... sempre!
Nem era para falar neste tema agora, mas esta situação da saída do técnico Julen Lopetegui da La Roja a dois dias do primeiro e importante encontro da selecção espanhola, frente à equipa das quinas, no mundial da Rússia 2018, é a situação perfeita para falar na real crise de valores que a nossa sociedade vive.
Como é possível, o Lopetegui e o Real Madrid acharem que podem negociar futuros contratos sem sequer por ao corrente a Real Federação Espanhola de Futebol? Ainda por cima informar a Federação cinco minutos antes de sair o comunicado do clube? Em que mundo é que estão?! Os treinadores e os jogadores não podem pensar que as selecções são espaços de menor exigência. Mais, todos eles têm de ter valores. E, por valores não falo em terem uma etiqueta com um preço. Não! Falo sim, de saber estar numa sociedade com urbanidade, responsabilidade e respeito. Uma representação da selecção nacional é algo tão ou mais importante que um contrato multimilionário, ainda para mais porque actualmente, mesmo ao serviço das selecções os jogadores e técnicos ganham fortunas. É preciso haver respeito. Por tudo isto, eu compreendo as palavras do presidente da Federação Espanhola ao dizer que não havia outra hipótese que não esta decisão: a do despedimento do Julen Lopetegui do cargo de seleccionador nacional.
Os jornalistas espanhóis, com outra flexibilidade moral, ainda colocaram a questão de uma solução mais airosa, que mais não seria que um empurrar com a barriga um problema que requeria para o bem ou para o mal, uma decisão imediata. Para estes, o Julen deveria ter ficado até ao final do mundial. Concordo com a resposta do presidente Luis Rubiales (quem nos dera ter um presidente na Federação Portuguesa desta estirpe!), subindo imenso na minha consideração, ao dizer que as críticas quanto ao momento haveriam sempre qualquer que fosse a decisão, mas o que importava aqui era os valores que La Roja transporta e que tais comportamentos jamais em tempo algum poderiam estar acima desses valores.
Não posso estar mais de acordo. E, vou mais longe. Penso que a selecção espanhola ganhou aqui uma força extra que os fará muito mas fortes e perigosos para quem os defrontar. Por um lado, ganham com a perda de um treinador que apesar do registo imaculado na La Roja, está muito longe de ser aquele grandíssimo treinador. Segundo, porque estas situações tendem a unir ainda mais o grupo. Estou certo que os jogadores perceberão o que está em causa, por mais simpatia que tenham com o treinador. E, terceiro, eu penso que a Federação Espanhola com esta decisão colocou-se num patamar muito elevado de exigência e rigor que os fará realmente uma séria candidata ao mundial.
A pergunta que gostaria de fazer, mas que temo a resposta, é como seria se fosse em Portugal? É muito giro, colocar a mão junto ao símbolo nacional, cantar em plenos pulmões a Portuguesa, fazer juras de amor eterno, falar aos quatro ventos que estamos numa missão de servir, mas depois há mínima oportunidade actuarmos como todos os oportunistas e servir-nos da organização... E, não é apenas os jogadores e técnicos. Os próprios jornalistas não respeitam a causa nacional. Reparem na questão dos jogadores do Sporting que estão a rescindir com o clube devido à situação que vivem. Reparem, como os jornalistas portugueses tentam questionar sobre esses factos, quando deveriam ser os primeiros a entender que não é o local, nem muito menos o momento, para o fazerem, pois os jogadores estão em representação da selecção. Na prática e, na teoria, neste momento, os jogadores não são dos clubes. Se lhes acontecer alguma coisa de grave com eles é a Federação que se responsabiliza. Portanto, deveria até haver maior rigor por parte da Federação com os jornalistas e afins. É que só com este grau do comprometimento, de rigor e, sobretudo, de valores é que poderemos almejar ao título mundial, pois a competitividade face às melhores selecções do mundo assim o exigem.
A diferença da nossa selecção nacional face às restantes melhores selecções do mundo, não é tanto quanto ao talento (bem, aqui a diferença talvez seja apenas para a do Brasil), mas sim quanto à organização e exigência da sua Federação. Isto é algo que todos devemos começar a perceber, porque tem muito a ver com a importância do efeito cultural (e os seus valores).
PP
ResponderEliminarO melhor que poderia ter acontecido à selecção de Espanha !...Ver-se livre do mediano e bem apadrinhado Lopetegui !!!
O pior que nos poderia ter acontecido, é o que te digo...
EliminarDe qualquer maneira, o Luis Rubiales tem eles no sítio. Muito bem. Em termos de gestão, tomou quanto a mim a melhor decisão.
Isto também reflecte o impacto que os clubes cada vez mais querem ter nas selecções dos seus países. Influência essa que pode/é altamente negativa e contagiosa. Muito bem, o presidente da Federação Espanhola. Acabou por dar o exemplo para futuros exemplos.
Não se pode valer tudo. É preciso haver valores. O Lopetegui foi e continua a ser muito parvo. Mas, ele é que sabe. Eu só sei que no Real Madrid... bem fez o Zidane. Muito inteligente.
Ora aí está algo que jamais aconteceria em Portugal.
ResponderEliminarTiro o meu chapéu à federação espanhola!
Por estas e por outras é que estão muito à frente de nós no futebol e em quase tudo o resto. Mentalidades...
Completamente! É exactamente por esse motivo que escrevi o texto.
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