02 agosto 2014

Algumas notas de pré-época


Um artigo que visa debater algumas ideias passadas pelos jogos de pré-época já efectuados.



1. Um 4-2-4 diferente de outras épocas.
É engraçado verificar que ao longo dos últimos 4 para 5 anos de Jesus ao comando das águias, que o seu 4-2-4 (ou 4-4-2 conforme interpretarem as funções dos alas) tem sofrido modificações, consoante os jogadores que o treinador tem à disposição no bloco central. Esta temporada ao invés de existir um homem de meio-campo mais fixo atrás, e outro à sua frente ou ao seu lado com mais liberdades ofensivas, a dupla de médios funciona um pouco em carrossel. I.e., ambos têm funções defensivas e ofensivas e vão ocupando à vez as posições "6" e "8". Por isso é que vemos um João Teixeira e um Talisca a ocuparem tanto uma como outra posição. Gosto que o Jesus tenha esta abertura e sensibilidade para entender as características destes jogadores. Agora, será que esta dinâmica irá ser imposta quando Fejsa ou André Almeida estiverem em forma para a posição "6"? E, se Enzo ficar e fizer dupla com Rúben Amorim?
Outra característica táctica do 4-2-4 prende-se com a exigência de verticalidade dos extremos, sobretudo, do lado direito. Quer seja o Salvio, quer seja outro extremo que actue do lado direito, este será sempre um jogador que se fixa mais sobre a linha. Por seu turno, o extremo esquerdo é um jogador que em termos posicionais acaba por ter mais liberdade para entrar por dentro. Tal, deve-se muito às características de Nico Gaitán e até mesmo de Ola John, Candeias, etc. Contudo, tenho notado que o Jesus não tem promovido a troca de extremos em campo, i.e., que o canhoto jogue sobre o lado direito e o destro sobre o lado esquerdo do ataque, um pouco como sucedia na época de Nolito e Bruno César. Será que tal irá acontecer dadas as características da maioria dos nossos extremos (Nico Gaitán, Ola John, Sulejmani, Candeias, Pizzi, Ivan Cavaleiro, Eliseu,... todos excepto o Salvio)? Ou será que irá apostar no Salvio também nesses moldes? (Por acaso gostaria de ver o Salvio a jogar a extremo esquerdo...)

2.  Equipa pouco compacta.
A existência de muitos rostos novos pode ser parte da explicação, outra é a ausência de importantes jogadores e outra ainda é o efeito das cargas físicas intensas dos treinos de pré-época, que fazem com que ao longo dos jogos verificamos que a equipa tende a descompactar-se. Ou seja, o Benfica tem a tendência durante os jogos dos seus sectores ficarem desligados. O ataque tende a não recuar, a defesa tende a não subir e o meio-campo tende a estagnar.

3. Problemas no ataque.
É verdade que temos sofrido muitos golos nesta pré-época e como tal muito dos holofotes dos críticos sejam canalizados para a nossa defesa. No entanto, o que eu vejo até é uma boa organização defensiva que é colapsada quando a equipa se desdobra em tarefas ofensivas. Por exemplo, não foram raras as vezes que a equipa perde a bola no último terço do terreno, quando o passe vem de um meio-campista para o atacante e resulta numa transição defensiva infrutuosa. Não há ligação no nosso sector atacante. Nem entre os meio-campistas e os atacantes, nem sequer entre os atacantes. Por exemplo, ainda não vi Cardozo, Lima, Jara, Derley e Nélson Oliveira a funcionarem como duplas atacantes. Inclusive a tal pressão atacante parece ainda muito desorganizada.

4. Excesso de protagonismo e lugares cativos.
Tenho assistido a um excesso de protagonismo, sobretudo dos jogadores recém integrados na equipa do Benfica, desde os recém-contratados, aos jovens da formação, passando por aqueles que outrora foram emprestados e agora têm nova oportunidade de demonstrar evolução. Por outro lado, sinto que muita gente que transita de outras épocas não se está a forçar demasiado nesta pré-época. As posições onde noto claramente estas atitudes são os extremos e os atacantes. Por exemplo, Lima e Cardozo parecem jogar muitas vezes a passo. Por seu turno, Jara, Derley, Candeias, entre outros, parecem querer resolver os jogos sozinhos. Talvez este seja o problema do excesso de concorrência condicionada...

