13 novembro 2017

Qual a pergunta que fariam ao...


... na última entrevista?


Se tivessem a oportunidade de intervir em diálogo com o presidente Luís Filipe Vieira, o que lhe diriam? Pessoalmente, haveria vários temas que gostaria trocar umas impressões com o líder encarnado, como por exemplo, a área financeira, a visão da formação e da política de contratações, a forma de comunicar e até mesmo o enquadramento da instituição no futuro tanto a nível nacional como internacional. Mas, vamos por partes...

«O Benfica é hoje em dia a "maior marca nacional"», sou eu que o digo, mas estou convencido que LFV e Domingos Soares de Oliveira estarão completamente de acordo com esta afirmação. E, por incrível que pareça, talvez seja por isso mesmo, que a postura do Benfica no mercado tem sido de abertura. Já repararam que o presidente manteve sempre uma via para o diálogo com os responsáveis máximos das maiores organizações do futebol profissional do país, nomeadamente os presidentes da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga de Clubes, mas também os líderes máximos da arbitragem? É através de criação de pontes que se consegue construir impérios. Não é a destruí-las. Aliás, um patrocinador quer exactamente isso. Um Benfica internacional tem de ser necessariamente aglutinador e não fechar-se em copas e declarar guerras contra os outros. Mesmo que tenha motivos para tal e estejam a declarar guerra aberta sobre os encarnados, como temos vindo a ser alvo nos últimos anos, tanto por Porto e Sporting. Este ponto é fundamental, para que todos entendam um pouco a forma como o Benfica tem comunicado. É fundamental, para que aqueles adeptos encarnados mais fervorosos entendam o porquê de estarmos a adoptar esta estratégia. Lá por os outros clubes utilizarem tácticas medievais ou até mesmo tribais, que devemos rebaixar ao nível deles. Isso seria prejudicial para nós, mas também para o próprio país. E, quer queiramos ou não, sendo a maior marca neste rectângulo à beira-mar plantado, temos uma responsabilidade acrescida sobre o país. Não é à toa que todos os desenvolvimentos no futebol nacional foram em grande medida lançados pelo Benfica, desde sempre.

Este ponto é fundamental porque é sobre ele que tudo o resto gira. A nível financeiro é preciso tornarmos-nos auto suficientes. Por outras palavras, é fundamental reduzir rapidamente o passivo, mantendo o nível de investimento que permita a senda das vitórias. A grande questão aqui é saber ao certo qual o melhor equilíbrio. Ou seja, quanto é que devemos por época abater no passivo? E, quanto tempo vai demorar a acontecer? Por outro lado, quanto é que devemos investir? E, devemos investir no quê? Para mim, as duas primeiras perguntas não foram de todo esclarecidas nesta entrevista e seriam de certo algo que perguntaria ao presidente encarnado. Quanto às últimas duas, acrescentaria umas quantas outras mais incisivas e até provocadoras: porque razão gastamos todos os anos tantos milhões de euros em jogadores do mercado sul-americano que depois nunca põem cá os pés? Falo de jogadores como o Fariña, o Gutierrez, entre outros? Temos alguma espécie de "avença" nesse mercado? Isso significará que se detectarem o "novo Messi" ele virá directamente para a Luz? Qual é de facto a verdadeira estratégia por detrás dessas contratações? É que podem não ser muito caras por jogador, mas por "pack" representam perto da dezena de milhão de euros, o que equivale ao valor médio de um titular do Benfica...

E, aqui lançava o tema da formação e da política de contratações. Se é bem verdade que estamos a investir na formação e apostar nos jovens, por outro lado, essa aposta deveria reflectir numa poupança na compra de jogadores. E, não é bem isso que assistimos. Continuamos a gastar por época cerca de 30M€ em contratações. Bem, por aqui até estou a dar um trunfo ao LFV, pois aqui está a prova que ele tem de dizer que não estamos a desinvestir na equipa. Estamos sim a investir de forma diferente. A meu ver, parece que estamos a investir cada vez mais em quantidade e em jogadores mais jovens (daí o número de aquisições e a idade dos jogadores), mas não estamos a desinvestir financeiramente. Isso acaba por ser bom para os nossos parceiros promotores, como os agentes de futebol com que trabalhamos. Estes acabam por continuar a ter trabalho connosco. Isso pode parecer pouco importante, mas não é. Porque na altura de querermos vender os nossos jogadores - porque a parte de leão da nossa receita é fundamentalmente das transferências - necessitamos da ajuda desses empresários. É uma espécie de simbiose, que se for bem transparente poderá funcionar para todas as partes, até porque o Benfica terá necessidade de ir-se reforçando a sua formação com proto-craques de todo o mundo e não apenas de Portugal. Mas, então como se reduz o passivo desta forma? Não é pelo lado do investimento (redução de custos), mas sim pelo lado das vendas de jogadores (aumento de receitas). Daí que seja importante o relacionamento com a fauna empresarial do futebol.

