02 junho 2017

Já começou o...


... do mercado de verão!


Para muitos adeptos, este é o momento da temporada que a maioria gosta. O facto de estarmos em defeso, permite por si só imaginar quais os reforços que devem vir para dar mais valor à equipa e, em sentido contrário, quais os patinhos feios que queremos ver daqui para fora, Se o Benfica competisse apenas em Portugal, muito provavelmente esse seria o tipo de movimentações que assistiríamos. No entanto, o Benfica é hoje uma equipa de renome mundial e tem uma credibilidade a defender lá fora. 

Precisamente por competir internacionalmente, tem de ter um orçamento reforçado para o futebol. Ora, com um mercado nacional muito limitado, tal capitalização dentro de portas, seria insuficiente para o nível competitivo e de qualidade que um clube exige possuir numa Liga dos Campeões, por exemplo. É preciso ir reforçar-se de outras formas. Lá fora, as televisões dão muito dinheiro. Em Portugal, o Benfica, por exemplo, recebe menos em receitas televisivas que um clube de pequena/média dimensão inglês. Sendo assim, resta-nos nivelar através da venda de jogadores. E, é aqui que a cabeça do adepto normal começa a fazer fumo. Se para competirmos ao mais alto nível precisamos de vender os nossos melhores jogadores (pois são esses que maior lucro nos dará), quando é que iremos ter uma equipa para limpar tudo na Europa?!

Pois é, não disse que a solução seria fácil. A solução é realmente esta. Ir vendendo os nossos melhores jogadores. E, creio que será sempre um pouco assim. Pelo menos, até o Luís Filipe Vieira não se fartar do clima do futebol português e não for bater à porta da Liga de Clubes Espanhol para entrar para a La Liga, onde o mercado é muito, mas mesmo muito superior ao português. Bem, na realidade não gostava que isso acontecesse, mas é um desabafo tal a inércia com que a nossa liga trabalha em prol do seu próprio crescimento. Neste momento, devido ainda ao nível de endividamento, estamos ainda numa fase de elevada exportação. Contudo, creio que quando formos senhores dos nossos narizes, a exportação será muito mais seleccionada e pontual, pois com o dinheiro que se poupa do pagamento das dívidas, pode-se apostar na melhoria do orçamento para o futebol e com isso manter certos jogadores mais tempo em Portugal. Reparem, hoje em dia o Benfica consegue pagar no máximo 2M€/ano aos melhores jogadores do plantel. Isso até um Sunderland que acabou de descer de divisão em Inglaterra consegue pagar a um dos seus jogadores - e nem sequer é ao craque da equipa! A diferença é abismal. Para encurtar distâncias o Benfica precisa de ser inteligente e paciente.

Actualmente, temos de entender a fase de elevada exportação de jogadores. É preciso vender muito e bem, mas com cabeça. Vender muito para podermos ver livre das dívidas o quanto antes, mas sempre limitando o número de vendas a um máximo de jogadores que não coloquem em causa a coesão do grupo. E, com cabeça, para que as vendas sejam sempre maximizadas quanto à curva de valor do jogador. É neste contexto que surge a saída de Ederson, nesta semana. Já há muito que sabíamos do assédio do Guardiola ao guardião brasileiro. O agora ex-camisola 1 encarnado é um jogador que enquadra muito bem na filosofia do catalão. E, ao serviço dos citizens, penso que será o homem certo no lugar certo. De certeza que o Pep irá conseguir elevar ainda mais o jogo de pés do Ederson, tal como o Rui Vitória vaticinava se o guardião ficasse na Luz mais uns tempos. Mas, por 40M€, dificilmente iria valer muito mais que isso. Não podemos esquecer que o Benfica joga em Portugal e qualquer transacção sofre uma deflação, porque questionam a nossa qualidade devido à nossa dimensão reduzida. Enfim, é algo que temos de lidar. Mas, quer se goste ou não, muito temos a dever a indivíduos como o empresário Jorge Mendes que tem diminuído enormemente esse efeito. Ainda há menos de uma década, os melhores jogadores saíam de Portugal por num máximo cerca de 15M€.