5.  Observação individual dos jogadores.
  • Artur: não tem estado particularmente mal, mas também há situações que poderia estar melhor - leia-se o golo sofrido frente ao Ajax na Eusebio Cup. Continuo a não ter muita confiança nele, até porque penso que se o Benfica quer ser uma equipa pressionante terá que ter um guarda-redes que saiba funcionar como líbero, algo que o Artur não se sente nada confortável.
  • Paulo Lopes: quem se sente confortável com a bola nos pés e a fazer-se de líbero é o experiente guardião português. Gostava de vê-lo a jogar de início, quando a equipa ainda está fresca e consegue fazer pressão alta sobre o adversário. Fica aqui a dica para o Jesus...
  • Sidnei: algo preso de movimentos... para onde foi a força e a velocidade do central canarinho? Será do excesso de cargas de treino de pré-época? Talvez... de qualquer maneira, tem de assumir a liderança no eixo defensivo. Também é isso que o Jesus estará a avaliar neste momento... Ele não pode esquecer que esta é uma das últimas oportunidades de demonstrar que está ao nível da exigência de um clube como o Benfica, ainda para mais com a concorrência que tem.
  • César: ainda muito "verdinho", mas está aqui matéria-prima para sair um bom central. É rápido, possante, joga simples e joga na antecipação... talvez por isso, frente a avançados mais matreiros tem dificuldades... precisa de jogar e crescer. A meu ver será um excelente reforço para a equipa B, no curto prazo e para o plantel principal a médio e longo prazo.
  • Jardel: estava a ser o nosso melhor central até se lesionar nesta pré-época. Que recupere e volte rapidamente, pois faz muita falta.
  • Maxi Pereira: ele está de volta e em crescendo de forma.
  • Luis Filipe: ainda não convenceu e neste momento é talvez dos recém contratados aquele que menos tem brilhado.
  • João Cancelo: estou a gostar da sua atitude. Parece querer trabalhar e dar nas vistas para ficar no goto do treinador. Tem ainda muito que evoluir... por exemplo, não pode arriscar tanto quando é dos últimos homens da defesa...
  • Benito: aqui está uma excelente contratação. Até agora, das caras novas é aquele que mais me tem convencido.
  • Djavan: está lesionado? Vai para o Braga sem nunca ter vestido a camisola do Benfica? Este é um daqueles jogadores que foi um dos melhores no nosso campeonato na sua posição na época passada. Gostaria de vê-lo jogar antes de sequer pensarem em mandá-lo para fora...
  • Eliseu: gosto muito deste polivalente jogador. Vejo muita gente a falar mal dele, só por não ser um nome sonante, nem ter o pedigree de outros jogadores de futebol. No entanto, não esquecer que este jogador subiu na carreira a pulso e com o suor do seu labor. Sem grandes representantes e sem grandes cunhas, passou pelo futebol italiano e actuou várias épocas numa das melhores ligas do mundo, a espanhola. Mais, a sua polivalência demonstra inteligência táctica, a sua intensidade de jogo demonstra pulmão e velocidade, as suas assistências demonstram muito da sua técnica. Serei o único a antever muita gente a ficar calada de espanto? Por fim, será que ainda não iremos ver o Eliseu a jogar a extremo esquerdo, se Gaitán sair?
  • André Almeida: penso que será na posição "6" onde ele poderá vingar nesta equipa do Benfica. Quando joga nota-se claramente outra segurança naquele sector (o Fejsa que se cuide quando recuperar). Será capaz de ser uma solução menos fixa naquela posição e poder ser também ele uma espécie de "8", recriando com outro parceiro de meio-campo uma espécie de carrossel? Fica a questão.
  • Rúben Amorim:  este não sabe jogar mal. Apenas questiono se terá resiliência física para aguentar uma época desgastante a titular... ainda para mais se Enzo realmente sair da Luz. Opção tanto para a posição "6" como para "8". Para mim será sempre titular no meio-campo. Faltará saber qual será o seu parceiro...
  • João Teixeira: tem sido a revelação encarnada nesta pré-época. Embora, pare ainda na memória alguns erros infantis que muito contaram para alguns resultados negativos (lembram-se do passe errado que originou o golo do Sporting na taça da Associação de Futebol de Lisboa?), o melhor futebol praticado pelos encarnados nesta fase foi com ele em campo. Tem demonstrado que pode jogar onde o treinador pedir e sempre com qualidade. Espero que o Jesus o saiba trabalhar e proteger.
  • Bernardo Silva: tem tido poucas oportunidades de jogar e sempre que as tem é apenas para fazer os 10 minutos finais. Gostava sinceramente que o Jesus arriscasse mais tempo para este rapaz. Quer seja na posição "8", "10" ou até na "7" e na "11". Talento e capacidade de sacrifício tem ele. Apenas aguarda uma real oportunidade... e o Benfica bem que precisa da sua criatividade no ataque...
  • Talisca: oportunidades é o que não tem faltado ao jovem jogador brasileiro... No Brasil era uma espécie de segundo avançado, mas no Benfica, Jesus parece querer transformá-lo numa espécie de "8" e até mesmo de "6". Talvez seja pela compleição física, talvez seja pela sua elevada capacidade de passe, talvez seja pelo aproveitamento do seu poderoso remate. Não obstante, gostava de vê-lo como pivot ofensivo, sua posição natural. Até porque o Benfica tem tido muitas dificuldades em ligar o meio-campo e o ataque.
