27 novembro 2014

Jornada 5: Zenit - Benfica


Com a segunda derrota a terceira derrota nesta competição, mas também com a vitória do Mónaco no Bayer Arena, o Benfica despede-se não só da Liga dos Campeões como também da Liga Europa, nesta temporada.
O jogo
Foi um encontro bem disputado a meio-campo, com poucas ocasiões de golo. O Zenit começou melhor o encontro com uma oportunidade para marcar. No entanto, o Benfica que mais uma vez entrou mal no jogo - sem a mentalidade e o à vontade que só a experiência nestes palcos trás - sofreu durante os minutos iniciais. À medida que a equipa começou a sentir um pouco mais confiante, começou a soltar-se e a equilibrar as manobras ao meio-campo. Perto do final da primeira parte, Salvio tem o golo nos pés, prontamente negado pelo guardião russo. Salientar que esta oportunidade embora clara era de difícil execução dada a movimentação do guarda-redes do Zenit e do pouco ângulo de remate.

Após uma primeira parte equilibrada, o Benfica entra na segunda parte a todo o gás. De tal forma que o Zenit fica completamente desnorteado. Para isso muito contribuíram as arrancadas do camisola 10 encarnado e alguns lances de bola parada do laboratório da Luz. Gaitán e Luisão poderiam ter feito muito melhor na cara do golo. Não o fizeram. Pouco tempo depois os treinadores começaram a jogar do banco. O primeiro a "mexer" foi o André Villas-Boas com duas substituições. A primeira para colmatar a saída por lesão do ex-Benfiquista Javi Garcia (as melhores "Ravi"!) e a segunda para dar um pouco mais de ajuda no ataque, com a entrada de um jogador mais ofensivo como o Shatov. Jesus ao ver esta mexida decide por fazer retirar o Talisca e meter um avançado, o Derley. Pouco depois, o Zenit chega ao golo. Notar que antes do golo os russos ainda tiveram dois lances de perigo protagonizados pelo brasileiro Hulk. Notar também que a exibição do brasileiro ao serviço do Zenit foi suplantada pela exibição do lateral português André Almeida. Este fez calar muitos críticos neste encontro, apesar da derrota.

Evolução táctica do Zenit e do Benfica no encontro da passada 4ª feira.
Destaque para o 4-4-2 camuflado de 4-2-3-1 de André Villas-Boas: um
meio-campo muito compacto e povoado com 4 elementos assimétricos
para proteger o flanco esquerdo (flanco direito encarnado).

O momento
Claramente o momento do encontro foi o golo do Danny, após enorme assistência do Hulk. Dou mais mérito ao ataque que propriamente à defesa encarnada. O camisola 7 do Zenit, à uns anos atrás, jamais teria visto o espaço e o passe que efectuou. Da mesma forma que o madeirense à uns anos atrás jamais teria procurado o espaço vazio, mas sim teria ficado à espera da bola nos pés. Há dedo do treinador, mas há muito mais que isso: experiência!

Experiência foi algo que faltou ao Benfica neste encontro e em muitos outros ao longo desta campanha na Liga dos Campeões. Experiência e entrosamento/identificação dos jogadores com as ideias de jogo da equipa de "Jota-Jota". O lance do golo do Zenit é disso bem demonstrativo. Qualquer que seja o ângulo da análise, ou seja, quer responsabilizemos o André Almeida por ter deixado a bola entrar nas suas costas, quer responsabilizemos o Jardel por não ter ganho ao russo na linha, quer responsabilizemos o Samaris por ter pensado que o Hulk ia rematar seco e assim ter deixado o Danny desmarcar-se nas suas costas, quer responsabilizemos o Luisão por pensar que o Maxi não estava perto para ser ele a tomar o seu marcador e o brasileiro dobrar a entrada de Danny,... quaisquer que sejam os ângulos, a responsabilidade é colectiva e advém de apenas do seguinte: falta de identificação das ideias de jogo, entrosamento, qualidade e experiência a este nível competitivo.
«Vamos lá ver uma coisa: o Benfica tem uma ideia de jogo, quem tem essa ideia de jogo sou eu. Como não sabe, pode fazer a pergunta e acho bem. O Talisca é um avançado do Benfica e não é um médio do Benfica. Entrou o Derley, saiu um avançado e entrou outro avançado. A jogada [em que o Benfica sofreu o golo] não teve nada a ver com a interferência posicional do Talisca ou Derley.»
por Jorge Jesus
Reparem que estes mesmos factores são retratados nas oportunidades de golo desperdiçadas neste encontro. O Benfica teve ao todo umas 4 ou 5 oportunidades de golo. O Zenit teve, reais, umas duas ou três. A eficácia demonstrada pelos russos, não é apenas porque têm maior ou menor qualidade que os jogadores encarnados. Simplesmente estão mais focados e bem identificados com o esquema táctico, que já vem de anos anteriores. Já o Jesus, tem que "formar" uma nova defesa, meio-campo e ataque, num sistema e modelo de jogo muito incomum e de alto risco no futebol mundial.

