18 janeiro 2014

A formação


Antes de se pensar em ir ao mercado deve-se procurar dentro de casa se há soluções ou não. Esta é uma regra de ouro de qualquer bom gestor e no futebol não é excepção. Ainda para mais quando o Benfica tem um punhado de excelentes talentos...


A saída esta semana de Matic - que para mim, para o Jesus e muitos outros é sem dúvida actualmente o melhor médio defensivo do mundo - veio com uma certa polémica, para além do "timing" e dos valores envolvidos na transferência. De facto a tirada do técnico principal Jorge Jesus, não foi muito feliz e foi devidamente aproveitada pela imprensa para criar novas novelas vazias de conteúdo.

Um pequeno parágrafo sobre a questão de Jorge Jesus pensar que na formação seria necessário "nascerem 10 vezes" para chegarem ao nível do Matic. O treinador encarnado foi pragmático e a verdadeira intenção desse comentário é que não podemos esperar que um miúdo com 18-20 anos, com poucos jogos nos campeonatos profissionais, possa entrar para o onze titular do Benfica e jogar o que o sérvio jogava, i.e., controlar todo aquele meio-campo. Poderá haver talentos que se calhar conseguirão fazer isso, mas regra geral tal não é possível. É preciso que todos nós tenhamos consciência disso.

Contudo, também é muito importante - se calhar ainda mais importante -  que não desprezemos o valor dos miúdos e que a falta de experiência não seja pretexto para irmos adiando indefinitamente a sua inserção na equipa principal do Benfica. Já bastou vermos o que aconteceu com o Miguel Rosa, não acham?

Para isso é fundamental duas coisas:
  1. Saber ao certo (a) quais os talentos capazes de inserir-se rapidamente na equipa principal - a.k.a. os "Eusébios", (b) quais os talentos que poderão chegar lá mas que demorarão mais tempo a lá chegar devido à concorrência ou à curva de aprendizagem/maturação de cada um - a.k.a. os "Rui Costas", e (c) quais os talentos que só a muito longo prazo poderão um dia chegar ao nível de representarem o Benfica, mas que poderão ser excelentes profissionais de futebol - a.k.a. os "Paulo Lopes". Com essa referência criada e avaliada constantemente (para evitar erros de avaliação), poderá então ser criada um plano de integração/evolução dentro da equipa principal, da equipa B e das outras equipas caso seja necessário empréstimo ou cedência total do passe do jogador.
  2. fazer contratações de jogadores quando não há no plantel e na formação jogadores que possam atingir o nível de excelência necessários para o Benfica. Evitar a todo o custo promoções do tipo "leve 3 pague 1" que muitas vezes acontece para fixar-se determinado tipo de jogadores. É que por cada um que realmente interessa, levamos com mais dois ou três que irão por certo roubar atenção, tempo e dinheiro, ao nosso clube e à nossa formação. Por outras plavras, identificar as posições e características do plantel que ainda não tenham sido colmatadas com a procura dentro de portas e ir ao mercado buscá-las.
É preciso parar de querer ter todos os bons jogadores! Mais vale ter os necessários para poder-se trabalhar em qualidade com eles, fomentando assim o espírito familiar, que mais não é que a verdadeira mística, e criar uma imagem que os adeptos e sócios possam identificarem-se. Com esse sentido de grupo, os títulos mais facilmente aparecerão e toda a dinâmica à volta da equipa com os adeptos, farão capitalizar ainda mais a vertente comercial associada ao clube. Assim sendo, e porque já pensei um pouco sobre esta temática, poderei avançar aqui algumas avaliações sobre alguns dos nossos jogadores da formação, que estão na equipa B, na equipa principal e outros que estando fora mas sendo da formação penso que poderão num futuro virem-se a cruzar com o nosso Glorioso.


