23 fevereiro 2016

Às vezes é preciso parar...


Caso contrário entra-se num estado de histerismo desnecessário e contraproducente para um trabalho de qualidade na formação e competição. Duvidam?

Olhando para a fotografia acima, vemos um Cadu - jogador de 34 anos, que contabiliza no seu currículo o título de campeão romeno - com mais anos de experiência no futebol sénior que todos os 11 jogadores titulares do Benfica B frente ao Gil Vicente. É este o maior problema da equipa B do Benfica esta temporada. Por maior que seja o talento dos nossos miúdos, não é possível eles crescerem de forma sustentada se pensarmos que a equipa B do Benfica é nada mais, nada menos que uma equipa de júniores v2.0. Ou seja, que os jogadores que compõem o seu plantel sejam tudo jogadores com apenas mais um ano que a idade de júnior.

Para que o projecto da equipa B, seja um projecto equilibrado entre formação e competição, e que permita uma evolução célere dos mais talentosos, é preciso que o seu plantel não possa ser formado apenas por miúdos que há menos de um ano estavam nos júniores. É preciso existir um núcleo de pelo menos 5 ou 7 jogadores que sendo ainda jovens (entre sub23 e sub25) que permita manter um certo nível competitivo da equipa estabilizando-a a nível de resultados. Caso contrário, é importante baixar desde logo as ambições da equipa B, até no discurso para os seus adeptos.

É também importante aprendermos com os exemplos bons e maus de outros projectos de formação, como por exemplo, o do Barcelona. A formação blaugrana é muito elogiada, mas a verdade é que actualmente a sua equipa B está no equivalente à terceira divisão espanhola. Que nível competitivo ela oferece aos seus jogadores? Como é a curva de aprendizagem desses miúdos num e noutro contexto? Por isso, é que há cada vez menor aproveitamento dos seus talentos. A sensação que se tem deles é que é um projecto que viveu um período áureo, mas que foi um pouco abandonado. Espero que não seja isso que esteja a acontecer ao caso encarnado. Seria muito displicente.

O ambiente interno e externo em que os jogadores estão inseridos é dos factores mais importantes para a evolução de um jogador, sobretudo de miúdos que estão no Benfica. Pois estes já há muito que foram peneirados em termos de qualidade, portanto, não é por falta dela que poderão não se vingarem. O ambiente interno, entende-se aqui pelo ambiente dentro do plantel. Por exemplo, uma equipa que seja homogénea a nível etária e seja também imatura (como é o caso da equipa B), vai estar muito sujeita aos inputs da equipa técnica para poder evoluir. O problema é que por mais que a equipa técnica seja atenta e multifacetada, a passagem de informação que permita o jogador evoluir não é tão rápida como se dentro do próprio plantel existissem jogadores mais experientes e que já tivessem esse conhecimento. Reparar, que muitos jogadores tomam demasiadas decisões dentro de campo, um pouco por imitação de algo que já viram fazer e das suas próprias experiências. Ao treinarem com jogadores mais "batidos" poderão aprender mais rapidamente alguns pormenores que fazem toda a diferença no jogo. Por este motivo é que sou apologista de na equipa B, que é uma equipa profissional e não apenas de formação, tenha mais jogadores experientes e de qualidade. O ambiente externo entendo como sendo o ambiente competitivo que os jogadores estão inseridos. É importante o Benfica B manter-se na 2ª Liga, pois é ainda o ambiente mais próximo que existe daquele que irão encontrar no escalão superior do futebol nacional. No entanto, por ser um ambiente exigente, não há tempo para que uma equipa vinda dos júniores e com a sua curva de evolução consiga sobreviver nesse contexto, a não ser que haja jogadores que permitam catalisar mais rapidamente essa evolução.

Por tudo isto, também faz sentido a frase do Hildeberto Pereira quando diz que «às vezes é preciso parar e pensar nos erros que cometemos». Em primeiro lugar, quero desde já referir que para mim a adaptação do Berto a lateral direito é muito bem visto por Hélder Cristóvão. O jogador até poderá passar esta temporada um pouco revoltado, porque sempre se imaginou como um avançado e agora vê-se recuado no campo. Contudo, estes miúdos, na maioria das vezes não têm maturidade para pensarem um pouco sobre as suas próprias virtudes e defeitos. É exactamente por o Hélder ter feito essa análise que o colocou nessa posição. Assim que o Berto se interiorizar que é ali que poderá fazer uma grande carreira a nível profissional, iremos ver uma elevada evolução no seu jogo. Aliás, olhando para o que ele fazia no início da temporada e o que consegue fazer agora, pode parecer imperceptível, pois continuamos a perder jogos, mas já é bem significativo. Um exemplo, é a facilidade com que ele tem na antecipação dos jogadores contrários.

