Ainda acerca do último jogo do Benfica para a Liga dos Campeões, na passada quarta-feira em Camp Nou, frente ao poderoso Barcelona, formulei algumas ideias gostaria de partilhar com os leitores acerca destas duas equipas e com os quais o Benfica penso que poderá tirar partido.
Surpresas nos onzes titulares
Dois onzes com muitas surpresas de parte a parte. |
Os "Rodriguinhos" do Barcelona
Posicionamento global dos jogadores do Barcelona frente ao Benfica (UEFA.com) |
O Barcelona entrou em campo, frente ao Benfica, com um onze repleto de juventude, mas liderado na defesa por dois veteranos, como são o guardião Pinto (#13) e o capitão Puyol (#5). Ao lado deste, a escolha recaiu sobre o polivalente defesa brasileiro Adriano (#21), que esta temporada tem dado mostras que também pode ser uma alternativa à posição de central. Aliás, eu do que vi em campo, até gostei, pois não foram raras as vezes que ele conseguiu ir interceptar jogadores encarnados que apareciam nas costas da sua defesa, tal a sua velocidade. Nas laterais, dois miúdos: Montoya (#19), a lateral direito, e Planas (#29), a lateral esquerdo. Se o primeiro, já tem alguma experiência com a primeira equipa, tendo mesmo alguns minutos de jogo na Liga dos Campeões, o segundo é quase uma autêntica estreia. o mesmo esquema táctico com que joga. No meio-campo, Song (#29) fez de Busquets, mesmo que estando em risco de ficar suspenso por acumulação de amarelos na próxima fase, se visse um frente ao Benfica. A meu ver foi outra decisão arrojada do técnico espanhol,neste encontro. Mais à frente, jogaram o Thiago Alcântara (#11), um dos maiores talentos da sua geração, e o miúdo Sergi Roberto (#28). Enquanto que o filho da ex-glória brasileira Mazinho, fazia de Xavi a meio-campo, o jovem Sergi Roberto fazia de Iniesta ou Fàbregas. Na frente, o trio era constituído pelo irmão de Thiago Alcântara, o Rafinha (#30) sobre a direita, por Tello (#37) sobre a esquerda e David Villa (#7) ao cento, a tentar fazer de Messi.
Evolução táctica do Barcelona frente ao Benfica (UEFA.com) |
Em termos tácticos, o Barcelona pretendia ser igual a si próprio, partindo de uma base de 4-3-3, com a dinâmica de jogadores como Sergi Roberto e Thiago Alcântara, ter a hibridez necessária para se converter num 4-2-3-1 e num 4-2-4, consoante o desenrolar do jogo. Pelo menos, era essa a ideia de jogo do Tito Vilanova. A figura acima demonstra a disposição em campo no total dos 90 minutos de jogo frente ao Benfica. Contudo, na figura ao lado, podemos ver a dinâmica do onze, durante os diversos momentos de jogo. Por ela, nota-se que a ideia do técnico espanhol não foi completamente colocada em prática.
Nos primeiros 30 minutos de jogo, o 4-3-3 do Barcelona mais parecia um 5-2-3, tal era a dificuldade de sair da pressão alta e intensa a campo inteiro com que o Benfica iniciou o jogo. Song, era na prática um terceiro central. E, se esse posicionamento conferia linhas de passe para uma primeira fase de construção, a verdade é que o meio-campo pouco rotinado formado por Thiago e Roberto, mas também ao não recuo de Villa, que não é como o Messi, que vem buscar jogo atrás, e ao facto de tanto Tello como Rafinha estarem demasiados fixos nas alas, levou a que o Barcelona não conseguisse desenvolver o seu jogo nesses instantes iniciais. Facilmente, o Barça perdia a bola, se bem que momentos a seguir conseguisse recuperá-la. Mas, este foi um período fértil em oportunidades de golo concedidas ao Benfica.
Nos últimos 15 minutos da primeira parte, para colmatar estes erros catalães, Tito pediu para Rafinha descer um pouco mais no terreno e procurar espaços mais interiores. Assim, conseguiu equilibrar um pouco mais as operações a meio-campo. E, com um Benfica a perder gás com que iniciara o encontro, o Barcelona, lá criou uma ou outra oportunidade de maior perigo para a defesa encarnada.
