13 dezembro 2012

A posição "10"


Segunda-feira, no dérbi lisboeta, ficou bem patente a importância para a estratégia encarnada do jogador que ocupa a posição "10". É sobre este tema que este artigo visa abordar.


Que posição "10" é esta no Benfica?
Em primeiro lugar, convém esclarecer o leitor, identificando qual é esta posição "10" no esquema táctico e estratégico dos encarnados.

No actual 4-4-2 encarnado, que em termos dinâmicos acaba por ser uma espécie de 4-2-4, ou de 4-1-1-4, como preferirem, a posição "10" é aquela que é ocupada pelo avançado mais móvel. Este deve ser um jogador que consiga ligar o meio-campo ao ataque, mas que tenha capacidade de concretização. Não devemos confundir com a posição "8", que embora tenha também funções na organização do jogo ofensivo, requer um posicionamento em campo capaz de ajudar o médio mais defensivo. Este posicionamentos aplicam-se ao plano A do modelo de jogo de Jesus.


No entanto, o Benfica já demonstrou outras nuances tácticas e estratégicas, cuja maior mudança está exactamente nas tarefas da posição "10". Num plano B, a posição "10" toma funções mais criativas e menos de finalização. É o que acontece quando o Benfica joga em 4-2-3-1. Consequentemente, o perfil característico do jogador que o ocupa terá que ser diferente do plano A. Neste segundo plano, o jogador tem de ser capaz de ser um terceiro médio para a equipa. Tem de ter excelente visão de jogo, controlo do esférico e sobretudo uma capacidade de decisão e execução muito acima da média.

Assim sendo, quais são as opções no actual plantel encarnado, que o técnico encarnado possui para esta estratégica posição "10"?


Rodrigo e Lima: os "10"s do plano A
Rodrigo foi a primeira aposta para a
posição "10" por parte de Jesus.
Quando o Benfica joga em claro 4-4-2, Jorge Jesus tem optado por jogar com Rodrigo ou Lima para a posição "10". Normalmente, estes avançados têm a função de ser um apoio no corredor central ao ponta-de-lança (que ocupa a posição "9"), como o Cardozo ou o próprio Lima. Frente a adversários de menor nomeada, o Benfica até consegue levar água ao seu moinho e a estratégia acaba por funcionar, muito graças aos valores individuais, do que propriamente ao jogo colectivo da dupla atacante.

Frente a adversários mais organizados e com maior qualidade, o deficiente jogo colectivo entre estes "10"s e o ponta-de-lança, acaba por atrapalhar toda a dinâmica ofensiva, e são o maior sorvedouro do nosso caudal atacante, levando a perdas de bola, muitas delas diria, infantis. Frente ao Sporting, na passada segunda-feira, tal foi notório durante a primeira parte do encontro.

Com a chegada de Lima, este acabou
por retirar o lugar ao Rodrigo.
De facto, tal acontece porque Lima e Rodrigo, embora sejam avançados com excelente mobilidade, não estão devidamente formatados para a posição. Penso que Jesus e a sua equipa técnica irão ter muito trabalho a formatá-los para esta importante posição. Contudo, penso mesmo que falta algumas características a estes dois jogadores para poderem realmente serem os "10"s que a equipa necessita nessa estratégia. Entre essas características encontra-se capacidade de decisão (algo que falta aos dois) e maior qualidade técnica na recepção e passe (algo que falta ao Rodrigo). Criando um plano de jogo ofensivo e treinando-o acaba por disfarçar algumas dessas debilidades. No entanto, tanto Lima e Rodrigo terão sempre a tendência de jogar entre a linha defensiva e o guarda-redes adversários, mais do que jogar entre-linhas, ou seja, entre o nosso meio-campo e ataque.

Tendo em conta esta tendência natural destes jogadores, como poderá o Benfica resolver o problema da ligação entre o meio-campo e ataque?
De forma combinada! Ou seja, é preciso que o Cardozo também exerça as funções de "10", descendo para entre-linhas, tal como fez na segunda-parte do último dérbi. Por outro lado, os nossos médios-ala têm de carrilar mais jogo através das faixas, colmatando assim as possíveis debilidades que os nossos avançados têm na construção de jogo. Nota importante, se os nossos avançados saírem das zonas de marcação individual da defesa adversária, não só deixam esses defesas sem marcação, como arrastam-os consigo, criando espaço nas costas da defesa adversária. Por outro lado, a descida dos avançados, permite maior pontos de apoio para os médio-centro e alas, podendo haver mais combinações e com isso, melhorar o jogo através das faixas e penetrações.


