27 fevereiro 2016

Boas ideias...


Boas ideias trazidas nos jogos europeus da última semana e que poderão servir de inspiração para o Benfica.


Em Turim, a Vecchia Segnora recebeu os bávaros de Munique, num jogo em que a primeira parte se resumia à fotografia acima. Ou seja, o guardião Neuer fora da sua baliza a meio do seu meio-campo e completamente sozinho. Verdade, que o jogo depois terminou empatado a dois golos, devido a uma excelente reacção em carácter e determinação por parte dos italianos. Contudo, a inteligência de jogo esteve quase sempre do lado dos germânicos e é por isso que eles conseguiram reduzir o campo útil de jogo ao meio-campo da Juventus. É impressionante cada vez que penso nesta forma de jogar por parte da equipa de Guardiola. Para o Neuer, estar ali sozinho, e atenção que aquela fotografia não é tirada de um momento em que há um pontapé de canto para o Bayern Munique, significa que a sua linha defensiva está dentro do meio-campo italiano. Por outras palavras, significa que o adversário ou está encostado à sua grande área, ou então o campo útil resume-se a 30 metros, se tanto. Como é que eles conseguem fazer isso? E, ainda por cima com jogadores como David Alaba e Joshua Kimmich a jogarem a centrais? Ou será que é por estes jogarem no centro da defesa que a estratégia na primeira parte deu tão bons resultados?

em Novembro realçava estas boas ideias de jogo defensivo do Bayern Munique e que deveriam ser tomadas em linha de conta pelo Benfica. Ao terem uma equipa tão compacta, mesmo nos momentos ofensivos, a equipa ao perder a posse de bola está invariavelmente mais perto de a recuperar imediatamente. No entanto, é preciso que a equipa tenha defesas centrais que sintam confortáveis com a bola nos pés. Por isso, é que Alaba e Kimmich que são dois médios de origem, sentiram-se na praia em Turim. Mas, não é apenas o posicionamento compacto da equipa que resolve tudo. É, também a reacção à perda do jogador que perde a bola e do seu companheiro mais próximo. São eles que ao fazerem pressão imediata, acabam por criar um momento de contenção defensiva. O qual, os restantes colegas acabam por ter tempo para posicionarem-se melhor defensivamente e através de coberturas defensivas muito próximas, conseguem criar uma malha defensiva muito apertada ainda no meio-campo adversário, recuperando rapidamente a posse de bola. Noutras equipas, aliás, na maioria das equipas, o que acontece é que tanto o jogador que perde a bola como o companheiro mais próximo não fazem pressão. Ao mesmo tempo, como as linhas já de si não estão tão próximas quanto isso - por exemplo, os centrais invariavelmente não sobem para lá da linha do meio-campo - o adversário rapidamente fica de frente para a linha defensiva do adversário, que terá de fazer contenção quase até à sua grande área, pois é quando todos os outros colegas de equipa conseguem recuperar posicionamento defensivo. Só pela extensão da descrição dos dois métodos percebe-se claramente qual aquele que é energeticamente mais desgastante para a equipa que defende. Por isso, Luisão, Jardel, Lisandro e Lindelöf, quero-vos ver bem subidos no terreno de jogo, se possível dentro do meio-campo adversário, já no próximo jogo, ouviram?! Ah! E ajuda ter um guarda-redes que saiba varrer o espaço nas costas da defesa... ok Júlio César?

Já em Londres, a derrota do Arsenal frente ao poderoso Barcelona foi excelente na forma de exemplificar o porquê de ser cada vez mais importante um avançado ter a mobilidade e a intensidade sem bola que um Suárez tem e que por exemplo um Giroud não tem. Basta repararem no primeiro golo do Messi no estádio Emirates. O brasileiro Neymar inicializa um contra-ataque rápido sobre a esquerda, fazendo um passe para o uruguaio que desmarcasse para a esquerda, este sai do centro para a esquerda, criando o espaço para a entrada de Neymar e depois de Messi para finalizar. Este lance ocorreu numa transição ofensiva rápida do Barcelona, mas é recorrente mesmo quando o Barça está em ataque planeado. Esta dinâmica de saída de um jogador arrastando um defesa com ele e consequente aparecimento nesse espaço criado de um colega seu é o princípio mais básico que existe no futebol, mas é o princípio que mais é utilizado por este trio maravilhoso de artistas. Foi esta mobilidade, sobretudo do Suárez que permitiu que o Barcelona criasse inúmeras oportunidades durante a partida. E, foi também esta falta de mobilidade do ataque do Arsenal, que permitiu que fosse muito mais previsível e facilmente neutralizável pela defesa blaugrana. A meu ver, a entrada de Wellbeck pecou por tardia e o segundo golo sofrido foi um abalo terrível para os gunners.