Na segunda parte, o Barcelona começa o jogo, nos primeiros 15 minutos, da mesma forma como termina a primeira parte, em termos tácticos. No entanto, a dinâmica é completamente diferente. Jogadores como Thiago, Rafinha, Roberto e Tello, são agora muito mais rápidos sobre e com a bola nos pés. Tentem trocar a bola de forma mais rápida, com o intuito de destabilizar o estilo de jogo encarnado a meio-campo. Contudo, embora tenham maior posse de bola, a defensiva encarnada sempre conseguiu resolver os problemas no último terço do terreno, pelo que algo era necessário ser feito. Foi nessa perspectiva que Messi entrou em campo aos 58 minutos, substituindo Rafinha.
Nos quinze minutos seguintes, e com a entrada de Piqué para a defesa, substituindo o Adriano, o Barcelona ganhou maior consistência defensiva e deu algo para a defesa encarnada poder ficar mais em sentido. A verdade, é que na prática, o jogo ficou algo partido para as duas equipas. Messi e Villa acabavam por se atrapalhar um pouco lá na frente. E, se é verdade que com Piqué lá atrás, ganhando dimensão física ao sector recuado, podia libertar Montoya para tarefas mais ofensivas, o facto é que tal não foi conseguido. Com isto, Messi e Villa não tinham tanto jogo, até porque no meio-campo, quer Thiago, quer Roberto estavam a ser devidamente anulados pelos médios encarnados, se bem que sempre que Song conseguiria romper de trás, criava logo uma desestabilização no meio-campo encarnado. A solução estava no Tello que na segunda parte deu água pela barba ao uruguaio Maxi Pereira. Contudo, o experiente camisola 14 dos encarnados, conseguiu meter o jovem catalão em sentido.
Vindo isto a acontecer, o técnico espanhol, fez a sua última substituição para os últimos 15 minutos, entrando o jovem Deulofeu para o lugar de Tello. Poucos minutos depois, numa jogada de contra-ataque catalão, Messi se isola frente ao guardião encarnado, tendo o Artur defendido com uma "mancha" de grande qualidade. Devido ao contacto físico, o astro argentino sai do jogo lesionado, pelo que o Barcelona fica a jogar com 10 os minutos finais do encontro. Com um Benfica em vantagem numérica e com necessidade de ganhar para continuar na Liga dos Campeões, o Barcelona viu-se obrigado a recuar as suas linhas. Contudo, a identidade da sua equipa permaneceu sempre e só não sentiu muito sufocou encarnado, não só porque o Benfica já dava sinais de claras faltas de frescura e esclarecimento, como também o Barcelona conseguia guardar a bola, trocando-a entre os seus jogadores. Mesmo assim, o jogo termina com uma situação de golo para o Benfica... mas o empate prevaleceu.
Este jogo deu para tirar umas conclusões acerca do modelo e filosofia de jogo do Barcelona:
- Em primeiro lugar, eles não temem a utilização de jovens jogadores em jogos deste nível e sabem fazê-lo. Souberam muito bem preparar esta situação, classificando antecipadamente para a próxima fase da competição, mas também com o trabalho diário de treino com estes jovens atletas. Isto é algo que deveria ser aprendido por exemplo, pelo Benfica, no que à gestão de recursos diz respeito. É assim que se lançam jovens jogadores.
- Em segundo lugar, para quem quiser "copiar" a filosofia e modelo de jogo do Barcelona, é preciso ter muito cuidado e atenção com os jogadores em campo. Facilmente o estilo fluido com que os habituais titulares do Barça jogam, e que cativam tantos admiradores pelo mundo fora, pode-se tornar num estilo de jogo recheado de "rodriguinhos" sem objectividade nenhuma. Os jovens catalães, muito devido à sua imaturidade e dificuldades técnicas e tácticas, não conseguiram fazer esquecer a equipa principal. Jogaram a maioria das vezes ao 3º e 4º toque, quando deveriam jogar ao 1º e ao 2º. Por outro lado, as movimentações, o posicionamento, a qualidade das recepções e dos passes, mas também as decisões, são pontos que necessitam de evolução ainda.
