13 julho 2015

Confiar nos jovens


Que o caminho destes 4 (Nuno Santos, Nelson Semedo, Raphael Guzzo e João Teixeira) não seja o mesmo que o dos 4 da época passada (Bernardo Silva, João Cancelo, Ivan Cavaleiro e Hélder Costa).



Escrevo caminho e não destino, porque percebo perfeitamente, e aceito, que face à conjectura financeira do Benfica e de Portugal, a política seja a da exportação de jogadores da nossa formação para outros "futebois". Contudo, penso que o caminho pode ser bem diferente daquele que seguiram João Cancelo, Bernardo Silva e mais recentemente Ivan Cavaleiro e Hélder Costa.
«É um sinal de confiança. Agora o objetivo é afirmar-me na equipa principal.»
João Teixeira
De facto, estes 4 jogadores poderiam e deveriam ter permanecido mais tempo no clube da Luz. Cada um foi vendido por 15M€ (valor médio), mas todos estamos conscientes que, mais tarde ou mais cedo, a curva de valor de cada um deles iria ser superior a esses montantes. Aceito essas vendas perante o seguinte cenário: o treinador da altura não aceitar em apostar no curto e médio prazo nos jogadores, pois considerar que havia outras soluções tão boas ou melhores no plantel da altura, e a necessidade de fazer encaixe financeiro num curto prazo (leia-se até 1 ano). Penso (e quero acreditar) que foi isso que aconteceu.
«Vou dar tudo e trabalhar todos os dias para fazer parte do grupo da equipa A.»
Nuno Santos
Assim sendo, estarei muito atento ao que vai suceder com esta nova "fornada". Todos eles assinaram agora um contrato com cláusula de rescisão avaliada em 45M€. É óbvio que isso é apenas uma cláusula de protecção contra possíveis tentativas. A meu ver, haverá 2 ou 3 destes 4 que poderão aproximarem-se desse valor no médio/longo prazo (5 anos). São eles o Nuno Santos (praticamente não há extremos esquerdos de raiz no futebol nacional com qualidade, pelo que se ele triunfar vai ser um jogador que irá ter muitas internacionalizações e com isso valorização e experiência), o Nelson Semedo (não há assim tantos laterais europeus com a sua capacidade técnica e preponderância ofensiva) e João Teixeira (por ser um médio intenso, de estilo um pouco semelhante ao do João Moutinho - lembram-se por quanto este foi vendido? - mas com ainda maior técnica, penso que poderá ter muito sucesso). Quanto ao Raphael Guzzo, não é pela qualidade e potencial futebolístico que ele não valerá os 45M€ no futuro, mas sim porque na posição em campo que ele joga, poucos ou nenhuns são aqueles que valem esse preço. Os que têm esse preço são jogadores ímpares no que respeita a características físicas e técnicas - vide o caso do Pogba - e isso infelizmente o Guzzo não tem.
«Fui apanhado de surpresa. Não só a chamada à pré-época da equipa A como também a renovação. O difícil não é chegar lá acima mas sim manter.»
Raphael Guzzo
Aliás, olhando para o actual plantel encarnado, para a posição de Guzzo temos Fejsa, Samaris, Cristante e até o André Almeida (e se ficar cá o Rúben Amorim). Destes 4 (a 5) jogadores, 4 têm uma estrutura física que o Guzzo não possui e que é muito requisitada no perfil deste tipo de meio-campistas. Por isso que antevejo desde já que o Guzzo possa ser o preterido nesta pré-época, saindo por empréstimo para outro clube de um escalão principal da Europa.
«Não estava à espera. Vamos querer que isto dê frutos. Vou dar o litro.»
Nelson Semedo
De qualquer modo, espero que o Benfica e a sua equipa técnica consigam dar a este quarteto (que na realidade é um quinteto, pois o Lindelöf faz também parte) o caminho que eles tanto precisam no início das suas carreiras profissionais ao mais alto nível. Todos nós, desde o director financeiro, ao adepto encarnado e até mesmo ao adepto da selecção, agradecemos.

Três últimas notas:

  • Engraçado verificar que, pelas afirmações, tanto o Nelson Semedo como o Raphael Guzzo não estavam à espera que a integração no plantel A acontecesse agora... efeito dos 6 anos de Jesus?!
  • Já repararam que estes 5 jovens (4 + Lindelöf) são praticamente para cada sector do terreno? Ou seja, tirando a baliza e o ataque, um é para a lateral, um é para o centro da defesa, um (dois) para o meio-campo e um para a ala ofensiva. Se pensarmos que o sistema está dividido em guarda-redes, centrais, laterais, médios-centro, alas e atacantes, percebemos que para cada sector tem de haver pelo menos dois titulares. Depois se adicionarmos um terceiro elemento que de valor similar para rodar com esses dois titulares, sobra ainda uma vaga por sector para um elemento talentoso. Se repararmos bem, é isso que um grande plantel deve ter, uma vez que durante uma temporada são mais utilizados uns 16 a 17 jogadores, pelo que investir muito em 4 jogadores por sector é um pouco desperdício. Não só pode-se criar conflitos dentro do plantel (ninguém aceita ficar no banco se for muito bom), como perde-se a oportunidade de ter espaço para aparecimento de novo talento. Este número e as posições dos jogadores parecem estar em consonância com aquilo que defendo ser o mais correcto fazer, ou seja, por sector ter um talento novo para polir/evoluir.
  • Ou muito me engano ou o Mónaco os cerca de 45 milhões de euros que gastaram(rão) no total com Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro e (futuramente) com Hélder Costa vai parecer ter sido migalhas. Futebolisticamente falando estes três têm um potencial terrível, mas o que me faz antever enorme sucesso deste trio é a forma como eles são amigos dentro e fora do campo. Isso não tem preço e é isso que no final de um jogo faz a grande diferença entre o sucesso e o insucesso. Estes miúdos para além da mística das vitórias, têm também carisma e algo mais que os poderá distinguir e ter sucesso no futebol. É isso que o Jorge Mendes vê e não é à toa que os tenha juntado. Em suma, penso que estamos perante um caso em que a soma das partes é bem inferior ao todo! O Benfica ao continuar a apostar nos nossos miúdos, está mais perto de ganhar este factor extra. É esse factor extra que mais do que as vitórias alimenta os adeptos.

«Aqui dão confiança aos jogadores mais jovens.»
Bernardo Silva

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