09 fevereiro 2018

(Cervi)ço de...


Um olhar sobre a evolução do Chucky.


Muitas vezes criticado pela massa adepta encarnada pela (falta de) conhecimento técnico de futebol, o Rui Vitória, apresenta trabalho de treinador quando olhamos para o desenvolvimento do Franco Cervi. Tal como mencionado no site do Benfica, o extremo esquerdo argentino, foi contratado ao Rosario Central, dez anos após a contratação a este mesmo clube do "Angelito" Di "Magia". Ou seja, era claramente um jogador já com selo de qualidade nos relvados alvicelestes. Facto que foi rapidamente confirmado com o seu golo e exibição na Supertaça Cândido de Oliveira de 2016, frente ao Sporting de Braga de José Peseiro.

No entanto, nessa primeira temporada, o camisola 22, apesar de exibições muito intensas e de enorme trabalho, eram muito desconectadas do resto da equipa. Por cada lance ganho, acabava por perder a bola rapidamente. Por cada nozada sobre os defesas adversários, fazia um passe sem nexo. Daí que tenha terminado a temporada com 2 golos, 1 só assistência, participado em 3 dos 72 golos e com apenas 54 minutos em média de utilização por jogo jogado. Havia pois necessidade de retirar o melhor Cervi, aliando a sua enorme capacidade de trabalho e competitividade, ao seu talento técnico, adicionando maior clarividência sobre o jogo, nomeadamente a tomada de decisão e o momento de efectuá-la. É por isso, que com trabalho individualizado, mas também um pouco fruto de um modelo de jogo que o beneficia (a introdução do 4-3-3), que o esquerdino apresenta hoje tantos minutos em 18 jogos esta temporada como em toda a época passada, melhorando a sua média de utilização para os 78 minutos por jogo esta temporada. Depois, em termos de estatísticas ofensivas, verificamos que apesar de ter menos um golo (e a época ainda não terminou), tem já 7 assistências para golo (o Jonas que agradeça este serviço de entregas à boca da baliza), sendo o melhor da equipa neste capítulo.

Mas, mais é possível fazer. Penso que o argentino pode atingir números ainda mais esmagadores no contexto nacional. E, aliar a esses números uma qualidade artística que poucos possuem, fazendo recordar um pouco a magia que o Di Maria nos presenteava. Para tal, a continuação da adaptação a este novo modelo do 4-3-3 que Rui Vitória tem preparado para o Benfica, mas também a articulação e a simbiose que o extremo possui com o Grimaldo, serão determinantes para atingir esse estado, uma vez que trarão confiança ao seu jogo.

De qualquer modo, olhando um pouco para o modelo encarnado, nomeadamente com a incorporação de um esquerdino no triângulo de meio-campo encarnado - como médio-interior esquerdo, como aconteceu com o Zivkovic frente ao Rio Ave - penso que o próprio Cervi poderá dar outra grande impulso à sua carreira, jogando como médio-interior esquerdo. Aqui não só irá estar mais próximo do golo e da meia-distância que tanto gosta, como também irá manter a simbiose que possui com o lateral espanhol, permitindo que este também melhore o seu rendimento ofensivo. Por outro lado, jogando com um falso extremo esquerdo que funcione mais como um avançado interior (Raúl, Seferovic ou Rafa, por exemplo), o camisola 22 poderá aproveitar o espaço criado pela movimentação em direcção à grande área do jogador dessa posição, procurando a ala e o cruzamento para as zonas de finalização, aumentando as assistências para golo. Penso, que desta forma, o Cervi será obrigado a crescer naquilo que é mais débil: leitura e decisão de jogo. Ele muitas vezes perde-se com mais um toque e mais rodriguinhos com a bola nos pés. Logo, se jogar numa posição mais central terá que aprender a pensar e executar o jogo mais rápido e mais simples. E, com isso aparecerá maior eficácia e eficiência. Em termos defensivos, o nosso meio-campo ganha mais intensidade e capacidade de pressão, muito embora o Zivkovic também apresenta uma capacidade de trabalho bem assinalável, apesar de não estar ainda devidamente integrado.

