16 outubro 2014

Até ao último minuto


A análise à vitória in extremis de Portugal na Dinamarca, por 1 a 0. Com o golo do jogo, marcado pelo capitão Ronaldo, já nos descontos.

Já há dedo de Fernando Santos
Esta semana e meia de trabalho com os jogadores seleccionados, mais o encontro amigável frente à poderosa França, serviu os propósitos de Fernando Santos. Ou seja, o seleccionador nacional conseguiu não só o resultado pretendido frente aos nórdicos, como já deu o seu cunho pessoal à equipa. Tacticamente, a selecção nacional joga numa espécie de 4-3-3 sem avançado de referência. Isto implica que muitas vezes a equipa assenta-se num 4-1-2-1-2. Isto requer muito trabalho de treino táctico, para atingir um grau de maturação e entrosamento elevado. Com jogadores de elevada categoria e uma equipa técnica competente, tal é minimizado. E, foi isso que aconteceu. 

A equipa apresentou-se na Dinamarca muito mais compacta, pelo que os laterais não sofreram tanto como tinha acontecido frente à França. O meio-campo pareceu-me mais consistente e para isso muito deveu-se a entrega de funções específicas a cada um dos três homens do meio-campo, ao contrário do que tinha sucedido frente aos franceses, onde Tiago, Moutinho e André Gomes pareciam fazer um carrossel a meio-campo. Na Dinamarca, o William Carvalho foi claramente o pêndulo defensivo da equipa. Tiago o médio interior esquerdo e sempre mais contido ofensivamente que o João Moutinho. Este durante a primeira parte teve muita liberdade ofensiva, pelo que foi com naturalidade que o vimos muitas vezes no último terço do terreno, ora dando linhas de passe, ora criando-as para o tridente ofensivo. Por falar do ataque, achei-o muito mais pragmático e pressionante, relativamente ao que tinha visto no Stade de France.


Há muito para melhorar
Onze nacional frente à Dinamarca
tem ainda muito que evoluir.
À primeira vista, Fernando Santos e seus pupilos têm que trabalhar muito as transições defensivas e ofensivas. Foi notória a dificuldade de Portugal recuperar na transição defensiva, criando clareiras/espaços onde os médios e os avançados dinamarqueses poderiam aparecer, sobretudo os seus extremos. Mas, também porque não há ainda ninguém que se encarregue de pressionar o adversário portador da bola, na altura da transição defensiva, com o intuito de retardá-la ao máximo e permitir o reposicionamento em bloco da equipa. Por outro lado, a nossa transição ofensiva é deveras lenta. Os jogadores tendem a retardar o passe, fazendo muito transporte de bola e durante muito tempo. Penso que um treino táctico de movimentações de contra-ataque deva ser definido nas próximas sessões, pois dos 5 momentos do futebol, dois dos mais importantes é exactamente os das transições.

Para tal melhoria, muito vai contribuir o assimilar das ideias de jogo por parte dos jogadores nacionais. Cada vez mais, uma equipa durante um encontro tem de estar preparada para ir mudando a sua disposição táctica, consoante o que o jogo estiver a pedir. Do 4-3-3 para o 4-3-1-2, deste para o 4-1-2-1-2, deste para o 4-4-2 e deste para o 4-2-3-1, podendo depois regressar ao 4-3-3, por exemplo. Uma mudança que poderia facilitar todos estes defeitos, seria a inclusão de um esquerdino dinâmico a meio-campo. Falta à selecção nacional um jogador como o Di Maria da Argentina. Ou seja, um jogador que seja capaz de desequilibrar ofensivamente, mas que também seja muito importante na manobra defensiva ao pressionar e incomodar o portador da bola adversário. E, penso que Portugal tem um jogador ideal para isso: Fábio Coentrão.


