04 fevereiro 2012

A primeira vez

Nélson Oliveira irá concerteza recordar para sempre deste seu feito inédito: marcar o seu primeiro golo com a camisola da equipa principal do Benfica, em pleno estado da Luz. E logo o primeiro golo nacional dos encarnados esta temporada...


Escrevo este artigo com um enorme prazer, pois é sempre bom elogiar quem, com trabalho, dedicação e talento consegue crescer num mundo tão competitivo e tão injusto (em oportunidades) como é o futebol nacional.

O Nélson, já desde os escalões mais jovens que se via que era um "miúdo-maravilha"...
Não é à toa que muitos dos seus colegas ainda hoje dizem: "quando tinhamos dificuldades, sabiamos que passando a bola ao Nélson ou ao Sána, estes resolveriam". Havendo talento, as únicas questões, para ter ou não um futuro auspicioso, eram de saber se teria estofo para ter uma vida regrada como um atleta profissional e se iria ter oportunidades para singrar. O seu colega de equipa Sána, nunca chegou a ter essa oportunidade lamentavelmente... mas, Nélson sim! Talvez porque jogava numa posição em risco de extinção em Portugal, a de avançado/ponta-de-lança, ou talvez porque já apresentava índices atléticos muito superiores aos seus colegas da mesma idade... ou ainda, talvez porque teve a sorte de ter bons "padrinhos" (leia-se, treinadores que gostaram dele, empresários que viram alí um diamante raríssimo e uma futura grande oportunidade de negócio,...). 

Um avançado completo...
Embora apelidado de "Ibrahimovic Português", por muitos dos apaixonados adeptos, Nélson Oliveira tem características um pouco diferentes e que, a meu ver o tornam bem mais polivalente que o gigante sueco. Em termos técnicos, a sua recepção, o seu drible, o controlo de bola e a finta do um-para-um estão ao nível dos predestinados. Fisicamente, um pouco mais baixo que o camisola 11 do Milan, apresenta a mesma robustez física para aguentar o choque das defesas adversárias. É um jogador muito veloz, velocidade essa comprovada na forma como galgou largos metros à frente dos laterais brasileiros, na final do mundial de sub20. Depois, vê-se que tem escola de avançado. Houve um claro trabalho com o jovem na forma como deve movimentar-se na frente de ataque, que o torna ainda mais perigoso. A jogar de costas para a baliza, sinceramente, e até pode parecer muito exagerado o elogio, mas não recordo de um avançado nacional que o fizesse tão bem como ele. A forma como recebe, mata no peito, vira-se com o adversário nas suas costas, mas também a forma como procura os espaços nas costas da defesa, como desempenha o papel de descer até ao meio-campo, jogar junto à linha, revelam não só essa escola, mas também a sua enorme polivalênica. É, portanto, um avançado completo.

A questão do "clique"...
Rui Vitória, seu antigo treinador nos escalões jovens encarnados e também no Paços de Ferreira, na época passada, a de estreia do jovem craque luso, referiu que o Nélson tinha tudo para ser um grande jogador português. Referia que apenas faltava-lhe conjugar todas as suas qualidades de forma equilibrada, i.e., conseguir adaptar-se ao ritmo competitivo do futebol de 1ª liga profissional para dar o "clique" e "explodir" para o futebol mundial. O mais engraçado é que foi exactamente num palco mundial (no seu escalão é certo) que, a meu ver, deu esse tal "clique". Se recordarmos do jogo da final e se pensarmos em quantos jogadores nacionais chamaram para si a responsabilidade de liderar, de dar o que de melhor têm de si para o grupo de trabalho, em jogos deste grau de responsabilidade e dificuldade, facilmente percebemos que estamos perante um caso raro no futebol português. Confesso que fiquei triste com o resultado final desse encontro, não só pela nossa selecção, mas pelo esforço que este miúdo teve durante toda a prova, para depois entregarem o ouro a um jogador que fez um ou dois belos jogos... mas, pior fiquei, quando vi o Jorge Jesus a preferir apostar num miúdo espanhol e não tanto no nosso prateado "vice-campeão", durante toda esta primeira metade da época.

A velha questão das oportunidades e das preferências...
Podemos discutir que o Rodrigo tinha vindo mais cedo do mundial e por isso foi levou vantagem na bolsa de apostas do Jesus. Mas aí respondo: o quê?! Por uma ou duas semanas de diferença?! Não acho que seja uma razão válida... Podemos tentar desculpar com a experiência competitiva do Rodrigo em comparação com a do Nélson. No entanto, se calhar, na época passada o português teve mais minutos que o espanhol, se bem que em campeonatos competitivamente diferentes, por isso eu até dou o benefício da dúvida ao treinador. Como é óbvio, é ele que os treina diariamente e é ele que sabe exactamente as ideias que pretende para o Benfica vencedor. Agora, temos que ser mais cientes de que jogadores como o Nélson Oliveira, é de todo o nosso interesse que vinguem no futebol encarnado, pois é claramente um enorme activo para o clube, tanto em termos desportivos como financeiros. Como tal, necessita de ter bem mais oportunidades que a média actual de um jogo por mês! Tenho é receio que o Benfica, sendo hoje um clube que visa a valorização de jogadores, ao invés da aposta concreta na formação, ver bem a situação entre o Rodrigo e o Nélson Oliveira, dois jogadores da mesma geração e para a mesma posição, não seja o melhor local para jogadores como o Nélson poderem desenvolver. É por isso que faço esta chamada de atenção, para haver maior justeza e avaliação dos atletas da formação. Recordar que tirando um francês, um argentino e uns 4 brasileiros, na última década 2 portugueses foram considerados os melhores jogadores do mundo. Ou seja, temos da melhor matéria-prima...

