23 fevereiro 2014

O bom trabalho...


... de Jorge Jesus e de Hélder Cristóvão.


Se é verdade que muitas vezes temos um opinião diferente da forma e de quem deveria jogar nas equipas do Benfica, também é importante tentar ver o que os seus técnicos querem com as suas opções. Aliás, podemos inclusive aprender algo mais com isso. Na realidade é bom entender que a fórmula para o sucesso não está apenas no sistema de jogo ou até num determinado modelo de jogo. Está sim, na capacidade de operacionalizar ambos. Para tal, é necessário ter bons jogadores. E, o Benfica tem-os às "paletes". Mas, também é necessário ter técnicos competentes na metodologia de treino futebolístico para que possam atingir resultados operacionais mais eficientemente e eficazmente do que outros.

Olhando para o trabalho de Jorge Jesus na equipa principal, verificamos que nos últimos 6 meses, o técnico português conseguiu aprimorar e corrigir muitos dos erros do quarteto defensivo. Mas, também os seguintes pontos:
  • o trabalho com os extremos encarnados, nomeadamente, com Markovic, Ivan Cavaleiro e Sulejmani.
  • o trabalho com os atacantes encarnados, nomeadamente,  com Rodrigo, Lima e Djuricic.
  • o trabalho com o dúo de meio-campistas, sobretudo após a saída de Matic, com o Fejsa e o André Gomes.
E, tudo isto, sempre em ambiente competitivo que envolve um campeonato e respectivas taças nacionais, e também uma Liga dos Campeões. É pois um trabalho de grande qualidade que se deve realçar.

XI encarnado frente ao PAOK, destaque para a importância
da dupla Amorim e Enzo no meio-campo e da posição de
André Gomes como médio-ofensivo direito.
Tendo em mente o jogo da passada quinta-feira em Salónica, podémos ver ao vivo todo esse trabalho. A ideia do sistema de jogo do Benfica de Jorge Jesus é baseada num 4-1-3-2 (conforme podemos ver pela figura seguinte). Nesse sistema de jogo, é muito importante o trabalho dos laterais no apoio às manobras ofensivas. Da mesma forma, o recuo no campo dos dois avançados e o trabalho de criação dos extremos "interiores"/médios ofensivos na fase de construção de jogo é igualmente muito importante. Mas, para conseguir conciliar tudo isto, é preciso a tal "cola" que liga a equipa. Ela é definida pela dinâmica do dúo de meio-campo. Naquela situação foi Rúben Amorim e Enzo Pérez e ambos estiveram em grande plano.

No meu bloco de notas, após o encontro frente ao PAOK, escrevi que não tinha gostado da exibição do André Gomes, tendo mesmo indo mais fundo e destacado que não seria naquela posição que o português poderia vingar no futebol. Contudo, isso não significa que não entenda a motivação e a estratégia por detrás da colocação do André naquela posição. Em primeiro lugar, devemos ter noção de que o André Gomes não jogou propriamente como um extremo, tal como quando joga naquela posição o Markovic ou o Salvio. O André foi uma espécie de médio direito. Foi muito importante na oposição às subidas de Lino, o lateral esquerdo ofensivo do PAOK, mas também no suporte para entregar o corredor direito às subidas do Maxi Pereira. Poderíamos defender e preferir a entrada de Gomes para médio-centro, na posição do Enzo, ou até mesmo na posição de médio-defensivo, do Rúben Amorim. Contudo, isso seria destruir o tal dúo fundamental da equipa, perante um adversário de respeito (2º lugar na liga grega) e num ritmo competitivo elevado (jogo da Liga Europa). Perante estes factores, tenho de concordar com Jorge Jesus nessa leitura. Por outro lado, temos de perceber que o André Gomes só tem a ganhar com diversificação de funções e competências, nomeadamente acrescentar uma maior intensidade e agressividade ao seu jogo.


Olhando para o trabalho de Hélder Cristóvão na equipa B encarnada, vemos também muita evolução nos seus comandados nos últimos 6 meses. Em primeiro lugar, destaco a confiança que o técnico da equipa B tem sobre os mais jovens pupilos. Jogadores como Bruno Varela, Fábio Cardoso e João Teixeira, provavelmente com outro treinador não seriam ainda apostas concretas para a titularidade da equipa. Isso só lhes faria atrasar o processo de crescimento. Depois, há jogadores da formação um pouco mais velhos que com outra equipa técnica se calhar ficariam na sombra de muitos dos estrangeiros que a equipa B tem. Estou a falar de Bruno Gaspar, Rúben Pinto, Bernardo Silva e de Hélder Costa por oposição ao Gianni Rodriguez (campeão mundial de sub17 pela selecção uruguaia), ao Uros Matic (já cedido a uma equipa holandesa), ao Rojas (entretanto já emprestado ao Belenenses) e ao Filip Markovic (que faz parte do plantel da equipa B), respectivamente. Há pois uma grande confiança nos jovens realmente "made in Benfica" e que louvo pela coragem.

