A lógica por detrás do voltar às origens por parte de Coentrão... e não só!
«Penso que, faltou-nos um médio esquerdo em campo, daqueles capazes de ocuparem zonas interiores e zonas laterais - Fábio Coentrão e Miguel Veloso têm de ser equacionados no futuro naquela posição. Se formos a ver bem, Tiago, André Gomes, João Moutinho, Danny, Cristiano Ronaldo e até mesmo Nani, são destros e têm tendência para quando na esquerda movimentarem-se para zonas centrais, ou seja para a direita. Com essas movimentações deixam sempre o único canhoto em campo, o Eliseu, sozinho. Ora isto faz abrir uma clareira entre o lateral, o central, o médio interior e o extremo do lado esquerdo. Sobretudo, quando em transição defensiva, pois apanha o Eliseu colado à linha lateral, pois faz parte da estratégia ele estar nessa posição para aproveitar o espaço livre em frente numa variação de jogo do lado direito para o esquerdo. Se a bola é interceptada nesse momento pelo adversário, o espaço entre o lateral. o central e o médio-interior esquerdos é enorme. Foi isso que sucedeu várias vezes na primeira parte e que injustamente culpabilizavam o lateral do Benfica.»
Era assim que escrevia após o amigável no Stade de France em Paris frente aos gauleses. Por isso é que não foi surpresa nenhuma a exibição de Fábio Coentrão frente à Sérvia no importante encontro de qualificação para o Europeu de 2016 em França. O mais interessante desse encontro foi verificar a importância de colocar os jogadores com as características certas para determinada posição, face aos nomes e qualidades dos jogadores e, inclusive, face aos processos de jogo da equipa. No estádio da Luz, viu-se um Portugal cujos processos de jogo estão longe de estarem consolidados (por exemplo, os momentos de transição estão tão mau ensaiados...), de qualquer forma, quando se coloca os jogadores certos nas posições certas (e sem olhar a nomes), as dinâmicas surgem com maior naturalidade. Vejam o trabalho que Coentrão executou neste encontro e vejam os trabalhos que outros jogadores destros tentaram fazer anteriormente (escrevo do Raúl Meireles, do André Gomes, do Tiago, etc).
Os adeptos, e alguns treinadores, têm a mania de colocar os "supostos" melhores em campo, custe o que custar. Esquecem-se é que muitas vezes, numa selecção os ditos "melhores" jogam nas mesmas posições, ocupam os mesmos espaços e até tendem a movimentarem-se de forma idêntica dentro de campo, com e sem bola. Se olharmos para o meio-campo, então verificamos que muitos dos nossos melhores jogadores jogam precisamente dessa maneira. Sendo assim, como têm características muito próximas tendem a anularem-se mutuamente dentro de campo. Por causa disso, criam desequilíbrios defensivos para a nossa selecção. Na diversidade é que está uma das chaves para o sucesso. Mas, atenção! Tal não significa que uma solução válida para uma equipa de sucesso também não passe por um grupo muito idêntico de jogadores. A questão é que o treinador terá muito mais trabalho para separar as funções que cada um terá de desempenhar em campo... Algo, que a diversidade faz de forma natural.
Olhando para a equipa que jogou frente à Sérvia, ainda existem afinações que o seleccionador poderá fazer para que tenha o menos esforço para colocar a equipa a jogar melhor e a dominar os vários momentos de jogo. Um deles tem a ver com a saída de bola na primeira fase de construção de jogo. E, este problema penso que poderá ser resolvido com um central mais tecnicista. Neste contexto, penso que fazia todo o sentido a convocatória de Miguel Veloso para essa função. Não é que o internacional Português esteja a jogar nessa posição no Dinamo de Kiev. No entanto, para controlar melhor o momento de transição defensiva, fazendo com que a linha defensiva esteja mais compacta com o meio-campo, um jogador como o Miguel Veloso poderia ajudar no controlo desse espaço em termos defensivos. Por exemplo, numa situação em que Fábio Coentrão abre na ala mas perde a bola, a equipa adversária neste momento fica de frente para um meio-campo com apenas Moutinho e Tiago. Com um Miguel Veloso mais próximo destes dois, na prática o adversário tinha de superar três adversários o que seria muito mais complicado. Por outro lado, em termos ofensivos a nossa qualidade de controlo da posse de bola subiria enormemente.
A outra afinação que faria era no ataque. Sinceramente, penso que Nani, Danny e até mesmo o Quaresma são tudo Ronaldo's "wannabes", na posição que eles mais preferem jogar. Contudo, nenhum deles tem o talento e a regularidade do madeirense. Por isso mesmo é que Danny não rende tanto de forma natural quando joga lá na frente. O mesmo acontecendo quando Nani joga agarrado à ala direita. Ou até mesmo quando o Quaresma tem de jogar frente a um adversário de maior nível. Como solucionar este problema? Simples. Destes 3, penso que apenas o Nani tem condições de manter a titularidade. Tanto o Danny como o Quaresma deveriam ser vistos como boas soluções vindas do banco de suplentes, pelo menos nesta fase. Sendo assim, qual seria o terceiro elemento no ataque? Mais uma vez, simples: Bernardo Silva! Com o jovem canhoto, o tridente da frente teria um elemento que poderia compensar e jogar nos espaços criados pelos outros dois. Da mesma forma que estes poderiam explorar os espaços criados pelo ex-pupilo das escolas do Benfica. E, se dúvidas houvessem sobre se o jovem está ou não preparado para o palco principal, penso que o jogo frente a Cabo Verde dissipou-as! Referir apenas que com o Bernardo Silva fazendo um tridente atacante com Nani e Ronaldo, poderíamos ter um dos mais perigosos tridentes do futebol mundial. Com liberdade ofensiva para ocuparem os espaços livres, mas com rigor defensivo para baixarem quando a equipa assim o necessitar, estes três poderiam à vez ocuparem as três funções necessárias num tridente atacante: criatividade/construção entre-linhas, profundidade/largura nas alas e finalização/objectividade na área adversária. Técnica, velocidade e potência, está lá tudo (à espera que Fernando Santos assim o decida)!
O jovem Bernardo Silva já deveria ser uma aposta de Fernando Santos para o Euro 2016. |
P.S.: Por falar de Portugal, o que dizer da vergonha frente à congénere de Cabo Verde? Isto é o que dá não ter uma identidade de jogo enraizada e trabalhada. Convocar os jogadores e colocá-los desta forma? Não, obrigado! O que nos vai safando é o talento luso... mas face a organização da maioria das potências europeias, se não nos pomos a pau, ou muito me engano ou vamos regressar aos anos 70 e 80 com selecções que nem às fases finais das grandes competições ia...
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