Porque recuso pensar que é mais um triste fado da selecção nacional perdermos uma final europeia, desta feita nos sub21 frente à Suécia, penso que é importante debater este resultado e tirar algumas ilações para o futuro do nosso futebol.
Antes de começar e apesar de não termos conquistado o mais que merecido troféu, quero desejar os parabéns pela belíssima campanha nesta competição do Euro 2015 de sub21 na República Checa. Foram a selecção que melhor futebol praticou durante toda a competição e, apesar de não existir vitórias morais, estou certo que para quem tenha visto toda a competição foram realmente os verdadeiros campeões europeus! Faltou apenas a taça, o champagne, os cofetis e a recepção à campeão!
Muitos poderão argumentar que o que falhou foi a capacidade de aguentar a pressão do momento da marcação da grande penalidade. Ou até a falta de treino destes lances. Decerto que não foi esse o caso, embora possa entender o argumento da pressão. Mas, mesmo esse não pode ser lido de forma leviana, ou seja, como se o jogador Português fosse mais fraco psicologicamente que o jogador Sueco. Nada disso, deve ser lido em termos do momento do jogo. Como? Através do nível de confiança dos jogadores em particular, e da equipa em geral. Por exemplo, quando o jogo foi para a marcação de grandes penalidades, os jogadores Suecos estavam muito mais confiantes que os Portugueses, pois a sua estratégia estava a dar frutos enquanto que as dos lusos não. Isso faz toda a diferença. Enquanto que os Suecos sentiam que todo o esforço despendido durante o jogo os tinha levado para onde eles queriam, os Portugueses sentiam a frustração por não terem terminado com a Suécia em 90 minutos, quanto mais não terem-no conseguido no prolongamento. Por outras palavras, os escandinavos estavam com a confiança no auge enquanto que os "tugas" estavam algo em baixo.
É engraçado verificar que a linguagem corporal dos atletas diz muito, tanto a nível individual como no colectivo. Por exemplo, uns momentos antes da marcação das grandes penalidades, quando as duas equipas estavam reunidas no círculo central, dava para ver os dois estados de espírito completamente diferentes e referido acima. A selecção Portuguesa estava abraçada de forma linear e a dar um apoio relativo ao guarda-redes José Sá antes deste se dirigir à baliza. Já a selecção Sueca estava toda junta, com os jogadores abraçados mas rodeando um jogador que ia incentivando os seus colegas. Claramente como que a dizer, "Meus senhores chegámos onde queríamos chegar, portanto, vamos a eles e vencer!" Até mesmo na última grande penalidade nacional, dava para ver um cabisbaixo William Carvalho a preparar a bola e a fazer o remate. Um misto de cansaço com a tal falta de confiança.
Qual a melhor preparação para isto? Há duas respostas. A primeira é a experiência. Quanto mais um jogador viver este tipo de situações mais calejado vai estar e mais facilmente consegue controlar os seus níveis de ansiedade e por seu turno a sua confiança mantém-se mais estável. A segunda e talvez a mais sensata é evitar que o jogo nos fuja ao nosso controle. Ou que se saiba gerir bem as estratégias iniciais para que elas não sejam tão ambiciosas que depois em caso de não resultarem não haja o tal sentimento de frustração.
E é sobre esta segunda resposta que penso que Portugal poderia e deveria ter feito muito mais. Penso que a estratégia de ataque nacional não foi a mais correcta. Querer jogar em transição rápida com uma bola longa em diagonal para um dos nossos avançados interiores móveis, entre o central e o lateral sueco, não foi a melhor solução. Poderia ser usada ocasionalmente, para fazer com que as duas linhas de 4 (do 4-4-2 puro) dos Suecos se descompactassem, criando espaços entre linhas onde Bernardo Silva pudesse aparecer. No entanto, a falta de inspiração do meio-campo luso e o valor do adversário não permitiu que a estratégia fosse aplicada com sucesso. O técnico Rui Jorge ainda tentou uma espécie de 4-3-3 derivando o Bernardo Silva para a direita e assim conseguir de certa forma alimentar o último terço do terreno, mas também sem grande sucesso pois o meio-campo estava lento e pouco fluido com a bola nos pés. O que fazer perante este cenário?