Eventos mais importantes no encontro entre o Zenit e o Benfica.
Embora tenham tido sensivelmente o mesmo número de lances de perigo,
o Benfica teve um número maior de lances de maior perigo que o Zenit.
Isto atesta um pouco o equilíbrio e a injustiça no resultado final. Mas,
também a qualidade e eficácia do ataque russo.

O contexto
Para a generalidade da opinião pública, que inclui uns quantos comentadores da "tribo do futebol", o desaire encarnado encontra resposta na substituição de Talisca por Derley. Para estes, a ideia base é que Jesus retirou um médio-ofensivo, que ajudava a dupla de meio-campo, para meter um avançado ponta-de-lança, deixando espaço na zona central do terreno. Escusado será dizer, que não só o Talisca estava a jogar como segundo-avançado/médio-ofensivo, como depois da entrada de Derley o Lima recuou no campo para fazer as funções do camisola 30. Escusado será dizer que a jogada que dá origem ao golo do Zenit, começa no seu guarda-redes e com os 11 jogadores encarnados atrás da bola! Escusado será dizer que antes do golo já o Zenit tinha chegado com perigo à baliza encarnado por duas vezes... Ou seja, culpabilizar o Jesus desta maneira, não está correcto. Até porque a verdadeira resposta para este falhanço já descrevi acima.

Contudo, considero muito mais interessante entender a ideia de Jesus ao colocar o Derley em campo, numa situação onde 80 a 90% das pessoas teria escolhido o reforço do meio-campo com mais um elemento. Na minha opinião, Jesus optou pelo camisola 9 encarnado por três factores. O primeiro, porque o Derley está num excelente momento de forma. O segundo, porque é das opções que tinha à disposição para o corredor central, aquela que estará mais adaptado às ideias de jogo do treinador. E, terceiro, porque com o estado do terreno a deteriorar-se rapidamente, a tendência do jogo seria de um estilo de passe mais directo, com bolas mais longas e com duelos pelas chamadas "segundas bolas" onde ter dois avançados poderia desequilibrar para o lado encarnado. Olhando para esta perspectiva faz todo o sentido, não acham? Reparem, nas outras opções no banco para o corredor central: Cristante (19 anos e com muito pouca experiência futebolística geral e de Liga dos Campeões em particular) e Pizzi (25 anos com alguma experiência futebolísitca internacional, mas em processo de readaptação posicional). Ambas as opções com menos minutos de jogo jogado esta temporada que a opção que foi a jogo: Derley.


6 comentários:

  1. sem querer tirar mérito à tua analise que esta muito bem fundamentada no entanto desvaloriza alguns aspectos.
    1-talista jogou a segundo avançado mas neste jogo em particular recuou bastas as vezes coisa que lima raramente o faz, ou faz menos bem, mesmo quando joga na mesma posição.
    2-se ele queria tirar o talisca punha o ola na esquerda e o gaitan no meio.
    3- a entrada do derley é bem vista mas nunca para o lugar do talisca mas sim do lima que não estava a jogar nada, alias não anda.
    4- a substituição não btem implicação no golo isso é óbvio e ninguém disse isso ou diz o que se diz é que a partir da substituição perdemos por completo o meio campo deixamos de atacar e ele voltaram a rondar a nossa área o que culminou no golo coisa que eles não tinham feito até à substituição.
    5-o problema foi que eles refrescaram o meio campo, mesmo sendo forçado, e por isso comeram a equilibrar e aqui só tinhas ou que o refrescar também ou reforça-lo mas a substituição que fazes só expõem ainda mais o meio campo e eles passaram a dominar.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bom dia João Carlos,

      A minha análise é uma tentativa de compreensão da decisão de Jesus. E sinceramente tem a sua lógica conforme escrevi no artigo.

      Escrito isto, não significa que a tua ideia, não seja igualmente válida. Se teria resultado melhor? Nunca o saberemos...

      Agora, tentando contra-argumentar segundo o que penso ter sido a ideia de Jesus, ao colocares o Ola John, que é um jogador mais macio na faixa que o Gaitán e é destro, perderias acutilança defensiva perante o lateral e o extremo mais perigoso do Zenit. Deixavas o André Almeida mais sozinho frente a 2 adversários. Por outro lado, e talvez mais importante, o estado do relvado no centro do terreno estava cada vez mais "papado", o que faria com que Nico tendesse a "patinar" mais...