- Em terceiro lugar, eles não perderam e viram-se claras evoluções na dinâmica deles ao longo do jogo, frente a um adversário de valor que soube dar-lhes uma boa réplica táctica. Ou seja, independentemente dos "rodriguinhos" ainda vigentes, a verdade é que os miúdos estão a evoluir, permitindo a médio e longo prazo a renovação da equipa principal.
As "Rodriguices" no Benfica
Posicionamento global dos jogadores do Benfica frente ao Barcelona (UEFA.com) |
É verdade que Jorge Jesus já tinha avisado que iria jogar com dois avançados, mas sempre pensei que o segundo avançado estaria camuflado ora como um "10" atrás do ponta-de-lança, ora como um falso extremo numa ala. A verdade é que escolheu Lima e Rodrigo para formarem dupla atacante. Contudo, fico com curiosidade se esta dupla não seria desfeita se o Barcelona tivesse entrado com Messi a titular...
Assim sendo, o onze encarnado tem como guarda-redes o brasileiro Artur (#1), seguido do quarteto defensivo habitual titular com Maxi (#14) e Melgarejo (25) nas laterais direita e esquerda, respectivamente, e com o capitão Luisão (#4) e o argentino Garay (#24), no centro da defesa.
No meio-campo, ao lado do sérvio Matic (#21) a surpresa e estreia na liga dos campeões como titular, o jovem André Gomes (#89). Nas alas, Ola John (#15) ocupou a ala direita, enquanto o lado canhoto ficou ao cargo do Nolito (#9), que regressou a uma casa que tão bem conhece.
Lá na frente, conforme já mencionado, jogaram Lima (#11) e Rodrigo (#19). Notar que se é verdade que o Barcelona deixou muitos dos habituais titulares de fora frente ao Benfica, este também não pode contar com muitos dos habituais titulares, como são os casos de Salvio, Enzo, Carlos Martins e Pablo Aimar.
Evolução táctica do Benfica frente ao Barcelona (UEFA.com) |
A disposição táctica em campo, dos encarnados, era o seu habitual 4-4-2, cuja dinâmica o faz desenvolver num 4-2-4, ou melhor, num 4-1-1-4 (2-3-3-2, tal é o posicionamento dos laterais e médios-alas). A figura acima descreve na perfeição esta ideia.
Na figura ao lado, podemos ver a evolução táctica do Benfica neste encontro frente ao Barcelona. Jorge Jesus surpreende durante a primeira meia-hora de jogo com uma pressão altíssima da sua equipa: os seus avançados pressionam o defesa portador da bola, enquanto os médios-alas bloqueiam os laterais e os médios-centro os médios adversários. A linha defensiva bem subida no terreno não permite grandes espaços para os avançados e alas, receberem e rodarem-se para o ataque, assim como permite jogar usando a lei do fora-de-jogo. Neste contexto, foi muito positivo termos podido contar com o nosso central mais experiente e capitão de equipa Luisão, que muito contribuiu para que o Villa tivesse sido o "rei" dos fora-de-jogo neste encontro. Esta pressão originou diversos erros defensivos cometidos pela jovem equipa do Barcelona, que não tem a mesma qualidade técnica e táctica dos habituais titulares. Não foi por isso de admirar que nestes primeiros 30 minutos, o Benfica por intermédio de Rodrigo, Lima, Nolito e até mesmo Ola John tenha podido inaugurar o marcador. Aliás, se não tivesse havido tanta sede em mostrar-se ao mundo de certos jogadores e talvez o resultado nesse momento teria sido outro... bem mais positivo para a equipa. A oportunidade de Rodrigo então foi escandalosa. Ainda por cima com o Nolito ali ao lado ponto para facturar. E, já nem quero imaginar a carga psicológica que traria para o jogo do ex-barça e dos jogadores adversários se tivesse sido este a marcar... Enfim, foi mais uma "rodriguice" como tantas outras nesta temporada. Mas, apesar do pendor atacante, penso que houve momentos em que desligávamos do jogo e consentíamos que o Barcelona conseguisse furar a pressão de meio-campo, muito por culpa do não acompanhamento de um dos nossos avançados com o avanço do defesa do Barcelona, nomeadamente o Adriano. Para mim, tanto Rodrigo como o Lima estiveram bastante mal nessas situações. Talvez tenha sido porque eles precisavam de recuperar do esforço inicial... mas, isso deve ser feito como o Barcelona (já viram a ironia?!) costuma fazer, ou seja, com bola!