Como enquadrar Nélson Oliveira nesta equipa?
Olhando para a nossa lista de avançados, mesmo depois de se ter libertado Rodrigo Mora, neste mercado de Janeiro, ficamos com Cardozo, Saviola, Rodrigo e Nélson Oliveira. Temos ainda Djaló, Nolito, Nico e Bruno César, jogadores capazes de jogar como segundos-avançados. Isto para não falar em Enzo, que na Argentina acabava por fazer quase todas as posições do meio-campo para a frente, excepto a ponta-de-lança. Sabendo que a titularidade para ponta-de-lança é de Cardozo, sabendo também que Rodrigo tem sido aposta credível para o ataque, tanto como parceiro do camisola 7, como substituindo o gigante paraguaio na frente de ataque, penso que o Nélson Oliveira poderá ter mais hipóteses noutras posições. Uma delas é jogando como falso extremo, tanto à esquerda como à direita. Das melhores exibições que ele fez na selecção sub20 no mundial do verão passado, foi jogando nessa posição, uma vez que era ele que conseguia ligar melhor o meio-campo ao ataque. Com a novela Enzo e ainda sem a contratação de Djaló, era sobre a direita que o teria apostado. Agora com a aquisição do internacional português e a recuperação do Enzo, o espaço do Nélson fica ainda mais curto. E isso é algo que me preocupa.

Parcerias que poderá fomentar...
Defendo uma aposta do Nélson como falso extremo, nesta fase inicial por dois motivos principais: o primeiro porque tem características para a posição, o segundo porque precisa de ter minutos de jogo nas pernas e esta posição/carência de jogadores no plantel para a posição poderá beneficiá-lo. Com um Nélson mais entrosado, mais confiante e com mais peso na equipa, fruto de mais tempo de jogo nessa posição, poderia-se levá-lo ao próximo nível. Nível esse, no qual situo o Rodrigo, i.e., o de parceiro do ponta-de-lança de referência, Óscar Cardozo. Eu penso que as características do Nélson até combinariam melhor com o Cardozo, sobretudo pelo simples facto de um ser canhoto e o outro ser destro. Pode parecer uma picuinhice, mas se pensarmos bem vemos que é um pormenor com grande relevância. Um canhoto, procurará sempre um movimento da direita para o centro, à procura do seu melhor pé. Dois canhotos lá na frente, tenderão a desmarcar-se para a direita, para depois flectir o movimento interno. Isso desequilibra a frente de ataque. Se o jogador for obstinado, e ficar na zona central descaído para a esquerda, a sua perigosidade ofensiva decai. Ora, com um Nélson Oliveira, destro de natureza, a jogar com Cardozo ou com Rodrigo, esta tendência já não acontece e as zonas de perigo com as quais os adversários têm de estar atentos, multiplicam-se, assim como as nossas hipóteses de sucesso. A natureza da parceria com Cardozo e com Rodrigo será diferente. Contudo, a polivalência do jogador português, faz acreditar que com ambos terá uma pareceria frutuosa. Cardozo poderá beneficiar das arrancadas em um-para-um do Nélson que servirá o paraguaio em travessa. Com Rodrigo,

Receio quanto ao seu futuro...
Se há coisa que eu não gosto mesmo nada de ver no meu Benfica, é a forma como se desperdiçam talentos como o do Nélson Oliveira. Leio muitas pessoas a dizer, à e tal, mas o rapaz ainda é novinho... pois é, mas com estas idades, jogadores como Pelé, Eusébio, Maradona, Cruiyf, entre outros, já tinham muita experiência em campo. Um exemplo actual: Fabregas com 21 anos já tinha mais de 100 jogos na English Premier League. Quantos tem o Nélson agora? E é por aí que se formam também os grandes jogadores. O problema de Nélson Oliveira não é a falta de talento e de mentalidade para o futebol profissional. É sim, o de falta de oportunidades reais e concretas. Espero que as coisas mudem, mas, à falta de melhores oportunidades, apenas desejo que o Nélson dê continuidade a esta estreia na lista de marcadores e que vá fazendo a sua parte nestes jogos da taça da Liga. Ao menos, assim não dá hipóteses a críticas e dificulta o trabalho de quem tem de tomar decisões.

E que seja já amanhã, frente ao Marítimo!

Que amanhã volte a comemorar mais um golo com o manto sagrado.



2 comentários:

  1. Gosto muito do que escreves, tens boas opiniões e bem fundamentadas. Parabéns e continua!

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  2. @Marta: Obrigado pelo apoio! :)

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