... outras selecções estão a evoluir.
Olhamos para o onze de Fernando Santos frente à Holanda e vemos claramente qualidade mais do que suficiente para ganhar à equipa de Koeman. No entanto, a pesada derrota, deveu-se a vários equívocos que prendem-se pelo não entendimento do que deverá ser o nosso modelo de jogo. A primeira questão que coloco é saber se é o seleccionador que não sabe bem o que quer, se são os jogadores que não souberam interpretar as ideias de jogo. Pelas declarações do treinador nacional, acho que há um misto de ambos, se bem que... a culpa é dos jogadores. Senão vejamos:
«Podia ter corrido melhor, mas a responsabilidade da derrota é minha.»
Por Fernando Santos
Penso que ele aqui quis retirar a pressão sobre os seus jogadores. Como líder máximo, fez o seu papel de dar o corpo às balas. Contudo, para aquilo que diz a seguir...
«Fui eu que escolhi, tinha observado o adversário, montado a estratégia para que tivéssemos posse de bola e penso que nos 10 minutos iniciais tínhamos bola e circulávamos bem.»
Por Fernando Santos
... acho que ficou um pouco aquém, pelo que vimos em campo. Reparem como o seleccionador preparou uma estratégia de posse de bola. Por esse motivo é que colocou em campo médios com a qualidade técnica de André Gomes, Adrien Silva, Bruno Fernandes e Manuel Fernandes, assim como Ricardo Quaresma que, apesar de já não ter a velocidade de outros tempos, é o jogador que melhor relaciona e decide em termos ofensivos, neste momento na selecção nacional. Trata-se de 5 jogadores que gostam de receber a redondinha no pé e não tanto no espaço. Para isso é preciso que a equipa jogue em ataque posicional, ou seja, em posse de bola e bem dentro do meio-campo adversário. Se concedermos a verticalidade dos corredores ao João Cancelo e ao Mário Rui que são dois laterais ofensivos, começamos a perceber a ideia por detrás deste onze. Contudo, faltou dinâmicas, faltou treino para aqueles jogadores assimilarem bem as ideias de jogo. Por exemplo, o Cancelo invariavelmente tinha de jogar longo para o Quaresma no flanco direito, porque a opção interior quer seja do Adrien, ou do André Gomes ou até do Bruno Fernandes, pura e simplesmente, não existia ou estava fechada.
As perdas de bola no nosso ataque, com um meio-campo mal posicionado e sem ninguém saber realmente quais as suas funções, deixaram espaço e tempo para as transições ofensivas holandesas fazerem mossa na nossa defesa. E, para juntar ao baile, a nossa dupla de centrais passou o jogo todo a jogar em contenção quando num modelo de posse de bola têm de ser muito mais agressivos e intensos no momento de reacção à perda, mantendo ao máximo a linha defensiva alta. Neste contexto, o Rolando e o José Fonte passaram com nota negativa. Aliás, também não percebi a ideia do Fernando Santos em colocar o Rolando sobre a meia-esquerda, quando em França essa era a posição do Fonte. Portanto, há culpas por parte do seleccionador, mas também sou-vos sincero, ver o André Gomes e o Adrien a descerem os dois como médios-defensivos e depois deixarem espaço para o meio-campo holandês poder rematar de longe... é incompreensível. Pergunto, onde estão os princípios básicos do futebol? É que já nem sequer falo da atitude e da prosa que temos sempre nestes encontros. Isso já é cultural, mas é o reflexo de como fazemos as coisas. O português tem a tendência para adiar o inadiável. Deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, sempre foi assim. Esta atitude relaxada, tanto dos jogadores, como também do nosso treino, aliado a uma ideia de jogo pouco realista face ao trabalho que requer para colocá-la a funcionar como se pretende, tinha de dar nesta pesada derrota aos pés de uma jovem selecção holandesa.