Os últimos 15 minutos da primeira parte, nota-se um último esforço de pressão da equipa do Benfica, com o Maxi a ficar mais junto de Ola e a conseguir acertar na marcação ao Tello. Aliás, na primeira parte, o uruguaio conseguiu meter o espanhol no bolso. Do outro lado, Melgarejo esteve sempre muito bem na marcação ao Rafinha e com um Garay intransponível, só restava ao Villa o tentar iludir o fora-de-jogo, mas nada feito. Matic e André Gomes surpreenderam-me pela positiva no meio-campo. Eram apenas dois contra três do Barcelona, mas pareciam serem quatro, tal a dinâmica com que estavam. Contudo, a não descida de um dos avançados, acabaria por ser prejudicial na gestão do esforço destes dois a meio da segunda parte.
No segundo tempo, o Benfica regressou com o mesmo onze e estratégia. O Barcelona parecia mais ligado nestes minutos iniciais, mas os encarnados pareciam conseguir gerir as operações, embora continuassem a não conservar a bola muito tempo nos seus pés. Para isso contribuiu imenso as más decisões de Rodrigo e Lima, no que respeita à circulação da bola, mas também a algumas perdas infantis de Ola John e de Nolito. Talvez era o pulmão a dar sinais de falha. Assim deve ter pensado Jesus quando aos 63 minutos substituiu o espanhol pelo brasileiro Bruno César. Com a entrada do camisola 8 encarnado, num primeira fase, que durou sensivelmente 11 a 12 minutos, este foi ocupar a posição de "10" da equipa, funcionando na prática como um terceiro homem de meio-campo, com Ola na direita, Lima na frente e Rodrigo agora como extremo esquerdo. Estava implementado uma espécie de 4-2-3-1. Esta fase de jogo foi mais incaracterística para o Benfica, pois tinha entrado Messi e, toda a gente sabe o pânico que o astro argentino parece causar nas outras equipas... ainda por cima com um recorde em jogo... Bem, o que é certo, é que o Benfica tinha pouco bola e se é certo que quando a bola ia para os pés do Rodrigo este perdia-a logo de forma infantil, do lado contrário Ola ainda causava perigo ao levá-la para o ataque, mas quando era para descer e ajudar na defesa é que notava-se a fadiga já acumulada no holandês. Por acaso, surpreendeu-me pela negativa, pois penso que ele deveria ter mais "stamina", não só pela idade dele, como também pela forma como ele joga e pressiona o adversário (é algo passivo).
Nos últimos 15 minutos do encontro, com um Lima também já desgastado, Jesus faz uma dupla substituição: tira o brasileiro e o Rodrigo para colocar em campo o médio André Almeida e o ponta-de-lança Cardozo. André Almeida entra para refrescar o meio-campo e para ajudar a evitar situações como aquela que isola o Messi na cara do golo. Situação essa que permite a mancha corajosa de Artur para evitar o 85º golo do argentino nesta temporada, mas que o lesiona de forma involuntária, reduzindo o Barcelona a 10 jogadores de campo. Em defesa do André Almeida é bom contextualizar para o facto de quando ele entra, Bruno César tem de se deslocar para a faixa esquerda e fazer de médio-ala/extremo esquerdo, ou seja, ao fim e ao cabo, foram duas mudanças de posição numa só substituição. É normal que isso faça baixar níveis de concentração e um erro pontual possa advir disso mesmo. Foi o que aconteceu. Valeu-nos o Artur! Notar que o Benfica neste período manteve o mesma esquema táctico de 4-2-3-1.
Já o Cardozo, que tem inicialmente uns 5 a 7 minutos em que anda a ver a bola passar sem lhe poder fazer grande coisa, após a saída de Messi do jogo, ganha outra notoriedade. A defesa encarnada avança no terreno e começa o cerco à baliza catalã, se bem que é feito de forma envergonhada de início, mas quando entramos em tempo de compensações é já bastante clara, com a incorporação de Luisão ao lado de Cardozo na grande área e o Matic a fazer de falso central ao lado de Garay que ocupou o lado direito do centro da defesa. Regressávamos ao 4-2-4 inicial. Cardozo teve uma oportunidade para rematar, só que atrapalhou-se com a bola e ainda por cima foi esquisito o suficiente para em vez de usar o seu pé direito para desferir um golpe à baliza de Pinto, forçar o uso do pé esquerdo e com isso perder-se o lance. Mesmo assim, no último segundo do jogo, Maxi numa das suas habituais incursões pelo ataque, rematou para as nuvens a derradeira hipótese de apurar o Benfica para a próxima fase da competição. E assim terminava a aventura encarnada na Liga dos Campeões... e assim começa a aventura na Liga Europa!
