08 outubro 2016

Adormecemos muito...


Não poderia estar mais de acordo com o selecionador nacional.


A exigência de um campeão europeu
Foi uma vitória expressiva frente ao Andorra, disso ninguém duvida. Por isso mesmo, muitos questionarão o porquê de Fernando Santos, mesmo vendo a sua equipa a golear, permanece com um semblante carregado e com cara de poucos amigos. A explicação é simples: exigência e brio em fazer mais e melhor. E, quando assim o é, nada a apontar. Aliás, só tenho de elogiar e deixar aqui todo o meu apoio. É verdade que Portugal fez meia dúzia, mas ontem tinha condições para quebrar um recorde de golos marcados que levariam com toda a certeza ao dobro dos dígitos no marcador final.

Somos o campeão da Europa em título e após o desaire na primeira jornada desta fase de qualificação para o mundial da Rússia em 2018, frente à Suiça, é preciso retomar o foco competitivo. Num grupo B, onde contamos com a presença dos suíços, mas também dos húngaros, as restantes seleções estão praticamente lá para fazer número, pois senão vejamos: Letónia, Ilhas Faroé e Andorra. Tirando os confrontos directos entre Suiça, Hungria e Portugal, não podemos contar com o possível trabalho que as restantes seleções possam desenvolver para nos ajudar em caso de necessidade. Isso seria contar com o ovo no cu da galinha e como tal, contraproducente. Mais a mais, não nos podemos esquecer que só apenas o líder do grupo se apura para o campeonato do mundo, não havendo outras hipóteses. Assim sendo, o que temos de fazer é ganhar todos os nossos jogos. Só isso nos garante a vantagem. Ah! E não esquecer vencer a Suiça por mais de 2 bolas...

Por tudo isto, faz todo o sentido esta exigência por parte de Fernando Santos. Até mesmo, para quem está agora a entrar no grupo da seleção. É que ao contrário do que muitos treinadores de clubes podem pensar, os jogadores não podem, nem devem, ir a estes compromissos da seleção como se fossem passar uns dias de férias fora. Têm de ir com espírito de missão e dar tudo, tal como fazem nos seus clubes. Isto é o que as seleções pedem dos jogadores e das equipas. Por outro lado, os clubes e os jogadores, pedem é que os selecionadores não forcem possíveis lesões dos atletas. Daí que concorde com a opção de não utilização de Nani no jogo frente à Andorra e frente às Ilhas Faroé. O português não está a 100%, logo não deve jogar. Espero é que esta decisão seja comum para todos os jogadores, inclusive, para o Cristiano Ronaldo.


Mais um recorde quebrado
O capitão da seleção nacional quebra mais um recorde pessoal na equipa das quinas ao marcar 4 golos num só jogo. Um feito que apenas mais 3 jogadores lusos atingiram: Eusébio (1966), Nuno Gomes (2001) e Pauleta (2003). Mas, não é apenas no número de golos marcados que o Ronaldo se destacou neste encontro. Também na rapidez com que bisou na partida, CR7 quebra um recorde mundial: o bis mais rápido da história de todas as fases de apuramento e fases finais de mundiais. E aqui, se inclui todas as zonas do planeta onde se jogam estas fases de apuramento e fases finais. É obra! Só por curiosidade, o recorde pertencia ao extremo belga Enzo Scifo, que em 1993 bisou frente ao Chipre em 5 minutos. Uma coisa é certa, o Ronaldo está num grupo onde poderá facilmente chegar ao topo dos melhores marcadores das seleções. Poderá tentar quebrar o recorde de 5 golos marcados num só jogo da seleção nacional já frente à seleção das Ilhas Faroé.

Destacar a técnica apurada de finalização de Cristiano Ronaldo. Quase todos os 4 golos foram de um índice de dificuldade elevada. O primeiro, ele tinha acabado de ser derrubado dentro da grande área, consegue levantar-se rapidamente e de primeira, com o seu "pior" pé (o esquerdo, embora ele seja ambidextro), sem deixar cair a bola, coloca-a no canto para um golo indefensável. No segundo, um cabeceamento como manda a regras. Parece fácil, mas o seu tempo de salto, a colocação e a força que dá à bola são perfeitos. Basta reparar nas tentativas falhadas de José Fonte e de André Silva durante a partida, para percebermos que estes grandes jogadores, fazem parecer tudo mais fácil. Por falar no jovem ponta-de-lança, gosto da sua entrega, mas a falhar golos como falha, se estivesse no Benfica, seria logo considerado um Nélson Oliveira. Escrevo isto não porque acho que o miúdo vai ser um bom ponta-de-lança, mas sim porque acho que o Nélson Oliveira foi um pouco vítima de uma má imprensa que não o protegeu o suficiente quando falhava golos, como tem acontecido com o André Silva. Este ainda vai ter muito que aprender e evoluir, mas isso faz parte do processo. Que agradeça no futuro, a quem o apoiou e apostou nele, pois essa é a grande diferença. Voltando aos golos do Ronado, o terceiro é de uma dificuldade brutal. A bola centrada por André Gomes vem muito tensa para poder passar pela floresta defensiva da Andorra. Mas, só um grande jogador com o CR7 para fazer parecer fácil aquela finalização de primeira. A maioria ou batia na canela, ou seria "3 pontos" para a bancada. Da mesma forma, o quarto golo, outra vez com o pé esquerdo, também é um hino à técnica. Finalmente, temos um goleador! Não era isto que nos faltava nos anos 80 e 90 para sermos uma seleção para jogar finais? Cá está ele. Agora, é só aproveitar!


