Rapidamente, foi um jogo de muita luta, onde uma Holanda equilibrada e organizada faz o seu tento praticamente no seu único remate de renome e, onde Portugal desiquilibrado e desorganizado e após algumas tentativas, lá consegue o seu golo... através de um lance de bola parada.
Um bom treinador resolve muita coisa...
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Seleccionador holandês Louis van Gaal, um exemplo de um treinador de topo. |
Antes de fazer uma análise às individualidades dos dois lados, gostava de abordar a importância de ter realmente um treinador muito competente. O holandês Louis van Gaal, é um treinador muito experiente, com vários títulos nacionais e internacionais no seu curriculum. Tais só atestam a sua qualidade no que faz. E, quer se goste ou não, ontem fez muita diferença. Numa selecção holandesa onde a defesa foi, se não me falha a memória completamente nova, face à que jogou no euro 2012, assim como boa parte do meio-campo e pelo menos um elemento do ataque - i.e., cerca de 75% da equipa - chegar ao Algarve e apresentar o grau de organização que apresentou... não é para todos!
Aliás, acho que o próprio seleccionador nacional e muitos outros deveriam aprender com esse grande mestre holandês. É óbvio que as coisas não correram a 100% para a selecção holandesa, mas dada a juventude de muitos dos jogadores, face a um conjunto nacional mais experiente, embora com elementos de segunda linha, mas com praticamente todas as suas principais referências, exceptuando Nani e João Moutinho. Então a pergunta persiste, porque é que o Paulo Bento não consegue por esta equipa de Portugal a jogar decentemente?
Ver Portugal jogar torna-se fastidioso. Sabemos que há talento... é verdade que poderia e deveria haver mais, mas bolas! Temos um Ronaldo, temos um Coentrão, temos um Pepe, e temos muitos outros que não são assim tão mal jogadores! Sabemos que são dadas todas as condições à equipa... Sabemos que não é por falta de apoio de todos (excelente moldura no estádio do Algarve que registou o seu máximo!)... então porque falhamos tanto na qualidade de jogo?
A reposta a esta questão é sempre a mesma: qualidade de treino, qualidade do modelo de jogo nacional e os jogadores convocados!
As convocatórias...
Começo primeiro com as convocatórias pois elas supostamente ajudam a identificar, através das características dos jogadores convocados, que tipo de modelo de jogo determinado seleccionador pretende implementar. Isto do ponto de vista teórico e perante a maioria dos seleccionadores nacionais. O problema é que em Portugal as convocatórias parecem ser feitas por terceiros com agendas muito próprias.
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Antunes e Eliseu, dois "canhotos" que poderiam fornecer melhores soluções à selecção nacional. |
Olhando para a convocatória nacional, uma das maiores pechas da equipa é a falta de esquerdinos. Coentrão e Miguel Veloso são os únicos esquerdinos de raiz, sendo o primeiro o único com função preponderante na profundidade da ala esquerda.
Antunes que fez uma época passada excelente, repartida entre a Mata Real e a cidade espanhola de Málaga, não parece ser solução para defesa esquerdo, quando o deveria ser. Sílvio parece ser o todo terreno, mas se à direita penso que pode render facilmente o João Pereira, na esquerda penso que deveria ser imprescindível um canhoto. Pois assim, aproveitaria os espaços criados pelas movimentações do Ronaldo, para subir no terreno e dar profundidade à equipa. Caso contrário, são dois jogadores no mesmo flanco a tenderem para o mesmo local, o que facilita a vida a quem defende.
Outro esquerdino, que tem estado em alta e até poderia fazer a vez de Nani, pois tem experiência e qualidade para tal, é um tal de Eliseu. Rápido, trabalhador, polivalente, tecnicista,... é acima de tudo um jogador de equipa, que muito poderia contribuir para melhorar o nosso ataque. Reparem que o Eliseu gosta tanto de ter a bola nos pés, como de procurar a bola no espaço, batendo facilmente os adversários em corrida. Depois, sendo um canhoto a jogar sobre a ala-direita (partindo do pressuposto que o Ronaldo ficará sobre a ala-esquerda), poderá aproveitar o seu melhor pé, para em slalom poder desferir remates frontais, assim como criar espaços para as subidas do João Pereira. Outras excelentes características deste jogador voluntarioso, é que é um jogador que gosta muito de jogar em apoio (o que seria óptimo para jogar com o Ronaldo e o Postiga, os outros dois avançados), mas também é um jogador que ajuda muito no trabalho defensivo, quer na pressão que desenvolve sobre o adversário, quer na marcação e no acompanhamento do lateral.