Falta-nos um canhoto a meio-campo
Um esboço daquilo que penso ser as opções mais credíveis
para a selecção nacional de Fernando Santos.
Destaco as inclusões de João Moutinho como lateral
direito, de Fábio Coentrão como médio esquerdo e de
Ricardo Quaresma como opção para Nani.
Nota: Há jogadores que podem jogar noutras posições.
Por exemplo, Nani, poderá jogar no meio e assim formar
tridente ofensivo com Quaresma e Ronaldo.
Pode parecer um luxo pedir um canhoto para aquele meio-campo, mas se considerarmos que o Ronaldo gosta de jogar mais sobre o flanco esquerdo e dali derivar para o centro, significa que o maior apoio do Ronaldo na asa esquerda será do lateral esquerdo e pouco mais. Com um médio interior esquerdo de raiz, e ainda por cima com as características de um Fábio Coentrão, o 4-3-3 (ou 4-1-2-1-2) poderá facilmente evoluir para um 4-2-3-1 com a subida do Coentrão para a extrema esquerda. Isto é algo que Ronaldo está muito identificado, pois foi assim que o seu Real Madrid venceu a décima Liga dos Campeões, com uma exibição de encher o olho por parte de Di Maria. Notar que um Fábio Coentrão poderia ser a resposta mais natural para os problemas que temos nas transições. E, tendo em conta que Eliseu e o próprio Antunes cumprem o lugar de lateral esquerdo na perfeição, havendo inclusive Silvio e André Almeida que podem fazer a posição, penso que a solução do canhoto de Caxinas, seja mesmo de considerar. Até porque a exibição de Tiago como interior esquerdo não foi muito famosa...

Já agora, penso que falta a Fernando Santos convocar o Manuel Fernandes. Um médio todo-o-terreno, como o ex-Benfiquista não abunda no futebol mundial, muito menos em Portugal. Este acrescentaria uma dimensão física e técnica ao nosso meio-campo nacional. Mais, a experiência capitalizada por "Manelélé" pelos vários campeonatos por onde passou seria uma mais valia... até porque também está na flor da idade.


Não gostei
  • Cédric: Penso que precisa de crescer e evoluir como jogador. É importante que começa a ter mais experiência internacional, pois parece-me muito tenrinho em algumas situações. Acho-o muito curto, neste momento, para a selecção nacional.
  • João Moutinho: Quando descai para as alas, o seu jogo cresce. A sua capacidade de passe e cruzamento é muito boa e é algo que é pouco aproveitada. Para além disso, na faixa, a sua dimensão física faz todo o sentido, i.e., o seu "pulmão" e velocidade são armas a seu favor. E, a sua estatura mais pequena, acaba por não ser uma desvantagem, nessas zonas de terreno. Tendo em conta tudo isto, começo a pensar que a sugestão que me deram poderá fazer todo o sentido, ou seja, colocar o João Moutinho a lateral direito!
  • Tiago: Surpreendeu-me negativamente. Já o tinha feito em parte no jogo frente à França. Ontem comigo não teria entrado na segunda parte. Percebo que ele possa ter um capital de experiência importante, mas com a intensidade que jogou, não. Mastigou muito jogo e o facto de não termos estado bem nas transições teve muito a ver com a sua performance.
  • Éder: Não é ponta-de-lança para Portugal. Poderá ter características físicas interessantes, mas se não sabe usá-las é o mesmo que não ter. Preferia ter metido em campo o André Gomes, frente à Dinamarca.
  • João Mário: Tem também ainda muito que crescer. Frente aos dinamarqueses não foi tão forte, mas ele mostra sempre qualquer coisa importante. Teve lá um momento, em que soube bem fazer a transição, mas depois claudicou na falta de visão para perceber que o Ronaldo desmarcava-se rapidamente nas costas dos centrais. Um passe para o espaço seria golo na certa para Ronaldo.


Gostei:

  • Ricardo Carvalho e Pepe: são a nossa dupla de centrais mais sólida. O "kaizer" luso não teve um único reparo durante todo o encontro. Meteu o Bredtner no bolso e ainda saiu a jogar. Não fosse o golo do jogo de Ronaldo e seria para mim o MVP do encontro. Disse "presente" à chamada de Fernando Santos.
  • Ronaldo: Como avançado, foi sempre muito incómodo para os centrais adversários, muito rematador e mais não seja porque acreditou até ao último minuto, aparecendo para ir ganhar nas alturas ao central e guarda-redes dinamarquês um cruzamento muito junto da baliza, fazendo o golo da vitória no último minuto.
  • Ricardo Quaresma: Enorme surpresa. Em menos de um minuto em campo tem uma perda de bola que poderia dar contra-ataque dinamarquês e depois sai-se com o coelho da cartola do jogo, com aquele cruzamento tenso para a cabeça de Ronaldo. Vai a tempo? Ronaldo pensa que sim, pelas suas declarações. Eu penso que o Quaresma já ganhou pelo menos um lugar como opção.
Quaresma poderá ter ganho uma futura titularidade na selecção nacional.
Se sim, quem sairá? O Nani (troca directa), o Danny (Nani vai para o centro)
 ou nenhum (apostar num 4-2-3-1 retirando um dos médios)?

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