Pablo Aimar e Carlos Martins: os "10"s do plano B
O plano B encarnado, i.e., o 4-2-3-1, acaba por ser a resposta que Jorge Jesus tem para colmatar as deficiências do plano A, frente a equipas de topo. Esta solução de Pablo Aimar e de Carlos Martins, é uma solução que faz perder capacidade de finalização na pequena área adversária. Mas, teoricamente, faz-nos ganhar maior posse de bola e com isso maior controlo sobre as operações dentro de campo.

Se o Aimar não estivesse lesionado,
será que o Benfica jogaria com dois
avançados declarados?
São pois duas soluções para uma estratégia de menor risco. Não sendo dois "trequartistas", muito por não terem índices de finalização elevados e por não terem um bom jogo de costas para a baliza, necessitam de jogar de frente para o adversário, pelo que o seu melhor posicionamento será no meio-campo ofensivo e entre-linhas. Carlos Martins tem uma excelente meia-distância enquanto o Aimar é o jogador do plantel com melhor visão de jogo e capacidade de decisão.

O argentino, vejo com capacidade para jogar entre-linhas, embora seja mais produtivo se:
  • À sua frente estiver dois avançados com o qual ele pode jogar. Reparar que assim, o médio defensivo adversário terá sempre a preocupação em ajudar os seus dois centrais a marcar os dois avançados, libertando um pouco a marcação ao Aimar. No entanto, para isso acontecer e para o Benfica não ficar exposto ao ataque adversário, é necessário que um dos alas, consiga ser também um médio interior, para ajudar o médio mais defensivo. Esta era a forma como o Benfica em 2009-2010 jogava. Nessa estratégia, a posição "10" era a do Aimar, sendo que a "8" era a de médio-interior/ala. Esta temporada, tal estratégia poderia ser desempenhada, constituindo num possível plano C...
  • À sua frente estiver um ponta-de-lança e ao seu lado direito e esquerdo estiverem dois alas de raiz, capaz de ganharem a linha de fundo e cruzar para o coração da área.
Martins faz falta à equipa... sobretudo
ao meio-campo!
Quanto ao português, não o vejo tanto para estas funções de posição "10" num 4-2-3-1. De facto, Jorge Jesus tem-lhe dado essa tarefa, não só em alguns jogos da pré-temporada, como noutros já no decorrer da época oficial. Em todos eles tem desenrascado, mas não tem convencido. Claramente não é a sua melhor posição e o jogo da primeira-mão da Liga dos Campeões frente ao Barcelona, na Luz, foi disso notório.

Vejo o Martins a ocupar mais a posição "8" no plano A e no plano B encarnado, do que propriamente a posição "10". Aliás, na pré-época houve um jogo muito promissor que fez ao lado de Matic e no qual ambos dominaram o meio-campo. Por isso, penso mesmo que o Benfica teria muito a ganhar com isso, nomeadamente a variação de jogo de flancos e a meia-distância.

De qualquer das formas, estando ambos lesionados, torna-se muito difícil pensar nas suas utilizações neste momento. Mas, tal é a oportunidade perfeita para poder-se trabalhar em outras soluções que há no plantel, conforme veremos de seguida.


Bruno César e Miguel Rosa: dois projectos de "10"s
O brasileiro e o jovem formado pelas escolas do Benfica podem realmente ser a solução para os dois planos de jogo encarnado, se Jesus quiser trabalhá-los para tal. Bruno César e Miguel Rosa são dois polivalentes do sector ofensivo. Basicamente eles conseguem fazer todas as posições do meio-campo para a frente.

Bruno César pode ser o nosso
"Apache".
O camisola 8 chegou ao Benfica com o rótulo de "10", mas cedo percebeu-se que não estava ainda preparado para o ritmo europeu. Assim sendo, Jorge Jesus deu-lhe jogos como falso médio-ala direito, entre uma e outra posição em campo, o que lhe rendeu uns números bastante interessantes ao nível de golos e de assistências para um jogador que acabara de chegar à Europa. Esta temporada, as coisas não lhe têm corrido de feição, muito porque penso que o Jesus não o vê como titular em determinada posição. Ou seja, tem jogado apenas onde tem feito falta substituir um ou outro jogador. Por isso, vemos sempre exibições voluntariosas, mas sem entrosamento e sem conexão com os restantes companheiros e tarefas a desempenhar. Falta-lhe pois fixar-se numa posição que permita ganhar-lhe confiança e protagonismo na equipa. Tendo em conta as suas características, físicas, técnica e tácticas, gostaria de vê-lo na tal posição "10", tanto no plano A como no plano B do jogo encarnado. Acho que o Benfica poderia ganhar não só capacidade de decisão, como também meia-distância sem perder muito em termos de finalização. Provavelmente, necessitaríamos de uma aposta durante vários jogos até o Bruno César ficar devidamente entrosado, mas tenho a certeza que valeria a pena. Vejo no brasileiro, um estilo aguerrido de jogar, por vezes algo atabalhoada é certo, mas parecido com o Tévez do Manchester City. E é exactamente esse tipo de jogador que precisamos lá na frente.