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Hugo Viana e Manuel Fernandes dois médios criativos que fazem falta àquele tridente de meio-campo. |
Outra pecha de grande destaque nesta selecção é a falta de um elemento criativo no meio-campo. Jogadores como Rúben Micael, Paulo Machado, ou até mesmo o "asas de anjo" do André Martins, penso que uns não têm o necessário para jogar na selecção, enquanto outros estão a anos de o conseguir... e se é que o vão conseguir.
Contudo, deixa-se fora da convocatória jogadores como Hugo Viana (mais um esquerdino...) e Manuel Fernandes, que muito poderiam dar àquele meio-campo nacional, continua a ser incompreensível! Ou se calhar talvez não... Já agora, só para mencionar algumas valências destes dois: o Hugo Viana poderia ser excelente caso Portugal queira jogar em contra-ataque, dada a sua capacidade de passe. Por seu turno Manuel Fernandes, junta "a fome com a vontade de comer", pois tanto pode desempenhar um papel completamente defensivo, como de número 10 do tridente de meio-campo, pois tem argumentos físicos, tácticos e técnicos para tudo isso. Ah! E ambos são excelentes executantes nas bolas paradas...
Mudar o modelo ou o sistema de jogo?
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Sem mudar os jogadores do onze titular, a disposição táctica acima permitiria retirar melhor rendimento da selecção nacional, evitando tantas perdas de bola na fase de construção que foram prejudiciais para que a equipa fosse partindo ao longo do jogo. |
Olhando para o modelo e sistema de jogo do "clube de Portugal", ontem no Algarve, frente à selecção holandesa, verificamos, que jogámos no tradicional 4-3-3 com um tridente de meio-campo invertido. Ou seja, com um pivot defensivo (Miguel Veloso) atrás de dois interiores, um destes com características mais ofensivas (Rúben Micael) que o outro (Rúben Amorim). À frente deste meio-campo, um tridente atacante composto por Ronaldo à esquerda, Danny à direita e Postiga ao meio. O quarteto defensivo foi o habitual, formado pelos laterais João Pereira (à direita) e Fábio Coentrão (à esquerda), e a dupla de centrais formada por Pepe (meia-direita) e Neto (meia-esquerda).
À partida, tendo em conta o elenco e até o sistema de jogo implementado, Paulo Bento dava sinais de que queria dominar a partida. Portugal tentava jogar num modelo em posse, que era fléxivel o suficiente para aproveitar as transições rápidas, fazendo uso das capacidades físicas e técnicas de Coentrão e Ronaldo. Acontece, que os elos mais fracos da selecção foram aqueles que esperariam melhores performances neste encontro: Rúben Micael e Danny. Se o primeiro, tem actuado ultimamente nas costas de um avançado e não tanto sobre o meio-campo, com o segundo acontece algo parecido, pois Danny já não está habituado a jogar como extremo. A qualidade do treino poderá explicar muita coisa, assim como a qualidade do adversário. Contudo, se calhar com outras convocatórias, o assunto poderia ter sido resolvido sem mudar o modelo e o sistema, não acham?
De qualquer maneira, com os convocados à disposição e olhando para o desenrolar do encontro, Paulo Bento poderia ter feito algo mais. Mudar o modelo e o sistema de jogo poderia ajudar a levar Portugal a ter um melhor desempenho no encontro. Tendo como referência equipas que têm tridentes atacantes mortíferos, como é o caso do Barcelona (cujo modelo é em posse) e a selecção uruguaia (cujo modelo é essencialmente de transições), ambas possuem um elemento criativo que joga no corredor central (Messi no Barcelona e Diego Fórlan no Uruguai) e dois avançados que partem invariavelmente das faixas para o centro. Ora, será que Portugal não poderia adoptar um sistema semelhante? Penso que sim!
E quem poderia ser essa unidade criativa do tridente atacante na selecção nacional? Simples, o Danny!
Já agora, dependendo da composição do tridente de meio-campo, o modelo poderia oscilar entre um jogar em posse e um jogar em transição pura, vulgo, contra-ataque. Em suma, o que descrevi é nada mais, nada menos que adaptar o sistema e o modelo de jogo às características dos jogadores e não o contrário.
Treino de qualidade...
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O treino é da responsabilidade do seleccionador nacional, Paulo Bento. |
Durante todo o encontro foi possível verificar que praticamente cada jogador jogava ao seu ritmo próprio. É verdade que estamos em início de temporada, mas este facto também é válido para a selecção holandesa, não é verdade? Contudo, no estádio do Algarve, vimos uma Holanda muito mais homogénea a trocar a bola, enquanto que Portugal eram perdas de bola totalmente infantis. Muitas delas ocorreram ainda na primeira fase de construção de jogo.