Um modelo com potencial
O que é que vos tinha dito ontem sobre o modelo que mais beneficiaria o Ronaldo e a forma de jogar da seleção. Até parece que o Fernando Santos ouviu as minhas preces. Sentiram a falta de um médio-defensivo de raiz no meio-campo? Que jogão fez o André Gomes, não é verdade? E, já agora o João Moutinho que parece estar de volta ao seu melhor nível. Penso que acabámos por encontrar o sistema que melhor interpreta as característica dos jogadores nacionais. Não deixa de ser engraçado que esta readopção do 4-4-2 por parte da equipa das quinas, coincida com a nova hegemonia do Benfica em Portugal. É que é precisamente, neste esquema que o Benfica tem vindo jogando e ganhando. Penso que isto não é apenas uma coincidência, mas sim um reflexo dessa hegemonia.

Mas, ainda há muito espaço para evoluir. Em primeiro lugar, fiquei com a clara sensação de que não havia necessidade de jogar com dois centrais ontem. Com um Portugal a encostar o adversário completamente às cordas, penso que a dupla de defesas centrais deveria ser formada por um central de raiz e um dos médios defensivos puros que temos em mãos. Na minha opinião e olhando para as características dos jogadores, apostaria em duas duplas. Uma delas seria Pepe e William de Carvalho, pois a velocidade do luso-brasileiro, poderia compensar um pouco a lentidão do William. Por sua vez o sentido posicional e de equilíbrio deste, poderia ser uma mais valia ao meio-campo da seleção. A outra dupla seria formada por José Fonte e Danilo Pereira, com este último com grande liberdade para subir no terreno e queimar linhas, tendo as costas protegidas pelo capitão do Southampton. Quanto ao Bruno Alves, penso que mais tarde ou mais cedo ele sairá do núcleo da seleção nacional. E, sobre o Rúben Semedo, vejo-o ainda demasiado verde para estas andanças.

Ora, se Danilo Pereira e William Carvalho descem para a linha defensiva, quem serão os médios-centro? Os titulares, penso que já encontrámos: André Gomes e João Moutinho. Os suplentes são quanto a mim o João Mário e o Renato Sanches, sobrando ainda o Adrien, e muito provavelmente, no final desta época, o André Horta. Nas alas, Bernardo Silva muito em breve vai vestir a camisola 10 da equipa, está mais do que nas vistas. Fez ontem um jogão e está cada vez mais dentro das ideias de jogo de Fernando Santos. Jogando da direita e flectindo para dentro será sempre uma ameaça brutal. O seu suplente será o Gelson Martins, que será um jogador muito mais vertical, no sentido de procurar a linha de fundo e menos combinações com o lateral. Quando este jogar, espero que Éder esteja em campo, pois deverá ser o jogador que melhor retirará proveito dentro da grande área do trabalho do Gelson. Do lado esquerdo, Ricardo Quaresma pode ter ganho a titularidade ontem. E, para vos ser franco, gostei imenso da sua entrega e atitude em campo. Foi dos poucos que não adormeceu e esteve focado no jogo. Caso para perguntar, o que aconteceu ao velho Quaresma? O que é certo é que este é bem melhor! Continua assim Ricardo! Em termos de equilíbrio da equipa penso que ele e o Bernardo, equilibram bem aquele meio-campo. Para seu suplente, e quando o Gelson jogar do outro lado, apostaria no Pizzi. Assim poderia equilibrar de uma forma semelhante à dupla Bernardo e Ricardo. Ou seja, um jogador mais vertical e outro mais interior.

No ataque, Cristiano Ronaldo está de pé e cal. O Nani quando recuperar deverá ser o seu companheiro de sector. Já o Éder será o ponta-de-lança a ser lançado em jogos mais complicados. E, quanto ao André Silva, deverá crescer e aproveitar o espaço quando Nani e Ronaldo não puderem jogar sempre. Depois, ainda vamos ver o que o Nélson Oliveira conseguirá fazer esta temporada. Por outro lado, José Gomes do Benfica começa a aparecer e tenho um pressentimento que se "arrebentar" terá hipóteses de entrar na seleção. Quanto à baliza, está bem entregue. Rui Patrício é o titular, e depois há Anthony Lopes e agora Marafona. Quanto às laterais, estamos muito fortes. Na direita, há Cédric Soares, João Cancelo e Nélson Semedo. Tenho poucas dúvidas que os formandos da Luz disputarão o lugar num futuro próximo. Já na ala esquerda, o Guerreiro será titularíssimo, pelo menos até Coentrão recuperar. Antunes será o suplente, havendo sempre recurso a Eliseu, mas só se este conseguir recuperar o lugar no Benfica, o que parece difícil pelo menos até janeiro.


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