Houve emoção. Houve drama. Houve imprevisto. Houve luta. Houve sofrimento. Houve suor. Houve arte. Houve futebol. Enfim, houve Taça de Portugal... e houve Jonas!
Jonas foi o melhor no "quintal" do Covihã. Passeou classe. |
O Benfica apresenta-se no "quintal" do Sporting da Covilhã - o campo estava em muito mal estado apesar de estar bom tempo - com um onze praticamente todo ele remodelado. Apenas 2 jogadores manteram a titularidade do último encontro: Artur e Derley. O jogo começou de feição para os pupilos de JJ, pois nem um minuto de jogo decorria e o Ola John já era carregado em falta dentro da grande área. Penaltie para o Jonas converter com muita classe e serenidade.
Com o 0-1, o Benfica continuou a fazer o seu jogo, embora notava-se clara dificuldade na primeira fase de construção, onde o posicionamento da equipa penso que não era o mais correcto. Nesta fase também deu para perceber o quão nervosos a dupla de centrais fica com a bola nos pés. César optava quase sempre pelo passe longo sem nexo. Já Lisandro Lopéz tentava queimar a primeira linha de pressão do Covilhã e depois fazia o passe quase à queima e com pouca direcção. O mais engraçado é que ambos tinham o Cristante no meio deles a pedir para iniciar as jogadas e quase nunca passavam-lhe a bola. Muito trabalho terá o Jesus pela frente com estes dois "meninos"... Por outro lado, se o Pizzi recuava para o meio-campo para dar linhas de passe à saída de bola da defesa encarnada, já Ola John e Bébé estavam muito agarrados às alas e muito subidos no terreno, i.e., estavam sempre a uma distância que por maior qualidade fosse o passe este seria sempre interceptado pelo adversário.
Benito e também César estiveram muito abaixo do nível para um Benfica. Exibições para rever e reflectir. |
Devido a esta dificuldade na fase de construção, a equipa encarnada começou a jogar um futebol mais directo, à procura da dupla de avançados. Realçar aqui que o Jonas foi sempre um jogador acima da média no "quintal". O seu posicionamento entre-linhas foi perfeito. E, não raras vezes foi ele o verdadeiro "10" da equipa, com passes sublimes para deixar os companheiros cara-a-cara com a baliza adversária. Derley e Bébé foram muitos trapalhões quando tiveram oportunidades de rematar. Mal ou bem o Benfica estava a atacar e a criar alguns lances de perigo. Mas, numa transição rápida por parte do Covilhã, que beneficia de uma intercepção falhada por parte do jovem lateral esquerdo Suíço, chega ao empate num golo também ele cheio de classe. Estava feito o 1-1.
Este golo afectou um pouco a equipa, sobretudo o sector defensivo, pois sentia que não estava a jogar bem na fase de construção, nem tão pouco no momento defensivo. Pior ficou, quando num livre do lado esquerdo da defesa encarnada, o Sporting local chega ao segundo golo. Erro claríssimo de intercepção da bola do César e mais uma vez de Benito que deixou o jogador do Covilhã ganhar-lhe a frente para cabecear para a baliza encarnada. Até ao intervalo, o Benfica ainda teve uma ocasião flagrante para chegar ao empate, numa jogada de combinação muito boa com conclusão de Pizzi para defesa por reflexo do guarda-redes Taborda. Ah! Já-me ia esquecer... o Ola John lesionou-se a meio da 1ª parte, pelo que foi substituído pelo jovem de 17 anos, Gonçado Guedes. Este acabou por ser muito importante na reacção ao 2º golo do Covilhã, pois com os movimentos interiores permitiu melhor qualidade na primeira fase de construção. O jovem Guedes revelou muita maturidade, personalidade e compostura, o que não é fácil... que o digam o César e o Benito. Resultado: 2-1 ao intervalo!
A entrada do jovem de 17 anos Gonçalo Guedes foi benéfica para o Benfica. Merecia o golo naquele lance no final da partida, após passe de Nélson Oliveira. |
Depois do intervalo, a equipa veio muito mais focada no jogo e muito mais personalizada. Benito estava muito mais seguro e com outra atitude. O mesmo poderei dizer do César, embora este por vezes tende a complicar o que é simples. Por exemplo, demora muitas vezes a circular a bola e depois passa um pouco à queima e sem muita precisão. A equipa também estava mais compacta, o que ajuda no controlo do espaço. Por outro lado, destaco duas correcções de posicionamento: a do Cristante e a do Gonçalo Guedes. Este último começou a segunda parte a jogar sobre a ala direita, enquanto o Tiago (Bébé) foi para a ala esquerda. O ex-Manchester United quando na esquerda tem a tendência para flectir para o centro. Já o jovem formado quer seja à direita ou à esquerda, tem esses movimentos interiores bem estudados, fruto da sua formação de qualidade. A alteração ao posicionamento do Cristante foi em dois aspectos. Primeiro, na fase de construção o italiano deixou de ficar no meio dos dois centrais, mas sim descaído para o lado da bola, fazendo uso da sua melhor qualidade de passe que de Lisandro e de César. Segundo, durante os outros momentos de jogo, o jovem italiano subia mais no terreno. Foi graças a esta mudança táctica que o Benfica chegou ao segundo golo, num passe de 50 metros de Cristante para a desmarcação de Jonas. Estava feito o 2-2!
