Análise fria à derrota do detentor da taça de Portugal em plena casa e ainda nos oitavos-de-final.
Resumo do jogo
«O Benfica jogou muito bem, com muita dinâmica, intensidade e qualidade, mas não conseguimos ser eficazes. Fomos sempre melhor equipa que o SC Braga, mas a eficácia é que conta. No jogo do Dragão, precisámos de menos oportunidades para marcar mais golos do que hoje. Mas, pelo que produzimos, devíamos ter chegado ao fim dos 90 minutos pelo menos com o empate.»
por Jorge Jesus
Penso que o técnico encarnado faz a análise correcta no final desta eliminatória. O Benfica foi sempre a equipa mais ofensiva em campo, enquanto o Sporting de Braga apresentou-se muito forte para três momentos do jogo: defensivo, transição defensiva e transição ofensiva. Por seu turno, penso que o Benfica poderia ter sido bem mais forte no momento ofensivo e na transição ofensiva. De qualquer maneira, o campeão em título da taça de Portugal, teve mais que oportunidades para igualar e conseguir vantagem neste importantíssimo encontro. Não o conseguiu por dois grandes factores: falta de eficácia à frente da baliza e guarda-redes bracarense super inspirado na baliza adversária.
Mudanças no onze titular
Olhando com um certo distanciamento para o encontro e sua preparação, penso que o erro começou na apresentação do onze titular. É verdade que Jesus não pôde contar para este importante jogo com Luisão, Salvio e Samaris, todos eles lesionados e todos eles habituais titulares do Benfica versão 2014/2015. Contudo, penso que a desculpa não poderá residir aí. É que o Benfica já jogou na Luz com um onze totalmente de reservas, num jogo bem mais intenso que o da 5ª feira passada. Estou a falar do jogo frente ao Bayer Leverkusen.
O Glorioso apresentou o seguinte 11: Júlio César na baliza; um quarteto defensivo formado por Maxi à direita, André Almeida à esquerda e a dupla de centrais formada por César e Jardel; o quarteto de meio-campo formado por Ola John e Nico Gaitán nas alas (começaram ambos como extremos puros e durante o jogo foram trocando de lado), Cristante como médio mais defensivo e Enzo como médio "box-to-box"; e no ataque a dupla formada por Jonas e Lima. Olhando para ele, e olhando acima de tudo para as últimas semanas de trabalho, podemos concluir que Jesus fez uma mistura do habitual onze titular com o habitual onze de reservas. E, é aqui que começa o problema do Benfica, principalmente num jogo em que tem de ter segurança defensiva.
O maior goleador da competição (com 6 golos), apesar de ter feito o gosto ao pé na passada 5ª feira, falhou imensas oportunidades de golo frente ao Sporting de Braga. |
Quando menciono "segurança defensiva", estou a referir-me à eficácia e eficiência do nosso sistema defensivo. Não estou a tecer uma crítica aos jogadores mais defensivos, mas sim ao sistema. Por exemplo, no jogo frente ao Bayer Leverkusen, assim como no Dragão, a equipa foi capaz de ter sempre uma reacção forte à perda. Isso fez com que o adversário nunca conseguisse impor a sua transição ofensiva e até mesmo o seu momento ofensivo puro. Resultado: o Benfica foi sempre capaz de manter o adversário longe de sua baliza.
Ora, frente ao Sporting de Braga, o Benfica até foi capaz de fazer isso durante alguns momentos. Contudo, a equipa titular tem outro andamento que os da reserva. Da mesma forma, os reservas têm forma distinta de jogar da dos habituais titulares, mesmo estando enquadrados no mesmo sistema de jogo. Ora, essas diferenças naturais são exponenciadas durante o jogo, com o acumular do desgaste físico e insegurança ao nível da eficácia do passe e decisões, fruto da falta de entrosamento ideal. Ora, se enquadrarmos num contexto competitivo elevado, que uma eliminatória acarreta, e possivelmente, numa mentalidade excessivamente confiante, percebe-se muito dos erros defensivos que se viu na Luz, na 5ª feira passada.
Jogar com os reservas
Podem não concordar comigo, mas penso que o Benfica na 5ª feira deveria ter entrado com o seu onze de reservas, tal como fez com o Bayer Leverkusen. O próprio Jorge Jesus deveria ter usado o mesmo discurso que usou antes do encontro contra os germânicos na semana anterior. Mas, porquê esta ideia? Imaginemos que, por exemplo, o Benfica entra na Luz com este 11: Júlio César na baliza; Maxi, Cesar, Lisandro López e Loris Benito na defesa; Cristante e Pizzi no meio-campo; Tiago e Ola John nas alas; Jonas e Derley lá na frente. Praticamente, 3/4 do quarteto defensivo tem jogado e treinado juntos desde o início da temporada (resolvi dar descanso ao André Almeida, pois veio de 5 jogos sempre a jogar e deve descansar um pouco para evitar lesões musculares), 100% do meio-campo, tem treinado e jogado juntos e 100% do ataque tem treinado junto. Ou seja, apenas 2/11 não seriam jogadores da equipa de reservas. Mesmo assim, tendo em conta as últimas semanas, se calhar mesmo esses dois (Júlio César e Maxi Pereira) não poderíamos considerar claramente pertencentes à equipa titular...