É aqui que entra o tal 4º momento do jogo: o momento ofensivo puro. Portugal, assim como quase todas as equipas do mundo, não domina na sua plenitude este momento. Aliás, talvez somente o Barcelona, a selecção Espanhola e a passos o Bayern Munique, o conseguem. Mas, perante o nosso ADN futebolístico, de querermos exibir ao mundo inteiro que dominamos a bola nos pés, e de não sermos apenas uma equipa de contra-ataque puro, temos invariavelmente de dominar esse momento. Já no Euro2004, faltou-nos dominar a Grécia no seu meio-campo. Manietá-los de tal forma que eles a partir de certa momento já só conseguiam perseguir a bola com os olhos, tal como o Barcelona faz com grande parte dos seus adversários. Mas não! Permitimos que os gregos conseguissem fazer uns quantos contra-ataques durante o jogo, de tal modo que permitiu ganharem um canto e num lance de bola-parada (5º momento do jogo) fizessem o gosto à cabeça de Charisteas. Já frente à Suécia, aconteceu o mesmo, levando o jogo para as grandes penalidades. Dominar o 4º momento ofensivo puro, não é atacar à maluca, o típico "chuveirinho". Implica sobretudo dominar a mais difícil táctica da arte defensiva: defender no meio-campo adversário.
Normalmente, uma equipa defende com pelo menos duas linhas de 4 jogadores (vide a Suécia), e com esses 8 jogadores (mais 1 guarda-redes) consegue quase sempre uma superioridade numérica no seu meio-campo. Para Portugal, conseguir superiorizar-se a este rigor defensivo, precisava de criar vantagens numéricas pelo menos na zona da bola. Para isso era necessário que a equipa estivesse compacta. Isto significa muito trabalho para os nossos dois centrais. O seleccionador Sueco também foi esperto ao colocar dois avançados, pois faziam com que fixassem mais os nossos centrais. E, tendo em conta o nosso estilo de passe longo e directo a tendência era para que a nossa equipa ficasse mais esticada no terreno. Notar que o mesmo acontecia para o Suecos. No entanto, isso era vantajoso para eles, pois tinham maior vantagem atlética. Não é à toa que William Carvalho e Sérgio Oliveira a certo momento do jogo já pareciam ter dado o "bafo". Sendo assim, a estratégia de ataque planeado deveria ser de equipa curta, passe curto e a ritmo elevado (ou seja, a um ou dois toques), fazendo com que a bola "corresse" de um lado para o outro, sempre com muita segurança e precisão no passe até encontrar um espaço aberto nos corredores onde colocar a bola. Isso daria tempo para a nossa equipa respirar, os nossos defesas avançarem e os nossos avançados reposicionarem-se. Depois, quando estivéssemos compactos, os nossos avançados deveriam procurar diagonais para o espaço entre os centrais e o guarda-redes Suecos. Por outro lado, os nossos laterais estariam disponíveis para receberem a bola e funcionariam como autênticos extremos. William Carvalho com os centrais mais próximos funcionaria como terceiro elemento, caso os Suecos tentassem uma transição rápida, funcionando assim como um pêndulo da equipa. Sérgio Oliveira e João Mário seriam os gestores do tempo no meio-campo, fazendo girar a bola de pé para pé, ao invés de tentarem o que fizeram incessantemente: correr com a bola nos pés (transporte de bola no pé). Este é talvez o maior mal do futebolista Português... quando é que vamos aprender que a bola passada é bem mais veloz que um jogador a correr com a bola nos pés?!
Tudo isto são coisas que podem ser trabalhadas arduamente nos clubes e nas selecções. Tudo isto são coisas que vemos acontecerem todos os fins-de-semana e a chamarmos de melhor futebol do mundo. Tudo isto é o futuro do futebol para quem pode. E, nós podemos!
É possível conquistar um Europeu ou um Mundial jogando apenas em transições? Sim, é possível! Mas, somente se o adversário for de igual ou maior nomeada que a nossa selecção nacional. Perante adversários de menor nomeada (e fisicamente potentes), o nosso ADN de querer exibir que estamos ao nível dos melhores leva a que tenhamos de dominar esse 4º momento.
P.S. 1: Quero deixar os meus parabéns ao defesa polivalente Victor Lindelöf, Sueco e formado nas escolas do Benfica, por se ter tornado campeão europeu sub 21, e que não se esqueceu de comemorar com Benfiquistas este importante triunfo na sua carreira.
Qual a melhor preparação para isto? Há duas respostas. A primeira é a experiência. Quanto mais um jogador viver este tipo de situações mais calejado vai estar e mais facilmente consegue controlar os seus níveis de ansiedade e por seu turno a sua confiança mantém-se mais estável. A segunda e talvez a mais sensata é evitar que o jogo nos fuja ao nosso controle. Ou que se saiba gerir bem as estratégias iniciais para que elas não sejam tão ambiciosas que depois em caso de não resultarem não haja o tal sentimento de frustração.