Mas, e como podemos evitar os descalabros nas competições europeias, como aconteceu neste início de temporada em Basileia? Estamos a falar do equilíbrio que a equipa do Benfica tem de ter e que parece que este modelo de negócio pode não estar a ajudar em nada. Por um lado, parece haver um excesso de juventude que ainda tem muita pedra para partir para entender o modelo de jogo do Benfica. E, o mais curioso, isto acontece não tanto dos jovens made in Seixal, mas sim daqueles que vêm de fora, como por exemplo, Zivkovic, Cervi, Rafa, Gabriel Barbosa, entre outros. Por outro lado, parece-me que os nossos veteranos estão cada vez mais veteranos para um nível de exigência tão elevado como o da Champions. Ou seja, não seria indicado investir em jogadores de primeira linha? É que nos últimos anos, temos formado e potenciado jogadores para serem transferidos e tirando o Salvio, o Pizzi e o Samaris, que se têm mantido no clube, mas, que no entanto, parecem insuficientes para fazer a tal renovação do núcleo duro de veteranos e portadores da mística encarnada. Já agora, uma pequeno apontamento, para aquilo que acho que estamos a fazer mal na nossa formação: estamos a criar um excedente de jovens bons jogadores e que depois acabam por se atropelarem nos treinos durante a época em que são testados na equipa principal. Acho que isso não é benéfico para eles. Actualmente, temos um titular e mais dois suplentes desse titular. Muitas vezes, esses dois suplentes são dois jovens do Seixal, outras vezes são dois jovens, uma recém-contratação outro da formação. Por exemplo, o Pizzi (titular), o Krovinovic (jovem contratação) e o João Carvalho (jovem formação). Agora com a mudança de sistema pode fazer algum sentido manter o Joãozinho, mas mesmo assim, quantos minutos terá ele na equipa principal? Não faria mais sentido estar a jogar e adquirir experiência fora da equipa? Não poderá ser estes meses maléfico para o desfoco na sua carreira? E, como este existem muitos outros exemplos. Penso que é preciso olhar com melhores olhos para este problema, porque a ideia será sempre aproveitar ao máximo todos os talentos formados, evitando desperdícios. Até porque o que está em causa é a marca Benfica...

Por fim, para falar um pouco sobre o enquadramento nacional e internacional da marca do Benfica no futuro (no curto, médio e longo prazo) e fazendo uma ponte com os temas anteriores, não seria benéfico para o Benfica ter um nome forte internacional nas suas fileiras? Verdade que já temos um ET - para a realidade nacional - como é o Jonas. Mas, para o nível internacional precisamos de alguém que os enfrente da mesma maneira. O Salvio é muito bom rapaz. O Samaris tem a atitude, mas falta-lhe outras coisas. O Seferovic é um jogador de trabalho. E, o Raúl embora seja a nossa contratação mais cara e tenha muito mercado, falta-lhe um pouco de bad boy que se assuma de uma vez por todas que quer a titularidade. Muito sinceramente, falta-nos uma espécie de Neymar para a nossa realidade. Um jogador que é de facto um game changer. Não apenas para as quatro linhas, como também para os adeptos, para os patrocinadores, para as televisões, para as arbitragens e para os adversários. Reparem que estes três últimos teriam imensa dificuldades de apontar o quer que seja ao Benfica quando temos realmente grandes jogadores. Um jogador desses poderia catapultar a equipa para outro nível e abrir outros mercados. Mas, o problema aqui será: quem? E, em que condições, quer física, quer financeiramente? A bem da verdade, penso que era essa a ideia quando o Benfica foi buscar o Taarabt. Mas, também antes de se calhar ir procurar no mercado uma solução, era bom olhar para o que temos emprestado... aí vejo um nome que poderá ser o tal jogador: Talisca. É tão jovem como o Neymar e é muito vivo, apesar de aparentemente não ter tanta cabeça. E, por falar no craque canarinho, o Benfica tem neste momento aquele que foi considerado o "novo Neymar" no Santos: o Gabriel Barbosa... penso que por isso estamos no bom sentido, mas falta dar mais condições para os jogadores jogarem e criar aquele ambiente em que eles e os adeptos sintam que se trata de um jogador diferenciado.

12 comentários:

  1. Não é a questão das perguntas que se fariam, apesar de na área financeira haver muito para perguntar, mas tanto "qual o grau de fiabilidade nas respostas do presidente". Pelo que me diz respeito nenhum, daí não perder o meu tempo com ele!

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    1. O Anónimo aqui em baixo tem uma certa razão. Não entendo o porquê dessa tua cisma com o Luís Filipe Vieira.

      Percebo que possas criticar algumas decisões do presidente do Benfica. Mas, agora por tudo em causa... não acho que seja sensato. Até porque se há coisa que a vida e, sobretudo, o futebol, já me ensinou é que o sucesso tem vários caminhos, logo várias decisões. E, a verdade é que o LFV quer se goste ou não tem cumprido.

