18 outubro 2014

Sobre a entrevista de Jesus


A última entrevista de Jesus deixou-me com algumas questões e leituras que gostaria de debater neste artigo.

Pré-época
«Muitos dos jogadores que conheciam as nossas ideias não fizeram a pré-época e chamei vários da equipa B para avaliar todas as suas capacidades, bem como as dos futebolistas novos que tinham chegado ao clube.»
É uma boa ideia e faz todo o sentido, mas...

«[Pretendia conhecer melhor] o Dawidowicz, o João Teixeira, o João Cancelo, o Victor Andrade, o Bernardo Silva, o Ivan Cavaleiro, o Vitor Lindelöf e o Bruno Varela.»
... se a ideia era observar os jovens jogadores num contexto competitivo elevado, porque é que o Dawidowicz nem um jogo teve na pré-época? O mesmo acontecendo para João Cancelo, Victor Andrade, Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro, Vitor Lindelöf e Bruno Varela? Eu até posso perceber que para o trio composto por João Cancelo, Bernardo Silva e Ivan Cavaleiro cujos empréstimos já deveriam estar mais que acertados não fazia muito sentido. No entanto, o polaco que veio como um jovem que viria fazer as vezes de Matic, penso que merecia mais tempo de jogo, não? Por acaso, gostava que o Jesus tivesse explicado melhor este caso.


Política de Contratações
«Vamos ver, quando se escolhe um jogador há vários critérios. A qualidade do atleta, mas também o aspecto financeiro. Se pudermos contratar jogadores de 20, 30 ou 40 milhões dificilmente falhamos. Mas mesmo assim podemos falhar. Agora, quando se tem de contratar em campeonatos pouco conhecidos, de equipas em que esses jogadores estão praticamente a aparecer, vai-se no risco. Porque é preciso ir naquele momento, se demorarmos tempo pode perder-se a hipótese. Umas vezes consegue-se acertar, mas há outras em que se falha. Mas o importante é ter a consciência que aquele jogador tem o nível para fazer parte das exigências do Benfica. Depois, aqui a trabalhar com ele, vimos se na realidade é assim ou não. Porque há componentes que não são conhecidas. Podes conhecer a componente física ou técnica, mas não conheces a psicológica porque nunca trabalhaste com ele. E isso é muito importante. Também desconheces a formação táctica desse jogador. Só se começa a conhecer esse lado quando se trabalha com ele. Como coloco essas exigências num nível muito alto, a alguns jogadores que chegam temos de dar tempo, temos de colocar noutros clubes para se adaptarem, para crescerem. Fazemos-lo porque acreditamos neles, acreditamos que depois podem voltar ao Benfica.»
Sinceramente, posso perceber que haja constrangimentos financeiros, mas exactamente por havê-los é que não se pode seguir uma política de contratações experimentalista, onde se compra tudo o que custa até certo valor e que tenha alguma qualidade, para depois fazer uma certa triagem. Até porque se formos a ver bem, contam-se pelos dedos de uma mão os jogadores que vieram nesses moldes e tiveram sucesso. Assim de repente, nos últimos 5/6 anos, só estou a ver o David Luiz. Todas as outras grandes vendas encarnadas vieram para o Benfica como grandes contratações para a realidade de um clube Português (por valores entre os 7 e os 12 M€). Mais, não estou a ver onde poderemos ter sucesso, ao contratar tantos jogadores para uma posição. É verdade que a competitividade faz bem, mas tem de ser em doses moderadas, pois competitividade em demasia estrangula. Neste caso, por exemplo, se contratarmos 3 extremos, tendo já 4 no plantel, e mesmo que 2 sejam para ser vendidos, é muita gente para o treinador poder fazer um trabalho de qualidade com todos eles. Depois, o risco nas contratações é hoje em dia cada vez mais diminuto e calculado. Por isso mesmo, parece-me que uma política de contratações deste tipo é o ideal para o favorecimento do enriquecimento de muitos empresários de futebol. E, não nos podemos esquecer que muitas vezes, o barato, sai caro! Em suma, posso entender a explicação de Jorge Jesus relativamente à nossa política de contratações, mas não consigo aceitá-la. Acho que podemos e devemos ser muito mais eficientes e eficazes nas nossas contratações, pois continuamos a ter 1/3 de aproveitamento nelas (1 contratação acertada em 3 contratações efectuadas).