      Sobre a coincidência de com a substituição ter coincidido com o melhor período do Zenit na segunda parte, recordo apenas que o André Villas-Boas, tinha feito duas substituições. Uma foi por causa da lesão do Javi Garcia (de seguida, explico porque penso que esta substituição influenciou a decisão de Jesus em fazeer entrar outro ponta-de-lança) e outra foi para tirar um médio-ala russo mais defensivo para colocar o criativo Oleg Shatov. E, para mim este sim foi o factor desequilibrador da partida.

      Eles não passaram a dominar bem o meio-campo. Eles simplesmente souberam foi efectuar boas transições rápidas. As duas chances que tiveram depois das suas substituições e antes do golo do Danny foi em transição ofensiva. A do golo foi mais demérito nosso e mérito da visão do Hulk do que ter mais um ou menos um médio. A verdade é que esse lance começou com todos os jogadores encarnados atrás da linha da bola!!!

      Repara que quando o Villas-Boas tira o seu melhor médio defensivo e o respectivo coadjuvante, Está a tentar subir as linhas. Em termos contabilísticos, fica um 8 (Maxi + Luisão + Jardel + André Almeida + Salvio + Samaris + Enzo + Nico) para 7 (6+1, com Fayzulin + Witsel + Danny + Sahtov + Hulk + Rondon + o lateral Anyukov), ou seja tínhamos sempre vantagem numérica! O Jesus ao colocar mais um avançado, está a criar um 2 (avançados) para 3 (defesas) o que cria maior carga de trabalhos para a defesa, sobretudo nos lances de futebol mais directo, onde um dos avançados disputa a bola com o central adversário e o outro espreita as segundas bolas. Durante esse tempo, faz com que a equipa encarnada suba no terreno, até aparecer os apoios nas faixas, onde Gaitán e Salvio apareceriam.

      Em suma, a colocação do Derley em campo era para explorar a zona defensiva central do Zenit, cuja protecção estava mais deficiente.

      Ah! Recordar que na primeira parte o habitual central pela esquerda, o belga Lombaerts tinha lesionado, facto que corrobora ainda mais este raciocínio.

      Já agora João Carlos, como refrescarias o meio-campo encarnado? Com o Cristante? O Pizzi? Jogadores ainda em formação nas respectivas posições?

      Para mim, o Benfica perdeu este e outros encontros na "Champions" por causa daquilo que referi no artigo: preço de formar jogadores de alto gabarito, preço da reforma da equipa.

      Eliminar
    2. tens razão se a minha, e a de outros, resultaria não sabemos nem ficaremos alguma vez a saber porque este treinador nunca por uma única vez a vai colocar em pratica já a que ele utilizou, tirar um médio ofensivo que esta a jogar como avançado e colocar um avançado puro, já esta mais que testada e o mais grave é que sempre com os mesmos resultados sempre que estas a ganhar ou empatado acabas o jogo empatado ou a perder.

      essa teoria sobre o gaitan não ir para o centro tem uma falha é que ele a seguir ao golo colocou-o no meio e não a segundo avançado mas a oito que ainda é pior.

      sobre a maneira do zenit vir para a frente estamos de acordo mas também nós o fizemos no inicio da segunda parte com pressão mais alta e com transições rápidas e deixas-te de o fazer quando o talisca saiu porque o lima joga mais adiantado e não esta a jogar nada e porque os dois do meio campo não valem por tres.

      não tem opção para reforçar o meio campo? eu até discordo no caso do cristante que fez um bom jogo para a taça no caso do pizzi estas certo mas isso levanta outra questão porque é que tens um avançado/extremos a ser adaptado a 8 um oito adaptado a 6 e um seis adaptado a lateral? não seria tipo melhor o samaris ser o 8 o andre o 6 e em vez do pizzi teres adquirido um lateral de qualidade em vez do benito que parece que para o treinador não serve?

      e o ano passado reformaste a equipa, não, e perdeste na mesma, e perdeste contra colossos como o apoel ou foste eliminado contra potencias como o celtic e isso não tem nada a ver com formação ou reforma.

      Eliminar
    3. A seguir ao golo, o Jesus arriscou tudo, daí ter metido o Gaitán no miolo. Repara que ele não colocou um Cristante ou um Pizzi, mas sim preferiu meter o Ola John na faixa e mudar o Nico para o miolo. Porquê? Mais uma vez apostou em quem está mais identificado com as suas ideias de jogo. Por exemplo, já não é a primeira vez que ele ensaia uma estratégia com Nico e Enzo no miolo. Penso mesmo que este é um plano B (ou C) que Jesus tem para esse tipo de situações. Se resulta ou não é outra discussão... ;)

      Com Derley e Lima lá na frente a pressão deveria manter-se até porque ambos são muito mais pressionantes. As transições rápidas do Zenit aconteceram por causa de um jogador: Shatov. Este não era como o jogador que ele substituiu e que ficava muito agarrado na posição. Este estava sempre a deambular pelo ataque russo. E, isso foi algo que deu água pela barba. Para além disso, a condição física dos jogadores encarnados já dava sinais de desgaste.