Tendo em conta que a opção de João Carvalho para a posição de Krovinovic estar um pouco esfriada com as exibições em crescendo do jovem sérvio, mas também o facto de muitas vezes o Benfica necessitar de colocar maior poder de fogo no ataque, esta solução de adaptar Cervi e Zivkovic à posição de médio-interior esquerdo, poderá ser uma solução bem viável. Assim de repente, o Raúl Jiménez iria agradecer. O mexicano tem velocidade, tem agressividade e acima de tudo tem objectividade e eficácia na cara do golo. Com um sistema de pressão alta que Rui Vitória está a impor, criando dificuldades à primeira fase de construção de jogo do adversário, através da colocação de armadilhas defensivas, o Benfica poderá fazer uma contra-pressão eficaz, com melhores resultados em frente da baliza adversária.



27 comentários:

  1. Não vejo, sinceramente, trabalho nenhum de Vitória. Cervi destaca-se por um enorme pulmão que lhe permite estar em modo ataque/defesa sem qualquer problema.
    A questão é que Cervi, com todo esse equilíbrio, vai perdendo a magia e irreverência que demonstrava na Argentina. Não me surpreenderia mesmo nada que para o ano assumisse o papel do Grimaldo.
    Até penso que daria um ótimo médio interior, se Vitória tivesse tomates em mudar as peças.
    Qd lhe permitirem dosear o esforço, Cervi tem potencial para muito mais. Não pode é estar em constantes vai-vens enquanto o do outro lado, chucha no dedo. Um talento destes, merece tempo para respirar. Que meta o Salvio em correrias do outro lado.

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    1. Até parece que o Cervi tinha essa magia toda na Argentina. E quando digo "toda" refiro-me a consistência. O Franco é hoje muito mais consistente do que quando chegou. E, a tendência é para melhorar ainda mais. O obreiro disso é o Rui Vitória, quer gostem ou não.

      Sobre ser médio-interior, não é uma questão de tomates do Vitória. É sim, saber fazer as coisas com pés e cabeça. A equipa acabou de perder um jogador que estava a encaixar na perfeição naquele meio-campo (Krovinovic). A primeira coisa que se deveria fazer era estabilizar a equipa, com o mínimo de intervenções possíveis. Ou seja, colocar o Cervi a interior esquerdo seria mudar duas posições, a do Krovinovic e a do próprio Cervi.

      Mas, agora, com uma exibição robusta como aquela frente ao Rio Ave, o Vitória já terá mais capital para poder fazer outro tipo de alterações.

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  2. a evoluçao do cervi tem sido muito boa, mas a do varela e a mais escandalosa, ele no inicio duvidava que fosse gk para o benfica, agora ja mal treme, ja controla melhor a profundidade ou seja nada a ver com o varela do inicio de epoca.o zivkovic achei inteligente no meio campo, so espero ver um dia ele e krovinovic juntos

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    1. Também acho que o Varela tem evoluído muito. Não tanto com os pés. Mas, nas situações de um contra um, já nos safou de vários golos.

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    2. «agora ja mal treme, ja controla melhor a profundidade ou seja nada a ver com o varela do inicio de epoca» - Não consigo concordar com isto, o que não quer dizer que Varela não seja neste momento a melhor opção do plantel para a posição, e talvez a menos má das soluções que foram pensadas para suceder ao Ederson.

      Quanto a evolução, como tive a felicidade de poder ver a BTV nos tempos em que os benfiquistas não eram castigados por serem Benfiquista, sei bem o que era o Varela da formação. Nesse sentido a evolução é diminuta. E dizer que mal treme... Se calhar disfarça melhor, mas confiança é coisa que por ali não abunda.

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    3. Ainda há muito que trabalhar sobre o Varela, mas não só. Também o resto do quarteto defensivo.

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    4. Torna-se obsoleto, o comentário do Alexanderson :)

      O Varela é um erro de casting, PP. Vamos ser realistas. Não se pode mudar de Ederson para aquilo. Ele treme em várias facetas do seu jogo.

