20 maio 2016

Assédio sobre os tricampeõ35


Chega o final da época e é normal que a imprensa desportiva comece a querer vender todos os jogadores encarnados...

... até porque todos os grandes clubes querem se reforçar com os melhores jogadores que estão no mercado. E, esses jogadores são invariavelmente os jogadores campeões em ligas de pequena e média dimensão como a nossa Portuguesa. O assédio torna-se ainda muito maior quando já há um histórico do Benfica em produzir belíssimos jogadores para os grandes campeonatos da Europa. Ou seja, já há um selo de qualidade do jogador encarnado.

A contratação de Renato Sanches pelo Bayern Munique e
pelos valores em jogo, demonstram a qualidade do
jogador encarnado, actualmente.
Depois, para aliciar ainda mais os "tubarões" Europeus, a aposta na formação encarnada - produto do paradigma estratégico financeiro/desportivo do clube da Luz - tem sido um enorme sucesso. Perante jogadores tão jovens e já formatados para o sucesso, os grandes clubes não têm problemas em chegar à Luz e investir à grande na transferência de jogadores. Foi isso o que aconteceu com o médio Renato Sanches, adquirido à uma semana atrás pelo Bayern de Munique. Embora seja um investimento avultado por um jogador tão jovem, esses clubes têm o garante de que o jogador já deu mostras o suficiente de ter o necessário para o sucesso no Benfica, logo trata-se de um investimento seguro e para o futuro da equipa deles. Ou seja, é um jogador de classe mundial para os próximos 5 a 10 anos dessa equipa. E eles pensam desta forma, mais vale pagar 35M€ mais prémios que podem chegar aos 80M€ por um miúdo que tenho a certeza que é de classe mundial, que pagar 80M€ quando ele tiver 27 anos e no pico da sua forma. É que se eles amortizarem os tais 80M€ por 10 anos, dá a módica quantia de 10M€/ano, que é o que eles gastam todos os anos por um jogador dito normal. Já se gastassem os tais 80M€ a pronto quando tivesse os 27 anos, e pensando que o jogador jogaria uns 5 anos por eles, significava que ele iria custar por ano qualquer coisa como 16M€. E, isto só em custos de aquisição, sem falar nas diferenças que um e outro cenário teriam se juntássemos direitos de imagem...

Com uma cláusula de rescisão de 45M€, Ederson é o
mais recente namoro do Manchester City de Guardiola.
Por isso, é que ainda esta semana lemos notícias do interesse do Manchester City de Guardiola no jovem guarda-redes Ederson. Ou o despique entre o Manchester United, o Real Madrid e o Barcelona pelo jovem central sueco Victor Lindelöf. Ou ainda a proposta milionária chinesa por Anderson Talisca. E, isto para não falar nas observações que no início da época houve a Nélson Semedo e Gonçalo Guedes, que entretanto por motivos variados, se arrefeceram um pouco esta temporada. De facto, são tudo jovens de grande potencial e alguns deles são já certezas de serem jogadores de classe mundial, logo muito atractivos aos "tubarões" do mercado. Mas, não são apenas os miúdos jovens de grande potencial que são apelativos às carteiras desses grandes clubes. Também os jogadores veteranos do Benfica e os não tão veteranos o são. Dos primeiros, escrevo em particular do interesse veiculado esta semana em Jonas (da China) e de Jardel (da Lazio de Roma). Já dos segundos, fala-se do interesse de clubes chineses em Salvio, do interesse em Carcela de clubes Europeus, e também se fala, como em todos os outros anos, do interesse em Nico Gaitán por vários clubes grandes da Europa. E, algo me diz que o interesse nos jogadores tricampeões nacionais não vai ficar apenas por aqui...

Franco Cervi foi a primeira contratação do Benfica para
a época 2016-2017. Um investimento para ter retorno
desportivo e financeiro no médio prazo.
Do ponto de vista do modelo de negócio do Benfica, o clube precisa de gerar receitas por transferência de jogadores. Fundamentalmente, necessita disso para poder amortizar rapidamente as dívidas em empréstimos que possui e, se possível, canalizar alguma parte para reinvestir na equipa através de aquisição de jogadores com potencial para serem trabalhados/formados/formatados pelos encarnados, alimentando assim o pipeline de proposta de valor do modelo encarnado. Por isso, é quase impossível não vendermos jogadores todos os anos. No entanto, uma coisa é vender sem critério, outra é fazê-lo com critério. Até porque se vendermos sem critério colocamos em risco o equilíbrio do modelo, que assenta no equilíbrio desportivo. Para existir esse equilíbrio desportivo, é preciso que haja um núcleo duro da equipa que garanta não só as competências técnicas, tácticas e físicas do jogo, mas também a proclamada mística da equipa. É muito comum, o adepto usual, pensar que - por exemplo - entra um Cervi e sai um Nico Gaitán e as coisas ficam na mesma. Errado! Não só porque o Gaitán possui um capital de experiência desportiva que o Cervi por mais talento que tenha não conseguirá suprir no curto espaço de tempo, como também o peso de um e de outro no seio do grupo é bem diferente. E, quando as coisas começam a correr mal, a forma de um e de outro lidar será bem diferente. Por outro lado, os jogadores vão amadurecendo e envelhecendo, e com isto perdendo algumas faculdades, sobretudo, físicas, que impossibilitam adequar as técnicas e tácticas melhores para as situações. Por outras palavras, podem até ter o conhecimento de quando e como fazer, no entanto, não conseguem fazê-lo por falta de capacidade física. Quando isso acontece, esse jogador experiente já não é um foco de estabilidade para o grupo, mas sim um foco de instabilidade, sendo outra forma de desequilibrar o modelo que referi acima. E, isto para não contabilizar o desequilíbrio que um jogador no topo da sua carreira e sem render a nível desportivo pode gerar em termos financeiros. Por exemplo, um jogador que tem o vencimento mais elevado do plantel e que joga pouco, começa a desequilibrar o modelo.