Na equipa B encarnada há pelos menos um "Eusébio" (a) certo - o Bernardo Silva - e dois "Eusébios" (a) que poderão tornarem-se "Rui Costas" (b) - o João Cancelo e o Hélder Costa - dependendo das saídas que possam ocorrer no final da época na equipa principal do Benfica. Bernardo Silva é um craque. O lugar dele não é ficar muito mais anos na equipa B, ou ser emprestado a um clube da primeira liga para ganhar mais maturidade. O seu lugar é na equipa principal e potenciá-lo. É um daqueles jogadores que se o técnico criar a equipa à sua volta terá uma equipa com um valor acrescentado capaz de apaixonar cada adepto de futebol. Quanto ao João Cancelo e o Hélder Costa... O primeiro tem a concorrência de Maxi Pereira (internacional A pelo Uruguai e a referência na posição de lateral direito no Benfica à mais de 5 anos), de André Almeida (que foi interncaional A por Portugal devido às excelentes exibições na posição no último ano) e de Sílvio (que embora se encontra emprestado pelo Atlético de Madrid e que possa jogar igualmente à esquerda, é na direita que terá maior potencial e a sua experiência poderá ser melhor utilizada). É muita concorrência! Só vejo uma hipótese se um ou dois dos referidos sair do Benfica e/ou um ou dois for opção para outra posição (por exemplo, André Almeida para o meio-campo e o Sílvio para lateral esquerdo). Caso contrário, e porque o João Cancelo ainda é um jogador muito intermitente, apesar da enorme qualidade que tem, a melhor solução será sair para um clube da 1ª liga que lhe garanta jogos nas pernas. Da mesma forma, o espaço para o Hélder Costa dentro da equipa principal depende de quem sair. Salvio, Markovic, Ivan Cavaleiro, Nico Gaitán, Sulejmani e Siqueira (e também Sílvio ou Almeida se forem laterais esquerdos), são os concorrentes actuais do Hélder Costa. Eu sou fan do Hélder. É um esquerdino como há poucos no futebol nacional que conseguem aliar velocidade, técnica e garra. Já o vi fazer bons jogos a lateral esquerdo, mas onde se destaca é como extremo esquerdo ou direito. Ainda é algo imaturo, mas tem um talento do caraças. Se o Benfica tiver uma vaga para lateral esquerdo, que aposte nele. Quanto mais rápido este miúdo chegar à equipa principal maiores são as suas possibilidades de singrar.

Como "Rui Costa" (b) assumido, vejo o Rúben Pinto pois no actual plantel encarnado tem jogadores que estão a um nível superior. Na próxima temporada, fará bem ao capitão encarnado encontrar espaço num clube de 1ª divisão bem organizado e que possa evoluir nessa competição para outro nível que ainda não tem. Lindelöf, para mim, é mais uma espécie de "Paulo Lopes" (c). Embora jogue mais como médio defensivo, também é polivalente o suficiente para jogar a central e a lateral direito. Contudo, não acho que tenha a classe e o potencial necessário para jogar na primeira equipa do Benfica num futuro próximo.

Bruno Varela, Fábio Cardoso e Sancidino Silva são os "benjamins" referenciados que deverão transitar na equipa B desta temporada para a próxima. Até agora, a minha avaliação deles é de serem "Rui Costas" (b), com um ou outro a correr o risco de ser mais um "Paulo Lopes" (c) do que um "Eusébio" (a). Uma nota final para o caso do Rui Fonte* que se encontra a recuperar de uma grave lesão e que não deveremos descartar dos nossos planos no futuro, pois é um jogador com muito potencial, numa posição muito carenciada em Portugal.


Na equipa principal, já se encontram 3 jovens valores que quanto a mim deverão continuar a merecer a oportunidade de figurar no plantel e ambicionar a ter um papel mais relevante no onze titular. São eles o André Almeida, o André Gomes e o Ivan Cavaleiro. O André Almeida oferece polivalência tanto a lateral direito e esquerdo, como no meio-campo em tarefas mais defensivas. O André Gomes é um daqueles jogadores que poderá jogar em todas as posições do meio-campo central, desde tarefas defensivas até às ofensivas. Quanto ao Ivan Cavaleiro, antevejo um futuro bastanto risonho não só a jogar com extremo direito e esquerdo, mas inclusive como avançado, como já teve a oportunidade de demonstrar na equipa B e na selecção sub21 nacional.


