21 fevereiro 2012

Um pouco de gelo sobre as 2 derrotas

Toda a gente cai... agora apenas só os campeões conseguem
reeguerem-se rapidamente e com ainda mais força. É disso que todos nós
Benfiquistas esperamos em resposta a estes dois resultados negativos.

De uma equipa invencível na Liga dos Campeões e na 1ª Liga Portuguesa, o Benfica com estas duas derrotas, frente ao Zenit de Petersburgo e ao Vitória de Guimarães, passa a estar numa posição menos confortável nessas duas competições. Está mais do que na altura de analisar o que está a correr mal na equipa de Jorge Jesus.


Na minha opinião, estes dois jogos e estas duas derrotas podem ser analisadas dos seguintes prismas:
  • o da qualidade do plantel encarnado;
  • o da estratégia adoptada pela equipa;
  • o do tempo de recuperação e de preparação para os jogos, ou por outras palavras, da calendarização da época.
A resposta a estas duas derrotas será uma mistura destes três.

Sobre a qualidade do plantel encarnado...
Podemos fazer críticas sobre a qualidade do nosso plantel, assim como apontar carências, que na minha opinião tem. Contudo, o Benfica tendo mais de 70 jogadores sob contrato (a maioria como emprestados a outros clubes), não pode ter desculpas do tipo "não foi possível ter determinado tipo de jogador", até porque muito provavelmente iria encontrar solução nessa "pool". Aliás, pelo que temos percebido, o plantel está feito à imagem do que a equipa técnica quer e pretende.

Sobre a estratégia adoptada pela equipa...
Tendo a questão do plantel trancada, caberá a equipa técnica adoptar uma estratégia adequada para a equipa e também para o adversário. Eu penso que tirando algumas equipas do nosso campeonato e outras europeias, a nossa estratégia até é bem pensada. Contudo, falha por:
  1.  Uma avaliação errada da equipa técnica sobre certos jogadores, como por exemplo, o Emerson, que jogo após jogo é lhe exigido uma forma de jogar no qual claramente ele não se sente confortável, nem tão pouco faz parte dele e que leva o resto da equipa a ressentir-se disso mesmo, não só em termos ofensivos como até mesmo defensivos. O facto de não dar profundidade à equipa faz com que percamos oportunidades de contra-atacar, pois raramente faz o "overlap" quando necessário. Por outro lado, o facto de ficar tão atrás, faz com que o resto da defesa fique mais atrás. Depois, não sabe rapidamente analisar bem o adversário que tem à sua frente deixando-o muitas vezes rodar e embalar contra a nossa defesa.
  2. Continua-se a jogar com a equipa muito estendida no terreno frente a adversários que jogam de forma muito intensa. Muitas vezes, é notório vermos entre a defesa e o ataque termos distâncias de mais de 100 metros, com o meio-campo encarnado perdido ali no meio. Existem duas formas de jogar perante adversários que jogam tão intensamente. Uma é a forma como o Barcelona joga, ou seja, com troca de bola precisa e a dois toques com os jogadores em movimento à procura de linhas de passe e todos eles muito próximos uns dos outros. A outra é tentar esticar a equipa, normalmente os seus avançados de forma a esticar as linhas de pressão do adversário. Face à nossa melhor qualidade técnica, entendo e não entendo porque é que não apostamos numa torca de bola à la Barcelona, nestes casos. A resposta talvez se encontra na qualidade dos treinos e das opções do técnico. É por isso que compreendo termos jogado tão comprido, uma vez que assim podemos esticar o adversário. No entanto, é preciso escolher as armas certas para fazer isso, o que nos leva ao seguinte ponto.
  3. Não está a ser feita uma escolha correcta dos jogadores para determinado tipo de posições e, inclusive, de adversários. Por exemplo, se a estratégia passava por um estilo de jogo mais directo, não fazia grande sentido utilizar o Aimar no meio-campo e talvez o mais indicado seria mesmo o belga Witsel, pelo menos para temporizar um pouco, assim como ganhar outra dimensão física que com Aimar não se tem. Mas, a escolha correcta de jogadores também depende de um factor muito importante: forma física do atleta. Rodrigo, por exemplo, é um dos jogadores que se viu que estava em baixo fisicamente. Também não é para menos, face à forma como se lesionou frente ao Zenit, após aquele lance "impetuoso" de Bruno Alves.
Sobre o tempo de recuperação e de preparação dos jogos, i.e., a calendarização...
A forma física com que o atleta se apresenta num jogo, depende muitas vezes do tempo de recuperação que ele tem de jogo para jogo. O exemplo do Rodrigo, não é aplicável no seguinte raciocínio, pois se este é utilizado e sem rentabilidade, então é porque a ideia do treinador estava errada e ponto final. O raciocínio do tempo de recuperação aplica-se sobretudo a jogadores como Cardozo e Nico. Ontém foi notória que estes dois aguentaram pouco mais de 45 minutos. Cardozo então, a meio da primeira parte já não sabia o que deveria fazer em campo. O Nico por seu turno, ainda tentou pegar no jogo em lances individuais, mas não foi o suficiente para virar o jogo a nosso favor. Este cansaço aliado a um certo desnorteio, leva-nos a concluir que não houve uma preparação eficaz nos últimos treinos. Mesmo que tivessem dúvidas disto que acabei de escrever, poderíamos ver as estatísticas de aproveitamento dos lances de bola parada, para facilmente concluir o quanto não se trabalhou depois da equipa ter chegado da Rússia. Para quê termos adiado o jogo por mais um dia se nem o soubemos aproveitar?

