22 fevereiro 2012

Como enfrentar equipas "complicadas" fora de casa?

As duas últimas derrotas encarnadas, levaram-me a escrever um artigo de opinião, que pode ser lido aqui, a apontar os problemas do conjunto encarnado. Mas, uma questão persiste e que merece debate é a seguinte: Como deve jogar o Benfica frente a adversários "complicados" e fora da Luz?


Uma primeira nota introdutória: por adversários "complicados", subentende-se que sejam aquelas equipas que jogam um futebol muito intenso, muitas vezes no limiar da agressão física, e em campos que dificultam um estilo de jogo mais apoiado e de passe curto.

A resposta à questão poderá ser pelo menos de dois tipos distintos, conforme já tinha mencionado no artigo acima referido. Mas, poderão ser mais. Assim sendo, a estratégia de jogo a aplicar, poderá ser:

Pep Guardiola é actualmente o senhor
do futebol apoiado no seu estado mais puro.
1. Futebol apoiado, intenso (para dar réplica ao adversário) e um posicionamento em campo que nos confira ter sempre uma linha de passe e superioridade numérica no espaço onde se disputa a bola, ou seja, com a equipa estendida no terreno de forma curta. É necessário jogadores que sejam muito dotados tecnicamente, para poder-se jogar em passes curtos e no máximo a dois/três toques. Mobilidade entre jogadores para criar linhas de passe e ir dando profundidade à equipa é igualmente fundamental. E depois, não esquecer da objectividade, por outras palavras, criação de ocasiões de jogo. Para que este sistema seja bem implementado, é preciso muito treino de circulação de bola e de pressão zonal. É também requerido que a defesa se sinta confortável em jogar bem subida no terreno. A escola holandesa é uma das que mais defende este estilo de jogo, no qual por incrível que pareça, é no Barcelona que ele torna corpo e forma. Nem mesmo as más condições do relvado, ou o frio siberiano, faz mudar o estilo de jogo da equipa e a sua forma de contrariar equipas que entram a jogar de forma pressionante e intensamente. Real Madrid, Manchester United, Bayern Leverkusen, entre outras grandes equipas europeias, já tentaram, mas a qualidade dos jogadores do Barcelona, o seu entrosamento adquirido ao longo de várias épocas e a qualidade de treino da equipa técnica, fazem com que neste momento seja quase impar no mundo do futebol (mas, o Real de Mourinho aproxima-se cada vez mais... o que é bom para o espectáculo... foi só um aparte). Em suma, este estilo de jogo de raízes holandesas, requer superioridade futebolística quase total da equipa e muita qualidade técnica aliada a inteligência de jogo em campo. Será que podemos dizer que o Benfica a tem?

Kenny Dalglish é o técnico britânico que
ainda utiliza o futebol directo na sua estratégia.
2. Futebol directo, também intenso e energético, i.e., com grandes disputas de bola, muita luta a meio-campo e muita correria de alguns jogadores, mas com a equipa comprida e estendida pelo campo, sobretudo a sua linha avançada.  Uma vez que as equipas adversárias que pressionam muito, com o seu meio-campo a "morder os calcanhares" dos nossos atletas, a intenção de ter a nossa linha avançada no terreno e bastante distante do nosso meio-campo e defesa, é de por um lado, fazer esticar a distância entre a defesa e o meio-campo do adversário e, por outro, aproveitar esse espaço criado entre meio-campo e defesa ou mesmo o entre a defesa e a baliza, que as equipas adversária acabam por conceder. É pois uma estratégia de jogo muito britânica, onde a expressão "kick and rush" fez escola, um pouco por todo o mundo, nos primórdios do futebol. Uma estratégia deste tipo requer um meio-campo combativo e com excelente capacidade de passe longo para os avançados. Normalmente, a linha de avançados é constituída por dois, formando uma dupla. Dentro dessa dupla, não é menos usual verificar um avançado de maior envergadura, habituado a um estilo de jogo mais físico e que consiga ganhar superioridade aérea. Este é complementado por um outro avançado (ou um ala ou meio-campista, caso a linha avançada seja formada por apenas um avançado centro), que aproveita os duelos aéreos do ponta-de-lança, tentando combinar com este e manter objectividade na baliza adversária. O Liverpool de Kenny Dalgish é um pouco a amostra deste estilo futebolístico, sobretudo com a dupla Caroll e Suarez. Mas, não é só nas ilhas britânicas que vemos esse estilo de jogo implementado. Por exemplo, o Milan de Allegri, joga muitas vezes desta maneira, muito por causa de um excelente ponta-de-lança, chamado Ibrahimovic, que acaba por funcionar como um pivot ofensivo para os seus companheiros de ataque. Notar que o meio-campo do Milan, é invariavelmente composto por três homens de cariz combativo, deixando o ataque para o Ibra-ca-da-bra e outros dois. Em suma, há necessidade de ter jogadores combativos e atléticos, tanto a meio-campo como no ataque, que consigam ganhar duelos aéreos e que saibam proteger, temporizar e combinar com colegas. Será que o Benfica possui isso?