E é sobre esta segunda resposta que penso que Portugal poderia e deveria ter feito muito mais. Penso que a estratégia de ataque nacional não foi a mais correcta. Querer jogar em transição rápida com uma bola longa em diagonal para um dos nossos avançados interiores móveis, entre o central e o lateral sueco, não foi a melhor solução. Poderia ser usada ocasionalmente, para fazer com que as duas linhas de 4 (do 4-4-2 puro) dos Suecos se descompactassem, criando espaços entre linhas onde Bernardo Silva pudesse aparecer. No entanto, a falta de inspiração do meio-campo luso e o valor do adversário não permitiu que a estratégia fosse aplicada com sucesso. O técnico Rui Jorge ainda tentou uma espécie de 4-3-3 derivando o Bernardo Silva para a direita e assim conseguir de certa forma alimentar o último terço do terreno, mas também sem grande sucesso pois o meio-campo estava lento e pouco fluido com a bola nos pés. O que fazer perante este cenário?
É aqui que entra o tal 4º momento do jogo: o momento ofensivo puro. Portugal, assim como quase todas as equipas do mundo, não domina na sua plenitude este momento. Aliás, talvez somente o Barcelona, a selecção Espanhola e a passos o Bayern Munique, o conseguem. Mas, perante o nosso ADN futebolístico, de querermos exibir ao mundo inteiro que dominamos a bola nos pés, e de não sermos apenas uma equipa de contra-ataque puro, temos invariavelmente de dominar esse momento. Já no Euro2004, faltou-nos dominar a Grécia no seu meio-campo. Manietá-los de tal forma que eles a partir de certa momento já só conseguiam perseguir a bola com os olhos, tal como o Barcelona faz com grande parte dos seus adversários. Mas não! Permitimos que os gregos conseguissem fazer uns quantos contra-ataques durante o jogo, de tal modo que permitiu ganharem um canto e num lance de bola-parada (5º momento do jogo) fizessem o gosto à cabeça de Charisteas. Já frente à Suécia, aconteceu o mesmo, levando o jogo para as grandes penalidades. Dominar o 4º momento ofensivo puro, não é atacar à maluca, o típico "chuveirinho". Implica sobretudo dominar a mais difícil táctica da arte defensiva: defender no meio-campo adversário.
Equipa do Euro sub21 2015. |
Normalmente, uma equipa defende com pelo menos duas linhas de 4 jogadores (vide a Suécia), e com esses 8 jogadores (mais 1 guarda-redes) consegue quase sempre uma superioridade numérica no seu meio-campo. Para Portugal, conseguir superiorizar-se a este rigor defensivo, precisava de criar vantagens numéricas pelo menos na zona da bola. Para isso era necessário que a equipa estivesse compacta. Isto significa muito trabalho para os nossos dois centrais. O seleccionador Sueco também foi esperto ao colocar dois avançados, pois faziam com que fixassem mais os nossos centrais. E, tendo em conta o nosso estilo de passe longo e directo a tendência era para que a nossa equipa ficasse mais esticada no terreno. Notar que o mesmo acontecia para o Suecos. No entanto, isso era vantajoso para eles, pois tinham maior vantagem atlética. Não é à toa que William Carvalho e Sérgio Oliveira a certo momento do jogo já pareciam ter dado o "bafo". Sendo assim, a estratégia de ataque planeado deveria ser de equipa curta, passe curto e a ritmo elevado (ou seja, a um ou dois toques), fazendo com que a bola "corresse" de um lado para o outro, sempre com muita segurança e precisão no passe até encontrar um espaço aberto nos corredores onde colocar a bola. Isso daria tempo para a nossa equipa respirar, os nossos defesas avançarem e os nossos avançados reposicionarem-se. Depois, quando estivéssemos compactos, os nossos avançados deveriam procurar diagonais para o espaço entre os centrais e o guarda-redes Suecos. Por outro lado, os nossos laterais estariam disponíveis para receberem a bola e funcionariam como autênticos extremos. William Carvalho com os centrais mais próximos funcionaria como terceiro elemento, caso os Suecos tentassem uma transição rápida, funcionando assim como um pêndulo da equipa. Sérgio Oliveira e João Mário seriam os gestores do tempo no meio-campo, fazendo girar a bola de pé para pé, ao invés de tentarem o que fizeram incessantemente: correr com a bola nos pés (transporte de bola no pé). Este é talvez o maior mal do futebolista Português... quando é que vamos aprender que a bola passada é bem mais veloz que um jogador a correr com a bola nos pés?!
Tudo isto são coisas que podem ser trabalhadas arduamente nos clubes e nas selecções. Tudo isto são coisas que vemos acontecerem todos os fins-de-semana e a chamarmos de melhor futebol do mundo. Tudo isto é o futuro do futebol para quem pode. E, nós podemos!
É possível conquistar um Europeu ou um Mundial jogando apenas em transições? Sim, é possível! Mas, somente se o adversário for de igual ou maior nomeada que a nossa selecção nacional. Perante adversários de menor nomeada (e fisicamente potentes), o nosso ADN de querer exibir que estamos ao nível dos melhores leva a que tenhamos de dominar esse 4º momento.