Assim sendo, o Benfica entraria em campo com um onze muito mais entrosado e, já agora porque não dizê-lo, mais fresco que aquele que entrou na passada 5ª feira. Em termos de mentalidade e intensidade, esse onze já tinha dado mostras frente aos alemães que estavam preparados. E, mesmo que as coisas durante o encontro não estivessem a correr da melhor maneira, Jesus teria possibilidade de fazer entrar no jogo os habituais titulares. Estes entrariam mais frescos, não denotando tanto o cansaço competitivo acumulado do último mês de trabalho, e apanhariam a equipa bracarense mais desgastada. Por outro lado, esse onze traria um factor surpresa para a equipa de Sérgio Conceição, cuja estratégia estava bem montada e direccionada para o estilo de jogo do onze titular do Benfica.
Erros evitáveis
Neste encontro deu para notar vários erros da equipa da Luz. É verdade, que o André Almeida errou ao falhar o corte ao primeiro poste no primeiro golo dos arsenalistas. Mas, também é verdade que a colocação dos centrais não foi a melhor. Aliás, já tinha reparado que tanto César como Jardel não são uma dupla de centrais perfeitamente entrosada. E esta ideia vai um pouco de encontro com o que escrevi no ponto anterior. Ou seja, é preciso rotinas e entrosamento que precisam de ser consolidadas com experiência de treino e de jogo. Algo que tanto falta a César e Jardel. O mesmo posso dizer dos restantes pares: Maxi e Ola John, e ainda Lima e Jonas.
Mas, isso não é tudo. Quando existe qualidade é claro que as coisas tornam-se mais fáceis. Por isso mesmo, é que na primeira parte, a parceria Cristante e Enzo estava a resultar, mesmo sendo formada por dois jogadores com pouco entrosamento. Após a lesão do argentino, entrou o português Pizzi. Ele de facto não teve um jogo muito inspirado e estará ligado - a par do italiano - na origem do 2º golo do Sporting de Braga no jogo. No entanto, temos de contextualizar o cenário com que o Pizzi entrou no encontro e as dinâmicas de todos à sua volta ser bem diferente dos habituais jogadores com quem ele treina. Não é fácil entrar a frio e passado dois minutos o Benfica sofrer o primeiro golo da partida. Não é fácil entrar, quando é necessário arriscar mais em termos ofensivos e ver os seus colegas de jogo com sinais de elevado desgaste físico. Não é fácil entrar, com muitos jogadores do sector ofensivo e defensivo terem movimentos diferentes daqueles que está habituado a ter nos treinos. Tudo isso faz a diferença. Mas, apesar de tudo o Pizzi foi o construtor de jogo por excelência que mais contribuiu para soltar os companheiros do ataque e criar oportunidades de golo, que não souberam concluir. E, quanto ao erro no segundo golo, criticam a falta de agressividade do Pizzi, mas fazem-no olhando apenas para aqueles segundos no resumo do jogo. Esquecem-se é dos arranques para quebrar linhas da defesa adversária que fizera momentos antes, e que retiram capacidade física imediata ao jogador com pouco ritmo competitivo. Esquecem-se do desgaste acumulado do Cristante, que não tem capacidade de reacção. Esquecem-se no mau posicionamento da linha defensiva, que estava demasiada atrás, não mantendo o bloco compacto. Enfim, são as habituais críticas dos treinadores de bancada...
Jorge Jesus pode-se queixar um pouco da sorte do jogo e até mesmo das recentes lesões, mas também pode e tem de fazer mais e melhor ao nível da preparação dos jogos. |
Continuo a bater nesta tecla: tivesse o Benfica jogado com o seu onze de reservas mais rotinado, e os erros que verificámos não seriam assim tantos, pois os jogadores estariam mais conscientes das respectivas limitações e durante as fases do jogo adaptariam-se em concordância. De qualquer modo, existem pontos que toda a equipa encarnada tem de ter consciência:
- Saber gerir ritmos de jogo
- Saber circular a bola pelos seus jogadores e pelos vários sectores com segurança
- Manter as distâncias entre os vários sectores da equipa
O próprio técnico encarnado também deverá dar uma ajuda. Não é apenas treinar a equipa. Também durante o encontro deve alterar em concordância. Por exemplo, se o Benfica precisa de mais um médio em campo, porquê não colocá-lo? Porquê insistir num sistema que não está a funcionar no jogo? Entendo, que o treinador deve respeitar o seu trabalho diário nos treinos. Mas, há situações durante os jogos aos quais o treinador tem de reagir fora-da-caixa, porque senão o adversário têm-no na mão. Depois, como é possível a equipa perder o controlo do jogo após ficar em vantagem no encontro e a jogar em casa? Será que não aprendeu com a derrota no Minho?