O efeito persuasivo e lobista que o Mendes efectua sobre os presidentes dos maiores clubes europeus é de enorme valor para os clubes nacionais, sobretudo, para o Benfica que quer-se estabelecer como fonte de jogadores para esses clubes. Com um projecto e paradigma relativamente novo, sem Jorge Mendes, muito provavelmente, o Benfica teria mais dificuldades em chegar a esses clubes pelas portas que nos têm sido abertas. Inclusive, o valor dos nossos jogadores seriam mais reduzidos. É verdade que o Mendes vai lucrando - e de que maneira - com isto tudo, mas o Benfica também vê o seu plano a ser acelerado e a dar resultados o mais rapidamente possível. Por outro lado, está a criar um nome no mercado de fornecimento de atletas de alta qualidade como mais nenhum outro clube está a fazê-lo. E, isso por si só abrirá mais mercados exportadores para o Benfica. Reparem que a ideia é conseguir competir lá fora e para isso ter um orçamento capaz de fazer essas gracinhas. E, por causa desse orçamento, precisamos de vender. Estou a repetir isso, porque é importante, não perdermos com outras histórias.

Uma delas é continuarmos a pensar que podemos vender sozinhos, sem intermediários, sem nada. Isso é verdade. Podemos fazer dessa maneira. Mas, não ao nível que queremos vender e pelos valores que queremos obter. Todo o tubarão que se preze é acompanhado por uma rémora. O nome que se dá a relação deles os dois é a de comensalismo, pois é benéfica para uma das espécies sem causar prejuízo para a outra. Na realidade a relação que vemos entre os grandes clubes de futebol e alguns agentes desportivos, é mais que comensalismo. É, quase, uma simbiose, pois ambos acabam por retirar dividendos. Sendo assim, o tubarão aqui representa os grandes clubes e a rémora, empresários como o Jorge Mendes. Os tubarões acabam por beneficiar cada vez mais do acerto das contratações, i.e., começa a diminuir o número de contratações que depois não singram nesses clubes. Por outro lado, estas rémoras acabam por lucrar muito com as comissões de transferências. O ciclo de interesses fica assim fechado e toda a gente sai a ganhar. Os possíveis problemas que podem advir deste cenário, é quando ambas as partes começam a não respeitar o que cada uma delas representa. Por exemplo, se o agente começa a querer meter gato por lebre no clube, ou se este começa a desprezar um pouco o trabalho do agente reduzindo-lhe a comissão. Não podemos esquecer que o futebol é uma indústria, ou seja, um negócio, e que este para ser proveitoso, tem de ser bom para todas as partes. (Nota: reparem que utilizei o termo "bom" e não "óptimo"...)

Desta forma, a saída do Ederson não me faz muita comichão. Percebo que o Benfica não tenha neste momento a grandeza financeira para conseguir assegurar estes talentos no clube. Percebo também que o jogador pretenda optimizar ao máximo a sua carreira como profissional de futebol e também ambicionar a outros voos competitivos que lhe permitam alimentar o ego em termos de glória e conquistas. Mas, acima de tudo, percebo que quanto mais estas vendas beneficiarem terceiros, para além do Benfica e do jogador, ou seja, outros clubes e possíveis agentes, sempre que a um nível proporcional e correcto, mais nos beneficiará. Reparem que o Rio Ave, clube que detinha 50% do passe, vai poder fazer um encaixe brutal nas suas contas. Encaixe esse que se for bem utilizado possibilitará ao clube do Vale de Ave poder crescer sustentavelmente. Por outro lado, o Benfica acaba por ganhar mais um parceiro de negócio. E, mais, outros clubes ao ver este exemplo de sucesso poderão querer participar neste paradigma de negócio, o que ajudará ainda mais o Benfica a atingir os seus objectivos a médio e longo prazo. Mais, ao fazer isso, os próprios clubes estão a empoderarem-se de certas competências que lhes permitirão crescer e com isso, a própria liga poderá crescer, quer desportiva, quer financeiramente.