«Sabíamos que ainda precisávamos de contratar entre dois e quatro jogadores, mas queríamos fazê-lo mesmo no limite do prazo. Não nos queríamos precipitar e aceitámos arriscar até ao último dia. Foi assim que chegámos ao Samaris, ao Cristante, ao Júlio César e ao Jonas. Jogámos nesse limite do risco.»
Ainda seguindo um pouco a lógica definida anteriormente, onde o Benfica coloca os jogadores em empréstimos para crescerem, porque é que quando se pensou no reforço do meio-campo, não se pensou num Airton, que anda nas últimas 4 temporadas em sucessivos empréstimos no Brasil? O Airton é um exemplo perfeito de como a política atrás defendida por Jesus não faz lá muito sentido. Sobre os 2 a 4 reforços, e o momento em que eles foram adquiridos, tenho algumas questões: (1) No último dia de mercado os preços não estão ainda mais inflaccionados? Se sim, então o porquê de estarmos com aquele tipo de discurso anterior de que não temos capacidade financeira e depois no último dia de mercado andamos armados em novos ricos? (2) Porquê termos gasto cerca de 16 M€ numa só posição? Não havia melhores opções no mercado?

«Tínhamos alvos definidos, mas quando não tens capacidade financeira, normalmente nunca consegues contratar a tua primeira opção. Quando dá por ela já se vai na quarta ou quinta opção.»
Ok! Estou a ver que se calhar tanto o Samaris como o Cristant possam não ter sido as primeiras opções. Isto deixa-me curioso sobre quais poderiam ter sido as primeiras? Já agora, porque não equacionaram jogadores como Danilo Pereira e David Simão? Amos portugueses, ambos com qualidade, ambos da academia encarnada, ambos poderiam fazer as posições de Samaris e de Cristante. No cômputo geral, a direcção encarnada pode argumentar que conseguiu 4 jogadores internacionais por 4 M€ cada um. No entanto, penso que era possível ter feito melhor e talvez termos ficado com um conjunto de jogadores mais identificado com a realidade nacional e do Glorioso.

Posição "6"

«[André Almeida] faz muito bem a posição 6. Tem alguma dificuldade no passe, e naquele posição tem de ser um jogador de passe fácil, mas tem algumas coisas melhores que os outros. No entanto, para essa posição contratámos o Samaris e o Cristante e serão eles a discutir o lugar. Mas se tiver de recorrer ao André Almeida, recorro e ficarei tranquilo.»
Se o André Almeida tem dificuldade no passe, o que dizer de Cristante e de Samaris? Não foi muito graças aos passes falhados destes dois que o Benfica teve duas derrotas em outros tantos encontros na Liga dos Campeões? Posso entender que o André Almeida seja a única alternativa que Jesus tem a Maxi Pereira na lateral direita. No entanto, penso que neste momento é muito mais jogador nesta posição "6" que o grego e o italiano. Acho a justificação de Jesus pouco plausível à luz dos factos demonstrados. Utilizando o André como médio defensivo, o técnico encarnado estaria a ganhar tempo para entrosar e ensinar o grego para as tarefas que terá de desempenhar, protegendo inclusive o próprio internacional grego.

«Quando chegam aqui, jogam nessa posição e não sabem nada dela. Não sabem, vamos lá ver, porque a minha ideia é diferente, a minha exigência é outra, e por isso demora mais tempo a perceber. O Cristante e o Samaris ainda estão muito longe, em termos defensivos, daquilo que o Rúben Amorim faz, que o Fejsa ou o Matic faziam. Bom, o Javi, quando chegou ao Benfica, não sabia nada, como também não sabia o Matic.»
É exactamente por ainda "não saberem nada" que o Jesus deveria apostar neste momento no André Almeida para aquela posição. É que mesmo que aceite a crítica de Jesus acerca da sua menor qualidade de passe, o André está muito mais familiarizado com a posição, as tarefas e as ideias de jogo do treinador para aquele lugar, do que qualquer outro jogador que esteja apto neste momento no plantel encarnado. Será que a pressão de 10 M€ (passe do Samaris) está a fazer das suas?

