelente eles poderem mudar de posição mais vezes e consoante o momento de jogo.
Por exemplo, quando o Benfica está mais pressionante, com os laterais a serem praticamente extremos, os avançados podem jogar com "o seu melhor pé virado para o centro". Já quando estamos a ter dificuldades em subir no terreno com a bola controlada e para aproveitar o espaço nas costas dos laterais adversários, ou seja, mais expectantes, os avançados devem jogar com "o seu melhor pé virado para a faixa".
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Rodrigo precisa ainda de amadurecer muito o seu futebol. |
Por outro lado, sendo Lima o avançado mais experiente, com outro poder de decisão e até mais rotinado na posição, não entendo como Jesus escolhe Rodrigo como avançado com funções de descer mais no terreno. É verdade que o Rodrigo tem uma excelente capacidade de drible e de arranque. No entanto, o Lima também não fica atrás.
O ideal seria ambos poderem descer à vez. O que até iria confundir ainda mais as marcações. No entanto, tudo isto requer coordenação entre ambos. Algo que só se adquire com treinos. E, esta é uma das lições que o Jesus leva como trabalho de casa deste encontro.
Nota: para bem da verdade, na primeira parte e antes de Urreta ter marcado o segundo golo, tanto Lima como Rodrigo tiveram duas boas ocasiões para marcar, mesmo jogando como Jesus pretendia. O brasileiro falhou por muito pouco com uma bola ao poste, enquanto o hispano-brasileiro viu negado o seu excelente remate de fora da área por uma excelente intervenção do Gottardi.
Início do segundo tempo em 4-2-3-1
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Será o Gaitán o futuro "10" do Benfica? |
Visto que a opção Rodrigo não surtia efeito ao fim dos primeiros 45 minutos, "Jota-Jota" resolveu mexer na equipa ao intervalo. Deixou Rodrigo nas cabines e fez entrar o argentino Nico Gaitán para o seu lugar. Em termos tácticos, significou que o Benfica jogava agora num 4-2-3-1, com um "10" móvel nas costas do avançado referência, o Lima e dois extremos rápidos ao seu lado, Salvio e Urreta. Uma táctica e estratégia de jogo já usada em Braga.
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Muito corre o Enzo durante os 90 minutos. |
De facto, o Gaitán é um jogador mais criativo e com melhor índices de decisão das jogadas que o Rodrigo, e por isso, foi com uma certa naturalidade que se criou duas belíssimas ocasiões de golo para Urreta (grande passe de Gaitán!) e para Enzo Pérez, logo no reatar do segundo tempo. Contudo, o Benfica não fez o terceiro golo que seria bem capaz de terminar com as esperanças do Nacional nesse encontro.
Nova desconcentração
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Artur tem estado inseguro nos últimos jogos do Benfica. Talvez o banco não seja mal ideia... |
Talvez fruto de uma excelente entrada na segunda-parte, a equipa tenha relaxado um pouco sobre a vantagem. Essa perda de concentração originou o segundo golo do Nacional. O golo (52 minutos) nasce de uma abertura para o Candeias, que no segundo tempo joga sobre a ala esquerda da defesa encarnada. O português centra para a grande área sem grande oposição de Luisinho. A bola passa por uma zona onde Garay se tivesse bem posicionado teria interceptado. Chega até Keita que acaba por falhar uma primeira tentativa de remate, na qual o Luisão não chegaria a tempo para cortar. A bola vai então ao encontro do angolano Mateus, que com uma marcação com os olhos de Maxi desfere um remate para a baliza encarnada.
E, para completar o ramalhete, Artur não consegue defender uma bola, aparentemente fácil, ficando muito mal na fotografia.
O regresso ao 4-4-2
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Cardozo ainda criou perigo na segunda parte do encontro. |
Com o golo do empate da equipa madeirense, Jesus não tem outra hipótese que usar a artilharia pesada no encontro, ou seja, Cardozo. Para entrar o paraguaio faz sair o até então melhor jogador encarnado, o uruguaio Urreta. Até entendo o Jesus nesta
susbtituição: Urreta é um jogador que já não joga à 6 meses e este era
apenas o terceiro jogo que fazia esta temporada e o primeiro a jogar
como titular. Mas, olhando para o jogo, e vendo o argentino Salvio, algo desgastado e em noite não, talvez deveria ter arriscado em dado os 90 minutos ao Urreta.
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Faltou fôlego ao Maxi Pereira neste encontro frente ao Nacional. |
De facto, a nossa ala direita, com Maxi e Salvio, parecia muito desgastada fisicamente na segunda parte. É um facto que o jogo foi disputado com grande intensidade. Também é um facto que o Estádio da Madeira está no cimo de uma serra. Também é um facto que tanto Maxi como Salvio são dois dos jogadores mais utilizados por Jesus esta temporada.
Todos estes factores contribuíram para que a reação encarnada ao segundo golo não fosse tão boa como seria de esperar.