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    5. jorgen, dá-lhe mais 15 anos e vais ver se não é exímio na arte de levantar taças!

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  3. Há rapaziada que não consegue nunca ver o trabalho de Rui Vitória... Só se algo corre mal, ou até menos bem, é que conseguem vislumbrá-lo...

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    1. Exacto. Há malta que ainda acha que o seis títulos em 2 anos foram fruto de muita sorte...

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    2. Nem mesmo quando ele é elogiado pelo Pep Guardiola (ainda recordo o que li sobre o facto da equipa ter desaprendido a defender com o Vitória no ano em que ele entrou, para depois meses mais tarde ser "case-study" do futebol europeu em termos defensivos)... mas, haters gonna hate.

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    3. António, a esses é apenas responder que a sorte procura-se. ;)

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    4. Mas a sorte também é fruto de muitos factores. Medir o trabalho de um treinador pelos títulos que tem quer dizer que do lote Klopp, Guardiola, Mourinho, Pochetino, Wenger, Conte apenas um é bom, os outros são uma borrada. Ou que não há bons treinadores em clubes do meio da tabela. Ou, para os mais distraídos, que o Benfica nunca devia ter trocado de JJ para Rui Vitória e que o facto de JJ ter muitos títulos justificava todos os desmandos que ele pedisse.

      Isto para chegar à pergunta de se os dois títulos que RV ganhou foram todos ganhos por ele, ou se houve pelo menos um que foi perdido pela concorrência?

      NOTA SEMÂNTICA: Títulos são os campeonatos, os outros são troféus e não os chamo à baila porque não são provas de regularidade.

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    5. Agora o problema do RV são os títulos? Bolas RB, estamos a falar de um treinador que veio de baixo a pulso e sempre com bons trabalhos, num ambiente onde o que mais existe são cunhas e treinadores sem qualquer formação. E, mesmo assim, ainda leva com os soundbites de adeptos ressonância?

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    6. Pá, não há problema nenhum nos títulos, agora se o trabalho dos treinadores se mede apenas por títulos e troféus, no momento em que o Benfica troca JJ por RV andou de cavalo para burro, sim ou não?

      Ou falando de outra realidade, o Carlão com o Bayern também limpou o que havia para limpar na Alemanha. Quer dizer que Tüchel, Hecking, Nagels, (não me lembro se o Roger Schmidt ou o Favre foram contemporaneos com ele) sao maus treinadores porque não ganharam? É isso que estou a dizer, e tu que me aturas há uns tempos sabes bem...

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  4. Penso que a evolução do Cervi tem muito a ver com a mudança de sistema pois assim é envolvido no ataque posicional um pouco mais tarde no processo ofensivo, o que favorece as suas características, e sobretudo porque tem mais apoio porque além do Grimaldo tem o interior esquerdo.

    Mas para quê pô-lo a interior esquerdo para melhorar critério a pensar e decidir, quando temos Zivkovic que é ás do critério e decisão???

    Deixem jogar o Ziv! ;) finalmente tem um lugar na equipa à altura do seu talento.

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    1. Verdade BP, quanto ao teu primeiro parágrafo.

      Quanto ao segundo parágrafo, a ideia passa por criar um modelo sólido para o que resta da época. Se colocar o Cervi e o Zivkovic a lutarem pelo mesmo lugar na posição de médio-interior esquerdo, posso deixar a posição de extremo esquerdo, para um avançado interior, como o Raúl Jiménez e o Diogo Gonçalves, tendo desse modo um modelo mais ofensivo e que proteja o Jonas das marcações impiedosas de vai ser alvo daqui até ao final da época.

      E sim, o Zivkovic merece jogar, assim como o Cervi e todos eles. Há espaço para todos! ;)

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    2. E tu a dares-lhe com o Raul a avançado interior! ;) não vou explicar outra vez porque não acho uma boa solução.

