17 fevereiro 2016

Jonas e Jiménez foram...


Um porque marcou o golo da vitória e o outro porque permitiu os outros jogarem.

Tal como eu previa
Já na segunda-feira e até mesmo no artigo após o desaire frente ao Porto, indicava que uma das soluções para o problema ofensivo do Benfica nestes jogos "grandes" era a seguinte:
«... manter o modelo de jogo e o seu sistema, mas caracterizar melhor quais os jogadores que combinam melhor entre eles para potenciar as suas virtudes e esconder as suas fraquezas. Por exemplo, o Raúl Jiménez pode não ser tão eficaz em frente ao golo como o grego Mitroglou, mas o seu índice de trabalho e a sua mobilidade, podem satisfazer melhor o jogo de Gaitán e de Jonas, sobretudo, quando estes dois estão manietados por marcações intensas dos defesas e médios adversários.»

Por isso não fiquei nada espantado com a entrada do ponta-de-lança mexicano e na forma como ele dinamizou o ataque. na última meia-hora. Recordam-se do lance em que o Gaitán poderia ter marcado o golo ontem à noite? Pois bem, esse lance começa numa conquista de bola do Jiménez jogando de costas para a baliza do Zenit e com o Garay na marcação (ver vídeo do resumo do jogo, em particular a partir do minuto 3:35). Ele passa a bola para o flanco esquerdo e o que faz o mexicano a seguir? Se fosse o Mitroglou voltava para uma posição no corredor central, onde já estava o Jonas. Mas, o conhecimento táctico do mexicano leva a tomar uma decisão que é tomada por todos os grandes futebolistas: procura do espaço livre. O Raúl ao ter dado a bola para o colega no flanco esquerdo, sabe que o lateral adversário vai sair à pressão desse colega, deixando um espaço livre nas suas costas, pronto para ser explorado, uma vez que a linha defensiva do Zenit continuava baixa (devido à presença do Jonas na área). Resultado: há uma combinação entre o flanco esquerdo e o meio-campo encarnado que liberta a bola para o Raúl sobre a extrema esquerda. Este ganha a linha de fundo e num cruzamento bem medido com o seu pior pé (o esquerdo) envia a bola para a zona da marca de grande penalidade, onde encontra a cabeça de Jonas que amortece para a entrada de Gaitán. Sim, o argentino que tinha tido, até então, muitíssima dificuldade em ultrapassar os seus adversários directos com a bola controlada, num movimento de penetração e de ataque do espaço livre (deixado pelo Raúl!) tem uma clara oportunidade de marcar golo para o Benfica. Sem grandes fintas, toques de calcanhar, o Benfica conseguia com um pouco de mobilidade, aproveitamento dos espaços livres e troca de passes precisos, um lance de futebol espectacular. Digam lá se o futebol simples não é o mais bonito e eficaz? O mais engraçado é que este lance ocorre várias vezes durante os jogos em que o Raúl joga. Já em Moreira de Cónegos, no jogo para a Taça da Liga, ele foi o pai para o segundo golo do Gaitán, pela forma como criou o espaço para o argentino penetrar e finalizar após passe de Jonas. Já na Madeira, frente ao Nacional, num lançamento lateral do flanco esquerdo, o Jiménez numa posição lateral centra de primeira para o Jonas concretizar dentro da área. É esta mobilidade e inteligência de jogo que tem faltado ao Mitroglou, sobretudo nos grandes jogos, onde há poucos espaços para os jogadores e onde a mobilidade entre eles é que funciona como criação deles. Ao Raúl falta-lhe aquilo que o grego possui: confiança na hora da finalização. Mas, mesmo este também falha, como vimos frente ao Porto. Ah! E apesar de também ter previsto a quebra física do Zenit a partir da hora de jogo, nem foi tanto por essa situação que as nossas situações de ataque surgiram com mais frequência. Foi acima de tudo pela forma como o Raúl com as suas movimentações desbloqueou as trancas do último terço do terreno para o Benfica. Com ele em campo, começaram a chover mais faltas do Zenit no último terço do terreno, porque simplesmente havia maior imprevisibilidade que os defesas russos não conseguiam lidar. Por isso mesmo, é que considero fundamental para o resultado final a entrada do camisola 9 encarnado.