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    2. O BP ali em baixo começa a explicar a cisma. Outra é como os Vieiristas são tão rápidos a condenar JVA e tão lestos a defender LFV.

      E ele cumpre em quê? Já o disse noutras ocasiões, se calhar até noutros sítios, quando o rei sair do trono é que se poderá escrever a sua história.

      Não querer ver que LFV está na categoria de Presidentes que se servem do Benfica e não que servem o Benfica é andar iludido. Um dia talvez!

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    3. Bem também não diabolizo assim tanto o Vale Azevedo, até porque acho que embora com culpa nos crimes, também foi vítima por ter ido contra o "stablished" em Portugal.

      Já agora diz-me um presidente que não se serviu do Benfica?

      É normal que o LFV esteja a servir-se porque de facto quando sair de lá irá poder dizer que "foi a sua melhor obra".

      Sinceramente eu acho que ele está lá mais com espírito de querer fazer crescer o clube do que estar a alimentar-se dele.

      Se assim fosse não teria tanto trabalho a criar estruturas e a inovar tanto como tem feito.

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    4. «Sinceramente eu acho que ele está lá mais com espírito de querer fazer crescer o clube do que estar a alimentar-se dele.» É onde discordamos.

      É difícil dizer que Manuel Damásio, com todos os seus defeitos e mal que fez ao clube, utilizou o clube para dar uma lufada de ar fresco à sua vida profissional extra clube. O mesmo não se pode dizer da figura de Vieira. Aliás, a forma como Vieira usa o clube para se encher e aos seus colaboradores faz até o JVA parecer um menino de coro.

      Quanto ao JVA, também não te acuso de seres Vieirista, só acho que andas iludido. ;)

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  2. Para ti o que é fiabilidade? E como condegues medir? Acho que os inseguros são os mais desconfiado, porque será?

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  3. Para ti o que é fiabilidade? E como consegues medir? Acho que os inseguros são os mais desconfiados, porque será?

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    1. Fiabilidade: «Qualidade do que é fiável, digno de confiança.

      "fiabilidade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://priberam.pt/dlpo/fiabilidade [consultado em 16-11-2017].

      Como qualidade que é, e não quantidade, medir fica complicado. Já avaliar não. LFV quando acenou com um Estád(i)o Novo disse que ficaria pago em quanto tempo? Há quanto tempo é que se ouve falar do Benfica made in Seixal e quantas promessas se irão ainda embora, para dar lugar aos Lisandros desta vida? O contrato da NOS que faz com que os Benfiquistas sejam os únicos adeptos que têm de pagar duas vezes (três com a mensalidade do fornecedor) para verem a sua equipa é vantajoso para o Benfica como? A avaliação dessas receitas está em linha com a marca Benfica face à concorrência? Onde andou LFV quando a equipa agoniava e agudizava nos primeiros meses de Rui Vitória? Ou nos momentos mais difíceis do consulado de JJ? Qual o papel de LFV no negócio Ovchinikov? Ou o papel de LFV no affair Mourinho? De que forma as transferências com o Atlético, e as cláusulas que para lá haviam, foram feitos como forma de validar negócios relacionados com o betão? Porque é que o betão no Benfica só teve sossego quando as construtoras amigas andavam por esse mundo fora a construir estádios para outros? Porquê a necessidade de mudança de estatutos para um critério que nem ele cumpre? E será preciso começar a falar nas personalidades duvidosas? Pedro Guerra? O tipo da comunicação do SCP que criou a campanha sobre a idade do Renato, campanha essa tão vencedora que o fomos contratar quando o patrão antigo o despediu? Os parasitas que tentaram refundar o clube noutra data, com outras pessoas e com nomes inventados. A lista para a desconfiança é mais longa e distinta do que os títulos conquistados caro incógnito...

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  4. 'Porque é que, sempre que o Fruta Corrupção Pancadaria está moribundo, o Benfica dá-lhe a mão e ajuda-o a voltar a ganhar?'

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    1. Aconteceu no início do século, com as nossas dispensas de Deco, Maniche e Mourinho, que acabaram todos no Fruta Corrupção Pancadaria a pôr fim a um jejum de 3 anos e a conquistar a Europa...

      E está a acontecer nesta época outra vez...

      E já nem falo de 2010-2011, embora me pareça que aí o rolo compressor da época anterior, a par do facto do nosso rival ter sido o...Braga, nos adormeceu na já proverbial sobranceria...

      A Leonor Pinhão é que tem razão: mais que um clube de futebol, o Benfica é uma obra social! ;)

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    2. O Deco foi um erro de casting ao contrário, mas de uma ou duas gestões anteriores ao Vilavinho. Mourinho, e já se sabia que depois de Mourinho ia Maniche, já foram do Vilavinho.

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