24 outubro 2014

Não se dança tango sozinho


Um artigo que visa uma crítica construtiva ao trio argentino criativo encarnado.


O encontro da passada 4ª feira, para a Liga dos Campeões, contra a equipa do principado do Mónaco, foi bastante elucidativo quanto ao estilo de jogo que o trio argentino teima a fazer: o estilo individualista. O Salvio não parou de tentar fazer gato e sapato do lateral esquerdo monegasco, quando muitas vezes poderia combinar com o pivot ofensivo, num 2-1 sobre o adversário. Já o Enzo, tentava sempre sair com transporte de bola, fintando um e dois, mas esbarrando-se no terceiro médio francês. E, quanto ao Gaitán, não parou de fazer arrancadas à "Messi" e à "Maradona", deixando um, dois e três adversários, mas falhando depois no último passe ou na decisão. Enquanto estes se comportavam assim, Talisca e Lima corriam quilómetros e mesmo assim não tinham bola no pé. Por outro lado, Eliseu, André Almeida e Maxi Pereira, fartaram-se de reparar o desposicionamento que os três argentinos causavam na equipa na transição defensiva. 

Podemos pensar que tratando-se de um jogo de "Champions" os jogadores queiram dar nas vistas e como tal, excedam um pouco nos lances individuais. No entanto, a observação deles reflecte que esse individualismo está-lhes nos seus DNAs futebolísticos. Na realidade, não nos podemos esquecer que tanto Toto, Enzo e Nico são avançados de formação.  Como tal, estão demasiado enraizados em querer desenvencilharem-se dos adversários através das acções individuais. Este individualismo não é tão notório no campeonato nacional, pois o nível de qualidade da organização defensiva das equipas portuguesas acaba por não ser, nem de perto, nem de longe, idêntico ao que vemos na Europa dos campeões. Aliás, esse individualismo até é muitas vezes bem visto a nível nacional, pois é ele que muitas vezes desbloqueia jogos muitos fechados.

O Benfica só irá então crescer ao mais alto nível europeu, quando conseguir meter este trio argentino a saber trocar bem a bola. Não digo perderem de todo essa sua capacidade de improviso, de drible sobre o adversário e de transporte de bola no pé. Digo sim, preferirem em primeiro lugar o passe fácil e simples, a um ou dois toques, para encontrarem os espaços necessários e quando o encontrarem aí sim, aplicar os respectivos virtuosismos. Acredito que tanto o Toto, como o Enzo e o Nico não estão sequer a 30% do que podem fazer em campo se jogarem de forma simples e rápida. Com um trio de jogadores deste calibre no meio-campo, o Benfica poderia e deveria ter muito mais posse de bola e controlo do jogo, algo que nem sempre tem quando o adversário procura também ele brigar pela pelo jogo.

A meu ver, o maior desafio de Jorge Jesus no curto e médio prazo estará em desenvolver as dinâmicas deste trio. Conseguir fazê-lo trará muito maior estabilidade aos sectores defensivos e atacantes. Ao sector defensivo, porque o pivot defensivo e os laterais, não estarão constantemente em pressão de sofrer transições defensivas quando estão em transição ofensiva. Ao sector ofensivo, porque são os que estão mais dependentes do fornecimento de jogo do trio argentino.

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