28 dezembro 2014

Sim! Poderíamos ganhar a Liga dos Campeões!


Este artigo visa dar outra visão sobre o que é necessário para ser campeão Europeu de clubes, mantendo o mesmo modelo de negócio, mas alterando algumas coisas que fariam a diferença a médio prazo.
Ao ler as duas entrevistas de Jorge Jesus aos principais diários desportivos (n'A Bola em 27/12/2014 e 28/12/2014 e no Record em 26/12/2014), o que me saltou à vista foi a sua interpretação sobre o porquê do Benfica não conseguir ser campeão europeu. Aliás, a forma como ele explicou foi a seguinte:
«Se não tivesse vendido jogadores [desde 2009], o Benfica estava a disputar uma final da Liga dos Campeões. Não tenho dúvida alguma!»
por Jorge Jesus
Isto quer dizer que, para ao técnico encarnado, se tivesse conseguido manter todos os seus grandes jogadores - Di Maria, Ramires, Witsel, Matic, Garay, Fábio Coentrão,... - tinha equipa para disputar o título mais importante do velho continente. Até aqui tudo bem. Mas, será mesmo?!

Sinceramente, eu penso que o problema não esteja só aí. É óbvio que se não vendesse facilitaria muitas coisas, mas o verdadeiro problema do Benfica está na base que sustenta esses grandes craques. Actualmente essa base é constituída por alguns importantes jogadores, como por exemplo Luisão e Maxi Pereira. São dois jogadores que não tinham qualquer ligação com o clube, mas que se identificaram com a nossa cultura e tornaram-se símbolos. No entanto, são apenas dois do onze inicial, e mais um Rúben Amorim, um Paulo Lopes e um Lima. Talvez estes formam a base do plantel. Júlio César e Jonas, são duas contratações recentes e os quais deposito alguma confiança para esse papel no futuro próximo.



Em termos de matéria de grandes jogadores em trânsito para outros campeonatos, temos hoje em dia, um Enzo Pérez, um Nico Gaitán, um António Salvio, um Talisca, um Ola John, um Sulejmani, um Fejsa, um Samaris, um Cristante, um Benito, um Lisandro López, entre outros. Ou seja, praticamente todo o restante plantel. Assim é impossível que o Benfica possa ter matéria para chegar a uma final da Liga dos Campeões, pois há demasiada gente que irá meter a sua própria agenda à frente quando o momento da possibilidade de dar o salto chegar, não permitindo haver um trabalho de continuidade.

Mas, a culpa não é apenas desses jogadores. É legítimo eles quererem ir para melhores campeonatos, onde possam atingir outro patamar de reconhecimento e de vencimento. A culpa, também está na nossa política de desenvolvimento de jogadores para serem potenciados e vendidos por vários milhões. Essa política faz todo o sentido num país como o nosso que ainda não soube explorar bem em conjunto o mercado futebolístico, de tal forma a torná-lo muito mais robusto e apetecível enquanto liga. Contudo, essa política quando massificada trará vários dissabores. Um deles é aquele que estamos a viver. Olhando para a lista que coloquei lá acima, temos pelo menos 2 ou 3 jogadores para a mesma posição, daqueles que estão em trânsito. Ou seja, para além de estarmos já a trabalhar na valorização e potenciação do titular para ser vendido por vários milhões no próximo defeso, já estamos a ser mais ambiciosos e pensar no seguinte para ser vendido no defeso seguinte.



Sinceramente, tentar criar uma linha de produção em massa no futebol não será boa política. Primeiro, porque os ritmos de desenvolvimento dos jogadores não é o mesmo. Segundo, porque tais alterações acarretam sempre problemas nas dinâmicas da equipa que precisam elas próprias de períodos de adaptação. E, terceiro, e talvez mais importante, tais medidas é meio caminho andando para dinamitar a tal base que é necessário ter no plantel para este ter sucesso, pois é essa base que permitirá que o jogador possa desenvolver calmamente até conseguir explodir definitivamente.

Depois, já repararam como o Benfica todas as temporadas, muda meia equipa? Muda praticamente todos os jogadores que são os habituais suplentes. E, se em vez de estarmos a contratar jogadores de baixo custo que apresentem algum talento - literalmente a garimpar sobre aqueles jogadores que apresentam algum potencial mas estão claramente na zona de risco crítico - estivéssemos a apostar claramente nos talentos da nossa formação?