Como emprestado pelo Benfica e no qual eu penso que haverá espaço para ele no plantel encarnado, encontra-se o avançado Nélson Oliveira. Para mim, se for aposta será um jogador para transportar o Benfica e a selecção nacional para outro patamar. O clube e a selecção precisa urgentemente de novas referências e o Nélson tem essa centelha de grande jogador que já o caracterizou no mundial de sub20 na Colômbia, em 2011. Nélson Oliveira é um avançado completo, capaz de jogar à linha, ao centro, entre-linhas e entre os centrais adversários. É dotado fisica e tecnicamente. Tem tudo para triunfar e ser um caso de sucesso dentro do Benfica e para os Benfiquistas.


Já sem contrato com o Glorioso, mas com potencial para voltarem está um grupo de jogadores que deveremos manter a nossa atenção. São eles o lateral Luís Martins (ao serviço do Gil Vicente), defesa central Miguel Vítor (ao serviço do PAOK da Grécia), o defesa central e médio-defensivo Luciano Teixeira (ao serviço do Metz), o médio-defensivo Danilo Pereira (ao serviço do Marítimo), o médio-centro David Simão (ao serviço do Arouca), o médio-ofensivo Miguel Rosa (ao serviço do Belenenses), o extremo Diogo Rosado* (ao serviço do Vitória de Setúbal) e o avançado Hugo Vieira** (ao serviço do Sporting de Braga). Acho que todos eles poderão num futuro fazer parte do plantel da equipa principal do Benfica. Se actualmente temos estrangeiros com qualidade inferior a eles, porque não pensar neles?

Quando é que iremos começar a apostar?!


* - Rui Fonte e Diogo Rosado, embora não sejam produto exclusivo da nossa formação tiveram (e um deles está ainda) no plantel da equipa B, finalizando a sua formação futebolística profissional no Benfica, daí que tenha incluído estes dois neste artigo. Outro que estou a recordar-me é o uruguaio Urreta. Ele tem um potencial do caraças, mas anda continuamente de empréstimo em empréstimo ou na equipa B à espera de agarrar uma oportunidade. Comigo no Benfica já nem sequer estaria na Luz, não porque seria dispensado ou emprestado, mas simplesmente porque já tinha sido aposta ganha e como tal teria saído por um bom encaixe financeiro numa transferência. Essa é a vantagem de planear. E, não há desculpa de o planeamento colidir com as "modas" do mercado. Um bom planeamento antevê perfeitamente quais as tendências de forma a exponenciar os ganhos. E, é essa visão a curto-médio-longo prazo que falta ao Benfica

** - Hugo Vieira embora não tenha formação no Benfica foi um jogador que pessoalmente acho que poderia ter tido outro futuro de águia ao peito se tivesse tido boas oportunidades. Acaba por ser um jogador que reflecte um pouco a vida "ingrata" de certos portugueses que são contratados para o clube quase que para fazer número, quando poderiam contribuir muito mais em campo. Só espero que o Steven Vitória não seja outro desses casos... até dá dó!

4 comentários:

  1. Mas isso já é feito ou pensas que eles andam a dormir?. Estás a tentar ensinar o padre-nosso ao vigário? A soberba destes benfiquistas deixa-me espantado!

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    1. Se realmente fosse feito, jogadores como Miguel Rosa, Luís Martins, Miguel Vítor, David Simão e até o Nélson Oliveira seriam bem aproveitados pela equipa A.

      Já agora, porquê esconder-se por detrás do anonimato? Essa sim a verdadeira soberba de quem muito fala/escreve e pouco diz!