      Se este modelo com o Cervi a extremo puro está a resultar tão bem, para quê mudar? Se tivéssemos pouca chegada à área assim, ainda te percebia, mas não temos, de todo: além de Jonas, temos muitas vezes os extremos e os médios interiores a entrar na área com bola no pé ou espaço para a receber. Depois, Cervi a interior teria ainda que passar por um processo de aprendizagem da posição, como referes, melhorando o critério e a decisão em espaços mais curtos; isso será o melhor para a equipa, quando temos que chegar ao penta e temos um Ziv que é exímio naquilo que o Cervi ainda teria que melhorar?

      Por mim, continua o plano A como está: Pizzi e Ziv a lutarem com João Carvalho (e Keaton ou Gedson, cadê o Chrien?!?) para os lugares de médio interior, Cervi, Rafa e Salvio a lutarem pelos lugares de extremo - bem, o Salvio não precisa de lutar pelo lugar, basta não estar lesionado...

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    3. Lá por tu achares que não seja uma boa solução, não significa necessariamente que seja uma má solução.

      A tua percepção do nível técnico do Raúl é muito errada e toldada pelos escassos minutos que o avançado tem na equipa.

      O modelo com o Cervi a extremo puro está a resultar bem até certo ponto, algo que escreverei num artigo que está prestes a sair. O Cervi não teria que passar por um período de aprendizagem, porque ele já está em aprendizagem. Falas como se o nível do Cervi fosse constante e estável, quando na realidade trata-se quase sempre do primeiro jogador a ser substituído pelo Rui Vitória.

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    4. Claro que não significa necessariamente que seja uma má solução, mas é a minha opinião - tenho uma certa dificuldade em manifestar opiniões de outras pessoas :-).

      Fico à espera desse artigo crítico do actual modelo, de certeza que me vai pôr a pensar ;)

      E o Chrien, sabes o que lhe aconteceu? Pergunto muito honestamente porque parece ter desaparecido do mapa do tetracampeão. Na pré-época fiquei entusiasmado com certas características dele, podia ser uma opção de back up no mesmo plano que o Gedson ou o Keaton Parks...

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    5. O Chrien é neste momento jogador de equipa B, assim como o Parks.

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    6. A opção do PP pelo Raul a avançado descaído não seria má, a julgar pelo que se viu do mexicano quando teve alguns minutos nas pernas. Apesar de eu achar que Jonas tem muito mais capacidade para fazer essa posição com qualidade do que o Mexicano.

      Custa-me naturalmente é que essa opção atirasse um do duo Cervikovic para o banco,

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    7. Também já defendi o avançado interior no início da nossa passagem para o 4x3x3, mas depois vi o modelo de jogo do nosso 4x3x3, centrado nos tais dois triângulos com fulcro cerebral no médio interior de cada um dos lados, e mudei de ideias. Porque a dinâmica desses dois triângulos, com muitas trocas posicionais e combinações que retiram referências de pressão e marcação a quem defende, exige um determinado perfil de jogador que Jimenez, quanto à mim, não é. E que perfil de jogador é esse? Muita inteligência táctica, leitura rápida do jogo, muita técnica e criatividade, muito critério na decisão e precisão na sua execução. Portanto, para mim é claro: além do que me custaria pessoalmente ver Ziv ou Cervi no banco, o Plano A deve passar pelo actual modelo com extremo puro ou, quanto muito, a optar-se por avançado interior como Plano A, seria com Jonas nessa posição e Jimenez no centro do ataque - como sugeres.

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    8. O senão é que Jonas não pode fazer tudo. Nomeadamente, se Jonas se mete nas tarefas de sapa da recuperação da bola nas alas não vai estar nas zonas onde pode causar desequilíbrios à séria, que são mais ao meio.

      Apesar de entre os dois estar como tu, o modelo do PP, desde que treinado (o que se faz nos treinos é para mim outra conversa) não é descabido.

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    9. Primeiro parágrafo: exacto, esse é o senão. Também por isso, continuo a preferir o modelo actual, que acho que está a resultar muito bem - Restelo à parte - e guardar a variante com avançado interior para Plano B.

      Segundo parágrafo: claro que não é descabida! Afinal, é do PP que se trata - não do BGB ou do Shadows 😉 Eu nunca disse que era descabida - só disse que discordo e porquê.

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