Jogar em posse não é para todos. Que o diga a Argentina que saiu vergada por 6 a 1 frente à La Roja, no particular em Espanha. Para quem viu apenas o resumo do jogo, ficará com a sensação de que os argentinos foram completamente atropelados e que não jogam nada. Mas, para quem viu o jogo, nomeadamente os primeiros 15 a 20 minutos, percebe o quão renhido e espectacular o jogo estava a ser. Aliás, a primeira grande oportunidade de golo foi por intermédio de Pipita Higuaín que falha, à frente da baliza de De Gea, de forma irreconhecível. A selecção albiceleste, sem Messi, nem Di Maria, nem Agüero, nem Dybala no onze titular (reparem bem neste pequeno, mas grande pormenor!), conseguiu durante esse período fazer um jogo de posse, apesar da pressão inteligente e correcta dos espanhóis. Estes por sua vez davam réplica aos argentinos, com os sul-americanos a responderem da mesma moeda em termos defensivos. Tudo isto a ser disputado num ritmo de competição, muito longe de um "particular" como "nós" concebemos que seja (saliento isto para reforçar o grau de exigência com que abordamos os nossos particulares comparados com estas selecções). Ou seja, vi neste jogo duas equipas a tentarem praticar futebol inteligente. Correr sim, mas com critério. Transportar sim, mas preferir sempre o apoio com o colega. Desmarcar-se sim, mas para criar espaço para os colegas. Intensidade sim, mas para encurtar espaços e reduzir o campo útil de jogo. Vi muito trabalho já efectuado tanto pelo Lopetegui (como é possível?!), como pelo Sampaoli, e fiquei a pensar o quanto a nossa selecção está longe deste futebol. Evoluímos pouco ou nada.
Podemos colocar as peças em campo, i.e., os jogadores com as características semelhantes às dos espanhóis. Por exemplo, Lopetegui jogou com Thiago, Koke, Iniesta, Isco e Asensio, tudo jogadores de bola no pé, deixando apenas o Diego Costa lá na frente. Mas, a inteligência de jogo destes jogadores é por demais evidente. E, olhem que já não é uma questão de "espinha dorsal do Barcelona", pois Koke, Isco e Asensio tiveram outras escolas. O que noto é que, de há uns anos a esta parte, em Espanha tem havido o culto pelo jogador inteligente. Mais do que ensinar jogar em sistemas de jogos pré-definidos, a formação em Espanha tende a ensinar aos jogadores os princípios básicos do futebol. É por isso, que quando entra um Azpilicueta no onze, para o lugar de Piqué, a equipa adapta-se rapidamente à forma de jogar deste defesa. O Ramos deixa de ser o central mais agressivo, para ser ele o que fica na dobra, por exemplo. Mas, a forma pressionante e subida da linha defensiva mantém-se. Da mesma forma, Thiago, Koke e Iniesta, que muitas vezes são jogadores que fazem as mesmas funções nos seus clubes, conseguem redistribuir e bem as suas funções quando jogam juntos. Haverá dedo do seleccionador espanhol, como é óbvio, mas parece-me que os jogadores já têm a formatação correcta para facilmente se adaptarem. Enquanto os "tugas" parece que têm de aprender ainda o b-a-bá futebolístico.
Referir ainda, nesta semana de selecções, para o encontro em Berlim que opôs as poderosas selecções alemã e brasileira. Frente a frente o poderio físico contra o talento puro, ou será que continua a ser assim? Realmente, o mundo está em constante mudança e isto serve também para o futebol. Outrora a mannschaft era reconhecida pelo seu futebol físico, hoje em dia eles perseguem a perfeição técnica. Por seu turno, o escrete está cada vez mais físico, ainda para mais sem o talentoso Neymar. Quem diria, não é verdade? Contudo, olhando um pouco para trás, facilmente percebemos essa tendência. Após aquela selecção de Telé Santana, a do futebol arte que esbarrou contra a parede transalpina de uma squadra azzurra de marcação individual e com um diabólico Rossi, isto no mundial '82 em Espanha, os brasileiros sentiram o baque. Penso que esse jogo foi traumático para os brasileiros. A partir desse momento, foram muito mais pragmáticos nas suas abordagens aos jogos. Foi daí que começaram a surgir onzes com duplo pivô defensivo, como aquele com que sagraram tetracampeões. Num momento, em que Scolari parecia estar a querer trazer esse futebol arte, no mundial de 2014 no Brasil, acontece novo desaire frente aos poderosos alemães. Não deixa de ser curioso, a equipa que fez os brasileiros ficarem inseguros, foi aquela que fez espanhóis e alemães sonharem em jogar tão bem como eles...