Substituições tardias e discutíveis
Tirando a entrada de Pizzi pouco depois do intervalo, por lesão do Enzo, o Benfica só efectuou as outras duas substituições nos minutos 77 (Talisca por Cristante) e 86 (Derley por André Almeida). A primeira ideia é que fez tardiamente. Eu percebo que Jesus só queira ter arriscado a última substituição mais no final. O Benfica poderia ficar com um jogador lesionado nos últimos minutos e era importante ter alguém no banco para poder acautelar essa situação. Por outro lado, só se deve arriscar tudo, quando o jogo está no fim, pois o adversário acaba sempre por tomar uma postura mais defensiva e porque assim também a equipa acaba por ficar menos tempo desequilibrada - notar que Derley entrou por André Almeida, ou seja, meteu-se um avançado e tirámos um defesa. Já agora, é nestas situações que penso que nos falta um central polivalente, que saiba também jogar como lateral. Olhando para o plantel encarnado, apenas com centrais destros, consigo ver um César e um Lisandro López a ocuparem as laterais direitas de uma defesa a 3. Contudo, falta-nos um central canhoto capaz de fazer o mesmo na lateral esquerda. Daí que já defendi a aquisição de um central como o Balanta.
Não percebi é porque é que o Jesus esperou até aos últimos 15 minutos de jogo para fazer uma alteração, que mais pareceu uma tentativa de reacção ao golo do Braga. É verdade que o segundo golo dos bracarenses acontece contra a corrente de jogo. No entanto, penso que o Jesus poderia ter sido bem mais proactivo nas substituições e na mudança do rumo de acontecimentos do jogo. A equipa não estava a jogar mal, mas também não estava a jogar muito bem. E, como o ataque estava a ficar macio, a alteração deveria ter sido feita logo aos 60 minutos.
Consequências futuras
Não é apenas mais uma competição que ficamos de fora esta temporada. É uma competição que deveríamos ter defendido melhor o estatuto de campeão que possuímos. É uma competição que poderia permitir que o Benfica pudesse fazer a dobradinha de campeonato e taça em dois anos consecutivos e que faria com que Jesus continuasse a escrever história no Glorioso. Depois, a forma como perdemos, contra quem perdemos e onde perdemos, após uma semana em que fizemos o mais difícil, deixa-nos com um enorme sabor amargo.
Depois, há a consequência de perdermos pelo menos mais 4 jogos. Há quem veja isso como positivo. Eu, por exemplo, vejo-o como negativo. Pode ser positivo, porque temos menos jogos, menos cansaço acumulado. No entanto, com um plantel de número elevado, menos jogos significa menos oportunidades para vários jogadores e isso significa mais insatisfação dos jogadores. Para além disso, são menos jogos que o Jesus tem para dar ritmo e experiência competitiva a um Benfica em reconstrução... Apenas, com o campeonato e a taça da liga para jogar esta temporada, espero que Jesus saiba aproveitar bem os habituais titulares e os habituais reservas... A época está longe de estar perdida!
Análise fria:
ResponderEliminarÉpoca 09/10 - SLB eliminado em dezembro em casa por um clube minhoto (VSC); campeão nacional SLB
Época 14/15 - SLB eliminado em dezembro em casa por um clube minhoto (SCB); campeão nacional (está na cara!) BENFICA!!!
Ah! Ah! Ah!
EliminarCoincidências... É sempre bom ter uma visão positiva das coisas!
;)
Ou trocavas a época 09/10 por qualquer das três seguintes??
ResponderEliminarEu não trocava!
EliminarMas, o que é certo é que deveria haver evolução na estrutura encarnada. Por exemplo, se na época 2009/2010 ganhámos "apenas" o campeonato, penso que na seguinte e nas restantes seguintes deveria ter havido evolução. Da mesma forma, penso que esta temporada poderia ter havido evolução. Mesmo, depois de termos sido eliminados da Europa, penso que poderia haver evolução. No presente caso seria uma renovação da equipa.
Aliás, espero que o Jesus utilize a calmaria competitiva que será o resto da temporada para arrumar a casa. Ou seja, potenciar quem poderá vender a curto prazo. Trabalhar os substitutos naturais, separar aqueles que têm o necessário para jogar no Benfica daqueles que apenas têm talento. Enquadrar os miúdos,... preparar uma equipa para novo ciclo de 3 a 4 anos.
