23 junho 2016

Desorganização nacional


A selecção nacional espelha a desorganização do nosso país.

Ontem, após o emocionante empate, e consequente apuramento para os oitavos-de-final do campeonato da Europa 2016, em França, o treinador - e agora comentador desportivo - Carlos Carvalhal comentava que as razões para Portugal não apresentar um estilo de jogo coerente, prendia-se por dois grandes motivos:
  1. Não temos um núcleo de jogadores (7 ou 8) que jogassem juntos na mesma equipa, como acontece com outras selecções.
  2. Não existir um modelo de jogo português, como existe com outras selecções.
Mas, será que isto é mesmo assim? Na minha opinião, e apesar de compreender o raciocínio de Carvalhal, não concordo. Em primeiro lugar, são poucas as selecções em que isto acontece, talvez apenas a Espanha e a Alemanha possam servir de bons exemplos. Segundo, a maioria das selecções partem da mesma situação que a nossa e mesmo assim, muitas delas conseguem ter melhores resultados, como por exemplo a Croácia. Aliás, Portugal neste contexto nem deveria queixar-se muito, pois tem vários grupos de jogadores (de 2 e 3 jogadores) que vêm dos mesmos clubes. Depois em termos de modelo de jogo, há um já criado desde a década de 90, portanto, não partimos do zero como outras equipas que se reinventaram. Sendo assim, o problema não pode ser visto desta forma tão simplória.

O maior problema da nossa selecção é de se continuar a pensar que os mais talentosos é que devem jogar sempre. A história do futebol Europeu e mundial está repleta de histórias de que isso nem sempre acontece. Basta para isso entender como a Itália ganhava campeonatos Europeus e mundiais, com equipas que praticavam catenaccio, por carecerem de jogadores talentosos, ou a própria selecção germânica que com jogo físico conseguiu impedir que os talentosos holandeses do futebol total sagrassem campeões europeus na década de 70. E, isto para não falarmos de selecções como a Dinamarca e, mais recentemente, a Grécia, com as suas conquistas do campeonato Europeu. Ou seja, há mais aspectos de maior importância que definem o sucesso das equipas, que apenas o talento. E, é essa importância desmesurada que damos ao talento que faz desequilibrar a nossa equipa.

Mas, como assim? É simples. Considerem os seguintes três jogadores da selecção nacional: Ricardo Quaresma, Nani e Cristiano Ronaldo. Agora, imaginem-se como director de futebol de uma grande equipa europeia que precisasse de contratar um jogador. Muito provavelmente, ao olharem para estes três nomes, iriam pensar numa única posição: a de (falso) extremo esquerdo. Agora, dos três, e se o factor financeiro não era problema, a maioria iria escolher o Cristiano Ronaldo, por ser talvez o jogador mais completo. Pois, bem, agora olhem para a selecção nacional... Estamos a  utilizar os três jogadores para as três posições da frente (extremo esquerdo, extremo direito e avançado centro), sabendo que apenas um é competente nas suas funções e os restantes dois são assim-assim nas suas posições de origem. Ou seja, preferimos apostar nestes três, em nome do talento deles, do que em jogadores que são especialistas nas suas posições. Logo ali, estamos a desprezar as rotinas e formas de jogar de jogadores que se foram especializando em algumas zonas de terreno. É assim, que muitas das boas opções para este europeu foram colocadas de parte (Hugo Vieira e Bernardo Silva). E, depois não se queixem de que a equipa está desequilibrada do ponto de vista táctico, pois pura e simplesmente há jogadores que por maior talento que tenham não se adaptam e cumprem com as obrigações de posições que eles não estão habituados a jogar.

Mas, quando não é em nome do talento, é em nome de interesses pouco claros que formam o onze das quinas. Têm dúvidas? Então vejam a conversa de Chalana, Carlos Manuel e Diamantino com o Hélder Conduto no programa Informação Especial da BTV. Reparem como a equipa das quinas era feita no Europeu de França em 84. Acham mesmo que uma equipa montada dessa maneira por mais talentosa que fosse poderia ser campeã Europeia? Só mesmo com muita sorte. Aliás, eu até considero, que conhecendo como as coisas funcionam, temos tido muita sorte nos resultados que temos obtidos. Agora, ganhar títulos desta maneira desorganizada é que é pedir muito da sorte.

Tudo isto reflecte apenas uma coisa: incapacidade de liderança e de comando dos grupos de trabalho. Falta liderança e coragem para impor uma ideia. Até agora, o que temos visto, através de sucessivas equipas técnicas que defenderam a selecção nacional é que na sua maioria querem gerar sempre consensos. Mas, os que mais resultados obtiveram com a equipa, foram precisamente aqueles que tomaram as rédeas da equipa (Scolari, por exemplo). Liderar não é optar sempre pela decisão mais popular e conservadora. É muitas vezes optar pela decisão mais dolorosa, mas que é a melhor para o bem do grupo de trabalho. E, eu vejo essa incapacidade quando olho para as convocatórias, para a forma como são escolhidos os onzes, para a atitude de conformismo do banco, ou até mesmo na comunicação da selecção nacional - ver o episódio caricato que se passou na conferência de imprensa do Cristiano Ronaldo após o encontro com a Hungria, em que o jogador a certa altura pergunta ao assessor de imprensa de Portugal "Mas, eu é que mando?" Gostava de mostrar-vos o video dessa parte da conferência de imprensa, mas como não encontrei fiquem com o video dos comentários da BBC acerca da exibição de Portugal frente à Hungria...


2 comentários:

  1. Bernardo Silva estava, e está, lesionado.

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    1. Caro Anónimo, se tiver oportunidade, dê uma vista de olhos sobre o artigo:

      http://o-guerreiro-da-luz.blogspot.pt/2016/06/afinal-de-contas-ja-esta.html

      Nele poderá confirmar pela boca do próprio como já está recuperado.

      ;)

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