É preciso ser-se mais exigente no treino e evitar que o pensamento subconsciente que tendo o Ronaldo na equipa ele, mais tarde ou mais cedo, vai resolver o jogo se torne marcante naquelas cabecinhas. Só com treino exigente e de qualidade é que poderemos retirar o melhor que esta selecção pode nos dar, assim como o melhor que o Ronaldo nos pode oferecer. Nas linhas anteriores já dei algumas ideias quanto ao modelo e sistema de jogo. Colocá-los em prática não me parece ser algo transcendental, visto que muitos outros treinadores e seleccionadores conseguem fazê-lo. Também o factor tempo de preparação ou lesões de importantes jogadores sejam factores a ter em conta neste momento.
Continuo a notar graves deficiências nas saídas de bola da defesa, na construção de jogo a meio-campo, na gestão de esforço e posse de bola, na utilização adequada do Ronaldo, nas movimentações paupérrimas de Postiga, nas transições defensivas, na pressão colectiva da equipa, etc e tal. Tudo isso pode e deve ser trabalhado em treino. Sendo assim, do que é que o Paulo Bento está a espera?
As estrelas da noite...
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Sabiam que o central Bruno Martins Indi nasceu no Barreiro? Que grande jogo fez frente a Portugal! |
Do lado holandês, apesar do excelente tento de Strootman, quem me cativou mais pela positiva foi o defesa central Bruno Martins Indi. Conseguiu anular eficazmente tanto Danny, como Rúben Micael, como João Pereira, como Hélder Postiga e até mesmo o próprio Ronaldo. Agressivo q.b., rápido, corpulento, excelente no jogo aéreo e posicionamento muito bom em campo, fez uma exibição de encher o olho. Saliento para o facto deste rapaz poderia representar a selecção nacional, pois nasceu no Barreiro, imaginem só! Outra característica que o Bruno tem e que valorizo é o facto de ele ser canhoto. Não é porque acho que os canhotos sejam melhores ou piores. Tem a ver com a posição em que o central joga e o modelo e sistema de jogo em que está inserido. Por outras palavras, um central canhoto, terá muito mais facilidade em dobrar as costas do lateral esquerdo, saindo a jogar com a bola controlada. Por outro lado, nos modelos mais recentes de posse, é normal que o sistema , à saída da bola através da defesa, se forme nesse sector um tridente, com o recuo do médio defensivo para o centro da defesa e consequente largura dada pelos centrais. Ora tendo um central canhoto, a largura sobre o lado esquerdo fica melhor acautelada, permitindo maior segurança nessa fase de construção. É um pormenor que poderá parecer mesquinho a muita gente, mas que pode fazer toda a diferença.
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Não foi só o van Persie que caiu aos pés do talento de Rúben Amorim. Claramente o MVP português em campo! |
Do lado português, não irei escolher o habitual Ronaldo, ou o incansável Fábio Coentrão. Vou sim escolher o Rúben Amorim. De todos os portugueses em campo, foi aquele que melhor jogou e soube interpretar a dualidade de funções que tinha de desempenhar em campo: a defender, tinha de ajudar o Miguel Veloso e, a atacar tinha que empurrar a equipa para o ataque. Fez tudo isso. Só lamento que o companheiro de sector Rúben Micael (e depois o Paulo Machado), não tenham facilitado com tantas perdas de bola em zonas proibitivas e que estragavam o ritmo e fluidez de jogo de Portugal. O Amorim, apesar de não parecer tão intenso (leia-se "de correrias") como o habitual titular da posição João Moutinho, parece estar igualmente em todo o lado ao mesmo tempo. Se considerarmos a maior mais valia que é a sua polivalência, a sua excelente tomada de decisão e a qualidade de passe curto e longo, penso que se o Paulo Bento não olhar a nomes, terá aqui dois grandes jogadores para cobrir a posição "8" da equipa: Amorim e Moutinho. Espero que Amorim continue a ser aposta para Paulo Bento... e já agora, também para o Jesus no Benfica!
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Salientar a maior enchente registada no estádio do Algarve, desde sempre. Apesar de muitas críticas, eu considero que naquela região do país era importante uma estrutura desportiva deste género. Faltará é maiores sinergias entre os clubes da região e demais entidades públicas para tornar rentável aquele espaço. O Algarve tem um potencial enorme, que necessita de ser mais explorado. |
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