Jogador talismã da equipa B, Miguel
Rosa pode muito bem ser o "10"
que a equipa principal precisa.
O jovem português, é outro jogador que tem o perfil necessário para desempenhar a posição "10" em ambos os planos de jogo. É certo que tem jogado como falso extremo esquerdo na equipa B encarnada, e há quem o compare com o Nolito. No entanto, a sua garra, as suas movimentações, a sua técnica e visão de jogo, assim como a excelente capacidade finalizadora, faz dele um jogador a ter em conta para esta posição "10". Posição essa que não é totalmente desconhecida para ele, conforme podemos ver no seu historial desportivo. Estou convicto que seria uma aposta ganha e tal como o Bruno César, traria o melhor dos dois mundos para a equipa encarnada.


 
Acho que valeria a pena pelo menos o teste, não acham? Fica então aqui a ideia para o Jesus.


PS: O Benfica tem dois jogadores emprestados que mereciam ser vistos com um olhar mais cuidado tendo em conta o actual modelo de jogo encarnado. São eles:
Hugo Vieira e Rodrigo Mora são duas soluções para a
posição "10" do actual modelo de jogo encarnado,
que estão emprestados, mas que podem ser importantes
no futuro a médio e longo prazo.
  • Rodrigo Mora, jogador emprestado ao River Plate, seria um jogador muito interessante para a actual estratégia do Benfica, uma vez que embora seja um ponta-de-lança, é-o ao estilo de Romário e toda a gente sabe como o "baixinho" jogava tão bem entre-linhas, não é verdade? Espero que o Benfica não o venda e tenha presente o quanto ele ainda poderá dar ao clube da Luz em termos desportivos...
  • Hugo Vieira, é outro jogador que na minha óptica seria muito útil para a função de "10", sobretudo num esquema de 4-4-2. Recordar que este jogador nacional, tem uma excelente técnica e demonstrou ao serviço do Gil Vicente qualidades que poderíamos explorar e que poderiam ser-nos útil na construção de jogo. É daqueles jogadores que não se esconde do jogo, que sabe jogar de costas para a baliza, sabe temporizar, sabe cair nas faixas, sabe recuar e ajudar o meio-campo e para além disso possui bons índices de finalização.


3 comentários:

  1. Excelente post!!

    Permite-me só dar duas impressões.Hugo Vieira não tem lugar no Benfica e Gaitan é outro jogador que deveria ser experimentado nessa posição e que poderia trazer coisas novas.Aliás foi assim que alcançou sucesso no Boca..

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    1. Caro Marcio Ricardo,

      Eu também pensei no Nico, mas depois quem é que faria a posição "11", a de extremo esquerdo, capaz de dar verticalidade e profundidade a essa ala? É que Nolito e Ola John têm um estilo muito idêntico e o Nico acaba por ser o único que difere destes dois quando lá joga. Basta vermos o último dérbi e a primeira temporada no Benfica. Notar que jogar no Boca é diferente de jogar na Europa. Repara também que o Salvio na Argentina também jogava lá na frente... mas tal como o Nico caíam muito nas alas. De qualquer das formas, também não me importaria de experimentar o Nico a "10", embora ache que só o faria se outros não tivessem em condições.

      Quanto ao Hugo Vieira, não é apenas em dois ou três jogos, um deles de cariz social, que vamos tecer alguma consideração sobre as (in)capacidades do rapaz. Este pode não ser nenhum Maradona, mas tem potencial para mais. Porque é que achas que ele não tem lugar no Benfica, nem no futuro?

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  2. Ok compreendo o que dizes!No plano A eu acho que Nico pode fazer a esquerda embora prefire Ola a cruzar e nesse sistema é importante alguém para meter a bola na área.
    No plano B eu prefiro Nolito pois com Aimar,Gaitan ou Carlos Martins ao meio atrás de Cardozo é importante que os extremos cheguem com facilidade à zona de finalização e nisso o espanhol é o melhor.
    Quanto ao Hugo Vieira se pensarmos que pode evoluir muito então concordo contigo,mas sinceramente acho que é daqueles jogadores que o Benfica comprou por 1 milhão para vender por 2 ou 3.É bom jogador sim,mas para um Benfica para conquistar titulos é preciso mais que isso e até agora não vi essas qualidades no jogador..

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