Há jogos assim. Não merecíamos ter perdido. O Braga fez três remates à nossa baliza. Armam-se agora em heróis, os paineleiros fazem deles heróis, mas foi o que aconteceu. Safaram-se com aquele jogo manhoso e mais ainda com a vaca que tinham atrás da baliza.
ResponderEliminarAinda temos duas competições para ganhar, sendo que uma é a mais importante de todas, e a outra não deve nada à Taça de Portugal - os nossos adversários desvalorizam-na, simplesmente porque ainda não ganharam NENHUMA.
Eu por acaso valoriza-o ainda mais.
Eliminar;)
estas substituições que ele faz de meter jogadores mais ofensivos sem no entanto mudar a tactica nunca funcionaram mas ele continua a insistir no mesmo esperando que à 499ª vez resulte que vantagem tiramos do pizzi a seis do gaitan a defesa esquerdo ou de um avançado a extremo? nenhuma mas ele teima e teima, até poderia resultar se ele muda-se a tactica assim mão.
ResponderEliminaroff topic.
porque sei que gostas de pensar estas coisas gostaria que reflectisse sobre a razão que o lima a jogar fora no ultimo jogo esteve nas três oportunidades que tivemos, ou seja todas, e marcou dois golos e em casa em que a equipa teve uma dez oportunidades claras de golo e ele apenas esteve numa delas, alias é o espelho dele em casa desde que ele é o avançado mais adiantado.
Olá João Carlos!
EliminarSobre o teu "off topic", existe duas considerações que devem ser feitas a Lima, sobretudo, analisando estes dois últimos encontros:
1 - Ele estava mais desgastado neste último jogo
2 - Os dois golos que marcou no Dragão, um foi de um lance de bola parada e o outro foi de uma recarga
3 - Eu acho que ele tem o mesmo problema dentro e fora de casa e ele se resume ao seguinte: não tem jogadores na retaguarda que lhe dêem o alimentem em termos de caudal ofensivo de qualidade.
Por exemplo, muitas vezes a bola é endereçada para o Lima de forma incorrecta, i.e., ou com força a mais, ou com força a menos, ou para o lado errado da desmarcação, ou é interceptado pelo adversário, ou é mal jogada,... ou inclusive, não é de todo passada para ele.
A situação do Lima é um dos pontos que deve ser corrigido pelo técnico encarnado. É que não é apenas o Lima. O Derley já teve período de amostragem suficiente para poder dizer que padece do mesmo problema de Lima...
1-se estava não devia ter jogado o que não faltam é opções se estava desgastado então é que nem percebo como é que foi titular mais uma vez depois deste jogo.
Eliminar3-vai ver os números de golos que ele marca fora e em casa e talvez tenha outra opinião, para alem da altura em que ele marca os golos em casa.
a bola era/é endereçada da mesma maneira para o cardozo e para o jonas e eles tinham/tem as oportunidades e pelo que dizes o provável é que seja um problema do executante esta mal colocado, não esta no sitio certo, recebe mal, executa mal.
Boas João Carlos!
Eliminar1 - Concordo! Deveria ter jogado o Derley ou até mesmo o Nélson Oliveira.
3 - Se formos a ver bem, a maioria dos extremos do Benfica são ex-avançados, ou tiveram formação como avançados. Salvio, Sulejmani, Nico Gaitán, Ola John, Pizzi, Tiago Bébé, Hélder Costa, Gonçalo Guedes,... tudo ex-avançados, ou extremos/avançados interiores de formação. Não é à toa que poucos são aqueles que têm percentagem elevada ao nível do passe (Gaitán é o melhor, mas fico com a sensação que poderia ser muito melhor...) Por aqui, percebe-se a minha crítica acima e entendo um pouco o isolamento de Lima em termos de golos.
Depois repara, o Cardozo era o típico avançado que fazia os extremos correrem para depois serem eles a fazerem-lhe o último passe para ele concluir. Já o Lima, ele corre para depois fazer o último passe para os extremos e médios poderem concluir... são formas distintas de atacar...
;)
3-esse argumento até poderia ser levado em contra se por acaso as oportunidades ou os golos não acontecessem, principalmente em casa, agora elas acontecem e muitas o lima nunca esta é lá, no ultimo jogo aconteceu um lance que o jonas sai da área tabela com o ola ele vai à linha centra para a zona do penalty onde devia estar o lima e ele não esta.
Eliminaro cardozo era mas o jonas não me parece que seja assim, sobre o lima concordamos é isso mesmo mas isso é a função de um segundo avançado não de um ponta de lança, mas ai a culpa não é dele é de quem o coloca a jogar a ponta de lança, o problema é quando não tens um segundo avançado goleador como aconteceu de inicio que depois não tens quem finalize.