18 fevereiro 2015

Made in Benfica: Derlis González


Porque o futebol é cada vez mais um negócio.

Não é apenas porque o internacional paraguaio ex-Benfica, e agora ao serviço dos Suíços do Basileia, marcou hoje um golo ao Porto nuns oitavos de final da Liga dos Campeões que escrevo este artigo. Mas, a verdade é que se o rapaz não tivesse talento e qualidade não estava a dar cartas ao mais alto nível no futebol europeu. Só por isso é já uma grande vitória do Derlis.

Numa semana, em que também o ex-equipa B encarnado, o português Rui Fonte, marcou um importante tento sobre o Sporting no "derby" do Restelo, não deixa de ser curioso o facto de termos dois "Benfiquistas" a marcarem a dois dos maiores rivais nacionais do Glorioso ao serviço dos seus actuais clubes. É sinal que existe qualidade. É sinal que houve um excelente trabalho nos escalões de formação e da transição para seniores do Benfica. É sinal que a prospecção está a resultar. Mas, também é sinal de que o modelo de negócio do clube está a funcionar.

Como assim? Porque escrevo isto? O futebol mundial é uma máquina de fazer dinheiro. Existem clubes que por terem a sorte de estarem enquadrados em mercados de grande escala (a Inglaterra e a sua abertura para o mercado asiático, a Espanha e a sua abertura para o mercado latino americano, por exemplo) têm logo um abonado ADN. Com essa facilidade de acesso ao capital conseguem montar equipas muito competitivas e recheadas de qualidade, pelo que os resultados são teoricamente mais fáceis de se atingir. Não é há toa que nos últimos anos as equipas que atingem a final da Liga dos Campeões são exactamente dos campeonatos mais ricos.

No entanto, em campeonatos como o Português a história é outra. Primeiro, a nossa dimensão de mercado é limitada. Segundo, a nossa (des)organização estrutural do nosso futebol (ver as novelas das lutas pelo trono da Liga e Federação Portuguesa) é crónica. Terceiro, a nossa incapacidade para estreitar ligações rentáveis com outros mercados de grande escala (escrevo o sul americano, com o Brasil a encabeçar, o africano, com referências às nossas ex-colónias, e até mesmo o asiático, com referência à Índia) é quase inexistente.

Perante um cenário local paupérrimo, congratulo o Benfica pelo seu caminho. Pela sua estratégia. É verdade que este caminho nem sempre foi coerente aos olhos de quem vê por fora. No entanto, cada vez mais faz sentido. O Benfica precisa de crescer com bases sólidas e com crescimento sustentável em algo de concreto. Enquanto pela Europa dos grandes campeonatos as fontes de receitas dos clubes são maioritariamente provenientes de direitos televisivos, bilheteira+camisolas, Liga dos Campeões e vendas de jogadores, no Glorioso, há uma maior diversidade de origens de receitas. Por outro lado, as principais origens também são bem distintas, i.e., enquanto um clube inglês tem nos direitos televisivos a sua maior receita, no Benfica esta é talvez a das vendas dos jogadores.

Por isso mesmo, faz todo o sentido potenciar ao máximo o nicho de mercado que é o de compra e venda de jogadores (comprar barato e vender caro). É verdade que políticas destas precisam ser bem enquadradas e muito bem geridas, porque caso contrário poderão dar prejuízo para o clube. Mas, é aqui que o Benfica parece estar a saber gerir bem as coisas e como tal merece o meu elogio. O facto de jogadores como o Derlis González, o Bernardo Silva, o João Cancelo, o Ivan Cavaleiro, o Hélder Costa, o Marco Lopes, e até mesmo o Rui Fonte, estarem todos eles a vingarem nos seus actuais clubes só traz boa imagem de marca. A imagem de "made in Benfica".

Já agora, se olharmos para o jogo grande desta semana da Liga dos Campeões, o que opôs o PSG ao Chelsea no Parque dos Príncipes em Paris, notamos que na zona mais importante do terreno do jogo - o meio-campo - estavam nada mais nada menos 6 jogadores. 3 deles eram ex-jogadores do Benfica (Matic e Ramires do lado dos londrinos e David Luiz do lado dos parisienses). Que melhor publicidade queremos que esta para o nosso modelo de negócio?!

