Foi um jogo sofrível até ao último minuto, o encontro que opôs o Benfica à Académica no passado domingo no estádio da Luz. De qualquer das formas, o Glorioso saiu vitorioso com o golo (mais um) de Lima.
O onze encarnado
Onze do Benfica frente à Académica. |
O Benfica entrou no domingo com um claro 4-4-2, que desdobrava-se numa espécie de 4-2-4 (ou 2-4-4, tal era a subida dos laterais). A defesa era constituída praticamente pelos habituais titulares: Artur na baliza, Maxi, Luisão, Garay e Melgarejo a formarem o quarteto defensivo. No meio-campo, a primeira novidade foi a inclusão do jovem André Almeida nas tarefas do castigado (injustamente!) Matic. Ao seu lado, o argentino Enzo Pérez. No ataque, as alas eram ocupadas por Salvio e Ola John, enquanto o centro foi dado a Lima e a Rodrigo, a segunda novidade do onze, dado a ausência por castigo de Cardozo.
A estratégia e o anti-jogo dos estudantes
A teia defensiva dos estudantes. |
O ritmo baixo com o qual o Benfica iniciou o jogo, privilegiou a organização defensiva da Académica, que assim tinha tempo para recuperar qualquer espaço aberto pelas movimentações do ataque encarnado e através da sua melhor circulação de bola. Além disso, a briosa desde cedo jogou com todos os seus jogadores atrás da linha da bola. Inclusive o Salim Cissé, que na realidade, na maior parte do tempo, foi mais um médio do que um avançado. Por isso foi natural constatar os poucos ataques e remates realizados pelos estudantes.
A estratégia de Pedro Emanuel não se pode criticar e até diga-se é bem plausível. Defender e espreitar o contra-ataque! Tendo em conta a frente de ataque dos estudantes, muito móvel e veloz seria presumível num contra-ataque chegar à baliza de Artur e facturar. Aliás, não foi dessa maneira que jogaram connosco para a taça da liga? Não foi dessa maneira que em dois remates conseguiram marcar dois golos, nesse encontro? Então porquê mudar? Foi assim que o técnico estudante pensou e tentou fazer na Luz. Quanto a esta estratégia, nada a apontar, até porque cada um joga com as armas que tiver.
Vale tudo para o Benfica não vencer? |
O que pudemos e devemos apontar, e não confundir, é com o anti-jogo que os jogadores da Académica presentearam quem assistiu ao encontro no estádio da Luz. O tempo perdido para cobrar uma falta. A teatralidade e as cambalhotas que os estudantes faziam aquando de cada toque dos encarnados. São tudo belos exemplos da falta de brio de uma equipa cuja alcunha é briosa. A intenção era clara: enervar o adversário e com isso explorar possíveis desconcentrações.
O papel da arbitragem no anti-jogo
Para evitar perder o controlo dos jogos os árbitros têm de estar preparados para proteger o espectáculo. |
Vá lá que o Benfica soube defender-se desse estilo de jogo e não chegou a enervar-se ao ponto de perder o controlo emocional do jogo ou de errar defensivamente numa transição defensiva. No entanto, penso que para o bem do espectáculo, mais do que esperar que técnicos como Pedro Emanuel e outros da mesma escola, sejam bons samaritanos, ao ponto de repreender os próprios jogadores quando fingem lesões para perder tempo útil de jogo, é necessário que o árbitro e a sua equipa vejam isso e actuem em concordância. Há claras indicações da UEFA e da FIFA para os árbitros poderem actuar nas diversas situações de anti-jogo. Em primeiro lugar, os árbitros em Portugal têm a mania de apitar mal vêm um simples encosto de um jogador sobre o outro. Isto está mal, porque quebra ritmos de jogo e depois, nos cantos e nas jogadas dentro da grande área, quase que é necessário uma placagem à rugby ou uma projecção à judo, para que seja penaltie ou falta, criando uma dualidade de critérios, que confunde jogadores e público. Em segundo lugar, nos casos em que claramente se vê que o jogador simula uma lesão mais grave para matar tempo, deveria ser penalizado quando tenta entrar novamente em campo, aguardando a sua entrada até que a bola saia de jogo. Os árbitros têm todo esse poder disponível para ser utilizado pontualmente e não de forma exagerada. Só assim é que eles vão reeducar hábitos nos futebolistas. Em última análise irão beneficiar o espectáculo desportivo. Não podem ter receio de ter esse tipo de comportamentos, desde que sejam justos e não caiem em exageros.
