08 fevereiro 2018

Finalmente uma remontada à Benfica!


... e ponto final.


Sou daqueles adeptos que fico possesso quando a nossa equipa sofre um golo. À luz do meu perfeccionismo é inconcebível sofrermos golos de uma equipa como o Rio Ave em casa, perdoem-me a frontalidade, e, ainda por cima, depois do histórico de confrontos com aquela equipa esta temporada. O estado emocional que incutiria aos meus jogadores antes deste encontro seria o ajustar de contas. Não quero que pensem que quereria que os nossos jogadores fossem vingativos (aliás, isso iria contra a nossa forma de ser e de estar no futebol e na vida), mas que os faria pagar a factura por nos terem eliminado da taça de Portugal - aproveitando-se da lesão do Luisão - lá isso faria. É por isso, que quando a equipa de Vila do Conde chega à vantagem na primeira vez que chega à nossa baliza com grande perigo, parte de mim explodiu. Realmente, ser Benfiquista é também ter esta capacidade de sofrimento.



Na realidade, já estava chateado com as nossas sucessivas perdas de bola a meio-campo. O Rui Vitória, na conferência de imprensa explicou - e muito bem, diga-se de passagem, demonstrando um conhecimento do jogo que muitos adeptos criticam de não o ter - os motivos pela utilização do Zivkovic e não do João Carvalho na posição normalmente ocupada pelo lesionado Krovinovic desde que o Benfica joga neste modelo de 4-3-3. E, foi mais longe, tendo em certa medida explicado o motivo das perdas de bola a meio-campo estar relacionado com o posicionamento do jovem sérvio, como que a dizer que ele acabava por ficar muito no ataque. Para ser sincero, não foi isso que vi em campo, pelo que não posso concordar totalmente. Vi sim, um Pizzi a demorar a passar ao camisola 17 que estava em linha com este pronto a receber um passe lateral para o centro do internacional português quando este se encontrava na meia-direita do nosso ataque. Se o passe tivesse sido enderessado rapidamente, o Zivkovic teria tempo e espaço ora para arrancar para cima do adversário, ora para servir o Jonas no corredor central, ora para abrir ainda mais para o lado esquerdo onde tanto Cervi como o Grimaldo estariam à espera. Ao atrasar o passe e essa leitura, o Pizzi queimava o tempo que a equipa tinha ganho até então às coberturas do adversário, queimando essa janela de oportunidade. E, pior, ao fazer o passe nesse momento colocava invariavelmente o sérvio em maus lençóis, já com 2 ou 3 adversários a fecharem-no. Esta falta de automatismos, que até considero natural acontecer tanto com o Zivkovic, como com o João Carvalho e outros que o Rui coloque ali a jogar, é o que leva a equipa a cair nas armadilhas tácticas do adversário, como aquelas que o Rio Ave colocou em campo ontem na Luz.


Depois, a reacção à perda não é a melhor. O técnico encarnado falou em estarmos bem fisicamente e mentalmente. No geral concordo com ele, pois se não estivéssemos bem, não conseguiríamos dar a volta ao marcador com a categoria que demos. Mas, isso não significa que tenha visto jogadores com sinais de desgaste. O primeiro deles, foi o Salvio. Para mim, até não estranho nada, uma vez que o argentino já vinha apresentando sinais de fadiga competitiva. Parecia mais lento, a decidir pior do que normalmente faz e a complicar o que muitas vezes parece simples. São sinais que indiciam algo... O segundo deles, para mim é o Fejsa. aliás, o motivo para este raciocínio é exactamente para chegar a este jogador. Outrora, talvez o jogador que mais colava a linha defensiva ao meio-campo, foi ontem na primeira parte, colocado ao lado do jogo invariavelmente. Está com um tempo de reacção e uma leitura de jogo muito lenta. É verdade que a nossa linha defensiva às vezes não ajuda, pois tem o hábito terrível de mal perdemos a bola passar para o momento de contenção, quando a primeira coisa que deveriam preocupar-se era anular o espaço útil para o adversário. Este vai-e-não-vai dos nossos centrais é muitas vezes ultrapassado pela omnipresença do camisola 5. Mas, quando este não está com o seu fulgor físico, a equipa recente-se. É por estas e por outras que aconselho o Vitória a utilizar mais vezes o grego Samaris. Então nestes jogos em casa, não vejo mal nenhum, pois o risco é menor. Acredito que o camisola 7 possa, neste momento, dar mais energia àquele meio-campo, no momento da perda.