É óbvio, que este modelo não poderá ser sempre este para um clube como o Benfica. Nem tão pouco penso que seja essa a estratégia a médio e longo prazo. Penso que seja um passo para se atingir um fim. E esse fim será uma sustentabilidade de receitas que não façam depender de negócios de jogadores. Isto também terá muito a ver com a envolvência do contexto desportivo nacional, cuja estratégia embora não inteiramente conhecida, existe com certeza no estádio da Luz.

Haverá dúvidas e haverá desafios no futuro próximo. Por exemplo, caso o Jesus saia, como se irá moldar a estrutura, uma vez que o técnico encarnado capitaliza em si um potencial de conhecimento ímpar no panorama futebolístico nacional e internacional? Outro exemplo, o que acontecerá quando houver incapacidade de contratar com alguma qualidade? Outro ainda: como minorar cada vez mais os jogadores que depois não triunfam como supostamente o seu potencial previa? Mais: como equilibrar essa estratégia de receitas com o sucesso desportivo a nível nacional e internacional?




P.S. 1: Evitei debater o tema Derlis González com o chavão clássico após uma boa exibição de um ex-jogador encarnado de que "tinha lugar no plantel". Acho que isso agora não é importante, até porque nunca saberemos como seria e porque simplesmente, não temos razões para achar que seria melhor do que está (estamos em 1º no campeonato...).

P.S. 2: Falando um pouco de futebol propriamente dito... já repararam no lance do golo do Derlis González? Imaginem por momentos o comportamento do lateral esquerdo do Porto nesse lance? Não sentem uma espécie de "deja-vu"? De terem já visto isto acontecer noutra altura? De verem isso acontecer com um jogador do Benfica? Com o Eliseu? Não é verdade?! Pois bem, quando é com o Eliseu é porque ele é extremo e não sabe defender, mas quando é com um Alex Sandro é porquê então?
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Pois é! Enquanto o Português que subiu a pulso na carreira e agora que chegou à casa dos 30 já não é objecto de poder ser vendido, pode ser criticado livremente pelos media. Já o lateral-esquerdo-que-não-sabe-defender-por-dentro-e-que-vale-30M€, esse já não convém criticar negativamente, pois é claramente objecto de venda e como tal, não merece crítica por parte dos media. Aqui a crítica não vai tanto para o Alex Sandro, pois o erro é absolutamente normal e muito comum no futebol actual em que as equipas cada vez mais utilizam laterais ofensivos e como tal o posicionamento destes nem sempre é o mais indicado, assim como não são os mais indicados os mecanismos de compensações nas equipas (isto daria outro bom tema de conversa). A crítica também não vai para os media, pois esses fazem os seus trabalhos e num mundo capitalista não podemos esperar que sejam inteiramente isentos. Sendo assim, a crítica vai para todos aqueles que ouvem e "comem" o que lhes dizem sem tentarem pensar pelas vossas cabeças. É muito fácil pegar num Eliseu, dizê-lo que não sabe defender porque toda a gente o conheceu como extremo na sua carreira, quando na realidade, ao vermos cada lance que criticam verificamos situações em que está o Eliseu para dois jogadores adversários, ou então está o Eliseu fora de posição porque já estava no ataque e a bola foi perdida ainda na primeira fase de construção por causa de um mau passe de um dos seus colegas, ou então porque o Eliseu não tem o apoio defensivo do extremo que está à sua frente numa jogada defensiva, etc.

P.S. 3: Hoje defendi aqui o Eliseu como amanhã poderei defender o Pizzi. É que já há por aí uma imagem do rapaz em como não sabe defender... por isso é que quando se vê as estatísticas de roubos de bola, faltas cometidas, faltas sofridas, etc, vemos o português no topo juntamente com o médio mais defensivo do Benfica... enfim!