P.S. 1: Quero deixar os meus parabéns ao defesa polivalente Victor Lindelöf, Sueco e formado nas escolas do Benfica, por se ter tornado campeão europeu sub 21, e que não se esqueceu de comemorar com Benfiquistas este importante triunfo na sua carreira.
P.S. 2: Chamo particular atenção para cinco jogadores Portugueses que devemos manter debaixo de olho: o Bernardo Silva dispensa apresentações, pois foi para mim o melhor jogador do torneio (lamento William Carvalho!), o Ivan Cavaleiro apesar de uma final algo desgastante e esclarecedora parece ser um avançado interior com muito futuro, o Raphäel Guerreiro apesar de exibições mais apagadas ao longo da competição foi talvez o melhor Português na final (grande futuro a lateral esquerdo), o Sérgio Oliveira não foi considerado para o melhor onze do europeus mas deveria lá estar (grande "8" que está aqui se limar algumas arestas ao seu jogo...) e José Sá estou convicto que será o melhor guarda-redes nacional em duas ou três épocas (ficar de olho neste jovem formado nas escolas do Benfica!).
O Ivan Cavaleiro acredito que terà mais futuro como ponta-de-lança do que como falso extremo/avançado interior. Quando penso em avançado interior penso logo em jogadores como CR7, Robben, Neymar, que são jogadores que, apesar de jogarem obcecados pelo golo, têm uma velocidade enorme e um grande poder de drible e jogam melhor começando as jogadas colados à linha para as acabar dentro da àrea (o que é exatamente o papel de um avançado interior ! ^^).
ResponderEliminarAgora o Ivan Cavaleiro parece-me diferente, apesar de não ter na minha opinião a capacidade de drible e de explosão suficientes para jogar a partir de uma ala, pelo que vi dele tem outras qualidades e é muito bom a finalizar e nas desmarcações (apesar de ter tido alguns problemas com o fora-de-jogo na final do Euro sub-21). Por isso penso que o Ivan quanto mais perto da baliza jogar melhor !
E o Bernardo Silva existem atualmente rumores que o mandam para o Barça, bem, não sei se isso se vai concretizar, mas o Bernardo Silva no Barça era mesmo impecàvel porque ele tem exatamente todas as qualidades e caracteristicas para o estilo de jogo dos catalões. Se vier serà provavelmente para rodar com o Iniesta na posição de 8 ofensivo (quase 10) no 4-3-3 do Barça, e com o trio MSN à frente o Bernardo Silva so podia é fazer estragos naquela equipa !
Por acaso não concordo com a tua visão do Ivan. A meu ver, para ser ponta-de-lança mais do que físico é preciso sentir-se confortável a jogar de costas para a baliza e com o choque dos adversários. Ora o Ivan gosta mais de jogar sobre o espaço. Não é à toa que ele foi apanhado várias vezes em fora-de-jogo, pois ele gosta de atacar as costas dos defesas. Depois uma das principais armas dele é a explosão e a velocidade. Nesta competição e porque ele não estava a 100% podes ter ficado com outra sensação... quanto ao drible, ele tem. Não é nenhum Messi ou Di Maria, mas tem. Vejo-o muito na onda de um Suarez que acaba por não ser carne nem peixe, mas é um jogador fenomenal.
EliminarQuanto ao Bernardo, só espero que não vá para o Barcelona já. Ele precisa é de jogar, jogar e jogar. Olha, já agora, digo-te tinha lugar num Bayern Munique... pena que foram contratar o Douglas Costa...
Os melhores para mim foram Sergio Oliveira e Jose Sa.Ainda estou para perceber como e que William foi considerado o melhor jogador do Europeu,e tao ridiculo como Messi ter sido o melhor do Mundial.
ResponderEliminarÉs tu e eu!
Eliminar;)
o Ricardo Pereira continua a surpreender-me muito pela positiva. Quanto ao William... Fez um grande jogo contra Inglaterra e acabou-se o gás para o resto do Europeu. Considerá-lo o melhor do torneio é ridiculo
EliminarO Ricardo Pereira é aquele típico jogador underated. E ainda bem para nós. Se o Porto fosse inteligente, mandava o Quaresma para a Turquia e ficava com Brahimi, Tello e Ricardo Pereira, mais o Hernâni para as faixas...
EliminarA maior dúvida dos scouters Ingleses prende-se exactamente pela falta de "stamina" do William de Carvalho para aguentar um jogo inteiro em grande intensidade. É verdade que ele também foi um pouco vítima da dupla de centrais que prendiam-se muito lá atrás, mas ele na posição onde joga tem de gerir melhor os ritmos de jogo.