Grande coragem do Rui Vitória
É preciso ser um treinador com muita confiança nos seus métodos de trabalho para depois de uma derrota caseira frente ao Porto surgir com o mesmo onze frente a uma equipa poderosa como o Zenit de São Petersburgo. Para mim, surpreendeu-me... e pela positiva. Positiva, porque obriga a que os seus jogadores tenham que defrontar uma vez mais as suas barreiras emocionais, perante equipas de nível idêntico e superior. No entanto, espero que a entrada de Raúl e a sua prestação tenha servido para o Vitória entender que é com o mexicano que aquele tridente maravilha, formado por Pizzi, Jonas e Gaitán, funciona às mil maravilhas. De qualquer maneira, tenho de parabenizá-lo pelo enorme trabalho que tem efectuado junto aos miúdos. Viram como o Renato jogou naquele meio-campo? E, o sueco Lindelöf? Viram como ele progredia com a bola nos pés? Viram como ele fazia dobras aos companheiros? Quem o viu frente ao Porto e quem o viu ontem?! E de um jogo para o outro passaram-se pouco mais de 72 horas. A confiança com que o técnico encarnado aposta nos nossos jovens tem sido crucial para disfarçar as carências da equipa nos habituais titulares. E, no caso das posições de lateral direito, defesa central direito, médio-centro e extremo direito, penso que já vai na terceira invenção em cada uma dessas posições. Assim de repente: Semedo, Sílvio e André Almeida para lateral direito; Luisão, Lisandro e Lindelöf para defesa central direito; Pizzi, Talisca, André Almeida e Renato Sanches para médio-centro; Vitor Andrade, Gonçalo Guedes, Carcela e Pizzi para extremo direito. E, tudo isto em pouco mais de 6 meses de trabalho. Se não é um excelente trabalho o que será?!

Penso que a expressão de Rui Vitória diz tudo. Palavras para quê?!

Não marca contra quem?
Muito o Jonas tem sido fustigado pela comunicação social, porque é visto por estes como um jogador que não marca aos grandes clubes. Conforme o leitor poderá entender, pelo que escrevi acima, o Jonas não joga sozinho. Para ele marcar golos é preciso que toda a equipa jogue como um só. É preciso que os restantes colegas consigam criar-lhe espaços para ele poder aparecer no jogo, quer a marcar quer a criar. Agora, se ficarem todos estáticos na sua posição, por mais que ele se desmarque nas costas dos defesas, fuja a marcações entre-linhas ou venha buscar jogo a meio-campo, ele por mais que queira não vai conseguir transformar essa qualidade de jogo em golos. Quem prestou ontem atenção ao seu jogo até ao minuto 62 ou 63 (quando o Raúl entra em campo), percebe que o que ele fez em campo, foi bem feito. Aliás, tal como já tinha acontecido frente ao Porto. Por isso, deverá custar-lhe (pelo menos a mim custa-me bastante!) as críticas que lhe são endereçadas. Sobretudo, esse rótulo de não marcar aos grandes clubes. Não é à toa que ele explode de contentamento com o golo que marca frente ao Zenit. Não é apenas porque foi um golo no último minuto. Ou porque o prémio de golo marcado na Liga dos Campeões é mais apetecível. É por tudo o que tem passado. Por tudo isto, respeito!

Respeitinho é bom e ele merece!

12 comentários:

  1. Essa de dizerem que o Jonas não marca aos grandes clubes, é para poderem dizer mal do homem... como se trata do melhor (de longe) ponta de lança do nosso campeonato, eles precisam de lhe arranjar algum defeito...
    Há uma coisa que me preocupa e gostava de saber a tua opinião: NA Rússia, com o Jardel castigado, se o Lizandro recuperar faz dupla com o Lindelof.
    Mas imaginemos que não recupera... quem achas que devia avançar para o lado do sueco?

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    1. Olá António Viegas!

      Ora aí está uma possível grande dor de cabeça para o Rui Vitória. A nossa sorte (mas também poderá ser o nosso azar se até lá houver mais surpresas desagradáveis a nível de lesões) é que o jogo frente ao Zenit na Rússia é só daqui a duas semanas. Ou seja, teoricamente teremos mais 3 a 4 jogos, pelo que se o Lisandro já estiver apto para o jogo de sábado, poderá e deverá fazer parte do onze para desde já ganhar ritmo e rotinas. Ritmo porque já vai um mês que está de fora. E rotinas, porque o Lisandro gosta de jogar sobre a meia direita da nossa defesa e esse tem sido a posição do Lindelöf. Estou curioso por saber o posicionamento dos dois nessa situação.

      Agora, se não recuperar, com Jardel e Almeida de castigo, rezaria para a recuperação do Fejsa que pode jogar nessa posição. Mas, e se este não recuperar? Então recuaria o Samaris para central, o Sanches para médio mais defensivo e o Talisca entraria no onze como médio-centro.

      Outra solução seria apostar no Lystcov, mas o miúdo não tem trabalhado com a equipa principal a não ser as últimas semanas. Preferia apostar na solução acima, porque estão muito mais identificados com o modelo de jogo da equipa principal. Contudo, o facto de ser russo e o jogo ser na Rússia, cujo adversário directo em campo é nada mais, nada menos que o ponta-de-lança da selecção russa, se calhar seria super motivante para qualquer aspiração ao euro 2016 do miúdo...