Este jogo, frente a um adversário mais forte, deu para entender os seguintes pontos fracos da equipa do Benfica:
Sorte ou azar?
Leio e oiço muitos falarem do azar que tivemos com as oportunidades de golo criadas, mas penso que devemos dar graças pela sorte que tivemos neste encontro. Por exemplo, se é verdade que não tivemos 4 importantes jogadores para o nosso meio-campo, também não é menos verdade que tivemos um Barcelona com poucas caras conhecidas de primeiro plano.
A sorte e azar acaba por ser uma questão de perspectiva. Tivemos sorte com o Messi, pois ele numa primeira fase não é titular. Numa segunda fase, quando entra em campo, pouco ou nada faz. E numa terceira, no único lance em que ele cria perigo, tivemos a "sorte" de ter um Artur em grande nível a fazer uma mancha espectacular e com a particularidade de ter resultado na lesão do astro argentino, ficando depois o Barcelona a jogar com 10 unidades. Nesta perspectiva, será que tivemos tanto azar assim?
E, já agora, é verdade que jogar na Liga Europa não terá o mesmo encaixe financeiro que a Liga dos Campeões. Contudo, tendo capacidade para chegar mais longe nesta competição secundária, será que ganhando-a não acabamos por obter ainda mais prestígio a nível internacional e com isso tirar outro tipo de dividendos, sobretudo se tivermos a projectar um canal de televisão encarnado além fronteiras?
Caso para dizer... há males que vêm por bem... ou não?
De qualquer das formas, a meu ver, só podemos queixarmos da nossa aselhice e não do azar, não é verdade senhor Rodrigo?
E Pluribus Unum!
Na figura ao lado, podemos ver a evolução táctica do Benfica neste encontro frente ao Barcelona. Jorge Jesus surpreende durante a primeira meia-hora de jogo com uma pressão altíssima da sua equipa: os seus avançados pressionam o defesa portador da bola, enquanto os médios-alas bloqueiam os laterais e os médios-centro os médios adversários. A linha defensiva bem subida no terreno não permite grandes espaços para os avançados e alas, receberem e rodarem-se para o ataque, assim como permite jogar usando a lei do fora-de-jogo. Neste contexto, foi muito positivo termos podido contar com o nosso central mais experiente e capitão de equipa Luisão, que muito contribuiu para que o Villa tivesse sido o "rei" dos fora-de-jogo neste encontro. Esta pressão originou diversos erros defensivos cometidos pela jovem equipa do Barcelona, que não tem a mesma qualidade técnica e táctica dos habituais titulares. Não foi por isso de admirar que nestes primeiros 30 minutos, o Benfica por intermédio de Rodrigo, Lima, Nolito e até mesmo Ola John tenha podido inaugurar o marcador. Aliás, se não tivesse havido tanta sede em mostrar-se ao mundo de certos jogadores e talvez o resultado nesse momento teria sido outro... bem mais positivo para a equipa. A oportunidade de Rodrigo então foi escandalosa. Ainda por cima com o Nolito ali ao lado ponto para facturar. E, já nem quero imaginar a carga psicológica que traria para o jogo do ex-barça e dos jogadores adversários se tivesse sido este a marcar... Enfim, foi mais uma "rodriguice" como tantas outras nesta temporada. Mas, apesar do pendor atacante, penso que houve momentos em que desligávamos do jogo e consentíamos que o Barcelona conseguisse furar a pressão de meio-campo, muito por culpa do não acompanhamento de um dos nossos avançados com o avanço do defesa do Barcelona, nomeadamente o Adriano. Para mim, tanto Rodrigo como o Lima estiveram bastante mal nessas situações. Talvez tenha sido porque eles precisavam de recuperar do esforço inicial... mas, isso deve ser feito como o Barcelona (já viram a ironia?!) costuma fazer, ou seja, com bola!