«[Cristante] Não tem velocidade para ser um 8, seria sempre um médio de contenção. Pode fazer as duas posições tal como o Samaris, mas onde pode vir a render mais é a 6.»
Isso já eu tinha percebido... agora, não entendo porque é que o Jesus não fez o mesmo com o David Simão, quando ele estava no Benfica, ou até mesmo quando ele pertencia ao Benfica e andava emprestado? É que quando olho para o Cristante a jogar, faz-me lembrar um pouco o David Simão. Óptima capacidade de passe, excelente posicionamento a meio-campo, mas não são jogadores para transportarem a bola com os pés em corridas vertiginosas, ou seja, não têm muita intensidade. Não ter muita intensidade não é mau. Por exemplo, Xavi e Xabi Alonso não são jogadores muito intensos, porque são jogadores muito mais cerebrais, de cabeça levantada à procura de linhas de passe. Na posição "6" não é necessário muita intensidade, mas sim inteligência táctica. E, isso concordo com o Jesus.

«O André Almeida e o André Gomes têm uma facilidade que outros jovens da formação não têm. Com 19 anos um tinha 1,87m e outro 1,84m. E há muitos jogadores que têm qualidade técnica mas não tem capacidade atlética para corresponderem naquele momento. Por isso o processo foi mais rápido. O Cristante, por exemplo, pode ser igual, porque tem 19 anos e 1,88m, ou seja, fisicamente já é um homem.»
Desta citação dá para perceber o perfil físico que o Jesus procura num jogador para aquela posição de médio-defensivo no seu modelo de jogo. O problema deste tipo de raciocínios é que o Jesus poderá desperdiçar "Makélélés" (jogador com menos de 1,80m) e que fazem tão bem ou melhor aquela posição que graúdos. A questão aqui está em avaliar o talento. Ao colocarmos por posição especificações quanto às características físicas, técnicas e tácticas dos jogadores poderemos estar a desperdiçar grandes talentos para essas mesmas posições. Um exemplo comum é na baliza, onde também há esse requisito físico. Será que o carismático guardião encarnado, Manuel Bento, teria vingado numa equipa comandada por Jesus? Para mim é o jogador no seu todo (leia-se o seu talento, mentalidade e capacidade de trabalho), que fazem com que depois se monte uma equipa à sua volta. Aliás, na minha concepção de equipa e sistema desta, a base é sempre olhando para as qualidade e defeitos dos melhores e a partir daí construir o sistema da equipa.


Posição "8"
«Assim que vi este miúdo [Talisca] lembrei-me logo do Rivaldo. Pode fazer posição de primeiro avançado, de número 11, de número 8, e de número 10. Comigo pode fazer as quatro posições, com os outros não sei...»
É verdade que o Talisca tem pormenores do Rivaldo, embora considero que o ex-internacional brasileiro tinha mais velocidade. Para mim, o Talisca também tem pormenores tipo Yaya Touré. Contudo, também carece de físico para ser comparado com este costa-marfinense. Concordo em absoluto com Jesus, quando este diz que o Talisca pode fazer 4 posições. Os maiores desafio do brasileiro no Benfica são os seguintes: (1) adaptar e jogar ao ritmo de jogo europeu, (2) aumentar a sua resistência física para aguentar 90 minutos de grande intensidade e (3) melhorar os aspectos tácticos ao nível de posicionamento e inteligência táctica (saber o que fazer em cada momento do jogo).

«Mas o Pizzi é um jogador completamente diferente do Enzo e do Talisca. Dos três, o Talisca é o goleador, por isso é que já tem 6 golos. Os outros são mais organizadores. O Talisca chega mais ao golo. São três jogadores diferentes, mas que podem fazer várias posições.»
Posso aceitar esta visão do Jesus, mas penso que o próprio Pizzi também tem na finalização um trunfo.

«O Pizzi reúne algumas qualidades, mas defensivamente ainda é frágil. Acreditamos que ele vai conseguir chegar lá.»
Tirando a estatura do Talisca, também considero que o brasileiro seja frágil do ponto vista defensivo. Na realidade penso mesmo que o jovem canarinho não sabe sequer usar o seu corpo em muitos dos confrontos físicos que tem durante um jogo. Talvez porque vem de um futebol muito mais pausado e técnico. Mas, voltando ao Pizzi, penso que tem tudo para se adaptar bem a essa nova posição "8". No entanto, se o Talisca é capaz de fazer 4 posições, acho que o Pizzi também as consegue...