  • Salvio: o único extremo puro de raiz. Bem, na verdade, penso que o Salvio nem sequer é um extremo de raíz, pois na Argentina até era uma espécie de avançado direito. No Benfica adquiriu muito mais rigor táctico, de tal forma que é muito importante na ajuda ao lateral direito. No entanto, gostava de vê-lo a fazer outras coisas, ou pelo menos testá-lo noutras posições e funções. Uma delas é como falso extremo esquerdo e outra é como segundo avançado. Fica aqui a dica para o Jorge Jesus.
  • Candeias: tem dado muito pouco à equipa. Em termos defensivos ajuda a defesa, mas em termos ofensivos não tem sabido desequilibrar. Quer ele jogue à direita ou à esquerda. Verdade seja dita, não tem tido assim tantas oportunidades... fico com a sensação que veio para a Luz, mas com outro destino já traçado...
  • Nico Gaitán: neste momento é o único extremo canhoto que temos no plantel - Sulejmani está ainda lesionado. Mesmo assim, não é um extremo puro, mas sim uma espécie de "10" escondido na ala, dada a sua tendência para procurar espaços interiores e envolver-se na construção de jogo. É uma dinâmica interessante que pode e deve ser melhor aproveitada por Jesus. Agora, e se sair neste defeso? Temos Sulejamni e Bernardo Silva para assumir, mas será que poderão desempenhar bem essas funções?
  • Ola John: começou a pré-época muito bem, mas pouco a pouco tem voltado o Ola John que nos acostumou, infelizmente. É preciso ser muito mais constante a nível exibicional.
  • Pizzi: estar lesionado é uma grande pecha para ele e para o Benfica. Penso que em condições normais, a luta pela posição de quarto extremo no plantel será entre ele e o Ola John e desta feita penso que em condições normais, o português é muito mais constante que o holandês... mas, veremos se o "tuga" não será novamente emprestado...
  • Ivan Cavaleiro: poucas oportunidades e sinceramente, face ao leque de opções de qualidade e com mais experiência, se calhar não fazia mesmo mal ser emprestado a outra equipa onde possa acumular jogos, que é o que precisa neste momento.
  • Victor Andrade: o menino brasileiro é claramente uma contratação para a equipa B. Não obstante, o miúdo tem mentalidade competitiva. Gostei da forma como ele entrou no jogo contra o Marselha e soube lidar com a agressividade dos franceses. Falta-lhe ter mais cultura táctica e integração ao futebol europeu. Talvez o vejamos na equipa principal, mais cedo do que esperávamos...
  • Bébé: tem sido utilizado como opção para Salvio, mas penso que será como avançado móvel e centro (posições "10" e "9", respectivamente) que terá futuro na equipa encarnada. É um jogador que deposito grandes expectativas em termos de crescimento com o técnico encarnado.
  • Nélson Oliveira: o que eu mais gostava era que o Jesus apostasse nele tanto como fez com o Rodrigo. O jovem formado nas escolas do Benfica poderá ser o avançado mais completo que surgiu em Portugal nas últimas décadas e que tanto a nossa selecção nacional precisa. Penso que Jesus tem todas as competências para poder moldar o jovem. Penso também que o jogador está com espírito de sacrifício para poder crescer o seu jogo. Este é o momento certo para dar o salto de promessa a realidade. Precisa é de oportunidades, ok Jesus?!
  • Franco Jara: gosto muito do argentino, embora seja algo individualista - penso que o seja mais por causa da concorrência e a sede de demonstrar trabalho do que outra coisa qualquer. É um avançado muito intenso, daqueles capazes de morder os calcanhares dos defesas adversários. Talvez mereça uma hipótese de ficar...
  • Derley: tem pormenores interessantes e parece-me ter sido pedido pelo treinador. Contudo, sinto-o algo desconexo da equipa em muitos momentos do jogo. Anda ainda muito tímido... Faltará apenas o golo? Ou algo mais? É difícil fazer uma avaliação mais cuidada com pouco tempo de jogo e nestas condições... também é por isso que não gosto deste tipo de pré-épocas, com tantos jogadores.
  • Lima: pelo que tenho visto dispensava-o. O brasileiro tem sido uma desilusão nesta pré-época. Parece que joga como se já fosse o dono do lugar e não tem que esforçar-se muito. Tem perdidas escandalosas, joga a passo, faz pouca pressão... muito acomodado... não tenho gostado!
  • Cardozo: este é outro que tem sido uma perfeita desilusão. Não por jogar a passo, pois percebo que tenha características físicas e morfológicas distintas de outros jogadores. No entanto, não pode fazer passes displicentes, ou perdas de bola infantis, ou encolher-se no choque/cabeceamento. Eu defendia a sua continuação, até pelo peso que tem no plantel encarnado e para os seus adeptos. Agora, com esta atitude, se calhar o melhor é sair... será que vai para a Turquia?


2 comentários:

  1. tanta escrita para concluir o que todos já sabemos : este benfica 2014/15 é a crónica de uma morte anunciada.

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    1. Para uma Liga dos Campeões, eu penso que a equipa é curta... para consumo interno, não.

      Há muito trabalho pela frente.

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