Não se pode ficar de braços cruzados, esperando que chegue o minuto 85
 para fazer substituições atacantes, quando estamos ainda a perder e um
empate poderia ser um mal menor. É necessário arregaçar as mangas JJ
e trabalhar mais e melhor na preparação dos jogos, pois não podemos
 comprometer uma época inteira em menos de duas semanas.
 
Tentando entender a perspectiva do treinador...
Face ao jogo muito bem conseguido na Luz, frente a um adversário com o valor do Nacional, e a jogar num esquema de 4-4-2, muito idêntico ao dos últimos dois encontros, penso que "Jota-Jota" ficou confiante de que a equipa tinha atingido uma maturidade que lhe permitiria jogar dessa forma e que não haveria necessidade de utilizar os mesmos cuidados que chegou a fazer no início da temporada, com Aimar a jogar como falso 2º avançado, criando no centro do meio-campo um reequilíbrio numérico com 3 homens.

De facto, eu próprio confesso que fiquei muito agradado com as exibições de Nico e Nolito que ao contrário de no início da temporada, deram mostras de entender que devem ajudar o duo de meio-campo nas tarefas defensivas, para além das ofensivas. Até mesmo, a entrada de Rodrigo parecia cair que nem ginja na equipa, uma vez que estava a saber interpretar bem o que se pede a um jogador na sua posição e no esquema encarnado, ou seja, dar comprimento (vai-e-vem entre meio-campo e ataque), mas também largura (diagonais mais ou menos largas para as faixas).

Contudo, o estado dos terrenos, as condições atmosféricas e sobretudo o que foi mencionado nos pontos anteriores, revelaram que as opções de Jesus não foram as mais correctas. O problema é que começam a ser sucessivos os erros de avaliação do Jorge Jesus e o fantasma da época passada poderá voltar em breve se ele não for capaz de lidar com a pressão nas próximas semanas.

Ainda sobre a questão da calendarização...
Por falar nas próximas semanas, o clássico será disputado entre duas datas do futebol internacional. Uma que alberga os jogos amigáveis das selecções, com vista a preparação do europeu 2012 e não só, e outra para as competições europeias, como é o caso da Liga dos Campeões. Tendo em conta que a FIFA e a UEFA disponibilizam desde muito cedo os seus calendários, porque carga de água é que o Benfica na Liga Portuguesa não pede para debater este tipo de calendarização. É que a meu ver, este calendário, não interessa nem a nós, nem ao futebol Português, pois em última análise, quanto maior for o sucesso das equipas nacionais lá fora, maior será o número de lugares de acesso directo à Liga dos Campeões e Liga Europa e por conseguinte maior será o dinheiro a circular pelos clubes nacionais.