Olho para as últimas décadas das equipas vencedoras da Liga dos Campeões e vejo:
  • um Ajax de Louis van Gaal em 1994/1995, cuja base da equipa era composta maioritariamente por jogadores da formação holandesa.
  • poucos anos mais tarde, em 1998/1999, vejo um Manchester United virar um resultado no último minuto, com uma equipa repleta de "Fergie's Fledglings", como David Beckham, Paul Scholes, Garry Neville, Ryan Giggs, entre outros. Aliás, não é o Jorge Jesus que muitas vezes é comparado ao Alex Ferguson? Para mim, só o poderemos comparar ao escocês quando souber aproveitar e investir na formação, tal como a lenda de Manchester o fez.
  • mais recentemente, temos os exemplos do Barcelona de Pep Guardiola, em 2008/2009 e 2010/2011.
  • e do Bayern Munique de Jupp Heynckes em 2012/2013, com Müller, Lahm, Boateng, Schweinsteiger, Kroos, entre outros, frente a outra equipa que aposta forte na formação como o Borussia de Dortmund de Jürgen Klopp.
Ou seja, o que não faltam são bons exemplos de equipas que chegam às finais tendo como base a qualidade dos seus jogadores de formação.

A vantagem, é que quando existe qualidade na formação - e acredito que com todos os investimentos que o Benfica tem feito neste departamento, essa qualidade já existe! - estes tendem sempre a:
  1. Adaptarem-se mais rapidamente aos contextos de exigência do Benfica
  2. Formar mais rapidamente um núcleo duro no seio do plantel, pois já têm vários anos de clube
  3. Reconsiderar o momento correcto para sair ou não quando uma proposta chega, demonstrando sempre um carinho e preocupação especial pelo clube
  4. Representar um maior lucro no acto da venda, pois sendo formados no clube não representam nenhum custo de investimento inicial, ao contrário dos que são comprados
  5. Ter um efeito positivo na identificação dos adeptos com a equipa, pelo que quando as coisas correm mal, há uma maior tolerância com os "seus meninos"
Olhando para esta geração da formação do Benfica, mais concretamente para jogadores como João Cancelo, Ivan Cavaleiro, Hélder Costa, Bernardo Silva, Nélson Oliveira, Gonçalo Guedes, está aqui uma espinha dorsal interessante para ser trabalhada e potenciada por Jorge Jesus. E, já agora, numa época que estamos fora de algumas desgastantes competições, que implicará que termos uma calendarização mais desafogada, não acham que seria o momento ideal para começar a pegar nesta pequenada?! Pelo menos em Hélder Costa e Gonçalo Guedes, pois os restantes já foram emprestados...

10 comentários:

  1. Claro que sim. O sucesso do Benfica europeu passará pela capacidade de criar e manter esse núcleo da formação que transporta consigo o talento e a mística do clube. Mas, não nos iludamos, tal só será possível quando (se) o Benfica atingir um nível orçamental mais próximo do dos grandes clubes europeus. Para isso é fundamental a evolução de todo o futebol nacional e, fatalmente, da moribunda economia nacional. Tudo seria mais simples se a UE protegesse adequadamente os clubes formadores da "sagrada" e, nem sempre benéfica, lei da livre circulação de pessoas e bens. O mesmo se aplica para qualquer outra atividade profissional cujo desfecho será o de, a prazo, aumentar a perda de população dos países periféricos para os do centro e norte. Algo que pagaremos bem caro.

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    1. Verdade que se o Benfica atingir um nível orçamental mais próximo dos grandes clubes europeus isso facilita imenso. Facilitará ainda mais se a nossa Liga for uma das melhores do mundo. Mas, para tudo isso acontecer é preciso gente competente e com visão em Portugal e que acima de tudo queiram construir algo e isso é algo que parece não haver, ou pelo menos parece ser bloqueado por interesses instituídos. Não tenho dúvidas de que o actual estado das coisas está muito bem para alguns...

      De qualquer modo, uma das formas de tender para esse cenário é começar a criar as bases para esse cenário ser uma inevitabilidade. A aposta na formação de qualidade é a forma mais rápida de se atingir isso.

      Mesmo, que desses jovens que vão sendo lançados estes saem passados poucos anos, tal como acontece com os jovens que estamos a comprar, temos aí uma vantagem que neste momento não temos: custos! Um jovem formado custa-nos pouco ou quase nada. Enquanto um jovem tipo Talisca ou César custa-nos em média cerca de 7M€/anuais. Valor esse que provém de empréstimos ou outros modos, mas que são basicamente um custo de investimento elevado.

      Depois, é preciso ver uma coisa: apostar em dois ou três jovens da formação, é apostar em valor colectivo já criado, pois já existem rotinas e cumplicidade de equipa nesses três. Comprando três de vários pontos, significa que tal terá de ser criado... enfim, se o talento não for significativamente superior ao que temos na formação, penso que não vale a pena.

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  2. Só se for na final dos campeoes em PlayStation

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    1. Este é um bom exemplo do que o Anónimo em baixo falava da tal "pequenez à TUGA"...

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  3. Acima de tudo há que acabar com a pequenez à TUGA. Aquele traço que leva os portugueses a olharem para as equipas de Espanha, Italia, Alemanha e Inglaterra como melhores que as nossas. Os mesmos jogadores que, ao serviço do Benfica, sao eliminados na fase de grupos, em outras equipas ganham! D.Luiz, Coentrao, Ramirez, Di Maria, Aimar, Saviola.

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    1. Mas, essa pequenez muda-se com o tempo e com este tipo de revoluções que defendo.

