12 junho 2018

Poderia e deveria ter sido...


... de dimensão mundial.


Uma das maiores críticas que tenho a fazer esta temporada à nossa equipa técnica é, como tendo nas suas fileiras dois avançados internacionais A e titulares no activo pelas suas selecções A, não conseguiram retirar o máximo rendimento em prol da equipa encarnada. Então, quando olho para o Raúl, mais do que incrédulo, fico super aborrecido. Estivesse este rapaz num Porto ou num Sporting, já teriam-no elevado ao estatuto de um Falcao ou de um Slimani, respectivamente. Mais não fosse porque quando a qualidade escasseia têm-se de agarrar ao que têm. Talvez, esse seja o mal do Benfica, qualidade a mais, e não a menos como muita gente falou esta temporada, mas sobre isso, irei guardar para outra altura. O que eu sei é que o Raúl nestes três anos de águia ao peito fez mais do que suficiente para a equipa técnica contar com ele para mais do que as entradas na segunda parte.


É verdade que o treinador é quem decide e faz as equipas, mas quando se faz o maior investimento  de todos os tempos num jogador por parte do clube, este não pode passar três anos no banco de suplentes. Ainda para mais, quando revela potencial. Talvez é aqui que começa toda divergência. Em Portugal, infelizmente, não se aprecia este tipo de avançados mais completos e que tenham maior raio de acção. A crítica é sempre a mesma: saem muito da sua zona de acção. Mas é aí que está o quanto estamos atrasados em termos de ideias de jogo (e que é diferente de qualidade de treino, onde somos muito fortes). Isto também tem muito a ver com as características do nosso futebol e das nossas equipas, o que só por si é mais um assunto que dá pano para mangas. O que é relevante, neste momento, é de entender que o futebol moderno requer este tipo de avançados. Basta olhamos para o que se passa na frente de ataque do Barcelona, com um Suárez que sai muito da sua posição, ou no ataque do Real Madrid, com um Benzema que ainda na final da Liga dos Campeões desta temporada, foi dos que mais contribuiu para que o Bale tivesse espaço e tempo para fazer os golos que fez, isto para não falar nas características da dupla Diego Costa e Antoine Griezmann na frente de ataque do Atlético de Madrid que têm um raio de acção enormíssimo,... isto para não falar na dificuldade que o Lukaku tem tido no ataque do Manchester United devido exactamente a não deixarem-no ter alguma liberdade de movimentos. É preciso que o avançado tenha mobilidade suficiente para atrair os defesas e que com isso possam criar espaços por atracção. Por outro lado, hoje, mais do que nunca, o avançado é o primeiro defesa, o que requer que este tenha de ter energia suficiente para pressionar e cobrir uma área que normalmente está em inferioridade numérica. Tudo isto, o Raúl tem.


A questão é que o Jiménez precisava de ser melhor trabalhado, mas sobretudo, a equipa encarnada precisava de ser mais bem trabalhada para absorver as suas características. Acho que esse até foi um dos erros de Rui Vitória no final desta temporada, quando ficou sem Jonas. Ao invés de aceitar esta ausência, começando logo a trabalhar numa solução de modelo de jogo que potenciasse mais as características do Raúl, continuou a trabalhar como se o Jonas fosse recuperar até ao dia do jogo. Primeiro, contra o Porto, depois contra o Estoril, mais tarde contra o Tondela e, só depois, de tudo estar praticamente decidido, é que ele prepara melhor a equipa para o dérbi em Alvalade. E, só de pensar que o Jiménez e o Jonas eram compatíveis quer em 4-4-2, quer depois em 4-3-3, não se entende de todo! Por exemplo, o Raúl é jogador para ter rendimento jogando a partir de uma das faixas, quer seja encostado à direita como um avançado interno direito (como fez o Marega esta temporada no Porto), ou como falso extremo esquerdo (como faz o Cristiano Ronaldo no Real Madrid). Lamento, que o Rui Vitória nunca tenha testado essas variantes no seu 4-3-3. Estou certo que teriam enorme sucesso e fariam do Raúl um jogador muito mais importante na equipa encarnada. Como nota final, porque os números não enganam, o mexicano fez 120 jogos de águia ao peito, dos quais somente 34 foram a titulares, mas agora reparem neste dado estatístico, fez 31 golos. Ou seja, quase 1 golo por cada jogo a titular. Imaginem se tivesse sido titular indiscutível pelos encarnados quantos golos é que não teria rendido? Agora, imaginem que se ele vai ser, muito provavelmente vendido no total por 41M€, por quanto não teria saído do Benfica se tivesse sido mais vezes aposta. Estou certo que bateria todos os recordes de transferências em Portugal (muito provavelmente atingiria os 50M€). 