Soluções para o Benfica regressar às vitórias...
Jorge Jesus vai ter agora uma semana para poder trabalhar com os seus jogadores no centro de estágio do Seixal e terá que aproveitar muito bem esta semana, pois como foi referido no parágrafo anterior, o clássico vai ser antecedido de uma jornada de selecções, pelo que deverá ficar sem muitos dos seus jogadores para poder trabalhar em qualidade. Não obstante, ficar sem os habituais titulares, deverá aproveitar esse tempo e trabalhar possíveis soluções vindas do banco.
  • Na baliza, recuperar Eduardo, mas também exigir mais trabalho ao Artur, pois ultimamente tem estado demasiado nervoso para o que conhecemos dele.
  • Em termos defensivos, e porque Emerson está em risco de levar com o 5º amarelo e ficar fora do clássico, é importante trabalhar Capdevilla (na minha opinião, mais até do que o Luís Martins), muito porque a experiência do espanhol poderá ser muito importante nesta fase da temporada. Jardel e Miguel Vítor devem também ser trabalhados durante a semana. O português, deve ser ainda trabalhado numa óptica de poder ter que fazer a posição de lateral direito, isto até a pensar numa situação do jogo em que o Jesus precisa de um jogador mais defensivo. Por exemplo, na Rússia foi necessário e só pecou a sua entrada por tardia... 
  • No meio-campo, penso que com a recuperação de Javi Garcia, mas com a ausência depois do jogo da Académica de Witsel para trabalhos com a sua selecção, o técnico encarnado terá hipóteses de trabalhar um pouco a hipótese Javi + Matic, e até mesmo + Aimar, para treinar diferentes situações de jogo. Bruno César é dos médios mais ofensivos aquele que necessita de entrar mais na estratégia da equipa e nas funções que tem de desempenhar dentro de campo. Muitas vezes, ainda se esquece de ajudar a fechar no centro do terreno e continua a decidir as jogadas ofensivas de forma muito lenta. Ele, Nico, Nolito e Aimar, precisam urgentemente de trabalhar os lances de bola parada, nomeadamente cobrança de livres indirectos e, sobretudo, cantos. Face a equipas que sejam agressivas e intensas, deve-se ter muito bem estudada a lição dos lances de bola parada. Esta temporada temos tido um aproveitamento abaixo do espectável nesse capítulo, logo há necessidade de trabalhá-lo.
  • No ataque, é importante recuperar fisicamente o Cardozo e ensiná-lo a gerir o esforço em campo de forma mais eficaz. Outro jogador que precisa de recuperar, mas a nível de lesão, é o Rodrigo, pois é notório que algo não está lá muito bem com ele (vê-se isso pela forma como ele se movimenta em campo). Uma coisa é certa, Jesus necessita urgentemente de trabalhar Nélson Oliveira e Saviola para que possam entrar em campo e serem produtivos, de forma a que o resto da equipa não recinta nada. é muito importante que a equipa saiba jogar com todos os seus avançados, para que aquando das substituições eles perceberem o que deve ser mudado em termos de movimentações colectivas. Por outro lado, os próprios avançados devem entender bem quais são as suas funções dentro de campo, quando estão com outro colega.
Em termos estratégicos, estou curioso para saber se o Jorge Jesus irá voltar a apresentar um onze tão ofensivo como apresentou nestes últimos encontros, ou se voltará a utilizar a opção Aimar como falso segundo-avançado, tal como fez em muitos encontros no início da temporada. É que eu penso que com qualidade de treino e trabalho realizado, é possível ao Benfica de Jesus jogar em 4-4-2 puro, contra a Académica e até mesmo no clássico. Agora, a meu ver, precisa é de trabalhar e bem os pontos que referi neste texto...

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