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Para além de algo desgastado, Salvio esteve em dia não. |
Mesmo assim, o Benfica teve pelo menos mais cinco boas ocasiões para marcar. Primeiro o cabeceamento de Garay após um canto. De seguida, o Óscar Cardozo, numa abertura de Gaitán sobre a direita (mais um passe excelente!), faz um remate em desequilíbrio que é negado pelo guardião do Nacional. Depois, num remate frontal após uma bola ter sobrado para o seu pé esquerdo. Pena que a bola tenha saído à figura do guarda-redes. Antes deste lance, também Lima tem uma soberana oportunidade. Depois é a vez de Salvio permitir nova intervenção do Gottardi que defende para canto, após jogada em combinação de Enzo, Cardozo, Nico e Salvio.
O descontrolo emocional
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Sendo um jogador experiente, Cardozo poderia ter tido cabeça fria, evitando a expulsão e a intenção do adversário. |
Nesse canto, o lateral esquerdo do Nacional, o jogador Marçal fez anti-jogo, não deixando que o Cardozo, que se dirigia para cobrar o canto, pegasse na bola. O jogador do Benfica perdeu a calma e compostura. Com um toque na perna do adversário, cai na esparrela deste. De seguida, começa o circo: o jogador do Nacional cai por terra rebolando como se fosse uma agressão, o árbitro Pedro Proença mostra logo o cartão vermelho directo ao avançado paraguaio. Mas, tem o bom senso de mostrar também o cartão amarelo ao, por conduta anti-desportiva, ao Marçal que origina a consequente expulsão deste atleta (que já tinha acumulado outro amarelo no encontro).
A equipa já estava avisada para este tipo de jogo. E, mesmo com o resultado não sendo o ideal, os jogadores encarnados têm de parar de cair na armadilha que todo o sistema parece querer que o Benfica caia. É que prejudicam a equipa ainda mais. Havia minutos suficientes para poder com cabeça fria chegar à merecedora vantagem.
Em vez disso, a expulsão não só reduziu-nos em termos numéricos, como queimou tempo precioso para uma nova remontada.
Mais a mais, com um pouco de cabeça fria, o paraguaio Cardozo, poderia ter tirado proveito do anti-jogo do Marçal naquela situação, resultando apenas na expulsão do jogador do Nacional... por isso é que o controlo emocional é muito importante em alta competição. Eu sei que não é fácil, quando parece que todo o sistema está contra, mas tem-se de fazer o esforço e "levar essa pela equipa". Ainda para mais, quando temos o público do nosso lado...
A falta de bom senso
É óbvio que esta nomeação de Pedro Proença para este encontro não é inocente. Isto depois de, à semanas atrás, dirigentes do Porto exigirem a presença deste árbitro nos jogos do Benfica.
Realmente, "quem chora, mama"!
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"O mehor árbitro do mundo" não deveria ter mais bom senso na interpretação do lance de Cardozo e Marçal, evitando expulsões directas e apenas mostrar amarelos aos dois? |
É óbvio que faltou bom senso a quem gere a arbitragem nacional para com esta nomeação para um jogo encarnado. Como já tive oportunidade de escrever no domingo de manhã, o Pedro Proença acabaria, qualquer que fosse o resultado, por levar com contestação: por um lado dizem que é benfiquista, algo que poderia ser utilizado pelo Nacional; por outro, e talvez bem mais importante, tem razões que chegue para prejudicar o Benfica, ou não tivesse ele sido vítima de agressões, supostamente por benfiquistas...
Como é que um árbitro nestas condições poderá ser isento?
O mais engraçado é que ninguém da comunicação social colocou sequer esta questão óbvia. Todos se resguardaram na premissa de "o melhor árbitro do mundo". Por aqui, dá para entender até onde é que chega o poder dos demais interessados em que o Benfica seja prejudicado...
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A expulsão de Matic então é de levar as mãos à cabeça... |
Talvez tenha sido por causa da garrafa que fora lançada da bancada e que atingira "o melhor árbitro do mundo", ou da reacção de Cardozo, que Pedro Proença tenha-se lembrado do que aconteceu no Colombo.
Pois, só consigo explicar a expulsão do sempre correcto e leal Matic à luz de uma vingança intempestiva do árbitro português. É que até o teatro do Candeias é de segunda categoria...
E, desta forma, anula-se pelo menos durante dois jogos, dois dos melhores jogadores do Benfica e desta liga: o médio Matic e o ponta-de-lança goleador Cardozo.
Os últimos minutos
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Ai se o Kardec tivesse feito golo no finalzinho da partida... |
Basicamente, os últimos minutos contiveram muito pouco futebol. Mas, mesmo assim, Kardec, que tinha entrado pela saída de Maxi Pereira, teve a última oportunidade de golo do jogo, num cabeceamento que saiu fraco à figura de Gottardi. Pouco depois terminava a partida. Mas, não deixaria de ser engraçado que esse lance tivesse originado no golo da vitória encarnada...
O filme do jogo
PS: O mais engraçado foi depois o que aconteceu no jogo seguinte... nem de grande penalidade conseguiram marcar...
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