Os Avançados
«O Derley e o Jonas são muito parecidos, são jogadores mais de posição, de actuar entre os centrais. O Lima era isso quando chegou ao Benfica, depois é que se tornou mais móvel e assim continuará a ser.»
Tendo em conta que têm jogado o Talisca e o Lima lá na frente, então por estas ordens de ideias, o Talisca é o jogador mais de posição do ataque. Assim sendo, temos Talisca, Derley e Jonas para uma posição... não serão demasiadas opções para uma posição? Eu sei que a época é longa, mas as opções precisam de ter rotinas e para as ter é preciso jogar e para jogar é preciso haver espaço para tal. Se não houver, é uma ilusão essa questão de ser opção.

«O Nélson, bom, não há muitos avançados em Portugal para a Selecção. É dos poucos que pode projectar-se. O Nélson saiu das minhas mãos há três anos e... fez um mea culpa. Pediu-me por tudo para trabalhar comigo este ano, para continuar a ajudá-lo no crescimento. Depois é preciso perceber que ele andou a jogar um ano lesionado em França. Aqui curou-se completamente. O departamento clínico do Benfica, que é espectacular, pô-lo clinicamente apto. Agora vai ter de apanhar o comboio. Não é fácil. Tenho Derley, Lima, Jonas, Franco (Jara) e também ele para lutar, normalmente, por dois lugares. Três ficam à espera, mas há muita competição, muitas provas, e o Benfica vai precisar de todos os jogadores, como aconteceu no ano passado. Ele já esteve no banco, foi um bom sinal e de certeza que este ano fará jogos no Benfica.»
Sinceramente, como poderá o Nélson Oliveira ser realmente desenvolvido durante os treinos, com qualidade, por Jorge Jesus, com tantas opções ofensivas? É que são imensos os avançados com que Jesus tem de treinar. Quase que davam para eles próprios fazerem uma equipa à parte. Ao menos gostei desta declaração de Jesus sobre o Oliveira, porque veio desmistificar muitas más línguas sobre o jovem internacional português. A meu ver, se o Jesus quer mesmo ajudar o Nélson a ser o ponta-de-lança referência da selecção nacional e do Benfica, vai ter que criar espaço para que isso suceda. Para isso uma ou duas saídas em Janeiro se advinham... Jara? Pode ser uma delas. E Lima? Talvez se houver uma boa proposta e se o Derley e o Jonas realmente assentarem o seu jogo. Nota, mesmo que o Benfica tenha uma época grande e precise de mais opções, o número destas nunca poderá ser assim tão grande, com o prejuízo de, se o ser, corremos o risco de termos avançados com falta de ritmo de jogo, pois não jogam com tanta frequência. Diminuindo as opções aumenta-se o tempo de jogo a cada uma delas. 


As Ideias do Jesus
«O futebol não é uma ciência exacta, mas é uma ciência para quem treina.»
Verdade! O futebol tem uma dose enorme de empirismo proveniente do treino e da competição em si. Mas, todo esse empirismo deve ser sujeito a análise pelo método científico, pois através dele poderemos criar ciência.

«A formação de um jovem demora o seu tempo. Normalmente demora três a quatro anos, mas há excepções. Foi o que aconteceu com o André Gomes. Demorou dois/três anos a atingir o patamar de exigência que o Benfica teve na última época.»
Verdade! Mas, isto é igual aqui como na "Cochinchina"! Ou seja, todos os jovens jogadores, independente da naturalidade, raça, credo ou religião estão sujeitos aos mesmos estágios de formação e evolução. Uns são capazes de se desenvolverem mais rapidamente que outros. No entanto, outros podem desenvolverem mais lentamente no início, mas poderão tornarem-se grandes jogadores mais à frente quando atingem uma maturidade tal que conseguem recuperar os anos. São muitas as formas de evolução e desenvolvimento e são características dos indivíduos. O importante é avaliá-los no momento, mas tendo em mente o curto e médio prazo com os jogadores. Depois, é preciso ter paciência. Sobretudo, com os jovens da nossa formação. Muitas vezes, desvia-se facilmente o olhar sobre os jovens de outras paragens e não se vê com olhos de se ver os nossos. 

«O jogador nasce com aquilo que nasce e o treinador tem de percebê-lo. Mas os jogadores, a maioria deles, têm de adaptar-se às minhas ideias e fazer aquilo que quero. Para mim não é um problema porque mudo essa ideia de jogo.»
Neste discurso percebe-se que existe flexibilidade no modelo de jogo do Jesus e ainda bem que assim é!