Depois, eu penso que esta equipa B tem alguns erros graves, cometidos pelo departamento de prospecção e de contratações, mas também de quem é o responsável pela construção do próprio plantel. São eles que construíram o plantel da equipa B todo ele constituído por jogadores muito novos. Notar que houve aqui uma ruptura sobre o que vinha a ser feito na equipa B nos últimos 3 a 4 anos, em que as equipas tinham sempre elementos mais experientes e com os resultados positivos que todos conhecemos. Outro erro que aponto e que também já apontava nas épocas anteriores, é a diferença de modelos de jogo que existe na equipa B para a equipa principal. Isso provoca um atraso na adaptação dos jovens para a equipa A, pois as funções que estão habituados a executar na equipa B são diferentes daquelas que vão encontrar na equipa principal. Por isso é que defendo um modelo mais uniforme entre estas duas equipas profissionais encarnadas.

Também é verdade que esta temporada é atípica. Houve mudanças na equipa principal e houve a necessidade de ver muitos jogadores da equipa B na equipa principal. Jogadores esses que num contexto normal (como o das épocas anteriores), prosseguiriam a sua evolução na equipa B e não na principal. Falo de jogadores como o Renato Sanches e o Gonçalo Guedes. Logo, dois jogadores para duas posições que o Hélder Cristóvão tem tido dificuldade em ter estabilidade. E, não esquecer das lesões de Pedro Rebocho e Nuno Santos, da situação dos marroquinos Taarabt e Bilal e do uruguaio Elbio. Tudo jogadores que acrescentariam imensa qualidade à equipa B.

Por tudo isto é preciso sermos um pouco condescendentes com o que se está a passar na equipa B.

Uma foto publicada por Hildeberto Pereira_oficial (@bertolas99) a

4 comentários:

  1. Eu sigo a equipa B com atenção. O que verifico é que apesar da grande sangria que sofreram, começam a subir para um patamar superior competitivo e isso tem-se notado nos últimos jogos. Isto é, o seu crescimento fisico e mental tem vindo sempre em crescendo, por isso tenho a certeza que irão continuar a subir na classificação.
    O tipo de competição que têm tido obriga-os a crescer e a tornar-se mais competitivos, a prova está nos resultados que já obtivemos com Semedo, Guedes, Sanches e Lindelof na equipa A e na rapidez com que se integraram.
    Há outros na calha para lhes seguirem o caminho no próximo ano, porque as equipas com quem jogam muitas delas são equipas com nível de 1ª Liga e com jogadores com qualidade de 1ª liga, alguns com experiência e com idade para serem seus pais.

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    1. Eles crescerem irão sempre crescer. Agora, a que velocidade eles podem crescer? Para mim, jogando uma equipa com um média de idades tão baixa, a taxa evolutiva da equipa será positiva, mas baixa. Se tiverem uns quantos dentro de uma equipa mais madura, a evolução desses miúdos será muito superior.

      Eu acho que a nossa evolução poderia ser superior. Também acho que os adeptos devem perceber melhor quais os reais objectivos da equipa B. Por outro lado, a equipa B tem de ser uma ponte real do jogador jovem para a equipa principal.

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  2. sera que o problema nao e mais a exigencia dos adeptos? no meu entender, a formaçao e para evoluir os jogadores e a equipa b e introduçao ao futebol profissional. quanto a parte de precisarmos de jogadores mais experientes, percebo o que dizes e penso que tens razao, mas no entanto temos que ver que os juniores do benfica na maxima força sao demasiado fortes para o campeonato de juniores, como tal ate para nao ficarem a "bater no ceguinho" com miudos da idade deles, nem arriscarem ficar 1 ano parados ou com pouca competiçao por causa de jogadores mais experientes na b que podem ja nao ter tanta margem de progressao, se calhar compensa mais jogar a segunda liga com eles, sabendo que o risco de descer e enorme, mas que ao mesmo tempo alguns deles aos 18 ja vao ter a oportunidade de jogar com homens e como tal mais facilmente sobem para a equipa principal.

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    1. alexanderson,

      Há claramente um problema de exigência dos adeptos para com a equipa B. Mas, esse não é o único problema.

      O problema da formação em Portugal é que os grandes clubes acabam por funcionarem como eucaliptos, ao sugarem todo o talento que existe em Portugal. Por isso, é que nos escalões jovens vemos essas cabazadas todas.

      O problema está na transição do futebol jovem para o sénior. Eles começam a competir logo com equipas seniores como este Gil Vicente que só no Cadú tem a experiência futebolística sénior acumulada de todo o onze titular do Benfica B. É difícil competir com isto, por mais talentosos que eles sejam.

      Depois há a questão da planificação e planeamento da equipa que quanto a mim parece não ser a mais correcta. O modelo de jogo da equipa B é diferente do da equipa principal...

      O que eu acho é que não se pode querer levar para a equipa B todo o plantel da equipa de júniores da época anterior, mais uns quantos miúdos vindos através do departamento de prospecção e contratações, que é o que parece ter acontecido esta temporada.

      Por mim, é fundamental que a equipa B se mantenha neste escalão competitivo. Esse deveria ser o objectivo maior. O segundo objectivo deveria ser o de criar e fornecer jogadores para a equipa principal. Duvido muito que haja algum que esteja preparado para a equipa principal, neste momento. Talvez apenas o Rebocho. Tudo o resto estão uns dois ou três anos de distância desse nível.

      Acredito que com um núcleo de jogadores mais experientes (não estou a falar de trintões), muitos dos miúdos poderiam crescer mais rapidamente.

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