P.S. 1: Se é verdade que poderíamos ter potenciado mais o Raúl, também não é menos verdade que com um Jorge Mendes por detrás, já saberíamos que o projecto de carreira do mexicano estaria sempre assegurado, pelo que talvez por isso a pressão para colocar em campo este investimento, nunca foi enormíssima durante estes 3 anos. Com o aproximar da idade de maturação de valor do jogador (regra geral próximo dos 28 anos, o Raúl fez agora 27 anos), é importante para o Benfica ver convertido o seu investimento em dinheiro, pelo que entendo este empréstimo/venda ao Wolverhampton. Agora, escrito isto, não quer com isto dizer que se poderia ter o mesmo desfecho com maior aproveitamento desportivo e financeiro para todos se a aposta fosse outra. E, isto serve de aviso para futuros negócios deste género, pois é necessário que a equipa técnica esteja realmente alinhada para que se potencie verdadeiramente.

P.S. 2: Obrigado e boa sorte Raúl!



6 comentários:

  1. Gabe-se a tua coerência, PP.

    Não vou repetir aqui os argumentos que fomos esgrimindo sobre ele nos últimos meses...acho que o sobrevalorizas muito, tanto ou mais quanto o Benfica o terá subvalorizado. Tem limitações evidentes em termos de capacidade técnica (sobretudo de recepção e domínio da bola), inteligência táctica e tomada de decisão. É só o mais decisivo no futebol...

    Esta é a minha principal crítica a ele, não essa de que falas, de não ser um 'pinheiro', que realmente é um disparate.

    Não obstante, gostava de ter visto o nosso 4x3x3 com essa variante que defendes há meses - Jimenez avançado interior direito, com Rafa a extremo esquerdo...

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    1. Não pode ser mal em termos técnicos, se não jamais conseguiria fazer aqueles passes de letra, ou aquelas finalizações ao segundo poste com a bola a fugir-lhe como no Bonfim, ou aquela finalização frente ao Bayern Munique.

      Tu estás a confundir a crítica ao gesto técnico de recepção com a capacidade para antecipar os melhores posicionamentos para melhor recepcionar. Este último depende do contexto da equipa e é algo que pode e deve ser trabalhado nos treinos.

      A tua crítica deixaria de o ser se o tivesse trabalhado nos treinos. Se ele fosse o titular.

      😉

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  2. Para mim o problema dele é parecido com o de outro jogador que já passou por aqui : Alan Kardec . Finalizam bem e isso é uma qualidade única mas preferem sair da área e quando o fazem não são tão fortes assim . Penso que se trata dum erro de auto-avaliação dos próprios mais até do que do próprio treinador . Por outro lado acho que o Raul entra nos jogos de forma incrível e isso vale pontos. A sua saída é uma perda que veremos se Ferreyra e Castillo compensarão
    Fernando Cabral

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    1. O Alan Kardec tinha muito menos qualidade. O Raul é daqueles jogadores que poderia ser top mundial na sua posição com o "padrinho" certo.

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  3. Bom agitador de jogo, mas com algumas lacunas. Merecia ter tido mais oportunidades mas teve pela frente Jonas e Mitroglou em grande forma.
    Pode ser que renda uns cobres e o Benfica compre alguem em quem o treinador confia da proxima vez.

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    1. Isso foi no primeiro ano e no último? Qual foi a desculpa? Ainda por cima com um Cervi intermitente...

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