Continuando com a leitura, apesar do menor fulgor do Fejsa, é necessário corrigir o posicionamento da nossa defesa. Com bola, na primeira fase de construção, quando o central recebe o esférico, os adversários já aprenderam a anular as opções de passe deste, obrigando-o a jogar para o médio-defensivo, que num movimento "La Volpiano", tenta ajudar a equipa a sair a jogar. O problema é que o adversário acaba por apresentar uma primeira armadilha sobre este jogador que tem de jogar rápido. Normalmente, ele joga para a ala, onde está montada a segunda armadilha do adversário. É por este motivo, que a maioria das recuperações de bola do adversário nesta fase ocorrem nas alas, sobre o nosso lateral ou extremo. Como solucionar este problema? De várias formas. A primeira delas, é o central sair a jogar, procurando transportar a bola, fixando o marcador directo e, logo de seguida, soltar para o companheiro que se solta da marcação. Normalmente, o adversário cobre 3 ou 4 dos jogadores, se o central subir no terreno e passar um marcador, cria logo uma vantagem numérica para a sua equipa, descompensando o adversário. Para isso, é preciso que tanto o Jardel, como o Rúben Dias se sintam confortáveis com a bola nos pés. Tendo em conta as características destes atletas, isto não será um problema. Logo, falta é trabalhar isto nos treinos. Esta opção apresenta um risco elevado, uma vez que nesta fase de construção a equipa procura fazer campo grande, para alargar o campo e assim a pressão do adversário ser menos eficaz, mas esse alargamento, pode causar problemas se o adversário recuperar o esférico. A segunda delas, que actualmente até tem sido a solução, é a bola longa do central. Não sou daqueles que condeno veementemente este tipo de saída. Contudo, defendo-o com maior critério. A bola longa não deve ser utilizada directamente para o nosso ponta-de-lança. Só se este tivesse uma vantagem física sobre todos os centrais do campeonato. Por exemplo, o Sporting utiliza muito este tipo de jogada para o Bas Dost, uma vez que o holandês tem 1.96m, a mesma altura que o Coates que é o central mais alto em Portugal (o Luisão tem 1.94m e é o mais alto do Benfica). Logo, tem vantagem competitiva sobre a maioria dos centrais adversários nacionais, o que não acontece com o Jonas. Mas, isso não quer dizer que devemos abandonar essa ideia. Podemos fazer um pouco como o Porto, que opta pelo lançamento em profundidade para o Marega que alia força, velocidade e alguma técnica. É uma bola longa não para o corredor central, mas sim para a ala. O mesmo acontece com o City de Pepe Guardiola, quando tenta colocar muitas vezes a bola nos extremos Sané e Sterling. Agora, é importante, os nossos extremos estarem preparados, assim como o Jonas e o médio-interior próximo deles. A terceira delas, é a utilização do guarda-redes como ponto de apoio. É verdade que o Varela não tem o mesmo jogo de pés que o Ederson, mas com o treino específico, pode atingir um nível de passe de um "quarter-back" para lançar os tais extremos, ou então, para poder jogar com os colegas da defesa, anulando a igualdade numérica definida pelo adversário na nossa defesa. O ideal será diversificar a nossa saída de bola para o adversário não conseguir adaptar-se, mas em todas estas ideias, o comportamento e o posicionamento que a nossa defesa deve optar deve estar bem rotinado.


Ultrapassada esta primeira fase de construção, muitas vezes reparo que a defesa pura e simplesmente para de avançar. Ficam parados sobre a linha de meio-campo. Num futebol cada vez mais trabalhado e com os adversários cada vez mais compactos no momento defensivo puro, o avançado adversário ocupa muitas vezes o meio-campo defensivo adversário. Sendo assim, os nossos centrais têm de ter mais protagonismo com a bola, não sendo apenas um apoio para os médios poderem circular e ultrapassar zonas de pressão. Os centrais podem, se articulados com os médios, ter parte activa no processo ofensivo, jogando ora mais à frente ou em linha com a do médio-defensivo encarnado. Desta forma, quando a equipa perde a bola, a nossa linha defensiva está muito mais próxima do adversário, podendo a nossa equipa ser muito mais efectiva na contra-pressão. Acredito que com esta postura e posicionamento atacante, a nossa defesa será muito mais reactiva e agressiva no primeiro momento defensivo e não tanto de contenção como actualmente acontece. Por outro lado anulará rapidamente a transição ofensiva do adversário, recuperando a bola ainda no meio-campo deles. De notar, que para esta forma de jogar, o guarda-redes tem de estar preparado para jogar fora dos postes, varrendo as costas da linha defensiva.