      Não estou a pedir nada demais e nada que não seja racionalmente correcto: aproveitar os melhores talentos da formação. Nem sequer estou a pedir para que aproveitem todos os miúdos da formação...

      ;)

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  4. a teoria de que se não vendesse-mos todos os jogadores tínhamos um plantel do caraças é uma falácia, porque só fomos buscar o garay, o siqueira, o witsel, e o gaitan porque vendemos o david luiz, o coentrão, o ramirez e o di maria.

    o problema dos jogadores em transito não se resolve com jogadores da formação, embora se possa mitigar, porque eles também tem agenda própria agora o que não se percebe é que se aposta nuns e nos outros não.

    sobre a inconstância dos planteis de ano para ano estamos de acordo é verdade que o treinador se mantêm mas os jogadores saem ao mesmo ritmo dos 6 anos anteriores quando os treinadores mudavam todos os anos e as saídas nos 11 mais utilizados em cada época são praticamente as mesmas e não explicam que nestes cinco anos tenham saído em media mais de metade de cada um dos planteis.

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    1. Olá João Carlos!

      O teu primeiro parágrafo é bastante pertinente e de realçar, pois muita gente esquece desses pequenos "pormaiores"...

      Sobre os miúdos e as suas agendas é bem verdade. Mas, também é verdade que estes miúdos que fazem a escola toda no clube de seu coração, quererão sair sempre pela porta grande, sem prejudicar as suas vidas, mas também sem prejudicar o seu clube de coração. Talvez seja uma ideia romântica, mas se fizesse uma entrevista aos mais talentosos jogadores da formação, estes diriam que gostariam de ir para outras ligas mais competitivas, mas que gostariam primeiro de se afirmarem como jogadores no seu clube de formação, por umas quantas temporadas. Se perguntarmos quantas, eles diriam: 3 a 5, ou seja, quando tiverem 23/24 anos, o que é a idade perfeita para o clube tirar-lhes o melhor rendimento desportivo/financeiro e eles assegurarem que vão para um bom clube numa boa liga europeia. Eles próprios já percebem como o mundo do futebol funciona. Sabem que em determinadas circunstâncias mais vale ficar num local a jogar e a crescer do que ir para as reservas de um clube de um grande campeonato e esperar pelas suas vezes. Aliás, basta ver o que acontece com muitos dos jovens que vêm para o Benfica.

      Em suma, tudo o que tenho ouvido são meias verdades que interessam para manter o status quo da tribo de futebol portuguesa. Há muita gente a lucrar com o actual modelo de negócio de transferências e pelo que já conseguimos ver o clube não é o que mais beneficia...

      Já agora, sabes como o Jesus e outros na estrutura explicam essas mudanças de ano após ano no grupo dos reservas? É o tal processo de selecção. Mandam vir dois ou três jogadores potenciais de alto risco dos mercados sul-americanos e depois quando chegam cá é que verificam se têm carimba para o clube ou não. Só não entendemos (ou até já entendemos) porque não preferem apostar nos talentos do clube...

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    2. sobre os jogadores formados no clube é claro que aumenta a probabilidade de ficarem mais tempo que os que não são mas não acho que a diferença seja assim tão significativa.

      eu sei dessa estratégia de selecção o que eu não percebo é como é que só se arrisca com jogadores não formados no clube e ele vir com quatro exemplos em seis anos é ridículo, porque um nem formado no clube foi o outro veio no ultimo ano de júnior, o outro nem meia hora fez em meia época.

      mas aquela malta que diz que o gajo faz jogadores de milhões, e tem feito alguns sem duvida, depois esquece-se de contabilizar os milhões gastos nesses jogadores que ele descarta logo, e foram muitos jogadores e milhões, a maioria muito perto dos cinco milhões cada um.

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    3. João,

      Já reparaste que a maioria dos grandes jogadores que o Benfica depois vendeu, na era do Jesus, custaram-nos (se não contarmos com o David Luiz e o Fábio Coentrão) todos eles mais de 5 M€ de investimento? É como tu referiste, as pessoas esquecem-se que essas vendas outrora foram aquisições avultadas...

      Outro ponto que merecia ser debatido: já reparaste que os são os empresários/fundos que muitas vezes é que abrem portas para esses negócios ocorrerem? Ou seja, toda a gente sabe quanta lavagem de dinheiro acontece no mundo do futebol, sobretudo em transferências de jogadores. A própria FIFA até gosta que haja muitas transferências porque por cada uma existe um montante (não muito mas não é desprezável face ao número de transferências...) que é revertido para eles. Mas, continuando, são esses agentes - sempre os mesmos, porque será?! - que com as suas ligações privilegiadas conseguem meter os jogadores noutros grandes clubes. É óbvio que para a opinião pública como são jogadores vencedores, têm talento, os adeptos apaixonados acreditam logo na estorinha... mas a verdade é que tudo isto não passa de processos de investimentos a médio prazo e de risco nulo.

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