É óbvio que o Benfica como clube gigante que é, deverá ter sempre a maior fatia do bolo. No entanto, vejo muita gente a ter ainda o pensamento egocêntrico de tentar ficar com o bolo todo. Isso só afugentará parcerias, aumentará clivagens e gerar ainda mais invejas, que a médio e longo prazo não servirão os reais interesses do Benfica e dos Benfiquistas, que é termos uma equipa que lute por todos os troféus dentro e fora de portas. Pode parecer paradoxal, mas, penso que este tipo de contratações como a do Ederson, dentro de requisitos bem estabelecidos poderá ser uma cenoura para muitos clubes de pequena e média dimensão poderem trabalhar com maior qualidade. E, havendo maior qualidade, os talentos serão melhor valorizados e mais rapidamente atingem outros patamares.

Mas, não é apenas nas vendas que o Benfica tem estado irrepreensível. Também no chamado "moneyball" somos actualmente o clube mais à frente na Europa e, diria, no mundo. A recente contratação do suiço Seferovic é disso um belo exemplo. De todos os jogadores internacionais A pelo seu país, com idade superior a 23 e inferior a 27 anos, ou seja, perto do pico da sua capacidade e com já algum traquejo competitivo, e que estavam a terminar contrato, o camisola 9 era o único jogador que poderia interessar neste mercado de verão. Todos os outros que estão a terminar os seus contratos, ou são novos e imaturos demais, ou estão já na sua fase decrescente da carreira. Tendo em conta que o plantel do Benfica já tem jovens para evoluir e veteranos em número suficiente, estes não entrariam no perfil do scouting.

Verdade que o Seferovic parece não ter muito golo, mas o que o "data scientist" (cientista de dados) consegue entender, é que o critério de potencial para ser um goleador não se baseia apenas no número de golos que o jogador marca por temporada. Ele vê também outros factores e dados, como por exemplo, quantas oportunidades precisa de ter para marcar um golo? Por exemplo, se a equipa em que um avançado actua só cria 3 ou 4 ocasiões de golo por jogo, é normal que o seu ponta-de-lança possa ter números pequenos. Por outro lado, é preciso entender o tipo de jogador que realmente procuramos para poder complementar o que já possuímos no plantel. No caso encarnado, já vimos que o Jonas é um goleador nato, assim como o Mitroglou. Ambos chegam e sobram para o consumo interno. No entanto, já verificámos que na Liga dos Campeões, quando ambos jogam juntos, o rendimento de ambos é muito menor. Isto tem a ver com o facto da equipa não conseguir ser tão dominante sobre o adversário e como tal, exigir aos nossos adversários mais trabalho defensivo que na realidade eles não são tão eficientes a fazer. É por isso, que quando joga um Raúl ao lado do Jonas nesses jogos, o rendimento sobe. E, é talvez por isso, que o Seferovic, que é reconhecidamente um jogador de enormes índices de trabalho, se apresenta como uma solução de futuro. Ainda para mais a custo 0!

Queria apenas tecer mais umas considerações sobre o Mitroglou. Tal como a maioria dos Benfiquistas, nutro uma grande estima pelo avançado grego, se bem que fico sempre com a sensação de que ele tem talento para muito mais. Mas, falta-lhe vontade e aquela sede insaciável por fazer mais golos. Talvez por esse motivo não tenha conseguido vingar-se no futebol inglês e, talvez por esse motivo, não tenha sido o melhor marcador do campeonato nacional desta temporada. Ficou-se apenas como o melhor marcador da prova rainha. Não acho que seja o melhor parceiro de ataque para o Jonas apesar dos números expressivos que ambos têm quando jogam juntos. Penso que esses valores deve-se mais à diferença de qualidade que ambos têm face à média dos defesas adversários nacionais, do que propriamente por uma dinâmica de conjunto imbatível. E, a suportar esta crítica estão os números de ambos na Liga dos Campeões. Depois, tendo em conta que o grego foi agora pai muito recentemente e tem ainda na Alemanha a sua família, não me admirava nada que neste verão o Kostas saísse da Luz. Não podemos esquecer também que o jogador tem agora 29 anos e que é muito valorizado em alguns mercados, o que poderia fazer com que a SAD encarnada pudesse fazer algum dinheiro com a sua venda, juntando-se assim o útil ao agradável para todas as partes.