A inoperância do ataque encarnado
André Almeida fez um jogo seguro. |
Se calhar mais do que a estratégia e do anti-jogo dos estudantes, o que mais prejudicou ao futebol que o Benfica apresentou, foi a pouca dinâmica do seu ataque. À quem atribua a responsabilidade aos dois jovens que substituiram Matic e Cardozo, ou seja, a André Almeida e a Rodrigo, respectivamente. A meu ver, o André Almeida não esteve mal. Poderá ter apresentado numa ou noutra jogada alguma falta de rotinas na posição, o que até é natural, dado que tem treinado e jogado ultimamente como lateral direito. Por seu turno, o Rodrigo, embora não deslumbre, também não saiu do que tem sido as suas exibições naquela posição. Já agora, em matéria de individualidades, tanto Salvio e Ola John, passaram ao lado do jogo. Aparecendo apenas aqui e acolá, mas claramente emaranhados na teia defensiva da Académica. Lima, também esteve bastante perdulário nas escassas ocasiões que foi tendo ao longo da partida, apesar de ter sido claramente o herói do encontro com o seu golo no último minuto.
O problema do Rodrigo não é, a meu ver, uma questão física como o comentador Luís Freitas Lobo defendia. |
Mesmo assim, o Benfica fez imensos ataques durante toda a partida. Olhando para todo o encontro, não encontrei quebra física da equipa, pelo que a explicação para a inoperância não advém desse factor. Aliás, talvez pela forma física da equipa, o Benfica teve sempre poder de reacção para anular as transições ofensivas dos estudantes. Mas, então o porquê de não conseguirmos uma melhor exibição?
A meu ver deveu-se apenas a um factor: tempo de preparação! Se repararmos bem, o Benfica em poucos dias defrontou dois adversários bem distintos na forma de jogar. Na quinta-feira passada, teve que adoptar uma postura mais conservadora e um estilo de jogo mais de contra-ataque para levar de vencida a equipa germânica de Leverkusen. No domingo, tinha de apresentar-se como uma equipa dominadora, com maior posse de bola e que jogasse mais em ataque continuado. Entre estes dois jogos estiveram dois dias e meio, ou seja, no máximo 5 treinos, sendo que pelo menos dois ou três serviram para recuperar fisicamente os jogadores. Resultado: Jesus deve ter tido no máximo dois ou três treinos para preparar o jogo. Não acho os suficientes para atingir o grau de operância que o ataque encarnado deva ter. Seria, se houvesse uma certa continuidade no estilo e estratégia de jogo de um encontro para o outro. É que esses dois ou três treinos servem apenas para refrescar as ideias de jogo e aprimorar detalhes sobre o adversário.
Apesar de estar praticamente em todas as melhores jogadas do Benfica, esteve muito escondido no jogo. |
Há muito trabalho que por exemplo, jogadores como Ola John e Rodrigo, necessitam de ter. Dois dos piores em campo no domingo passado. Não porque não são talentosos, mas sim porque ainda não descobriram o seu espaço na equipa encarnada. Só o conseguirão quando conseguirem ter tempo de ser devidamente bem trabalhados. Até lá irão render sempre mais nas posições e nas funções que têm experiência. Não é à toa que em 4-2-3-1 o Ola muitas vezes consiga excelentes exibições, ou quando o adversário é de menor valor, pois aí sente-se mais confortável. Por outro lado, também é verdade que quando o Rodrigo joga como única referência no ataque, sente-se como peixe dentro de água. Cito estes dois nomes, mas também poderia referir-me a Salvio e Lima cujo rendimento penso que poderia ser bem superior. Por isso, acho que o segredo está no trabalho e tempo disponível para ele.
De qualquer das formas, pelos resultados, pela rotatividade, pela estratégia, não tenho nada a apontar ao Jesus. Esta situação do tempo de preparação é uma condicionante das várias competições em que o Benfica está envolvido. Eu pelo menos gosto de ter estes problemas pois é sinal de que estamos em todas as frentes. Por outro lado, o Benfica não é a única equipa grande a nível europeu a sofrer dos mesmos problemas. Tanto o Real Madrid, como o Barcelona, ou todas as equipas grandes inglesas padecem do mesmo tipo de dores de cabeça.
O resumo do jogo
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