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  2. Um clube para apostar na formação primeiro tem que ter um plantel com uma espinha dorsal cimentada, no Benfica, embora já tenhamos jogadores bastante integrados no clube, nc se sabe quando é que este ou aquele irão sair. Num plantel bem estruturado temos a equipa principal (16 jogadores), os reservas (5 jogadores) e os jogadores da formação (3 ou 4 que jogam na equipa B/Júniores mas que quando necessários serão chamados à principal para colmatar baixas). Os da formação terão que evoluir primeiro para a reserva e só depois para a equipa principal, mas também tem que haver dentro do clube uma política que permita isso acontecer. Um jogador titular só poderá ser vendido, se na reserva já houver alguém com perspectiva de se tornar tão bom (ou quase) como o titular, senão houver aí sim procura-se um substituto no mercado.

    Para já não se pode dizer que o Benfica não esteja a apostar na formação, porque sejamos sinceros, no actual plantel do Barça só o Messi é que conseguiu afirmar-se como titular com menos de 21 anos, todos os outros fizeram a integração natural. Para o próximo ano é que iremos ver se a aposta na formação é real ou se será mais uma treta do presidente, porque existem jogadores que para o ano já poderão sair da B e passare, a reservas.

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    1. Ruben da Costa e Silva,

      O teu argumento do segundo parágrafo é um não argumento. O primeiro até posso aceitar e concordar. Relativamente a este primeiro parágrafo, apenas acho que o Benfica poderia já ter feito a tal espinha dorsal... já teve tempo e meios para tal.

      Depois, isto: «no actual plantel do Barça só o Messi é que conseguiu afirmar-se como titular com menos de 21 anos»... errado, como prova tens o Ivan Cavaleiro com 19 anos.

      Já agora, quando estou a fazer este artigo da formação é para alertar para não cometermos os mesmos erros de um passado recente. Jogadores como Miguel Vítor, Miguel Rosa, entre outros que até referi no texto poderiam e deveriam ter entrado para o plantel encarnado, quer logo, quer depois de um período de empréstimos. Há muitos lá dentro que fazem tanto ou menos do que esses fariam se tivessem na Luz.

      Nós temos a mania que tudo o que vem da formação tem de ser um "Messi" ou um "Ronaldo", daí o teu receio de quando entram na equipa serem logo vendidos para o estrangeiro. Isso é pensar pequeno e pior, é não estar a pensar bem.

      Alguma vez, um clube como o Barcelona ou o Real Madrid iriam vir cá à Luz buscar um lateral direito, ou um defesa central, ou um médio defensivo? Só se fossem muito bons. Mas, a equipa do Benfica não é feita só de estrelas, assim como a nossa formação não é feita delas.

      Mas, utilizando esses miúdos que mesmo não sendo estrelas têm qualidade mais que suficiente para jogarem de manto sagrado, numa política como é óbvio sustentável - não estou a dizer tirar os actuais e meter novos, como fez o Artur Jorge na década de 90! - o Benfica nos últimos 3 a 5 anos, já poderia ter um núcleo duro "made in Benfica", ou por outras palavras, poderia estar a criar uma mística brutal.

      O Manchester United que dominou os finais dos anos 90 e inícios deste milénio era um United construído sobre Nevilles e Keanes. Alguma vez o Barcelona ou o Real Madrid foram lá buscar estes jogadores? E eram tão ou mais importantes que Beckhams e afins...

      O que eu vejo actualmente é o Benfica ir comprar ao estrangeiro jogadores que vêm para posições onde irão tapar os melhores que temos na formação. Por exemplo, o Ola John quando veio para o Benfica à um ano e meio, já havia cá referenciado o Ivan Cavaleiro, para não falar de termos um Nolito em grande forma... Ou seja, o "negócio" do futebol encarnado atropela tanto os investimentos passados, como os futuros. Não há planeamento e aquele que há está constantemente a ser mudado.

      Assim é impossível construir algo sólido.

      Aquilo que escreveste é a lenga-lenga que continuam a papaguear para levar a deles avante. Mas, agora questiono: achas que tem dado resultados essa estratégia?

      Eu acho que está bem à vista de toda a gente que não.

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