Acredito que parte da sensação de insegurança do guarda-redes Varela passa por este posicionamento da linha defensiva. Estando ela sempre muito atrás da linha de meio-campo, acaba por também ela estar próxima do guarda-redes, acabando por criar uma zona de conflito de decisão para o guarda-redes que mesmo tendo instruções para varrer as costas da defesa, fica com a clara sensação de que se sair dos postes, poderá criar dualidade de interpretações com os colegas da linha defensiva. Em suma, fica-se com a sensação de que as funções não estão devidamente atribuídas. Também nesse aspecto é importante trabalhar a nossa defesa neste sentido.



Apesar de todos estas vicissitudes do nosso jogo, a verdade é que o Benfica cria jogadas para finalização e, na primeira parte frente ao Rio Ave, não foi excepção. O que é impressionante é a eficácia com que a maioria das equipas que defrontamos têm nos nossos jogos: a equipa vilacondense acaba por marcar no único remate enquadrado à nossa baliza em todo o encontro. Por seu turno, a nossa finalização pode e deve melhorar. O Jonas está a fazer um enorme campeonato, mas aos 70 minutos, já se sente que ele começa a ficar desgastado. O facto da equipa perder a bola e depois só a recuperar no nosso meio-campo e não no meio-campo adversário, contribui enormemente para um maior desgaste do nosso camisola 10. Aliás, o Messi no Barcelona é o jogador que é porque consegue conservar a sua energia, graças a uma recuperação rápida e perto da grande área do adversário. Se tivesse que fazer várias piscinas, não seria com toda a certeza tão determinante.

No entanto, as entradas de Zivkovic (a titular) e depois de Rafa e Raúl (como substitutos), são a demonstração de que Rui Vitória e os adeptos encarnados, não devem ficar muito preocupados com o maior ou menor desgaste dos habituais titulares, pois como podemos ver temos substitutos à altura. Inicialmente, haverá com certeza algumas afinações a serem feitas. Por exemplo, o início de jogo do Zivkovic não foi fácil (o Pizzi também penso que poderia ter ajudado mais), mas ele pouco tempo acertou o passo. O Rafa então entrou que nem uma luva neste encontro. E, o que dizer do Raúl?! Há quanto tempo ele entra para os 10 ou 15 minutos finais, quando não são 5 ou apenas o tempo de compensação, e mesmo assim, ele entrega-se a cada lance como fosse o último da sua carreira de futebolista? Já merecia mais minutos de jogo e, acima de tudo, mais titularidades.


E, ainda temos no banco, nada mais, nada menos que: Luisão (apenas e só o capitão da equipa), o Eliseu (o fiável veterano lateral), o Samaris (o médio espartano), o João Carvalho (o miúdo-maravilha), o Seferovic (o poderoso ponta-de-lança helvético) e o Svilar (o guardião adolescente). E, já não falo em: o Paulo Lopes (o cota do plantel), o Douglas (o lateral emprestado do Barcelona) e o Keaton Parks, o Gedson Fernandes, o Heriberto e outros miúdos da equipa B que poderão ser chamados numa eventualidade. E, ainda há quem diga que deveríamos ter ido ao mercado urgentemente. Para quem precisa de fazer 13 jogos até ao final do campeonato, este conjunto de jogadores dão e chegam para as necessidades e sermos P3N7A. É preciso é trabalho e confiança neles.


6 comentários:

  1. Boa análise, profunda e criteriosa. Parabéns!

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  2. João Carvalho, miúdo maravilha, por que razão? Neste momento é endeusar um jogador q precisa de ter os pés bem assentes na terra. Não vislumbrei nada no Benfica nem na seleção. Longe, por exemplo, do talento de um Felix ou Bernardo Silva. Esses têm elegÂncia fora do normal. Basta o toque.
    Carvalho joga encurvado, desaparece muito do jogo, não assume a batuta, não é capaz de ir ao chão, não interceta uma bola...muito pouco. É só ver o que fez o Ziv sem bola, defensivamente, para ver o quão injusto está Vitória a ser com ele.

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    1. Já ligaste o churrasco?

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    2. Não. Até acho q deveria ter sido titular no último jogo para dissipar dúvidas. Mas neste momento, fico com a ideia que é muito jogador de bolinha no pé. E não vejo aquele semblante dos craques de querer sempre ter a bola, sem medo. É olhar para ele ou para um Rúben Dias, por exemplo. Ou para a determinação do Ziv no último jogo.
      Mas vamos ver. Q seja craque e rasgue tudo.

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    3. Ele é craque, mas falta-lhe jogar o jogo, se é que me faço entender. Penso que ele tem de procurar por ele próprio saber como melhorar. Esta é a altura dele investir nele próprio e preparar-se da melhor forma para quando chegar nova oportunidade dizer "presente"!

      ;)

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