Mas, não é apenas confiança e coragem que o Hélder tem transmitido à equipa. Há também muita competência na gestão do grupo e no treino. Se inicialmente a sua equipa poderia contar com Steven Vitória e Steffan Mitrovic para compor o centro da defesa, com o avançar da temporada, tal deixou de ser possível e o técnico encarnado soube bem trabalhar a sua defesa baseando em jogadores como o Fábio Cardoso (ainda verdinho) e o médio defensivo sueco, convertido a central,Vítor Lindelöf. Aliás, formam ambos uma excelente dupla e com um nível técnico elevado. Depois, a utilização do Bruno Gaspar, um destro no lado esquerdo da defesa, confere uma maior estabilidade face às subidas e ao menor rigor defensivo do outro lado de João Cancelo. Estas dinâmicas acabam por se complementarem e estabilizar a equipa lá atrás. É óbvio que há ainda muito trabalho para ser feito, mas penso que isso só se consegue com os jogos.

XI encarnado B frente ao Académico de Viseu, destacando
a cumplicidade entre Rúben Pinto e Carlos Martins no
meio-campo e o tridente ofensivo móvel.
Frente ao Académico de Viseu, a equipa esteve espectacular. É claro que teve muitas falhas, mas escrevo é da sua atitude. Para se ganhar é preciso ter uma mentalidade forte. Só aqueles que aliam essa capacidade, com a técnica e a vertente física conseguem chegar ao mais alto nível. Em termos tácticos, destaco a interpretação de vários sistemas de jogo pelos mesmos onze. Desde um 4-1-3-2, como o da equipa principal, até à transformação de um 4-3-3, passando pela transformação de um 4-2-3-1 e 4-4-2. Isto revela um belíssimo trabalho de qualidade no treino diário de Hélder Cristóvão que está de parabens.

Como maior destaque, chamo a atenção do leitor, tal como fiz ontem no artigo sobre os "meninos" que devem estar presentes na meia-final da taça da Liga, para a espécie de 4-3-3 que utilizou em vários momentos do encontro. A presença de Carlos Martins e de Urreta foram preponderantes para o maior acerto e qualidade na fase de construção de jogo. Em particular, a dinâmica entre Rúben Pinto e Carlos Martins, assim como a destes com João Teixeira, foi algo que saltou-me à vista. Depois, lá na frente a mobilidade daquele trio formado por Urreta, Hélder Costa e Bernardo Silva, sempre em constante dança de posições, é um regalo a qualquer amante de futebol. Aquilo que fizeram não é fácil, pois requer muito treino, muito entrosamento, e muita condição física... então se considerarmos o quão pesado o campo estava, maior o relevo destas dinâmicas. O Urreta muitas vezes fazia o transporte de bola entre linhas, passando ao Bernardo que jogando entre-linhas, pegava depois nela e num drible ou num passe encontrava o endiabrado Hélder Costa, que ou procurava a conclusão (se tivesse isolado), ora procurava a referência na área (sobretudo no segundo poste), onde aparecia o Bernardo (ver o 2º golo encarnado). Destaco o jogo de Bernardo Silva, mais uma vez, pois jogou largo tempo numa posição que há muito reinvidaca: a de jogar como avançado ao estilo do Messi no Barcelona. E como ele abriu o livro para a equipa. O rapaz tem tudo. Tem técnica. Tem inteligência táctica. Tem capacidade física para correr os 90 minutos. E, tem a atitude de um ganhador em lutar quando as coisas não lhe sorri.

6 comentários:

  1. Excelente postadela amigo PP... excelente.

    Abraço

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    1. Obrigado Carlos!

      A ver se não és tão mauzinho para com o "menino" Nélson... ;)

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    2. Gosto muito dos teus comentários, caro PP, que me fazem ver o jogo de forma diferente. Parabéns! Vê-se que percebes da "poda" ehehe.
      Agora é preciso ganhar ao Guimarães para enterrar de vez os fruteiros da pocilga do peidoso.
      Viva o Benfica!

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    3. Perfeito Correia,

      Hoje quero 7... com o nosso 7 a voltar ao que sabe fazer melhor!

      ;)

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  2. Muito boa análise . Relativamente ao Bernardo comecei a perceber as palavras do Chalana quando disse que tínhamos um Messizinho no Seixal. O miúdo é muito , muito bom jogador !

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    1. JV,

      Sinceramente, eu não gosto deste tipo de rótulos, não só porque às vezes as comparações nada têm a ver (neste caso até fazem algum sentido), mas porque há muita maldade quando o rapaz jogar mal (e ele vai jogar, pois é normal que isso aconteça durante uma carreira e sobretudo nos próximos tempos).

      É importante que nós adeptos do Benfica e dele, saibamos fazer essa protecção em uníssono quando isso acontecer. Há que saber proteger os nossos diamantes.

      Já agora, há muitos mais na nossa formação. ;)

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