Esta ideia não é muito diferente da ideia que tenho vindo a defender no Benfica com a inclusão de Raúl Jiménez em vez de Kostas Mitroglou. É verdade que no Benfica e frente a adversários mais fracos o grego tem marcado, mas frente a adversários mais fortes, é necessário muito mais que a presença física e a eficácia do grego na área. É preciso muito mais trabalho sem bola que o mexicano facilmente oferece e o grego nem por isso. Quer seja a pressão sobre o adversário, a recuperação de posicionamento ou até mesmo a cobertura defensiva a um colega, o Raúl leva vantagem sobre o Mitroglou. Então se formos falar da forma como ele cria espaços para os colegas poderem usufruir, faz o mesmo trabalho que o Suárez no Barcelona. Por exemplo, se substituir os nomes de Suárez por Raúl, de Neymar por Gaitán e de Messi por Jonas, consigo ver estes três jogadores encarnados a construírem um lance idêntico como o que deu origem ao primeiro de Messi no Emirates. Falta ao Jiménez ter mais eficácia em frente à baliza. Mas, isso só acontece se tiver oportunidades de jogar.


10 comentários:

  1. Só não estou de acordo quando dizes que o Jimenez é melhor opção nos jogos grandes que o Mitroglou. O grego tem jogado muito e marcado nos jogos grandes (Champions, Porto e Sporting). O Mitroglou tem o que o Jimenez tem de bom e mais qualquer coisa.

    O Benfica tem um estilo de jogar identico ao do Barça. Podia como dizes adotar alguns sistemas. E aí sim estou de acordo que o Jimenez podia ser uma boa opção.

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    1. O sal do futebol é o golo. Isso é uma verdade. Mas, já viste quantas oportunidades o Mitroglou desperdiçou no jogo frente ao Porto, por exemplo? Verdade que marcou um golo, mas e os outros que falhou? Mas, para mim, nem é por aí. Ele é mais eficaz que o mexicano, até porque tem mais experiência e isso é uma vantagem emocional que ele tem em lidar com as emoções nesses grandes jogos.

      No entanto, o que aponto mais é o seu jogo sem bola. O Kostas está muito habituado a jogar como homem de referência fixa no ataque. Nesses grandes jogos, porque as marcações são bem feitas sobre os criadores de jogo, é importante que o avançado tenha capacidade de criar espaços para esses criadores. E é aí o verdadeiro trunfo do Jiménez, pois este liberta jogo para Gaitán, Jonas e Pizzi emergirem frente a esses adversários. Basta ver o jogo frente ao Zenit, antes e após a entrada do Raúl. Isto não quer dizer que o Mitroglou também não possa ter capacidade para fazer isso, mas sinceramente, não acho que seja algo natural dele, como acontece com o Jiménez.

      O estilo do Benfica não é idêntico ao do Barcelona. Por exemplo, não temos uma posse de bola tão forte e segura como a deles. E nem é tanto pela questão do sistema de jogo (o Barça joga em 4-3-3 e o Benfica em 4-4-2). É mais pelo modelo de jogo implementado. Agora, há ideias que nós poderíamos adoptar deles.

      ;)

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  2. Aceito a inclusão do Jimenez em jogos de maior cartaz. Até parece-me que Vitória encontrou o tipo de jogo que melhor serve as características do mexicano, que é a de descair para as alas, permitindo assim, receber as bolas em melhores condições. Ele que como todos sabemos, tem notórias dificuldades na receção de bola, quando esta é lançada pelo ar. Assim, permite que Jonas e Jimenez possam dar outro tipo de variantes ao jogo do Benfica, quer de um lado, quer do outro. E depois há a questão sem bola. Jimenez é mais um no sacríficio pela equipa. Em jogos Champions, é importantíssimo.

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    1. Acho que não é tanto estratégia de jogo por parte do Vitória, mas sim inteligência do jogador na procura de ocupação do espaço livre. Ele tem características inatas que o Mitroglou parece não ter devido à forma como sempre jogou nas equipas onde passou.

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  3. E sim, o Bayer é uma delícia de se ver jogar. É a única equipa, em que de facto a palavra equipa, faz todo o sentido. É magnífico e um prazer ver o que Guardiola faz com o Bayer. É a sua ideia, a sua filosofia, a sua cara. É único, e se tenho que ver um jogo do Barça ou do Bayer, nem há conversa. Luis Enrique quando sair do Barcelona vai desaparecer do mapa. Vive à custa de umas poucas de lendas que teimam em não conformar-se com as dezenas de títulos que já têm. Quando Messi ou Iniesta vierem abaixo, quero ver a genialidade do espanhol.

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    1. O Bayern é um regalo. Sinceramente, o que me custa mais nos jogos deles é ver a reacção do adversário. Quase nunca fazem aquilo que a Juventus fez na segunda parte e que tantos problemas causaram aos bávaros. Mas, a forma como inteligentemente ocupam os espaços com e sem bola... dão recitais de bom futebol.

      Já o Barcelona, se queres que te diga, eu até tenho gostado imenso desta nova forma de jogar deles. Com o Guardiola eram sobretudo uma equipa de ataque planeado. Hoje, são muito mais verticais e isso é excelente, pois acho-os muito mais versáteis.

      Ambas as equipas dão recitais na verdadeira arte de saber defender. Não digo que pretendo que se encontrem na final, por razões óbvias: no fundo sonho em que o Benfica esteja nessa final. Mas, uma meia-final entre estas duas equipas seria um espectáculo.