      Cristante e Pizzi são opções para a taça de Portugal e para as competições nacionais. Num jogo desta importância da liga dos Campeões, dificilmente o são. Não pela qualidade, mas por causa do conhecimento das ideias de jogo. É preciso tempo para que eles possam crescer.

      Quanto a essas questões, convido-te a ler o meu último artigo:
      http://o-guerreiro-da-luz.blogspot.pt/2014/11/reestruturacao-do-plantel.html

      No ano passado, recordo que o Benfica perdeu porque andou a reformar um pouco a equipa. As entradas de Fejsa, de Siqueira, de Cortez, de André Gomes,... na equipa na primeira metade da temporada custaram-nos uma fase de grupos na liga dos Campeões, mas depois pagou-nos uma final na liga Europa. A diferença é que na época passada havia mais jogadores no onze identificados com as ideias do treinador. Este ano... já não.

      Eliminar
    4. sobre o nico lá esta poderia o ter colocado no meio no desespero a 8 não funciona.

      deveria funcionar não sei se deveria pressão fazem eles recuperar bolas acho que nenhum deles recupera, mas quase sempre contra equipas do mesmo nivel que o nosso dois avançados puros não resulta sejam quais sejam eles.

      então porque é que se deu a titularidade ao cristante na alemanha? não servem para vinte minutos? o que só serve para as taças e paras as competições nacionais é esta tactica para as competições europeias raramente funciona, então com clubes do mesmo nível ou superior é que nunca funcionou.

      não andou a reformar nada a única posição que mudou foi o de defesa esquerdo o resto veio da época passada, o fejsa era suplente do matic o andre gomes nem jogou na campions e o cortez nem inscrito estava.
      mesmo com jogadores mais identificados com o treinador ficaste em terceiro na champions num grupo acessível.

      Eliminar
    5. João Carlos,

      Ele colocou o Nico no centro e fez subir as linhas defensivas para pressionar o adversário nos 10 minutos finais. Nem sempre resultou por uma quantidade de factores, inclusive o estado do campo, que como tinha dito anteriormente tinha sido um dos factores para ele ter apostado noutro avançado em vez de um terceiro médio.

      Gaitán, Enzo, Salvio e Ola John, assim como a dupla atacante recuperam a bola, se a pressão for bem feita. Para isso, é preciso que as linhas estejam bem juntas, ou seja, a equipa esteja compacta. Foi essa a ideia nos minutos finais. Se a equipa conseguiu demonstrar em campo, isso é outra história...

      O Jesus deu a titularidade ao Cristante para avaliá-lo num contexto exigente. Como não gostou do que viu tirou-o logo ao intervalo...

      Percebo o que dizes sobre o 4-4-2 na Liga dos Campeões, mas tens de perceber a posição do Jesus: é esse o esquema que ele trabalha diariamente com os seus jogadores, e é esse o esquema que ele está a dar formação à maioria dos novos jogadores. Se estes já têm dificuldade em se adaptarem, imagina o que seria ele trabalhar com dois esquemas ou três esquemas? É que trabalhar os esquemas não é apenas o posicionamento. Isso talvez os jogadores mais inteligentes conseguem compreender. Agora, trabalhar as rotinas de compensação defensiva e ofensiva, é outra história... é preciso muito trabalho diário. Talvez resultasse a introdução de um 4-2-3-1 com jogadores como Fejsa e Rúben Amorim em forma, pois são jogadores que já têm o 4-4-2 bem assimilado e assim facilmente se adaptariam a outro sistema. Agora, com miúdos como Talisca e Cristante e jogadores recém-chegados como o Samaris e o Derley, é diferente.

      Na época passada, foram muitas as entradas. O Fejsa chegou e após algum tempo inicial lesionou-se. No campeonato, nem sempre era titular. Na esquerda, ora jogava o Cortez no campeonato, ora jogava o Siqueira até se lesionar, ora jogava o Silvio. Ou seja, raramente o Jesus conseguiu colocar um onze titular. Depois, não te podes esquecer que ficámos sem o Salvio boa parte da temporada e o Markovic estava a dar os seus primeiros passos e era ainda muito inconstante. Foram muitas mexidas, quer se queira ou não!

      Dito isto, é óbvio que deveríamos ter feito muito mais, mas também não acho que devemos crucificar o Jesus por isso.

      ;)

      Eliminar