P.S.: Queria apenas desejar-te boa sorte nesta nova etapa Ederson.



7 comentários:

  1. subscrevo na integra a crónica publicada! Principalmente na parte de angariar novos parceiros de negócios com os clubes mais pequenos de Portugal, ao estabelecer parcerias equivalentes ao do negócio Éderson. E não apenas porque os interesses benfiquistas são preservados. É que no fim de contas, estas parcerias podem resultar no desejado salto qualitativo que a nossa Liga ambiciona, bem como na redução do sentimento anti- Benfica que grassa em imensos clubes do nosso campeonato e que não se justificam!

    Continuação de um bom trabalho em prol do blogue e bom domingo PP!

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    1. Agradeço o retorno positivo pelo artigo Anónimo. A ideia foi tentar ver as vendas de outro prisma, para além da habitual, uma vez que essa está, quanto a mim, completamente ultrapassada.

      ;)

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  2. muito bom texto pp, sem duvidas um tema interessante. Na minha opiniao, há outras formas de aos poucos irmos perdendo esta "necessidade de vender" ou mesmo de tornar ainda mais competitivos e passava por 1 profissionalizar das modalidades (honestamente e dificil, mas temos o desafio de criar um mercado tipo futebol nelas) e 2 a aposta nos e-sports (a subida de fama que estao a ter e a quantidade de viewers que acarretam os campeonatos podem ser boas ate para angariar mais patrocinadores e cimentar a marca Benfica nos mercados asiaticos) digo eu na minha opiniao... Quanto as vendas, gosto do facto de agora comprarmos os jogadores para o futuro e nao somente para reforçar para agora, pois mostra como o clube está organizado e faz as coisas atenpadamente (nao e por acaso que mudamos de oblak para ederson sem perder qualidade na baliza) O seferovic será que nao e mais pla observaçao que por moneyball? e que o estilo de jogo dele dificilemente se ve pelas estatisticas mas sim a ver jogar (toque de bola, a qualidade de dominio, as desmarcaçoes)

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    1. O estilo de jogo do Haris não se vê pelas estatísticas comuns, mas sim por outras mais compostas que o comum adepto raramente tem acesso. E, são essas as verdadeiras estatísticas ao estilo do "moneyball".

      Por exemplo, falas do toque de bola e presumo que estejas a falar da qualidade técnica desse toque de bola, como a recepção e passe, mas por acaso indirectamente acabas por cobrir uma estatística que também é importante para aferir o grau de envolvimento do jogador com a restante equipa: o número de toques que dá na bola por jogo.

      Por exemplo, avançados como Benzema, Suarez e outros grandes goleadores dão mais toques de bola que finalizadores típicos como Bas Dost, Mitroglou ou Cardozo. Isto acaba por ser uma medida indirecta (e como tal precisa de ser composta com outras estatísticas) do grau de envolvimento de jogadas ofensivas, o que acaba por ser importante no caso do Benfica que pretende libertar mais o Jonas não só para criação como também para a finalização, pois permite aumentar a variabilidade nos lances ofensivos.

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  3. É como diz o outro: 'maior QUE Portugal'...

    Excelente post, muito sensato e realista.

    Aos idealistas que se queixam do protagonismo de JM no actual Benfica, pergunto se será coincidência que o sucesso que temos agora no mercado já tenha sido o sucesso frutistas no mercado, há uns anos atrás, quando JM tinha protagonismo no Fruta Corrupção Pancadaria?...

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    1. O JM não tinha tanto protagonismo como tem agora no Porto. No Porto faziam muita lavagem de dinheiro com tipos com ligações pouco claras... as comissões e as partilhas eram bem superiores a 50%. Basta recordarmos como foi distribuído o lucro do Hulk, Falcao e Jackson.

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