Os últimos 15 minutos da primeira parte, nota-se um último esforço de pressão da equipa do Benfica, com o Maxi a ficar mais junto de Ola e a conseguir acertar na marcação ao Tello. Aliás, na primeira parte, o uruguaio conseguiu meter o espanhol no bolso. Do outro lado, Melgarejo esteve sempre muito bem na marcação ao Rafinha e com um Garay intransponível, só restava ao Villa o tentar iludir o fora-de-jogo, mas nada feito. Matic e André Gomes surpreenderam-me pela positiva no meio-campo. Eram apenas dois contra três do Barcelona, mas pareciam serem quatro, tal a dinâmica com que estavam. Contudo, a não descida de um dos avançados, acabaria por ser prejudicial na gestão do esforço destes dois a meio da segunda parte.
No segundo tempo, o Benfica regressou com o mesmo onze e estratégia. O Barcelona parecia mais ligado nestes minutos iniciais, mas os encarnados pareciam conseguir gerir as operações, embora continuassem a não conservar a bola muito tempo nos seus pés. Para isso contribuiu imenso as más decisões de Rodrigo e Lima, no que respeita à circulação da bola, mas também a algumas perdas infantis de Ola John e de Nolito. Talvez era o pulmão a dar sinais de falha. Assim deve ter pensado Jesus quando aos 63 minutos substituiu o espanhol pelo brasileiro Bruno César. Com a entrada do camisola 8 encarnado, num primeira fase, que durou sensivelmente 11 a 12 minutos, este foi ocupar a posição de "10" da equipa, funcionando na prática como um terceiro homem de meio-campo, com Ola na direita, Lima na frente e Rodrigo agora como extremo esquerdo. Estava implementado uma espécie de 4-2-3-1. Esta fase de jogo foi mais incaracterística para o Benfica, pois tinha entrado Messi e, toda a gente sabe o pânico que o astro argentino parece causar nas outras equipas... ainda por cima com um recorde em jogo... Bem, o que é certo, é que o Benfica tinha pouco bola e se é certo que quando a bola ia para os pés do Rodrigo este perdia-a logo de forma infantil, do lado contrário Ola ainda causava perigo ao levá-la para o ataque, mas quando era para descer e ajudar na defesa é que notava-se a fadiga já acumulada no holandês. Por acaso, surpreendeu-me pela negativa, pois penso que ele deveria ter mais "stamina", não só pela idade dele, como também pela forma como ele joga e pressiona o adversário (é algo passivo).
Nos últimos 15 minutos do encontro, com um Lima também já desgastado, Jesus faz uma dupla substituição: tira o brasileiro e o Rodrigo para colocar em campo o médio André Almeida e o ponta-de-lança Cardozo. André Almeida entra para refrescar o meio-campo e para ajudar a evitar situações como aquela que isola o Messi na cara do golo. Situação essa que permite a mancha corajosa de Artur para evitar o 85º golo do argentino nesta temporada, mas que o lesiona de forma involuntária, reduzindo o Barcelona a 10 jogadores de campo. Em defesa do André Almeida é bom contextualizar para o facto de quando ele entra, Bruno César tem de se deslocar para a faixa esquerda e fazer de médio-ala/extremo esquerdo, ou seja, ao fim e ao cabo, foram duas mudanças de posição numa só substituição. É normal que isso faça baixar níveis de concentração e um erro pontual possa advir disso mesmo. Foi o que aconteceu. Valeu-nos o Artur! Notar que o Benfica neste período manteve o mesma esquema táctico de 4-2-3-1.
Já o Cardozo, que tem inicialmente uns 5 a 7 minutos em que anda a ver a bola passar sem lhe poder fazer grande coisa, após a saída de Messi do jogo, ganha outra notoriedade. A defesa encarnada avança no terreno e começa o cerco à baliza catalã, se bem que é feito de forma envergonhada de início, mas quando entramos em tempo de compensações é já bastante clara, com a incorporação de Luisão ao lado de Cardozo na grande área e o Matic a fazer de falso central ao lado de Garay que ocupou o lado direito do centro da defesa. Regressávamos ao 4-2-4 inicial. Cardozo teve uma oportunidade para rematar, só que atrapalhou-se com a bola e ainda por cima foi esquisito o suficiente para em vez de usar o seu pé direito para desferir um golpe à baliza de Pinto, forçar o uso do pé esquerdo e com isso perder-se o lance. Mesmo assim, no último segundo do jogo, Maxi numa das suas habituais incursões pelo ataque, rematou para as nuvens a derradeira hipótese de apurar o Benfica para a próxima fase da competição. E assim terminava a aventura encarnada na Liga dos Campeões... e assim começa a aventura na Liga Europa!