O marroquino Taarabt representa o jogador no qual o
clube já investiu dinheiro e que precisa de rentabilizá-lo.
Para além do critério da experiência, existe outro muito importante, o critério de necessidades técnicas, tácticas e físicas da equipa. Entre dois jogadores igualmente cobiçados, e que apenas só se pode vender um para que não coloque em perigo o critério da experiência/equilíbrio, deve-se vender aquele que permita não só estabilizar a equipa do ponto de vista técnico/táctico/físico, como também haja maior leque de variedade no que toca a potenciais substitutos no curto prazo. Por exemplo, no caso do Ederson, existe Júlio César, que em condições normais será sempre o titular da baliza encarnada. No caso do Lindelöf ou do Jardel, qual dos dois vender? Em termos financeiros e até desportivos, é mais rentável vender o miúdo. O brasileiro tem assumido uma posição muito dominante no seio do grupo (na tal mística) pelo que não seria bom saírem os dois. Depois. porque Samaris pode descer e jogar a central ao lado do Jardel e com isso abrir um espaço para o retorno de Cristante (que foi um investimento avultado de 6M€ à duas épocas atrás) para médio-defensivo. Já agora, quando o Renato Sanches sai para o Bayern Munique o Benfica trata logo de assegurar o André Horta para a mesma zona do campo, tendo ainda nos seus quadros jogadores como João Teixeira e Raphäel Guzzo. No entanto, nenhum destes jogadores, e já agora dos que se encontram no mercado ao nosso alcance financeiro, têm as mesmas características que o Sanches. Isto por si só, significa que deverá haver uma mudança no modelo de jogo encarnado. E esta mudança deverá ser vista como uma oportunidade para fazer algumas transferências com critério. Outro exemplo, que poderá estar a ser equacionado pelos dirigentes do Benfica, é se o Jonas e o Talisca saírem, se o equilíbrio irá ressentir-se ou não. É que jogadores como Taarabt (um dos mais bem pagos do plantel), Djuricic (investimento de 8M€ à duas épocas), Gonçalo Guedes (jovem de enorme potencial) e até mesmo Nélson Oliveira (que está emprestado), poderão ter aqui as suas oportunidades na Luz. E, quanto a Gaitán e Salvio com a chegada de novos extremos como o Cervi e o Carrillo, respectivamente para as suas posições? Haverá vantagem em transferir o subcapitão da equipa no mesmo defeso que Jonas poderá sair da equipa? E, o Salvio? Valerá a pena transferir um jogador que tem um potencial brutal depois de uma época em que esteve a recuperar fisicamente de uma lesão muito prolongada? Ou será que ambos podem ter outras funções em campo na próxima temporada?

De qualquer maneira, sei que a missa ainda vai no adro, no que se refere à temporada das transferências. No entanto, é muito importante o adepto perceber que há necessidade incontornável de vender e gerar o máximo de receitas. Mas, do lado da estrutura, há também a necessidade de vender o que é estritamente necessário para manter o equilíbrio da equipa, como também poder optimizar os recursos que já foram investidos nos últimos anos.




P.S.: Já leram as últimas declarações de Renato Sanches? Fiquem então com elas:
«Às vezes ainda me belisco para ver se isto está mesmo a acontecer. Felizmente, alguns de nós conseguimos concretizar esse sonho, espero que muitos outros o consigam, porque há muito talento no Seixal.»
E, sobre o Rui Vitória apenas diz o seguinte:
«É a diferença entre alguém que aposta nos jovens e alguém que nunca olhou para nós como podendo fazer parte deste projeto.»
Uma clara indirecta ao ex-treinador dos encarnados, Jorge Jesus. É mesmo assim Renato!


2 comentários:

  1. Não concordo que a última frase seja uma indirecta ao JJ. Trata-se, isso sim, de um potente directo aos queixos desse senhor...

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    1. Ah! Ah! Ah! Foi um uppercut de direita bem mandado, não foi?

      A imagem que tive quando li as declarações do Renato foi do Bernardo Silva a rebolar-se todo no chão a rir.

      ;)

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