Bem, mas o que vale é que o futuro da selecção nacional será encarnado... agora com a parte 2:
«Eles exploraram bem os corredores laterais e tivemos muitas dificuldades na primeira parte. O comportamento global não foi adequado e não conseguimos sair em contra-ataque.»
Por Fernando Santos
As perdas de bola no nosso ataque, com um meio-campo mal posicionado e sem ninguém saber realmente quais as suas funções, deixaram espaço e tempo para as transições ofensivas holandesas fazerem mossa na nossa defesa. E, para juntar ao baile, a nossa dupla de centrais passou o jogo todo a jogar em contenção quando num modelo de posse de bola têm de ser muito mais agressivos e intensos no momento de reacção à perda, mantendo ao máximo a linha defensiva alta. Neste contexto, o Rolando e o José Fonte passaram com nota negativa. Aliás, também não percebi a ideia do Fernando Santos em colocar o Rolando sobre a meia-esquerda, quando em França essa era a posição do Fonte. Portanto, há culpas por parte do seleccionador, mas também sou-vos sincero, ver o André Gomes e o Adrien a descerem os dois como médios-defensivos e depois deixarem espaço para o meio-campo holandês poder rematar de longe... é incompreensível. Pergunto, onde estão os princípios básicos do futebol? É que já nem sequer falo da atitude e da prosa que temos sempre nestes encontros. Isso já é cultural, mas é o reflexo de como fazemos as coisas. O português tem a tendência para adiar o inadiável. Deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, sempre foi assim. Esta atitude relaxada, tanto dos jogadores, como também do nosso treino, aliado a uma ideia de jogo pouco realista face ao trabalho que requer para colocá-la a funcionar como se pretende, tinha de dar nesta pesada derrota aos pés de uma jovem selecção holandesa.
Este é o nosso 11 inicial para o jogo frente à Holanda! Vamos, Portugal! #ConquistaOSonho pic.twitter.com/zFtsOe9C2X— Portugal (@selecaoportugal) 26 de março de 2018
Jogar em posse não é para todos. Que o diga a Argentina que saiu vergada por 6 a 1 frente à La Roja, no particular em Espanha. Para quem viu apenas o resumo do jogo, ficará com a sensação de que os argentinos foram completamente atropelados e que não jogam nada. Mas, para quem viu o jogo, nomeadamente os primeiros 15 a 20 minutos, percebe o quão renhido e espectacular o jogo estava a ser. Aliás, a primeira grande oportunidade de golo foi por intermédio de Pipita Higuaín que falha, à frente da baliza de De Gea, de forma irreconhecível. A selecção albiceleste, sem Messi, nem Di Maria, nem Agüero, nem Dybala no onze titular (reparem bem neste pequeno, mas grande pormenor!), conseguiu durante esse período fazer um jogo de posse, apesar da pressão inteligente e correcta dos espanhóis. Estes por sua vez davam réplica aos argentinos, com os sul-americanos a responderem da mesma moeda em termos defensivos. Tudo isto a ser disputado num ritmo de competição, muito longe de um "particular" como "nós" concebemos que seja (saliento isto para reforçar o grau de exigência com que abordamos os nossos particulares comparados com estas selecções). Ou seja, vi neste jogo duas equipas a tentarem praticar futebol inteligente. Correr sim, mas com critério. Transportar sim, mas preferir sempre o apoio com o colega. Desmarcar-se sim, mas para criar espaço para os colegas. Intensidade sim, mas para encurtar espaços e reduzir o campo útil de jogo. Vi muito trabalho já efectuado tanto pelo Lopetegui (como é possível?!), como pelo Sampaoli, e fiquei a pensar o quanto a nossa selecção está longe deste futebol. Evoluímos pouco ou nada.
Bem, mas o que vale é que o futuro da selecção nacional será encarnado... agora com a parte 2:
Pois eu até acho que estes jogos da equipa da Federação correram bem - nenhum jogador do Benfica se lesionou!