Este jogo, frente a um adversário mais forte, deu para entender os seguintes pontos fracos da equipa do Benfica:
- Os nossos atacantes precisam de jogarem mais entre-linhas. Não só para ajudarem na fase de construção, permitindo maior controlo da posse de bola, como também a nível defensivo, poderem facilmente ajudar a dupla de meio-campo e em última análise a linha defensiva da equipa. O nosso atacante tem de ser o nosso primeiro defesa. (Aliás, o último encontro frente ao Sporting deixou a nu esta fraqueza que só foi devidamente colmatada na segunda-parte desse encontro, quando tanto Cardozo como fundamentalmente Lima desceram para ligar o meio-campo e ataque.)
- É preciso ter maior cuidado com a gestão do esforço físico durante os 90 minutos. Nenhuma equipa consegue jogar 90 minutos a um ritmo infernal sem quebrar durante o jogo ou durante a época. A melhor forma que uma equipa de topo tem para gerir o esforço é utilizando a posse de bola. "Roubando" a bola ao adversário consegue-se gerir melhor o jogo. Aliás, de certa forma, foi isso que o Barcelona fez na segunda parte. A equipa catalã é o melhor exemplo de sucesso a seguir neste capítulo.
- É necessário terminar com alguns comportamentos que eu denomino de "rodriguices" e que vejo em alguns jovens jogadores do clube, nomeadamente o Rodrigo e o Ola John. O espanhol então tem sido infelizmente um dos piores neste capítulo. Ele continua a jogar para si e, neste jogo particular, deu-me a sensação de ter jogado para os holofotes. Quer sempre fazer tudo sozinho e a maioria das vezes passa à queima, como se costuma dizer na gíria futebolística. Resultado? Nem ata, nem desata! E, com isto perde o Benfica. Quanto ao Ola John, lá por ter custado 9 M€, não significa que não tenha de defender... ah! E com 20 anitos e não ter estofo para correr os 90 minutos... hmm! Será que quer mesmo outros voos? Bem! Eu acho que o Benfica deve repensar cada vez mais a sua política de contratações e de valorização de activos, pois o Benfica não está aqui para servir de montra para estes "mininos". E, já agora uma boa lição sobre o que o nosso lema significa a estes rapazes não lhes fazia nada mal!
Sorte ou azar?
Esta defesa só está ao alcance dos grandes guarda-redes! |
A sorte e azar acaba por ser uma questão de perspectiva. Tivemos sorte com o Messi, pois ele numa primeira fase não é titular. Numa segunda fase, quando entra em campo, pouco ou nada faz. E numa terceira, no único lance em que ele cria perigo, tivemos a "sorte" de ter um Artur em grande nível a fazer uma mancha espectacular e com a particularidade de ter resultado na lesão do astro argentino, ficando depois o Barcelona a jogar com 10 unidades. Nesta perspectiva, será que tivemos tanto azar assim?
E, já agora, é verdade que jogar na Liga Europa não terá o mesmo encaixe financeiro que a Liga dos Campeões. Contudo, tendo capacidade para chegar mais longe nesta competição secundária, será que ganhando-a não acabamos por obter ainda mais prestígio a nível internacional e com isso tirar outro tipo de dividendos, sobretudo se tivermos a projectar um canal de televisão encarnado além fronteiras?
Caso para dizer... há males que vêm por bem... ou não?
De qualquer das formas, a meu ver, só podemos queixarmos da nossa aselhice e não do azar, não é verdade senhor Rodrigo?
E Pluribus Unum!
PS: Por falar em azar, será que este gato preto teve alguma coisa a ver com o falhanço do Rodrigo e do Maxi frente ao Barcelona? Ou com o poste no remate do Lima?
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