«Já disse isto no Fórum da UEFA na Suíça: a evolução do futebol será cada vez mais como a das outras modalidades colectivas, ou seja, durante um jogo entras com um sistema, mudas para outro e se depois tiveres de voltar a alterar para um terceiro, também o fazes. Esta vai ser a evolução do futebol, mas o Benfica já faz isto há muitos anos, anda à frente há muito tempo.»
Eu por acaso já vi isto acontecer noutras equipas. Nomeadamente uma que recordo pessoalmente, porque assisti ao seu jogo no Euro2004 em Portugal, com a selecção da República Checa, a qual durante esse encontro mudou de sistema táctico umas duas ou três vezes. Não é novo, mas também não é algo que esteja ao alcance de qualquer equipa.

«Para mim não há um sistema. As pessoas falam muito em 4x4x2, 4x3x3, 5x3x2, seja o que for. Não há um sistema perfeito, não há o melhor, há é aquele que cada treinador considera melhor para ele. O sistema é a base de tudo. Mas quem faz a diferença é quem sabe trabalhar em cima do sistema que escolher.»
Concordo plenamente!


Liga Portuguesa
«O campeonato português ter esta qualidade deve-se à pontuação que as equipas fazem quando jogam com as estrangeiras. Mas há uns malucos que querem inventar e quando eles quiseram avançar com quotas de jogadores, o nosso campeonato campeonato vai estar ao nível da Turquia, da Grécia, da Bélgica, da Holanda, da Rùssia. E na Rússia eles têm dinheiro para comprar jogadores de 50 milhões, nós vamos ter é para comparar jogadores de 50 tostões. O que quero dizer com isto? Quando decidirem que em Portugal terão de jogar 5/6 portugueses e os restantes serem estrangeiros, esqueçam. A competitividade de equipas como Benfica, FC Porto, Sporting, Marítimo, das equipas que vão à Europa, passa para a 3.ª divisão. Porque os melhores jogadores portugueses vão continuar a sair e vamos ter, nessas equipas, os portugueses que não são opção para os clubes estrangeiros. E depois como não teremos capacidade de fazer a prospecção que hoje fazemos, as nossas equipas vão cair.»
Não concordo! Não concordo que essa quota de jogadores possa ser assim tão mal. Não falo de quota de jogadores na equipa titular. Falo sim de quota de jogadores no plantel. Aliás, para as ligas europeias essa quota de jogadores já existe. Depois, não vejo mal nenhum que os jogadores portugueses possam sair para clubes estrangeiros. Com uma formação de qualidade a torrente será sempre mais ou menos constante, pelo que não haverá desculpas. Talvez o mal disto tudo é que se houver quotas de portugueses, muitos dos negócios com empresários com carteiras de jogadores sul-americanos vai pelo cano abaixo e daí que haja muita resistência para que tal suceda. Do ponto de vista desportivo, com cada vez mais jogadores portugueses a competirem a um alto nível, maior será a qualidade da nossa selecção e maior será o retorno financeiro para o futebol nacional quer seja directa e indirectamente.


Liga dos Campeões
«No Benfica até nem era muito difícil, mas há outros valores que se levantam. Para irmos a uma final da Champions é preciso estar três anos num clube que financeiramente possa comprar e não vender. Nesse espaço de tempo constrói-se uma equipa para ir a uma final da Liga dos Campeões. Em Portugal não há essa hipótese. Os clubes portugueses têm de vender todos os anos.»
Como o Benfica não tem capacidade financeira para comprar jogadores já feitos, nem sequer está numa liga notável que possa atrair muitos dos jogadores de topo, para chegar a uma final da Liga dos Campeões será preciso muito trabalho, muita competência e rigor financeiro. Muito trabalho e muita competência para poder-se trabalhar em qualidade jovens com grande potencial futebolístico e que possam manter-se na Luz 3 a 5 anos (2 anos para a formação e mais 3 para evolução e maturação). Rigor financeiro, porque se as contas estiverem equilibradas, menor será a necessidade de vender jogadores e melhores condições poderemos oferecer a jogadores que estejam no "ir ou não ir". Pessoalmente, penso que o Benfica terá muito maior sucesso e ambição de chegar a uma final da Liga dos Campeões se apostar mais no talento da formação da sua academia, do que propriamente apostar forte no jovem potencial estrangeiro vindo através de colaboração de fundos. É que estes querem rentabilizar estes activos no mais curto espaço de tempo. Tempo esse que pode não coincidir com o necessário para atingirmos essas metas e ambições de finais europeias.

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