Roberto Mancini é o expoente máximo actual do futebol astuto
e isso reflecte-se na forma pragmática que o seu City joga.
3. Futebol astuto, é um futebol racionalizado, onde o fundamental é ter sempre o controlo emocional do jogo. A forma de reagir deste futebol, face a equipas intensas, é a de numa primeira fase recuperar o controlo do encontro e baixar o ritmo de jogo do mesmo. Faz uso e abuso das "manhas" do mundo do futebol. Reposição lenta de bolas em jogo, jogador deixar-se cair face ao mínimo toque do adversário, provocar situações que permitam o descontrolo emocional do adversário, são algumas delas. Do ponto de vista táctico e técnico, a equipa tem de ser um pouco rígida, para ser fiel ao seu plano estratégico, evitando erros próprios, só se soltando quando vê o erro no adversário. A entreajuda colectiva em tarefas defensivas é um requisito muito importante, nas equipas que praticam este estilo. Embora, muitas vezes associada a equipas que praticam um futebol de contra-ataque, não pode ser vista apenas como uma estratégia desse tipo de equipas, mas também daquelas que tentam um futebol apoiado. Faz parte deste estilo de jogo, ter jogadas de laboratório bem ensaiadas, uma vez que invariavelmente este estilo de jogo cria muitos livres em prol da equipa. É um futebol muito típico do calcio italiano, onde equipas como a Juventus e a Udinese ainda são belos exemplo, mas é em Inglaterra (curioso como existe uma troca de estilos entre equipas italianas e inglesas), mais concretamente no Manchester City de Mancini, que podemos ver este estilo astuto aplicado com grande qualidade. O último encontro do City no Porto com o clube local, foi bem notório de como a equipa inglesa nunca se desmoronou, mesmo tendo ficado a perder no início. Resumindo, a inteligência em campo quer táctica, quer emocional é muito importante neste estilo de futebol, mas, também o controlo e o conhecimento do adversário e dos seus pontos fracos, também o são. Será que o Benfica tem também essa capacidade?

José Mourinho é quanto a mim o grande adepto do futebol
 híbrido, aquele que parece ser o mais utilizado actualmente.
4. Futebol híbrido, é um futebol misto entre o apoiado, o directo e também o astuto. Actualmente, este estilo de futebol é o que está mais em voga. Também não é para admirar, uma vez que poucas são as equipas que acabam por se sentirem mestres nos tipos de jogo referidos. O futebol actual não permite que equipas mantenham os mesmos jogadores por muito tempo, por um lado, e a urgência de resultados não permite que treinadores permaneçam durante muitas temporadas nos mesmos clubes. Resultado, nunca se chega a concluir o projecto de equipa que se vai estabelecendo sempre que um treinador chega a uma equipa. Devido a esse cenário, José Mourinho acaba por adoptar este estilo de jogo nas suas equipas, sobretudo nas primeiras temporadas dos seus clubes. Não é à toa, que o Real Madrid é o exemplo perfeito desta mistura de estilos. Ora um futebol rendilhado a primeiro toque e com a defesa bem subida no terreno e sempre com muita velocidade e movimentações, ora com um estilo de jogo mais directo, mas desta feita com o alvo não no centro do ataque madrilista, mas sim nas suas faixas, onde jogadores rápidos como CR7, Benzena, Higuaín e Di Maria aparecem invariavelmente. Esta é a essência da escola latina do futebol. Uma escola que adquiriu sapiência de escolas mais antigas, mas que soube adoptar à realidade actual. Este estilo de futebol responde a equipas que jogam de forma intensa, aumentando a sua intensidade de jogo também, mas não só. Durante o encontro vão alternando entre o passe mais curto e apoiado com linhas muito juntas, e o futebol mais directo para a correria de um ala/avançado ou a cabeça do ponta-de-lança. Requer, também, que os atletas estejam sempre muito concentrados para não haver deslizes, sobretudo nos momentos defensivos. Um belo exemplo, é na formação de uma linha de fora-de-jogo. Os laterais, que são jogadores que são mais solicitados a esforços físicos durante um jogo, normalmente acabam por perder o folego e esquecerem-se da formação da linha de fora-de-jogo, traindo muitas vezes os colegas de sector.  Outro aspecto muito importante: o tempo do jogo é sempre controlado pela equipa e não pelo adversário. Será que o Benfica consegue fazer isso?

O futebol apoiado ao belo estilo do Barcelona, penso que é quase utópico fazer-se em Portugal onde o ritmo de passagem dos jogadores nos clubes ronda em média um ano. Por outro lado, um futebol mais directo, requer para além de treino, disponibilidade física de certos jogadores, que penso que não temos neste momento. Para além disso, o estilo de arbitragem nacional poderia ser um grande entrave, uma vez que ao mínimo toque em Portugal é falta (pelo menos para alguns).

Na minha opinião, o Benfica tenta praticar um futebol híbrido, tal como a maioria das equipas nacionais e internacionais. Contudo, a qualidade do seu jogo nestes dois últimos jogos ficou muito a desejar, frente a adversários incómodos e que jogam intensamente. Talvez maior qualidade no treino e maior acerto nas escolhas dos jogadores a utilizar, face a aspectos técnicos, tácticos e até mesmo físicos e ambientais (condições do terreno).


Contudo, isto não invalida que pratiquemos um futebol mais astuto e pragmático. Por exemplo, em Guimarães, com um pouco mais de cabeça fria, após o golo sofrido tinha-se tentado reequilibrar o jogo a nosso favor, facto que não aconteceu. Até mesmo depois do intervalo, o Guimarães entrou bem mais atrevido que nós. Ao termos reequilibrado o nosso jogo, estaríamos em condições para conseguir o empate. Conseguido esse empate e mediante o tempo disponível e a condição do adversário, tentaria-se o assalto final e a consolidação de uma remontada. Mas, não! Houve um claro desnorte de ideias.

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