9 comentários:

  1. o titulo não faz sentido nenhum dizer que um jogador que esteve apenas uns meses, poucos, nos juniores e que fez por eles apenas 10 jogos ser classificado de made in não tem sentido, é sem duvida nenhuma um produto da prospecção mas não da formação.
    O mesmo se aplica ao fonte, é verdade que este esteve mais tempo 2 anos embora esteve mais de um lesionado, que chegou ao clube com 22 anos dizer que é made in mais uma vez não faz sentido mais uma vez só de prospecção.
    isto não quer dizer que o que dizes no post esteja errado apenas escolheste muito mal os exemplos para o made in.
    sobre o teu ps eu a mim não me interessa a comparação com outros jogadores que não os que jogam no benfica e eliseu comparado com andre almeida ou silvio, o benito tem poucos jogos para que possa ter uma opinião definitiva, é o que defende pior alias sempre foi minha opinião que defendia mal, que é diferente de não saber defender, e não é por ser extremo mas por defender mal aquilo que dizes das estatísticas até pode ser a realidade mas se analisares os ataques das equipas adversarias quando joga o eliseu a larga maioria dos ataques são feitos por esse lado e isso quer dizer muita coisa.

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    1. O "made in Benfica" é utilizado aqui mais como um selo de qualidade/garantia que é um produto do Benfica. Não é exclusivamente o "made in Benfica" da formação.

      Sobre o Eliseu em comparação com André Almeida, Sílvio ou Benito, para fazer um juízo correcto era necessário haver um período de amostragem idêntico. Já vi excelentes jogos do André Almeida a lateral esquerdo, mas também já vi uma exibição paupérrima do português na final da taça de Portugal perdida para o Vitória de Guimarães. Toda a gente falha.

      No caso do Eliseu é fácil a explicação. Há erros individuais é um facto, mas há muitos mais erros colectivos. O pessoal esquece-se que à frente do Eliseu que é um jogador novo no onze encarnado desta temporada tem estado um jovem, como o Ola John, que tem ainda um longo percurso a percorrer em termos de posicionamento defensivo. O mesmo acontece com o jogador do meio-campo encarregue de dobrar tudo e todos: o Samaris.

      Do lado contrário tal não acontece porque Maxi e Salvio funcionam realmente como dupla em tarefas defensivas. Um diz mata, outro diz esfola.

      Se adicionarmos a isso o facto de a maioria das equipas quando jogam em contra-ataque tentam sempre jogar para a ala, para alargar a frente de ataque e assim criar espaços intersticiais, é normal que explorem o flanco mais debitado.

      A questão é que é debitado não pela questão dos jogadores, mas sim porque estes ainda não têm as dinâmicas correctas.

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    2. mas os erros do eliseu não são só de agora com o ola já vem desde o inicio da época com o gaitan à sua frente, alias quando o salvio esteve lesionado e o ola esteve na direita não vistes um aumento de erros do maxi.

      eu não disse que os outros não erravam o que disse é que erravam menos o exemplo que das do almeida até na altura era aceitável já que era o terceiro ou quatro jogo que ele fazia naquela posição para mais quando ele nem defesa lateral era quanto mais esquerdo coisa bem diferente do eliseu que tem uma larga experiência e alguma do lugar.

      grande parte dos erros do eliseu são erros individuais e não colectivos nos cruzamentos da direita varias vezes ele deixa que o extremo se antecipe e cabeceie coisa que os outros laterais cometem menos vezes, quando a bola lhe é lançada do guarda redes ou do central já são varias as vezes que ele perde a bola ou se deixa antecipar pelo adversário mais uma vez nos outros laterais vês isto muito menos vezes.

      agora por exemplo se fizeres comparação com melgarejo lateral que tinha os mesmos defeitos, e que teve o ola john também pela frente com a agravante de ainda defender na altura menos, quando teve um erro que nos custou uma derrota nunca mais jogou e foi corrido depois este nas mesmas circunstancias continua de pedra e cal.

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    3. João Carlos,

      O Eliseu não é o melhor lateral esquerdo do mundo. Isso é ponto assente.

      Agora o Eliseu não é tão mau quanto o pintam. E isso é que acho que o pessoal não tem assim tanto a consciência.

      Poderia contra-argumentar todas as críticas que fazem ao Eliseu perante as falhas que vemos todos os jogos a serem apontados a: Marcelo (Real Madrid), Clichy (Manchester City), Bernat (Bayer Munique), Gibbs (Arsenal), Guilherme Siqueira (Atlético Madrid), Alba e Adriano (Barcelona) entre outros. O que têm em comum? São todos laterais ofensivos.