O Benfica jogava bem melhor. Estava muito confiante lá atrás e estava bem fisicamente. Ao contrário, o Sporting de Covilhã começava a dar sinais de cansaço físico. De qualquer maneira, devo realçar a exibição de Pizzi a meio-campo, que a meu ver fez esquecer e muito o Enzo neste jogo. Muitas vezes rodeado de adversários soube desenvencilhar-se deles e ainda por cima no campo pesado e muito irregular. Em termos defensivos, esteve impecável. E, ofensivamente esteve uma delícia. Já na primeira parte, demonstrou capacidade física para chegar à pequena área. E, na segunda parte, faz um passe de morte para o Jonas marcar o seu terceiro tento na partida - primeiro "hat trick" pelo Benfica e espero que seja o primeiro de muitos. Confirmava-se a reviravolta da reviravolta: 2-3!
Terá Jesus descoberto em Pizzi o Enzo Português? |
Com a vitória quase garantida, Jesus começou a operar algumas substituições. Nélson Oliveira entrou para o lugar do perdulário Derley. Sobre o brasileiro, fico com um misto de opiniões. Se por um lado, o tipo protege a bola como ninguém de costas para a baliza, por outro falha muito de frente para o golo. Ora é um toque a mais antes do remate, ora são os falhanços de encostar, enfim, talvez lhe falte mais confiança e seja um problema de ansiedade... Ansiedade é algo que o jovem avançado português parece não ter. Nélson Oliveira entrou focado no encontro e pouco depois de ter entrado já estava a rematar com perigo para a baliza adversária. Numa altura em que claramente o Benfica baixou o ritmo e estava a deixar o relógio passar o tempo, o internacional português teve ainda duas boas conduções do jogo em duas transições rápidas. Na primeira, o Tiago (Bébé) não soube aproveitar e perdeu o tempo necessário para condução pois não fez uma recepção orientada. Na segunda, a segundos antes do jogo terminar, o Nélson deixa isolado o jovem Gonçalo Guedes descaído na esquerda e que na saída do guarda-redes do Covilhã tenta colocar a bola ao poste direito, mas ela sai um pouco ao lado. Foi o último lance de perigo do encontro e o qual lamentei pelo miúdo não ter marcado. Teria sido uma estreia em grande!
Será que o Jesus não tem alguma razão na situação com o jovem central brasileiro César? |
Realce para a situação protagonizada por César e Jorge Jesus. Muita gente vai defender o jogador, mas neste caso, penso que o Jota-Jota fez bem. Houve ali uma certa "ronha" do central César. E vou ser mais duro neste discurso: se ele quer mesmo vingar num Benfica, vai ter que trabalhar muito, mas mesmo muito, não só em termos físicos, tácticos e técnicos, mas sobretudo, a nível mental. Numa altura em que a equipa mais precisava dele, não é por ter apenas umas câimbras de esforço que ele possa pedir para sair. A substituição de Vítor Lindelöf estava reservada para reforçar o meio-campo, ou seja, para ter um duplo pivôt a meio-campo e assim anular qualquer tentativa de jogo directo por parte do Sporting de Covilhã nos últimos minutos. Dito isto, é óbvio que se o jogador não consegue mais, tem de sair. Agora, não foi isso que se viu... e por isso mesmo tenho de concordar com a reacção do Jesus.
No cômputo geral, e dos estreantes gostei das exibições de Gonçalo Guedes e do Nélson Oliveira. Este último gostava de tê-lo visto mais tempo em campo e com a equipa a jogar mais para ele, pois acho que teria feito o gosto ao pé. Já as estreias de César e de Benito, não direi que foram para esquecer, mas sim para reflectir muito. Já agora, um pequeno a parte: Jesus falava na última entrevista, sobre a política de contratações encarnada que trazia muitos jogadores pois ele precisava de vê-los no clube para ter uma noção se têm ou não mentalidade para o clube, penso que ontem ficou demonstrado quem é que tem realmente maior mentalidade, i.e., se o jovem contratado ou se o jovem formado nas escolas do Benfica. Ou seja, cada vez mais vejo menos necessidade a procurar talento às paletes ao exterior, pois já há cá dentro. Notar que não quero dizer que deixemos de contratar estrangeiros de qualidade, nada disso, apenas que não é necessário contratar tudo o que mexe no exterior, mas apenas aqueles que sabemos que 99,9% vai singrar.
Por falar em jovens da formação, gostava de ter visto jogar o Hélder Costa, quer fosse a extremo esquerdo/direito, quer fosse a lateral esquerdo. Estou certo que este teria aproveitado melhor a oportunidade que o próprio Benito. E, já agora, também penso o mesmo de Vítor Lindelöf, em comparação com o brasileiro César. No entanto, percebo o Jesus. Em termos físicos, o César e o Benito têm um potencial enorme nas posições onde jogam. Precisam de jogos num ritmo mais elevado como num Benfica para perceber se conseguem atingir esses patamares. No entanto, isto é um pouco cortar as pernas a jovens como o Vítor e o Hélder, que apesar de não terem o perfil físico desejável, são actualmente melhores que os dois contratados. E, como o futebol é o momento... vem daí a minha "querela" com Jota-Jota neste tema!
Sem comentários:
Enviar um comentário