      Todos os espectadores de bom futebol merecem no mínimo 180 minutos de jogo entre estas duas equipas.

      ;D

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    2. Ambas são de outra galáxia, mas a do Barcelona, a qualidade do seu futebol é inerente em 90 por cento à qualidade dos seus jogadores. Este Barcelona tem jogadores que são autênticas lendas do futebol. Não foi Luis Enrique que ensinou Busquets a cortar limpo e a ter um primeiro toque divinal; não foi o Luis Enrique que ensinou Pique a ter uma qualidade a nível de passe fora do normal para um central, quer no curto, quer no longo. Não foi Enrique... Iniestas, Messis, Albas etc. O próprio Alves que não tendo a velocidade de outrora, disfarça isso com uma ainda maior noção dos tempos de jogo e na qualidade de passe que foi aprimorando com o tempo sempre ao estilo Tiki-taka. Mais que profundidade, torna-se em muitos momentos, neste Barcelona, um médio-interior deixando que Rakitic faça os movimentos na vertical. Um pouco como Lahm no Bayern. Em suma, é uma equipa que mesmo sem treinador, estaria a lutar por tudo. As bases são claramente numa primeira instância de Aragonés com a vitória de 2008, depois Guardiola, e na conclusão com Enrique. Mas não tenhas dúvidas que Enrique quando sair do Barcelona, voltará a um Celta de Vigo.


      Do Bayern, já é outra questão. O futebol explosivo, rápido, demolidor de contra-ataque que é apanágio do futebol alemão, foi em poucos meses substituído pelas ideias do Steve Jobs do futebol. Chegar a um colosso depois deste ganhar tudo, e conseguir impor a sua filosofia num povo que todos sabemos é de um temperamento difícil, só está ao alcance de alguém que respeitas só de "olhar nos olhos". É um treinador fora-de-série que mesmo que tenha que jogar com 11 canteranos, não se esconde, nem do jogo, nem da sua filosofia. Ir a Turim, sem nenhum central de raiz, e mesmo assim colocar a defesa no meio-campo, só demonstra o quão génio e louco é Guardiola. Não pode haver comparações. Os jogos dele são arte. E para realmente quer aprender um pouco do lado tático do futebol, cada 90 minutos dos seus jogos, é uma maravilha de tempo perdido. Em curto, Bayern Munique É a equipa.

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  4. MAS, na primeira parte, há enorme demérito da Juventus que jogando em casa, praticamente absteve-se de jogar. A ideia de jogo era claramente aquela, de se remeter ao seu meio-campo, procurando depois uma genialidade do Pogba para lançar o Dybala ou o croata. Na segunda parte lá percebeu que para morder o Bayer, teria que efetivamente atacar com maior frequência, um centro de uma defesa muitíssimo debilitado. Assim, que o fez, os 2 golos aconteceram até com relativa facilidade.

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    1. A ideia de jogo até poderia ser a de conceder a posse de bola ao Bayern, mas duvido muito que estaria nos planos do Alegri defender dentro da sua grande área. Mas, concordo que no primeiro tempo os italianos estiveram apáticos. Acredito que o Alegri ao intervalo deve ter puxado a orelha a muitos.

      Depois, o Dybala tem velocidade e mobilidade para causar problemas à defesa do Bayern em contra-ataque, mas o Mandzukic... não gosto de ver o Pogba a médio esquerdo. O Lahm soube tirar proveito disso. Aliás, é engraçado ver que o Bayern foi uma equipa assimétrica dentro de campo muito por culpa da assimetria táctica do 4-4-2 da Juventus. Ou seja, ao contrário do que muita gente pensa, o Guardiola prepara os seus onzes muito de acordo com os seus adversários. Por exemplo, do lado direito da sua defesa, o Lahm era um jogador que a atacar percorria espaços na zona interior ao contrário do Bernat. Isso era para estarem sempre perto dos seus adversários directos quando a equipa perdesse a posse de bola: o Pogba jogando na esquerda estava quase sempre em terrenos interiores e o Quadrado era o elemento que jogava mais encostado à linha no flanco direito do ataque da Velha Senhora. Logo ali o Pep anulava boa parte do fluxo atacante dos italianos.

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    2. O facto da equipa estar sempre no meio-campo adversário, permite que esta tenha muita mais facilidade na recuperação da bola(Como referes no post). O Bayern em muitos momentos, tinha Robben a pressionar Pogba e Alaba e outro central a dobrar nas respetivas alas de modo a evitar as incursões do Dybala, sobretudo. Em certos momentos, o Bayern, jogou com 2 centrais, um trinco, Robben e Douglas Costa nas alas a tempo inteiro, fixos, Lahm e Bernart a médios-interiores, com Thiago a ser o médio mais centralizado. Na frente Muller e lewandowski em constante movimentos interiores e exteriores.
      Mas sim, Bernat ainda procurava apoiar um pouco mais as incursões do Douglas na ala; o Lahm, por outro lado, procurava mais movimentos de rotura a interior direito.
      É uma equipa multifacetada.

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