      E se fizeres uma análise mais cuidada, verificarás que aqueles que "erram" mais são aqueles que jogam dentro de sistemas de jogo de meio-campo a 2 jogadores. Basta recordar aqui o Marcelo e o Clichy, por exemplo. Isso não acontece à toa. A razão até é muito simples: número de soluções de entre-ajuda para o lateral.

      No caso do Eliseu no Benfica, não era apenas o problema do Ola John não saber defender, ou da liberdade que só o Nico goza na equipa, havia o problema da posição "6". E isso sentia-se imenso na primeira fase de construção. Aliás, vê o crescendo exibicional de Jardel e compara com o crescimento táctico que o Samaris tem tido. Diria que os declives das curvas são exactamente os mesmos.

      Há e quanto à comparação do Eliseu com o Maxi, quando este tinha um Ola John na sua frente e um Samaris a meio-campo? Apontaria para a experiência e familiaridade do uruguaio perante o sistema de jogo de "Jota-Jota", como a principal causa para haver essa diferença.

      Agora:
      - Se há espaço para o Eliseu evoluir? Claro que há!
      - Se ele também tem culpa em muitos dos erros? Claro que sim!
      - Se deveríamos ter outras opções de raíz no plantel? Eu gostaria de ver na próxima temporada um Raphäel Guerreiro, por exemplo.

      ;)

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    4. o problema é que com a idade que ele tem e com a velocidade a ir embora rapidamente, que era o seu grande trunfo para compensar as debilidades defensivas, a sua margem de progressão é mínima.

      e não podemos esquecer que ao contrario de outros que chegam ao clube de novo, e ficam perante uma nova tactica e forma de jogar, este já tinha a experiência de trabalhar com este treinador e com esta tactica.

      o problema não é ter outras opções no plantel é já as ter e optar por uma solução que é pior que as outras.

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    5. Não acho que as outras opções sejam muito melhores.

      Sílvio depois de partir a perna a recuperação até 110% é algo lenta, pelo que temos de perceber que o rapaz ainda tem um longo percurso a fazer.

      André Almeida, desenrasca, mas perdes imensa profundidade, então se jogas com um Ola John à sua frente, não vais ter nunca nenhuma jogada pelo flanco esquerdo, o que torna o nosso jogo ofensivo demasiado previsível.

      Loris Benito, está neste momento sem ritmo de jogo e parece-me de todos os novos rostos desta temporada aquele mais desconectado da equipa. Tem um perfil físico muito interessante para a posição, mas nas suas exibições falta-lhe algo... personalidade, atitude,...

      Para mim, o Eliseu não perdeu velocidade e isso viu-se nos duelos que manteve frente ao Carrillo e Nani no último "derby". De qualquer modo já o vi muito melhor fisicamente, mas talvez a época com algumas lesões possam ser o motivo.

      Não sei até que ponto, o Jesus não faria bem convocar o Pedro Rebocho da equipa B, uma ou outra vez, até para espicaçar todos os que referi acima. Isto ainda esta temporada.

      No final da temporada, eu era menino para ir buscar o futuro lateral esquerdo da selecção nacional: Raphäel Guerreiro (até porque já é tempo do Glorioso ter um Guerreiro de nome).

      ;D

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    6. sobre o silvio é claro que o treinador não esta interessado nele para titular se estivesse tinha-lhe feito o que esta a fazer ao ruben.
      claro que todos estão sem condição ou ritmo quando jogas sempre com os mesmos os outros estão sempre sem ritmo mas se queres mudar tens de arriscar como arriscaste no pizzi que estava também sem ritmo.
      o rebocho pouco joga na b ainda esta com menos ritmo que os outros.

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  2. Bom post, corrigir o português:
    "nos seus actuais clubes só trás boa imagem de marca", trás é do verbo trazer, logo com z.
    "Isto também terá muito haver com a envolvência" não é verbo haver mas ver, logo sem h.

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    1. Tim,

      Seu grammar nazi! :P

      Agradeço-te as correcções que já efectuei e que confesso que deixam-me um pouco envergonhado tais os pontapés na gramática...

      Talvez o adiantar da hora, mas sobretudo não ter relido o texto, tenham tido o seu impacto. Fica aqui o meu agradecimento.

      Cumprimentos ;)

      P.S.: E sobre a história da dualidade de tratamento verificados em casos como o do Eliseu? Alguma opinião?

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