ResponderEliminarEm relação ao futebol jogado, acho que primeiro que tudo, o Fernando Santos tem que decidir se quer jogar essencialmente em posse ou essencialmente em transição, como fez no Euro. Se for para jogar em posse, parece-me que tem de utilizar uma referência na área, não pode ser o Ronaldo o jogador mais avançado. Outra coisa que me faz confusão é a mania de colocar vários jogadores fora da sua melhor posição. Por muito bons que eles sejam, e são, só podem render o seu melhor se jogarem onde são melhores. Por exemplo, com a Holanda meteu o Manuel Fernandes a falso extremo esquerdo - quando passou para o meio começou logo a jogar muito melhor. Meteu o Bruno Fernandes a segundo avançado - quando baixou no terreno começou logo a jogar muito melhor. Isto para além de ter jogado sem um 6 (o Adrien e o André Gomes andavam completamente perdidos em campo) e sem um ponta-de-lança.
O engenheiro do Euro tem actualmente mais e melhores jogadores à sua disposição do que teve em França. Será que isso vai funcionar contra ele?
Olha que o Manelele joga nessa posição no Lokomotiv. Acho que isso até é uma falsa questão.
EliminarO problema da equipa nem sequer foi o Cancelo como tentaram fazer passar. O problema esteve no quarteto Rolando, Fonte, André Gomes e Adrien Silva. Eles simplesmente não souberam posicionarem-se em campo, nos vários momentos do jogo.
O Ronaldo como ponta de lança é bem visto. Agora, tal como acontecia com o Jonas no tempo do Jesus, se não houver qualidade de jogo atrás dele, ele não tem bola, mas se tiver qualidade como tem agora com o Vitória, é simplesmente o melhor jogador do mundo.
Há coisas que devem ser treinadas, mas também há coisas que os jogadores têm já de saber... Pelos vistos os jogadores em Portugal não gostam de pensar...
Tinha ideia que no Lokomotiv o Manel Fernandes joga a interior pela meia esquerda e não tão aberto como na primeira parte frente à Holanda. Em todo o caso, é jogador de organização, de corredor central, dificilmente pode render o mesmo a explorar um flanco.
EliminarTambém o Ronaldo rende muito mais se tiver à sua frente (ou ao lado) um Benzema ou um André Silva a segurar e a arrastar os centrais adversários. Não quer dizer que não possa ser ele o ponta-de-lança, sobretudo se jogarmos em contra-ataque, mas a ideia deverá ser maximizar as potencialidades de todos os jogadores, e em especial do Ronaldo.
Um seleccionador não tem tempo para treinar, muito menos para adaptar os jogadores a novas funções. Fica bem mais fácil se utilizar os jogadores nas posições e funções a que eles estão habituados nos clubes. Já basta a dificuldade, no caso de Portugal, de não haver uma ou duas equipas que sirvam de base à Selecção para aproveitar rotinas já trabalhadas
Eu penso que a ideia do Fernando Santos era a de transformar um 4-2-3-1 sem bola num 4-1-3-2 com bola. O problema foi a interpretação desse modelo pelo Adrien e o Gomes, mas também dos dois centrais.
EliminarO Lopetegui também tem o mesmo tempo e conseguiu implementar um modelo sem médios defensivos e cujos "extremos" eram Isco e Asensio... A diferença está mesmo na inteligência dos jogadores.
O Isco e o Asensio, principalmente este, estão habituados a jogar a extremos.
EliminarO Fernando Santos complicou e a coisa correu mal. Mas foi só um teste. Quando for a sério, acho que ficamos tão mais próximo de ganhar quantos mais jogadores jogarem nas suas melhores posições e funções. Acho que é por aí que se deve trabalhar numa selecção.
Um teste que é para ter uma atitude séria e de exigência. Gostava de ter ouvido da boca dos jogadores nacionais o mesmo que o Kroos falou depois do jogo contra o Brasil em Berlim.
EliminarSem atitude não há tácticas nem estratégias que funcionem, de acordo. Mas quando o plano de jogo está mal feito, os jogadores não acreditam e as coisas não funcionam. Neste caso do Portugal-Holanda a derrota começou no onze escolhido e na distribuição de tarefas do Fernando Santos. Mas pronto, que tenha servido para alguma coisa.
EliminarNão acho que o plano de jogo tenha estado mal feito. Acho sim que falta inteligência aos executantes para o executarem.
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