      ;)

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    2. O jogo na Rússia será dia 9 de março, por isso serão 3 semanas. Creio que será tempo suficiente para Lisandro recuperar.

      PP, gostei bastante deste post e concordo com o António, dizem isso do Jonas para apoucá-lo, apenas.

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    3. Olá Pablito!

      Então com sorte, teremos o Fejsa também recuperado... =D

      Quanto à cena do Jonas, é a mediocridade da nossa comunicação social. São capazes de elogiar até ao tutano um Slimani e rebaixar um Jonas... =(

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  2. O Lystcov nem sequer pode jogar porque não está inscrito. Mas o Lisandro deve recuperar, ainda falta muito tempo.

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    1. Verdade F.L.! Agradeço-te o reparo. De facto, o Lystcov não pode por pertencer aos quadros do Benfica há menos de dois anos: por isso, não é elegível para a lista B dos lote de inscritos na Liga dos Campeões.

      ;)

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  3. O Lystcov é demasiado fraco para ser titular na equipa principal do Benfica e para ir ao EURO 2016 pela Rússia. O Rubén Dias é um central muito mais interessante, mas neste momento estão ambos bastante longe até do nível que o Lindelöf vinha a apresentar na B.

    Não concordo em relação ao Jiménez, sobretudo na sua insistência em se colar à esquerda. É verdade que às vezes resulta nesses movimentos, mas também é verdade que deixa muitas vezes de haver referências na área para a finalização. Possivelmente joga assim por ordens do treinador, mas não penso que seja a opção correta. O que não quer dizer que não lhe reconheça algum valor e é uma alternativa interessante em relação ao Mitroglou, que permite outra abordagem ofensiva ao jogo.

    Quanto ao Jonas, concordo em absoluto. Mesmo contra o Porto, fez uma primeira parte de grande nível, e se se apagou na segunda, é porque também os colegas se apagaram. A história de ele desaparecer nos jogos grandes é treta. É certo que tem menos espaço e tem pela frente defesas muito mais competentes, mas digam-me um jogo grande em que ele tenha estado mal e o resto da equipa bem.

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    1. O Jiménez não se cola à lateral esquerda. Ele tem é escola. Sabe bem interpretar dois dos princípios específicos do futebol: mobilidade e espaço. Algo que o Mitroglou não o faz e que pode e deve fazê-lo. Quando tens marcações muito bem feitas, é com este tipo de princípios que consegues ir quebrando as estratégias defensivas adversárias. E aí é que a qualidade técnica vem ao de cima.

      O lance que faço referência no texto é bastante claro. Podes ver no video do resumo do jogo esse lance ou então aqui:

      https://streamable.com/odt1

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  4. O Lindelof fez um jogão como da noite para o dia, a equipa toda esteve muito bem, todos jogaram com garra.
    O Zenit a meu ver estava a jogar com o autocarro todo lá atrás, compreendo que estavam a jogar para o empate por causa da falta de jogos, o Eliseu(o velhote como costumo dizer xD) anulou por completo o Hulk. Estou receoso de como o Rui Vitoria vai resolver a situação da defesa.

    Como tinha dito no post anterior no jogo do Porto e vendo agora, se calhar em vez de tirar o Jonas pelo Jeminez teria feito como neste jogo.

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    1. O Vitória vai ter imenso tempo para poder resolver esse problema. Contudo, no seu lugar e partindo do pressuposto que o Lisandro já está em condições, apostava nele ou a titular ou então a entrar durante o jogo.

      Outros que têm de ter minutos são Semedo e Sílvio. Aliás, aproveitava o adversário Paços de Ferreira, que também está desfalcado de muitos dos seus jogadores, e o presumível cansaço do Eliseu (ainda não parou de jogar!) para lançar os dois. E, se possível lançaria também o Grimaldo no jogo na segunda parte.

      Outras alterações que fazia no onze titular seria a entrada do Carcela para o lugar do Pizzi e a outra seria a do Raúl para o lugar do Mitroglou. Pizzi poderia entrar na segunda parte, tal como o Gonçalo Guedes, por exemplo.

      No meio-campo, dava 60 minutos de jogo ao Sanches ou ao Samaris. Depois apostava no Talisca.

      É importante ter um leque bem alargado de jogadores com ritmo de jogo, pois é fulcral para o que falta da temporada, ainda para mais estarmos tão bem posicionados para continuarmos na Liga dos Campeões.

      Gostaste da dinâmica do Jiménez, Anónimo?

      ;)

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    2. Precisamos de ter o Semedo novamente em campo!!
      O Jimenez é bastante diferente do Mitroglou, como é mais solto é bom lança-lo na 2ªparte visto a defesa adversária já estar cansada! ;)

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    3. O Semedo por mim até seria titular frente ao Paços de Ferreira.

      Quanto ao Raúl, preferia vê-lo a titular. Até para picar o Mitroglou.

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